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Na edição de 26/2/2016, Folha SP, o leitor Álvaro Abrantes Cerqueira (Muriaé, MG), indaga sobre o custo moral e material, causado pela Presidente Dilma para se manter no poder.

Existem vários articulistas e renomados economistas que tentam responder a tão complexa e intrincada questão. Não háuma resposta precisa. A pergunta, a meu ver, remete a uma questão preliminar que merece reflexão: o erro, um fenômeno essencial àvulnerabilidade da natureza humana.

O erro, consequência indesejada dos nossos atos, pode ser cometido nas diversas esferas da ação humana e opera, em cada uma delas, consequências distintas quanto à abrangência eàgravidade.

Na esfera privada, os erros têm limites mais reduzidos, porém, importância semelhante a uma pedra que, ao ser jogada em um lago, gera um raio crescente de círculos concêntricos. Exemplo singelo: os erros cometidos pelos pais na formação do núcleo familiar podem gerar uma cadeia de consequências negativas no espaço alargado da sociedade.

Ainda na esfera privada, o erro do empresário opera necessariamente efeitos negativos e imediatos sobre a vida dos empregados e efeitos, mais ou menos significativos sobre a formação da riqueza nacional a depender do tamanho e da natureza dos bens e serviços produzidos.

No espaço público, espaço predominantemente ocupado pela Política, os erros cometidos afetam a coletividade e, dependendo da natureza e dimensão, podem comprometer gerações e o futuro de uma nação. Podem, até, colocar em risco a humanidade. Em síntese, os erros dos políticos são megaerros.

No caso da atual Presidente, houve um erro original que foi cometido pelo seu inventor, o ex-Presidente, Lula que, com força política e prestígio eleitoral, apresentou a candidata àsua sucessão como a gerentonacapaz de dar continuidade àgestãodo país que tinha rumo; um país que, aos olhos do mundo, tinha um manifesto destino de potência global; um país que, sob o comando de firme da gestora, com inquestionável competência (?), transformaria o Brasil dos nossos sonhos: nação grande, próspera e, sobretudo, justa.

Infelizmente, estamos diante de um cenário de horror: crises superpostas, indicadores econômicos, diariamente, apontando para o agravamento da situação e, o mais assustador, o ambiente de paralisia decorrente da incerteza e da deterioração do ambiente social o que, somados, comprometem possibilidades e disseminam o medo em relação ao dia de amanhã.

Neste sentido, não faltam palavras para descrever e sentir as dores das perdas; o que desafia a todos éavaliar o custo real do nosso infortúnio.

Eis o que afirma, em artigo publicado no Estadão, edição de 23/01/2016, Mônica de Bolle (Pesquisadora do Petterson Institute for International Economics e Professora da Sais Johns Hopkins University): A taxa de poupança como proporção do PIB caiu de uma média de 20% em meados de 2011 para míseros 15% em 2015 (...) perda de riqueza para economia brasileira de R$ 300 bilhões (...) em função das ´medidas contracíclicas´ que não surtiram os efeitos desejados, como nos tem dito a comandante-chefe da economia, a Presidente Dilma.

Por sua vez, Paulo Rabello de Castro (PH.D pela Universidade de Havard e autor de ´O mito do governo grátis'), em artigo publicado no Estadão, edição de 03/02/2016, fez uma conta pelo método da acumulação de passivos e prejuízos, contabilizando a média histórica de crescimento econômico, nela incluídas as década de 70, 80, os 3,5% da gestão Lula, custos financeiros da dívida,  e concluiu; São 15 pontos percentuais do PIB acrescidos ao nosso passivo financeiro (...) Dilma também éa senhora de um trilhão de reais acumulados ao nosso passivo financeiro (...) Essa éa conta. Juros a mais, PIB a menos, empregos eliminados, capital evaporado, confiança desfeita, futuro destroçado (...) Por isso a década esbanjadaseráconcluída com êxito! Ninguém, afinal, conseguirároubar essa Olimpíada de Dilma.

Antes que esqueça: nós, eleitores, erramos, ou, para aliviar o peso da consciência, fomos enganados. 

Quem não gosta de samba, bom sujeito não é [...]. Trata-se de um hino de amor ao samba escrito pelo gênio de Caymmi. Mais precisamente ao samba-canção. Eaí entra outro cara genial: Ruy Castro com a monumental obra A noite do meu bem A história e as histórias do samba-canção.

Ruy éum garimpeiro bem-sucedido de tesouros musicais e esplêndidas biografias. Pudera, ele éum ser musical, nasceu escutando os acordes do violão paterno com os sucessos da época (Chico Alves, Haroldo Barbosa, Ary Barroso, Herivelto Martins e tantos outros) e amamentado pelas modernas e ecléticas preferências maternas. Seus ouvidos, muito cedo, se deram conta das valsas, boleros, tangos, foxes e de um gênero que marcaria a história musical brasileira: o samba-canção.

Com efeito, A noite do meu beméuma fascinante narrativa do escritor que transpõe para a prosa, distintas partituras de realidades entrelaçadas: cultura, política, economia, sociedade e personagens marcantes numa sinfonia que diverte e emociona.

O meu encantamento pelo escritor vem de longe. Deu-se num domingo modorrento e entediante quando morava em Brasília. Embarquei e viajei na biografia de Garrincha. Sem pausas. No fim do dia, olhos avermelhados. Chorei e muito. Acabara de jogar uma pelada com ManéGarrincha num campo de várzea de Pau Grande.

Sonho ou delírio? O importante éque fui transportado para uma vida real marcada porcimos e vales, dores e amores, o símbolo de um futebol mágico que não volta mais. Manéentrou e jamais saiu do campo da minha imaginação. Assim foi em O Anjo Pornográfico, Carmen Miranda, Chega de Saudadee a A Noite do Meu Bem.

Com autoridade de quem sabe o que diz, Ruy define o samba-canção como um gênero autônomo e não uma costela do samba; composto por uma linha melódica não-sincopada; gênero que permite o canto suave e inspira a intimidade de rostos e corpos colados. Uma ode ao amor saudou o fim da brutalidade da Segunda Guerra. Assim, viventes e sobreviventes se entregaram ao gozo da paz universal.

No Brasil, a política retomava a democracia depois de oito anos de ditadura estadonovista. Respirava-se um clima de liberdade com Dutra,presidente eleito que somente as peculiaridades brasileiras explicam: ex-Ministro da Guerra e algoz de Getúlio; um candidato pesado que contou com o apoio próprio Getúlio; um presidente sem sabor, de cintilante mediocridade cuja graça era o defeito de dicção que trocava o c e o "s" peloxis(voxê xabia que no xeará...).

Por sua vez, o Rio de Janeiro continuava lindo e cheio de graça. Uma nova e variada fauna iria lustrar a Cidade Maravilhosa sob o manto protetor e estimulante da noite. A noite! Isto mesmo, a noiteéa mãe da boemia e a lua, o sol da noite. Sem noite não háboemia. Não hámistérios. Paixões implícitas, amores explícitos. Porres homéricos. Recantos charmosos e a Lapa de sempre. Ricos bestas; pobretões espertos; mulheres elegantérrimas; homens charmosos; luxo, glamour e cafonice, intrigas e negociatas, milionários e vagabundos, milionários vagabundos (rico, dizia Jorginho Guinle não é quem tem dinheiro; équem não vai ao escritório), políticos, diplomatas, intelectuais, jornalistas, e os artistas, tudo, enfim, convergindo para um espaço comum onde era impossível distinguir o começo e o fimda vida e da arte.

Aliás, este mundo das mil e uma noites jáfervilhava nos famosos cassinos cariocas. Eis que no dia 30 de abril de 1946, Dutra, em nome da tradição moral e dos bons costumes, decretou o fechamento dos cassinos em todo território nacional. O magnata Joaquim Rollaproprietário dos cassinos da Urca, Icaraí, Quitandinha e Pampulha viu desabar o seu império, certamente, arrependido do apoio que dera a Dutra na eleição presidencial. Injustamente, a beata esposa do presidente, Dona Santinha paga, atéhoje, o preço do ódio que o marido devotava aos jogos de azar.

A noite carioca seria reinventada. E voltaria com toda força. Seu habitat: boate,caixa, francesismo usado pelo austríaco Max Stuckart para descrever o ambiente intimista da casa noturna. Seu ritmo: o samba-canção. Sua proposta existencial: a opção pela vida intensa versus a vida extensa. Ali tudo acontecia. Éo que contarei na segunda parte do artigo.

Vocêconhece legislação tributária?. Com esta pergunta, o então Secretário de Fazenda de Pernambuco, Deputado Osvaldo Coelho, idos de 1969, começava a conversa com um recém-formado Bacharel em Direito, na época, simples estagiário da Auditoria Fiscal.

Ali estava eu, sentado, atordoado, sentindo uma estranha redução da minha pequena biometria, um verdadeiro liliputiano, diante daquele homenzarrão que estava disposto a me resgatar das estatísticas do desemprego, mas que, pelo peso do corpanzil e força do Secretário todo-poderoso, parecia me esmagar.

Osvaldo colocou em marcha, sob a liderança do Governador Nilo Coelho, robusto processo de modernização da administração pública do Estado de Pernambuco. Em relação àgestão fazendária, reafirmo o que jádisse outras vezes: a história da Secretaria da Fazenda tem duas fases, uma antes e outra depois de Osvaldo Coelho. Ele eliminou todos os vícios e distorções decorrentes do apadrinhamento político; fundou uma meritocracia pela via democrática dos concursos público; oxigenou os quadros e criou uma burocracia estável, competente, séria, um verdadeiro banco de capital humano que prestou grandes serviços ao Estado. 

Voltemos ao início da conversa. Aquela audiência tivera as bênçãos do meu ex-professor, então Secretário de Educação e homem público exemplar, o ex-governador Roberto Magalhães que, generosamente, me indicara para o cargo de Adjunto de Auditor Fiscal que ampliava as funções da Auditoria Fiscal, primeira instância do contencioso administrativo.

Tenho estudado muito e estou por dentro da legislação sobre o ICM. Resposta rápida. Mentira. Sabia nada. Direito Tributário sequer fazia parte do currículo da Faculdade de Direito. Mas não podia pestanejar. Ele acreditou ou fez que acreditou. E aíele disse: Vou nomeá-lo e vocêvai ser adjunto de Souto Borges. Não tive tempo para alegria. Disse com os meus botões: "logo JoséSouto Maior Borges, o mais renomado jurista do Brasil (e continua sendo) na matéria e eu, seu adjunto, ignorante na matéria. Deu vontade de desistir. Porém encontrei em Souto o verdadeiro mestre, paciente, solidário, compreensivo, uma das pessoas a quem devo grandes lições e exemplos de vida pessoal, profissional e de espírito público.

A partir de então, o meu destino e o de Doutor Osvaldose entrecruzaram vezes incontáveis e esses encontros me autorizam a reiterar o testemunho sobre o grande político que Pernambuco, hoje, pranteia.

Na terça-feira, 27 de novembro, fui visitá-lo. Nada, nem a doença, nem o tempo afetavam a força das ideias. Senti o enlevo da despedida, embora o assunto tenha sido o Brasil,  as possibilidades do semiárido e o o futuro, entrecortado pelas boas risadas do inabalável senso de humor. Palavras finais: - lembre-se, a vida ensina a grandeza dos valores do perdão e da gratidão. Recebi queijo de cabra e uvas, presentes da terra que cultivou e em que semeou suas crenças.

Visionário. Missionário. Modernoporque nele o sertão fez-se corpo, alma, como terra da promissão.

O mais universal dos provincianos e o mais provinciano dos universais, para ele, Petrolina é raiz e centro do mundo; trata-se de uma obra humana feita de pedra; uma ode ao progresso; um poema ao trabalho que liberta o homem da fatalidade da pobreza e abre os horizontes da prosperidade.

Sempre que o ouvi, defendendo as bandeiras da difusão do conhecimento, da educação para o trabalho e para inovação tecnológica, do empreendedorismo para a democratização de oportunidades, do progresso que chegasse para todos, eu pensava: Doutor Osvaldo émovido pela profecia de Euclides da Cunha: Estamos condenados àcivilização. Ou progredimos ou desapareceremose, seguindo a construção euclidiana do homem do sertão como um ser autêntico, enraizado na terra, dotado de cultura e evolução própria, genuína, Osvaldo enxergava a possibilidade de transformar o sertanejo naquilo que Euclides chamava de rocha viva da nacionalidade.

Missionário. Assim se fez na política. Tomou como missão de vida transformar a Povoação de passagem de Juazeirono verde jardim das oportunidades, nesta metrópole/jóia debruçada sobre o rio cujo nome São Francisco édestino de amar mais do que ser amado; de perdoar mais que ser perdoado; de dar mais do que receber.

No exercício da representação política, varou madrugadas na Comissão de Orçamento, em vigília, na defesa das emendas para a região; bateu nas portas dos governos; peregrinou pelos Ministérios e órgãos públicos; esteve em todos os lugares para reivindicar, reivindicar certo, ambiciosamente, em favor de sua terra de seu povo, mesmo sabendo que o progresso cria o cidadão e liberta o eleitor

Um progressista nas idéias e na prática. Atémesmo os adversários que, se alguma vez, ensaiaram o coro injusto ou a etiqueta falsa do conservador ou oligarca, calaram-se para sempre diante da vitalidade do corpo e da alma do sertanejo que não sentiu as marcas do tempo.

Seus descendentes e sua gente, Pernambuco e o Brasil devem respeito, reverência e rogam neste momento, as bênçãos e o descanso merecidos.

Hoje vou poupar o leitor de temas pesados: crise, o blábláblá nosso de todos os dias. Domingo é dia de passeio. Passeio de bicicleta. Bem-vinda a ideia das ciclofaixas.

Semana passada, tomei a decisão: vou ver o Recife por dentro montado no lombo da bicicleta com a força do pé(dal). Um choque. A família inteira, assustada (sou um desastrado, não dirijo e me perco dentro de um shopping Center), ponderou, pediu, apelou com a dramaticidade de quem antecipava as dores da viuvez e da orfandade. Houve até quem dissesse: - Velho, fica na rede e lê o Guia prático, histórico e sentimental do Recife de Gilberto Freyre ou o antológico poema de Carlos Pena filho, Guia prático da cidade do Recife. Negativo. A teimosia ganha na rapidez e perde da sensatez. Disse: “Quem for recifense me siga”.

Tomadas as providências regulamentares e devidamente assumido o comando da bike, comecei a pedalar sob o sol recém-nascido que propagava raios brilhantes do tempo renascido. Em vez de escuro, usei óculos mágicos que, a um só tempo, protege, enxerga o presente e, com lentes poderosas, traz de volta o Recife a que fui apresentado quando completei meu primeiro decênio da vida.

Vacinado por Gilberto Freyre, não me senti “um tanto estrangeiro no Recife de agora”. Contemplei a memória e vi o que quis, pedalando do oeste (Bairro da Jaqueira) para o leste na direção do mar que saúda Boa Viagem?! a quem chega e a quem parte.

Não deixei empalidecer o Recife colorido; não permiti o doloroso martírio de lembrar a ausência de sobrados e casarões que pagaram o preço em nome de “um progresso” sem dó nem piedade do valor da história; despoluí o Capibaribe e revi alegres cardumes brincando na transparência das águas; reencontrei “o Recife marchando na Avenida Guararapes” e me deparei com os “trinta homens sentados” no “festim” do Bar Savoy; parei e descansei no berço da cidade, o Bairro do Recife e lá encontrei, em corpo e alma, Cícero Dias conversando com Francisco Brennand, um belo homem, dono (pois dele é o dom) das belas artes por sobre a raridade dos arrecifes de coral; mirei São José, quase despovoado de “casas cariadas” que explode em multidão no Sábado de “Zé Pereira” sob os acordes do Galo da Madrugada; chego exausto ao meu destino: a praia e respiro no ritmo do vaivém das ondas do mar quando, de repente, sai de dentro de dele u’a mulher, isto mesmo, Recife feminina, morena, tímida, recatada, flagrada no seu banho matinal.

Pude ver, por inteiro, um banho de mulher: a água escore pelo corpo como se fosse (e é) um batismo profano/Toma dois caminhos: o rosto e os cabelos/Olhos entreabertos compõem a máscara do prazer/A pele fabrica pérolas líquidas/Os pelos iluminam os tons dados pela natureza/Uma leve correnteza obedece à lei de gravidade/Uma pequena cascata salta do pescoço de garça e invade relevos redondos e pontiagudos/No caminho do dorso, uma ondulação permite intimidades/De repente, água e corpo se fundem em formas de mulher/O encontro entre a água e a mulher exalam sensualidade (com a permissão de Iemanjá)/A sensualidade é o perfume da mulher/E quando o mar devolve a mulher à terra, vestida com os restos diáfanos do mergulho, o remédio para o pecado da luxúria é rezar, contrito, uma “Ave Maria”, cheia de graça e sal.

São e salvo, quis tocar naquela mulher misteriosa. Era uma visagem. Estava “variando”. Quem sabe, um dos achaques da idade, hipoglicemia, por exemplo?. Fui socorrido com sôfregos goles da mais benta de todas as águas: a água de coco.

Seguido e perseguido pelos cuidadosos afetos da guarda pretoriana – a família –, limitei-me a dizer: - Estou ótimo! E Nada falei sobre o banho da mulher. Quem ia acreditar? Caduquice, ora.

“O que é essa música que se dilui e se distancia? Só a despedida é verdadeira, só agora inicia o longo desaprendimento de si. Antes que a vagarosa criança volte a experimentar, um a um, os seus rubores; uma a uma, imperiosamente, as suas hesitações”.

 Giorgio Agamben, em Profanações

Lá nos meados de 2009, à procura de fitas para uma Olivetti Lettera que daria de presente ao ator Marcos Macena, topei com outro admirado amigo, o escritor Gilvan Lemos, que brincou: “Quando vejo você naquele programa de televisão, penso como seria bom ter sua idade, sua memória e metade do seu jeito desenrolado”! Ao que devolvi sincero, quase sem pensar, como se trato redigido há tempos: “Troco na hora por um terço do seu talento, da sua saúde e do seu sossego”. Esse negócio nunca foi concretizado, e Gilvan partiu em agosto último, deixando-me com a lembrança constante de outra frase sua:

– A pessoa fica martelando coisas bestas, porque tem outras que nem dá pra martelar... Que a gente só engole, antes que nos engulam.

Eis que, nesta crônica pensada em convento e madrugada baianos, compartilho mais sobre minha vida pessoal do que jamais permitira! São coisas que não pude engolir, que cansei de martelar, que talvez devam mesmo é me mastigar e depois cuspir fora – seja lá onde, quando e de que jeito.

Durante passagem pela Flica (Festa Literária Internacional de Cachoeira), ouvi de gentilíssima produtora que os pernambucanos são muito bons em vestir e trabalhar suas máscaras. Não se tratava de crítica, até porque ela defende que todas as pessoas são – e precisam ser – um tanto mascaradas. Sua tese é que meus conterrâneos desenvolvem tão bem suas personagens que, ao tentarem se distinguir ou se desfazer das mesmas, ninguém acredita que seja possível ou saudável.

Como adverte Agamben, essa tentativa de retirar a máscara pode ser revelação de caráter (e não necessariamente bom caráter), a smorfia impressa no rosto do Eu quando tentamos nos esquivar daquilo “que em nós não nos pertence”. É plausível que, como versou Dante Milano, só a terra e suas derradeiras garras nos rasguem as máscaras. Ainda assim, é o que tentarei fazer, enquanto me lanço no ventre invisível da baleia que me seguiu até o Recife, borrifando-me serenos antigos e bastante adiados.

Quando menino, fui um tímido quase doentio, esquisito além das esquisitices que as pessoas estão dispostas a relevar em crianças, além de profundamente desinteressado por quase tudo que me vendiam como importante. Boa parte da família suspeitava (e não escondia) que esse temperamento daria em fracassos (para mim) e sofrimento (para meus pais); então, quando passei a concordar com eles, investi as forças guardadas, caçadas e roubadas para criar personagem mais viável, uma garatuja que parecesse menos incompatível com as páginas do mundo que eu necessitasse rascunhar e virar.

25 anos depois, cumpri muito além do planejado, e paguei preço assustadoramente mais alto do que estimara! Tornei-me atleta, aluno popular, estudante de jornalismo, apresentador de rádio e TV, mediador e anfitrião de eventos os mais diversos, coadjuvante ou mesmo protagonista em polêmicas e lutas bem mais nobres do que eu. No Recife e redondezas, transformei-me em figura pública razoavelmente conhecida (digamos assim: fui famoso por mais que os 15 minutos prometidos pelo vampiro da Pensilvânia, embora muito menos do que qualquer prefeito ou dançarina de banda brega consegue).

Até tragédia familiar e consequente busca de justiça findaram por requisitar essa nesguinha de popularidade. Provavelmente, não fosse pelos espaços e contatos conquistados sob a máscara de desenvolto jornalista e crítico literário, meu irmão sumiria nas cruéis estatísticas que trazem mais de cinco brasileiros assassinados diariamente pelas forças de “segurança” do País.

Ao mesmo tempo, lá pela metade desse caminho, algo começou a crescer e me doer. Porque disfarce estava vencido, a cola se desmanchava, convertia-se em toxinas cada dia mais ofensivas. A máscara mantinha quase todo esmalte exterior, enquanto seu avesso provocava reações ora discretas, ora já constrangedoras: passava mal e praticamente me dopava antes de ir à emissora de TV; sentia cólicas terríveis ao fingir contentamento em certos compromissos sociais; redobrei piadas e tagarelice, na esperança de que não notassem meu desconcerto; aproveitei doenças menores para justificar faltas causadas pelas enfermidades verdadeiramente sentidas etc.

Nem era preciso martelar muito, diagnóstico dos mais simples: ainda que eu não tivesse fracassado, ainda que meus pais carregassem certo orgulho pelo exitoso personagem, sentir-se bem era negócio que só dava ar da graça entre livros, pessoas amadas ou alunos (isto quando a politicagem ficava da porta da sala de aula para fora).

Os sintomas ganhavam força no mesmo ritmo em que me convencia do único tratamento possível: praticamente abandonar vida pública e deixar que somente os escritos saiam da caverna, assumir quase nada além da literatura e da docência, viver para família e uns doze amigos queridos, dedicar-me a casa e aos limites geográficos em que resto confortável – ou seja, não mais que meia dúzia de quarteirões em qualquer direção, a partir da mulher que amo e das duas felinas que mandam em nós dois!

Contudo, é preciso dar crédito às contingências: vivi monasticamente esse infindável 2015, morei praticamente anônimo e invisível em quarto/claustro de Campinas (ou melhor, no verde e silencioso quintal da Unicamp). Esse exílio calhou de ser exame final antes da terapia! O bicho do mato experimentou toca alheia e, enfim, não sobrou dúvida de que melhor era retornar ao próprio ninho; não àquele recente – largo, esmaltado e até vistoso –, mas ao anterior, de barro antigo e muito silêncio.

Torcida é para que as pessoas, gatas, livros e sustentos não me rejeitem pelos cômodos modestos (e personalíssimos) que tentarei manter sobre os alicerces da quietude, com a argamassa pouca que colher da timidez, e com os ossos que sobreviveram aos contorcionismos e à máscara vencida.

Máscara a quem serei sempre grato! Mesmo que, ao fim deste parágrafo, vocês me flagrem a abandonando sem maiores cerimônias, sem lágrima ou culpa; nada me preocupando se, longe de mim, ela amanhecerá em pétalas ou restará em cinzas (dispersas ou reunidas) que nenhuma palma ou página reconheça – afinal, sejam quais forem os disfarces, paredes ou fontes, algum dia partilharemos (vocês e eu) a incomensurável fortuna de uma dessas duas coisas bestas; flor e poeira.

O governo Dilma respira por aparelhos. Paciente terminal, sofre de infecção generalizada causada pelas bactérias da ideologia que escraviza, do voluntarismo que isola e da corrupção que degenera o tecido social.

O que é mais grave: o paciente está nas mãos de uma charlatã que, a exemplo de Fausto (1480-1540), mago e alquimista, teria feito um pacto com o diabo, Mefistófeles, a encarnação espiritual do maligno, o arcanjo inimigo da luz, cuja lenda inspirou variadas obras de arte, culminando com o poema clássico e obra-prima do escritor e pensador alemão Johann Wolgang von Goethe (1749-1832).

No dia 04 de março de 2013, em João Pessoa, a presidente/candidata anunciou o pacto: “Nós podemos fazer o diabo quando é hora de eleição”. Na lenda, Fausto negociou poderes sobre-humanos por 24 anos e, esgotado o prazo, Mefistófeles, um dos sete príncipes do inferno, receberia a alma de Fausto (arrependido) para a condenação eterna.

Assim foi feito. A essência da antiga lenda é a perda da noção de limites. Na versão brasileira, a alma penada da Presidente arrasta com ela, milhões de brasileiros, entre os quais, aqueles que acreditaram na possibilidade de enganar o demônio.

Hoje, cada dia é um túnel sem candeeiro para alumiar a saída. E a escuridão não foi obra do acaso. Tem sido a execução de um projeto de poder erigido sobre sólidos alicerces: o carisma de um líder/chefe; a captura do estado brasileiro pelo estamento partidário; o aliciamento da consciência cidadã em troca do “bolsismo”, alívio passageiro para as privações dos mais pobres; a lógica perversa do “capitalismo de estado”, relação promíscua entre o público e o privado que enriquece os mais ricos, enche as burras da burocracia corrupta e mata de inanição a população carente de políticas públicas.

Paralelamente, o projeto de poder lulopetista despolitiza a política com a artilharia pesada do discurso enganador “a gente faz, mas quem não fez?”, versão atualizada do “rouba, mas faz”, só que desta vez “eles”, “a elite branca” se amplia em um “nós” que era barrado no baile. E nada mais eficiente para reinar do que dividir e dividir com o tempero do ódio separa o bem do mal.

Porém, a realidade se impõe. É patética a figura presidencial. Faltam-lhe, aliás sempre lhe faltaram, atributos para governar o país. Cada gesto, cada palavra e todas as suas iniciativas compõem uma peça tragicômica. Tudo indica que capítulo final se avizinha. Soma-se, agora, à impopularidade e à falta de apoio parlamentar, o fato juridicamente  imputável: a recomendação do TCU pela desaprovação das contas do governo por um placar estrepitoso 9x0. Impeachment à vista.

A propósito, as palavras do Procurador de Contas Júlio Marcelo de Oliveira,  insuspeitas e contundentes, ratificam o projeto de poder: “Percebe-se nitidamente a intenção de turbinar despesas em ano eleitoral. A dotação do Fies em 2013 foi de R$ 5 bilhões. Em 2014, pulou para R$ 12 bilhões. Em 2015, o Fies caiu para menos da metade. Quantos estudantes começaram a estudar e não conseguiram renovar? É cruel acenar com financiamento estudantil e no ano seguinte retirar”.

Até quando o brasileiro, ao acordar, vai tomar o café com o sabor amargo da angústia? Angústia, Presidente, é aquela sensação de desamparo da criança que nasce e se defronta com um mundo de adversidades e incertezas. O que lhe salva é o acolhimento materno.

Certa vez, Lula disse: "Dilma é a 'Mãe do PAC'”. Chegou a hora de estender a mão aos filhos do Brasil. Coragem! Como toda virtude, a coragem é está no meio de extremos, no caso, a covardia e a temeridade. Abrevie o sofrimento coletivo. A renúncia é um ato de coragem. A senhora não será o primeiro nem o último governante a fazê-lo em nome de valores mais altos. A rainha Cristina da Suécia (1629-1689), De Gaulle (1890-1970) e o Papa Bento XVI são notáveis exemplos de grandeza e do belo gesto  da renúncia ao poder.

A grande maioria dos brasileiros ouviu falar que o Brasil foi rebaixado pela agência de classificação de riscos Standard & Poor's. No entanto, poucos entenderam o que isto representa. O rebaixamento significa a retirada do selo de bom pagador do país, ou seja, deixamos de ser considerados como um país seguro para investimentos.

O rating é uma forma de medir o risco de investir e quando esta nota cai, indica que os investidores vão exigir remuneração proporcionalmente maior para aplicar seus recursos em determinado país. Em um português claro, isso significa que o Brasil corre o risco de dar um calote nos seus investidores e por isso precisa pagar uma taxa de juros mais alta para continuar pegando dinheiro emprestado de seus credores.

As justificativas para cortar e negativar a nota do Brasil, foram "os desafios políticos" que continuam crescendo, e a "menor convicção" do governo brasileiro em relação à política fiscal. O Brasil gasta mais do que arrecada e só fecha a conta com a ajuda de empréstimos.

Como consequência, as empresas brasileiras terão dificuldade na captação de dinheiro. Já os consumidores passarão a pagar mais caro por produtos ou empréstimos. A população sentirá uma piora na restrição ao crédito, que foi ampliado durante anos, e poderão ver, claramente, o aumento da inflação e a alta do desemprego.

Existe um culpado? Não, existem vários culpados. Há uma grande crise política que impede o Brasil de ir adiante e melhorar sua economia. O momento vivido pelo governo é de extrema impopularidade, inclusive com a falta de colaboração dos próprios políticos. Ou seja, há dificuldades em aprovar políticas de ajustes  que o Governo julga como necessárias.

Não podemos julgar que um impeachment ou renúncia de Dilma Rousseff seja a solução do problema. É certo que seu governo anterior, e até o do ex-presidente Lula, não adotou as reformas estruturais necessárias manter o equilíbrio da economia e que a presidente, atualmente, não tem força política para adotar a redução de gastos necessária.

Supondo uma saída de Dilma, existem duas possibilidades: o cenário político se acalma e políticos passam a apoiar um novo governo, concordando em fazer os ajustes  fiscais necessários ou continuaremos com um Congresso dividido para adotar as reformas necessárias e que estão estagnadas há anos.

Temos que acreditar que o Brasil não está falido. Esta não é uma crise razoável e nem de fácil solução. Ainda passaremos algum tempo em recessão e precisamos nos organizar internamente. As reformas política, econômica, tributária são necessárias e já passou da hora de começarmos a executá-las. Precisamos trabalhar e cobrar os políticos que foram eleitos que trabalhem junto com o povo  para recuperamos nossa credibilidade. Apenas assim retomaremos o desenvolvimento.

A queda do Produto Interno Bruto (PIB), o aumento nos índices de desemprego, inflação e a queda na renda da população colocaram o Brasil na pior crise econômica desde os anos 90. O Real bateu recorde em desvalorização frente ao dólar - já passa de 50%. É preciso evitar que o país chegue ao caos. No entanto, diante de um quadro, que a cada dia se mostra ainda mais complicado, quais são as ações que podem ajudar o país a sair da crise?

Vale ressaltar que as possíveis soluções imediatas para a crise já são apontadas e discutidas há décadas por especialistas, mas que não foram implementadas. Em textos anteriores já falei sobre as reformas política, tributária e as necessidades de melhoria na infraestrutura nacional para mantermos e incentivarmos o desenvolvimento econômico. Acrescento a esses novos pontos: o incentivo ao investimento e renovação da indústria.

É preciso tornar o Brasil mais competitivo e para isto, além do investimento em infraestrutura e das reformas tão citadas, são necessárias outras medidas como a desburocratização, que pode estimular o desenvolvimento do país tornando mais fácil as relações comerciais que estimulam o setor produtivo. Claro que não podemos esquecer o quão necessário são os ajustes fiscais, que não significam a recuperação da confiança do mercado, mas que irão assegurar a prioridade dos interesses do trabalho e da produção.

De fato, o Governo precisa equilibrar as contas. A confiança internacional no país depende de um cenário futuro previsível, ou seja, é preciso estabilidade e, infelizmente, o setor privado não sente confiança no governo atual. Para reestabelecer o nível de confiança, o país precisa estimular o crescimento e isto só pode ser feito através de investimentos. Reequilibrar as contas não significa cortar investimentos.

Felizmente, o Brasil ainda tem demandas de desenvolvimento infraestruturais reprimidas e que precisam ser estimuladas: construção de ferrovias, rodovias, portos e aeroportos, por exemplo. Neste caso, se o Governo optar por continuar estimulando o desenvolvimento, a tendência é que haja uma retomada da confiança na economia nacional.

Outra forma de retomar a confiança internacional é permitir a importação de tecnologia e isso pode ser feito através da desoneração nas tributações de máquinas e equipamentos. Essas estratégias irão permitir o aumento da industrialização, setor que quando recebe medidas restritivas, como o aumento das alíquotas de tributação, interfere diretamente no aumento de investimentos do país.

É verdade que as políticas macroeconômicas são determinantes nos ciclos eleitorais. Entretanto, essas ações causam uma série de desequilíbrios que geram pressão inflacionária e são capazes de arruinar as contas públicas e reduzir a expansão dos investimentos. A situação se torna ainda pior quando avaliamos a política de gastos públicos que envolvem a corrupção.

Não queremos debater o governo ou a oposição. É preciso que todos se esforcem para retomar o desenvolvimento do Brasil. É preciso compromisso para retomar o desenvolvimento econômico do país e superar uma crise que é além de econômica, ética e política.

O Brasil entrou em recessão desde o segundo trimestre de 2014, segundo um relatório da Fundação Getulio Vargas (FGV). Com crescimento de 0,1% no ano passado, a economia nacional vinha mostrando declínio e que era incapaz de manter o mesmo ritmo de crescimento que presenciamos durante anos.

Inevitavelmente, há sinais da recessão econômica por todos os lados. O corte de investimentos, o baixo índice de investimentos, o aumento da inflação e outros. Sendo este último um dos principais impactos da crise econômica sobre a vida das pessoas, quando há uma perda real do poder aquisitivo dos salários e consequências para a cadeia produtiva nacional.

Infelizmente, não há perspectiva de investimentos à vista, e os direitos sociais, como o seguro-desemprego e a pensão por morte, estão sendo cortados. Os juros voltaram a subir, chegando a mais de 300% no cheque especial, e a corrupção explodiu uma de suas piores crises, envolvendo empresas como Petrobrás, BNDES e grandes consórcios, aprofundando os indicativos de uma crise política vinculada à crise econômica.

Em uma análise ampla da economia, a crise brasileira atual não é culpa do atual governo apenas, mas consequência de uma política que se mantém há 30 anos sem priorizar um planejamento de longo prazo para o País. 

O Brasil viveu durante 11 anos, de 2003 a 2014, um crescimento econômico, com investimentos estrangeiros, inflação e câmbio controlados. Tudo isso aliado a uma política de crédito facilitado, desemprego baixo etc. Foi graças aos programas sociais que 36 milhões de brasileiros saíram da miséria. Entretanto, não foram feitos os investimentos necessários para manter a economia em crescimento. Um exemplo é a melhoria na infraestrutura, que iria garantir o escoamento da produção nacional, por exemplo, e que ainda se encontra em condições precárias na maior parte do país.

Em 12 anos de desenvolvimento, não se promoveu nenhuma reforma de estrutura, nem agrária, nem tributária, nem política.

Uma crise econômica em países como o Brasil, provoca, inevitavelmente, um forte ajuste na cotação do Dólar e outras moedas fortes como o Euro. Esse ajuste é resultado de um dólar que foi mantido abaixo do valor real durante algum tempo, incentivando a importação e prejudicando as exportações, o que contribuiu para a estagnação da economia nacional.

Para os economistas, as economias mundiais caminham para formação de grandes blocos nas próximas décadas. Os Estados Unidos, por exemplo, investem cerca de US$ 70 bilhões em várias tecnologias, em áreas como nanotecnologia, biotecnologia e medicina avançada, tudo para elevar  a produtividade. Podemos citar a China, que pela escassez de recursos naturais investiu na Indonésia, África e América do Sul. Cada um fazendo seus planejamentos para anos à frente.

Existe uma probabilidade que a crise econômica continue até meados de 2016. As empresas ainda sofrerão bastante com os efeitos desta crise econômica, principalmente aquelas que dependem de crédito abundante para manutenção dos seus negócios. É preciso cautela. É certo que o Brasil não vai parar, mas seguramente ainda haverá uma redução significativa do nível de atividade econômica além da que já estamos presenciando.

Dois artigos, Narcisismo em tempos sombrios – A cultura da razão cínica e Corrupção e capital cívico, ajudam analisar e refletir sobre a atualidade brasileira já que as ciências sociais não têm resposta definitiva que explique a origem da corrupção seja como fenômeno inerente a determinados povos, produto cultural ou uma complexa combinação de vários fatores.

O primeiro foi publicado no Jornal do Brasil, edição do dia 21 de maio de 1988, de autoria do brilhante psicanalista pernambucano, Jurandir Freire Costa.

O segundo foi publicado no Estado de São Paulo, edição de 31 de julho do ano em curso, de autoria do competente economista André Lara Rezende.

Comecemos pelo segundo. O autor toma emprestados resultados dos recentes trabalhos feitos pelo Professor Dan Ariely (Universidade de Duke, EUA). A conclusão é que queremos ser honesto, mas a propensão para a desonestidade está em todos nós. De outra parte, a decisão não obedece a um cálculo racional tanto que “Há quem escolha não levar vantagem mesmo na ausência de punição para o comportamento incorreto. Referências culturais contam”.

Para ilustrar, ele conta o que chama de “história curiosa e triste para nós brasileiros” segundo a qual houve uma época em que diplomatas estrangeiros tinham isenção de pagamento de multas de estacionamento na cidade de Nova York. Segundo o artigo “um estudo mostrou que, ao longo de cinco anos, os diplomatas suecos e canadenses não tiveram multas, os alemães uma multa per capita, os italianos 15, os brasileiros 30”. Algo faz a diferença: o valor do capital cívico enraizado nas nações.

Com efeito, este capital repousa na escala de confiança e cooperação que servem de elo entre desconhecidos (na Suécia 70% de entrevistados confiam nos outros; no Brasil, 10%). Para o Professor Edward Banfield, o ponto de partida para o baixo capital cívico é a “amoralidade dos laços familiares” que se propaga e contamina o conceito das instituições públicas.

O surto de desonestidade por que passa o Brasil induz, natural ou deliberadamente, a terrível “impressão de que a desonestidade impera e ajuda a racionalização do comportamento desonesto. Se todos são, ninguém é”. Neste ponto, cabe recorrer ao olhar do psicanalista Jurandir Freire Costa no primoroso e atualíssimo ensaio datado de 1988.

Na época, Costa afirmava: “O que vigora, hoje, no Brasil é uma razão cínica” (expressão emprestada pelo filósofo alemão Peter Sloterdijk); complementando “No lugar da indignação, produziu-se um discurso desmoralizante, que diz que toda lei é convencionalismo, formalismo, idealismo, conservadorismo”; e arrematando: “Existe um elo indissolúvel entre o político que lesa o erário público o cidadão que ultrapassa o sinal vermelho e o assaltante que mata”.

De fato, “Todos deixaram de levar em conta a lei”. Sem lei, tudo é possível. Os transgressores, igualmente, destroem o universo simbólico, a normatividade, que é o fundamento da civilização. E aí mergulham no pior dos mundos cujos atributos culturais são o cinismo que sabe o preço de tudo e o valor de nada; a delinquência que resulta do mau exemplo que vem de cima; a violência que está disseminada nos mecanismos de defesa das pessoas, refugiadas nos mecanismos de sobrevivência do “mínimo eu”; finalmente, tudo se agrega ao que Freud chamou de “pânico narcísico” que é o efeito devastador de situações em que o homem perde suas referências de equilíbrio.

Chega-se, então, a um ponto de ruptura cuja saída é a Política, ainda que portadora dos sintomas da doença social. Não há outro caminho senão vencer a paralisia com a capacidade de reação. Quem? Os cidadãos que no seu conjunto seguem responsáveis pelo seu destino e, assim, serão capazes de superar a sensação de impotência, saindo da crise, expurgando da vida pública os culpados, restaurando a confiança e iniciando uma nova era o que, segundo a conclusão de Lara Resende, “exigirá, antes de tudo, novas e exemplares lideranças, ainda que longe de estar evidentes”.

Mais do que um déficit fiscal monumental, a leitura dos artigos confirmam: os governos do PT deram uma excepcional contribuição ao déficit do capital cívico brasileiro.

Nosso país vive um momento de crise econômica. Os dados da inflação, referentes ao IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) e divulgado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), mostram altas em todos os setores da economia. Para tentar conter os prejuízos, o governo vem tomando inúmeras decisões radicais e realizando vários ajustes fiscais na tentativa de controlar a situação econômica do país e minimizar os impactos da crise. Então, diante de tantos ajustes, quais seriam as prioridades do Brasil?

Não podemos ignorar a relevância do Brasil e seu papel na economia mundial. Excluindo os Estados Unidos, somos o quinto país no mundo em relações comerciais com a União Europeia e responsáveis por 37% do comércio da UE com a região latino-americana. Além disso, detemos 43% do portfólio de investimentos da União Europeia com a América Latina.

Entretanto, as preocupações com o mercado exterior e até com os índices da inflação não podem ser a única preocupação do governo neste momento. É preciso lembrar que a manutenção do crescimento deste mercado depende de inúmeros fatores como infraestrutura, educação e saúde.

Existem outras três prioridades para o Brasil que dependem diretamente do ajuste fiscal. A primeira delas é a reforma da previdência, com a definição da idade mínima para aposentadoria. Já não somos mais um país de jovens e a expectativa de vida vem aumentando gradativamente, assim, é possível as pessoas permanecerem mais tempo no mercado de trabalho.

A segunda é a educação. As políticas educacionais do Estado que promovem o acesso à educação devem continuar como prioridade. Acesso à educação não é concessão de privilégios, é necessidade. É através dela que se promove igualdade de oportunidades e de condições. Este é o papel exercido por programas imprescindíveis como o Fies, Prouni, Pronatec e Ciencias sem Fronteiras , por exemplo, que permitem que pessoas sem recursos financeiros realizem um curso superior, um curso técnico ou estude em universidades do estrangeiro. Em terceiro lugar, as políticas de proteção social, como o Bolsa Família e o Minha Casa Minha Vida, ainda são necessárias e por enquanto  não podem ser extintas.

Sem dúvida, precisamos dos ajustes fiscais. No entanto, o corte orçamentário neste ano foi de 70 bilhões, retirados do Programa de Aceleração do Crescimento, Minha Casa Minha Vida, Seguro Desemprego,  Fies, Pronatec, etc. A diminuição das despesas refletiu na retirada de benefícios e direitos dos trabalhadores e dos estudantes. Entendemos que essas são tentativas de controlar inflação, conquistar a confiança de empresas, empresários e atrair investidores para fazer a economia crescer e normalizar as contas do país. Entretanto, é preciso manter o foco e as prioridades.

Não é a primeira crise que o Brasil está passando, nem é a maior e muito menos será a última. Mais do que a crise econômica, o Brasil vive uma crise ética e política. Como consequência, há uma crise de confiança nacional. A crise política anda em paralelo com a crise econômica, uma está atrelada a outra. Sabemos que aumentar as taxas de juros para tentar conter a inflação não é suficiente. A crise institucional é a que mais preocupa, porque é ela que impede que lideranças do agronegócio, empreendedores e investidores  realizem novos investimentos no Brasil.

Henry Youngman, Judeu inglês (1906-1998), naturalizado americano, foi um violinista famoso e destacado humorista. Fazia rir com piadas inteligentes, intercalando frases curtas, nas suas performances musicais. Uma das mais lembradas: ao sair de casa, recebeu o cumprimento de um amigo que indagou: - Como vai sua esposa?- Comparada com o que? Respondeu.

A propósito, todas as conversas têm, hoje, como tema a situação do Brasil que oscila entre uma rósea visão oficial e um pessimismo assustador das pessoas. Seguindo a lição de Youngman, vamos comparar os indicadores de desempenho das nações no contexto global.

O Índice de Desenvolvimento Humano, criado pelos economistas Amartya Sen  e Mahbub ul Haq, usado pela ONU (PNUD) e que tem como critérios de avaliação: expectativa de vida ao nascer, o acesso ao conhecimento e o PIB per capita. O Brasil ocupa a 79ª posição entre 187 países avaliados.

Índice de Produtividade. Padrão de avaliação: o trabalhador americano. O trabalhador brasileiro alcança 24,1 do mencionado indicador (Conference Board); segundo dados da Universidade da Pensilvânia (1980/2008), o Brasil ocupa 130º lugar entre 151 países pesquisados. A Produtividade Geral dos Fatores é o calcanhar de Aquiles do crescimento sustentado. A média da produtividade brasileira emperrou nos últimos 30 anos. O Nobel de Economia (2008), Paul Krugman, ensina: “A produtividade não é tudo, mas, em longo prazo, é quase tudo”.

Índice de Competitividade (World Economic Forum), intimamente ligado ao de produtividade, utiliza doze critérios de avaliação e mede a capacidade de disputar mercados locais e globais. O Brasil ocupa a 57ª posição (2013/2014) entre 144 países. No item “ineficiência das instituições públicas” o Brasil ocupa a 135ª posição; no item “desperdício de recursos”, a 137ª; e em matéria de “regulamentação estatal”, o Brasil está à frente, apenas, da Venezuela.

Programa Internacional de Avaliação de Alunos da Organização para Cooperação do Desenvolvimento (PISA, trienal: 2010/2012). O programa avalia o desempenho de alunos de 15 anos em matemática, leitura e ciências. Média geral 501; média brasileira 405. Entre 65 países, o Brasil ocupa 58º lugar. Evoluiu, considerando o ano base 2000, porém os demais países evoluíram significativamente. O Brasil investe 25,7 mil dólares nos alunos de 6 a 15 anos; os países da OCDE 83,3 mil dólares.

O Mapa da Violência. Mortes matadas por arma de fogo: 1980/2012, 880 mil mortes (de 8.710 para 42.416) um incremento de 387% no geral e, quando a comparação é especifica em relação à população jovem o aumento é de 463%; a taxa de mortalidade passa de 21,9 mortes para 47, por cem mil habitantes. No período, o crescimento médio anual foi de 6,8% com tendência crescente. Regiões (2002/2012): as maiores taxas de incremento se localizam no nordeste (135%) e no norte (89,19%). A exceção é Pernambuco (-33%) e o sudeste (São Paulo e Rio, -58,7% e -50,3%, respectivamente). Nas capitais, o Recife apresenta uma redução de 50%, atrás de São Paulo e o Rio de Janeiro, o que deve ser creditado ao programa Pacto pela Vida. No contexto internacional o Brasil é o 11% país mais violento do mundo no conjunto de 90 países. São alarmantes os números dos municípios de Simões Filho (BA) com 300 mortes por cem mil habitantes e com mais de duzentas, Lauro de Freitas (BA), Ananindeua (PA), Maceió (AL) e Cabedelo (PB).

Não é de estranhar que o Brasil ofereça o pior retorno do mundo (30 países) em relação aos impostos pagos pelo contribuinte. E agora sofrendo a real ameaça de perder o grau de investimentos (bom pagador) para o de potencial caloteiro.

A lição que fica é a seguinte: as nações prosperaram porque estudaram muito, trabalharam muito, pouparam, investiram muito e as instituições sólidas puniram e punem exemplarmente os delinquentes, em especial, os criminosos de colarinho branco. 

É voz corrente entre os analistas políticos que o PT tem um projeto de poder, mas lhe falta um projeto de governo.

Partido criado de baixo para cima, foi conquistando o poder, também, de baixo para cima: municípios, estados e a Presidência da República. Descontada a bravata como forma de sensibilizar o eleitorado, o discurso do PT encarnava a opção evangélica de preferência pelos pobres (sem muita clareza quanto à multiplicação dos pães), um moralismo fundamentalista e uma condenação inapelável aos métodos arcaicos da realpolitik brasileira.

A verdade é que o PT foi chegando ao poder e mudando. A princípio, a mudança pouco perceptível ao eleitorado nacional porque diluída entre cinco mil municípios e vinte e sete estados. Na Presidência da República, a conversa é outra. Em Brasília, a casa do poder é de material transparente; bem ou mal a nação inteira presta atenção ao que acontece; bem ou mal a mídia se curva ao poder incontrastável de sua excelência os fatos.

O que se percebe é o seguinte: governo não opera (à exceção do manejo da macroeconomia e da prática do pecado da gula fiscal); Lula carrega nas costas da biografia e da  personalidade carismática – capital perecível, porém resistente – o peso da pífia gestão e das promessas irrealizadas, mantendo bons índices de aprovação, ainda que cadentes. Por enquanto, o presidente é a âncora do governo.

No entanto, o núcleo duro do governo, como se convencionou chamar quem manda no pedaço, executa a montagem e a execução de um projeto de poder com – diga-se de passagem – irrepreensível competência.

Comecemos pela arregimentação dos recursos políticos traduzidos pelo crescimento extraordinário da base parlamentar. Digamos que não é um feito inédito. Outros governos também o fizeram, mas o PT tem duas peculiaridades: preservou a “pureza” do partido e não teve o menor constrangimento em lotear posições, permitindo que raposas tomassem conta de galinheiro e vampiros, dos bancos de sangue.

No item arregimentação de recursos financeiros, engordou os cofres do partido com a tomada do aparelho de estado pela militância (vinte e uma mil nomeações para cargos comissionados com o correspondente dízimo) e mantém uma articulação, tipo conúbio⁄Delúbio, com os interesses empresariais.

Em matéria de comunicação governamental e propaganda política de modo a arregimentar a opinião pública, a estratégia do governo é avassaladora. Além de centralizar todos recursos nas mãos de um Ministro (o Ministro da propaganda formal ou “Ministro da Verdade”, Gushiken), arma-se uma gigantesca operação de crédito, o pró-mídia, para socorrer as empresas de comunicação em dificuldades. Até aí nada demais, o risco é cair naquilo que, insuspeitamente, Dr. Octávio Frias, do alto da autoridade de quem dirigiu a Folha de São Paulo por quatro décadas, afirmou na sua entrevista de 21-10-03, concedida a AOL: “Por que criar um sistema assistencial, preferencial para os jornais, para mídia? Por que? (...) O que interessa ao governo é a mídia de joelhos”.

Todo mundo sabe, porém, que sem crescimento econômico, emprego e aumento de renda, qualquer governo está condenado à impopularidade e o projeto de poder fadado ao fracasso.

É fundamental, pois, encenar o espetáculo do crescimento. A economia em alta é o mais eficiente dos cabos eleitorais.

Ao invés do crescimento econômico sustentado, vem por aí o truque. O truque que pode ser um estelionato como foi o plano Cruzado.

Mas o parangolé está bem ensaiado. O truque consiste em embebedar o trabalhador e suas famílias com um porre de crédito e consumo, seguido pela ressaca do débito e do arrependimento tardio.

Tem crédito para tudo e todos os gostos para a felicidade geral da banca que terá sua liquidez garantida pela tradicional adimplência dos pobres ou pela consignação na folha de salários.

Os gestores do Planalto contam, em 2004, com a natural recuperação da economia que bateu no fundo do poço e com uma conjuntura internacional provavelmente favorável: economia americana com crescimento previsto de 3,7% do PIB e as economias européia e japonesa com algo acima de 1,5.

Neste sentido, é importante não perder de vista o que diz Paul Krugman: “Estimular a economia no curto prazo é supostamente fácil, desde que você não tenha de se preocupar muito com o volume de dívidas que contrai no processo”.

Pena que a grande maioria dos chefes de família brasileiros não tenham acesso aos ensinamentos do Professor da Universidade de Princenton.

*Este artigo foi publicado em 30 de dezembro de 2003 na Folha de São Paulo.

O Brasil conseguiu superar sem maiores problemas a crise econômica mundial, ocorrida em 2008 e que afetou gravemente países como os Estados Unidos e a Comunidade Europeia. Mesmo enquanto a recessão tomava conta das economias capitalistas, o nosso país continuou a crescer. Anos depois, falamos na crise econômica de 2015, não como uma possibilidade, mas sim como um fato consumado.

Desde o início do ano, todos os brasileiros têm escutado, exaustivamente e por diferentes atores institucionais, que é preciso "arrumar a casa", "cortar e equilibrar gastos públicos". Infelizmente, a inflação, assim como o dólar, vem aumentando a cada dia e não há perspectiva de investimentos à vista. Aliado aos problemas econômicos, a crise política, endossada pela sequencia de casos de corrupção, também corrobora com a preocupação de todos.

Desde o fortalecimento do capitalismo, inúmeros países já passaram por crises econômicas com conseqüências. Entretanto, o restabelecimento econômico dos países que viveram tais crises aconteceu de forma gradativa. Claro que a paralisia econômica brasileira, depois de anos de prosperidade, gera uma frustração na população, como foi confirmado por uma pesquisa do Instituto Ibope, realizada em 141 cidades e publicada em maio deste ano. Os dados revelaram que 36% dos brasileiros estão pessimistas em relação ao futuro do país, e outros 12% estão muito pessimistas. Ou seja, 47% da população está sem esperança sobre o que virá.

As crises econômicas chamam a atenção para as contradições resultantes do capitalismo, um sistema que proporciona oportunidades, mas também desigualdades econômicas. A recente crise que expôs o capitalismo permitiu que a desigualdade social viesse à tona e as soluções para tal problema precisam ser debatidas constantemente.

Não podemos ser pessimistas. O Brasil viveu mais de uma década de bonança. Tivemos um visível crescimento econômico, recebemos investimentos estrangeiros, tivemos a inflação e câmbio sob controle, a oferta de crédito foi facilitada, o salário mínimo foi reajustado, tivemos baixos índices de desemprego, etc.

Infelizmente, isso não é suficiente para manter um país em desenvolvimento. Talvez, se as reformas agrária, política, tributária e estrutural tivessem sido implantadas durante esses últimos 10 anos de crescimento, não estaríamos vivenciando a crise. A reforma agrária tornaria o país menos dependente da exportação de commodities, e mais favorecido pelo mercado interno. Já a reforma tributária, que foi recomendada pelo economista francês Thomas Piketty, priorizaria a produção, e não a especulação.

O ajuste fiscal necessário e tão desejado pelo governo, lentamente, vem sendo colocado em prática. Este ajuste contribuirá para que a economia brasileira volte a ser pujante como em outras épocas. Claro que o momento vivido pela economia do país não é desejado por ninguém, porém, devemos acreditar que a crise é passageira.

Não há como evitar a crise econômica de 2015, mas manter a prudência certamente irá nos ajudar durante todo o período de turbulência. Precisamos ver o lado positivo e avaliar o aprendizado que toda crise traz. Podemos diminuir o ritmo, mas é certo que o Brasil não vai parar.

Empreender não é fácil e nem simples. Enganam-se aqueles que pensam que para ter um negócio de sucesso basta apenas investir um valor financeiro, em um determinado setor. Alcançar o sucesso empresarial é muito mais que abrir um negócio.

Uma pesquisa da União Europeia realizada na região e nas maiores economias do mundo colocou o Brasil como o segundo lugar entre os países com maior tendência para o empreendedorismo – de acordo com os resultados, 63% dos brasileiros preferem trabalhar em um negócio próprio. A pesquisa incluiu os 27 membros da União Europeia e mais 13 nações, entre elas, China, EUA, Rússia, Índia e Japão. O primeiro lugar ficou com a Turquia, com 82%.

Empreender é a força do fazer acontecer, em qualquer área, seja de forma inédita ou não. É o envolvimento de pessoas e processos. É o principal fator promotor do desenvolvimento econômico e social de um país. É identificar oportunidades, agarrá-las e buscar os recursos para transformá-las em negócio lucrativo.

O empreendedor de sucesso é a pessoa capaz de gerar bons resultados em qualquer área de atividade, é aquele que motiva ações e cultiva ideias em prol do bem estar comum. O empreendedor de sucesso é, de fato, aquele que tem um novo olhar sobre o mundo à medida que presencia a evolução. Para isso, ele precisa apresentar determinadas habilidades e competências para criar, abrir e gerir um negócio, gerando resultados positivos.

As características técnicas de um empreendedor de sucesso envolvem a habilidade em saber escrever, ouvir as pessoas e captar informações. Além de ser organizado, saber liderar e trabalhar em equipe. Para a segunda categoria, classificamos as características gerenciais envolvidas na criação e gerenciamento da empresa. O conhecimento em marketing, administração, finanças, operacional, produção, tomada de decisão, planejamento e controle.

Finalizando as categorias, o empreendedor de sucesso precisa ser extremamente disciplinado, assumir riscos, ser inovador, ter ousadia, persistência, ser visionário, ter iniciativa, coragem, humildade e principalmente ter paixão pelo que faz. Claro que existem outras características como criatividade, autoconfiança, pró atividade, otimismo e senso de oportunidade que complementam o perfil.

E mesmo quando os aspirantes a empreendedores tem as características citadas acima, por vezes uma regra básica é esquecida: é preciso conhecer o mínimo a respeito da atividade que se pretende desenvolver e do mercado no qual quer se envolver. Familiarizar-se com aquilo que se deseja vender, seja o que for, é essencial.

E completando, é claro que o sucesso empresarial tem uma boa dose de sorte. No entanto, atribuir o sucesso dessas pessoas, única e exclusivamente ao fator sorte, é um raciocínio simplista e também uma injustiça com elas. Vale lembrar que errar também faz parte da vida de qualquer empreendedor. No entanto, no segundo caso, o mais importante é aprender com o erro e jamais cometê-lo novamente. O segredo é transformar seus erros e fracassos em lições.

O primeiro passo para ser um empreendedor de sucesso é sonhar. E para realizar os nossos sonhos é preciso muito esforço e perseverança. No empreendedorismo, correr riscos faz parte do negócio.

No dia 15 de junho de 2015, a Inglaterra celebrou os oitocentos anos de existência da Carta Magna.

Éuma história comprida. Escrita em latim, com 63 cláusulas, o documento, quase milenar, éreverenciado como um marco na conquista das liberdades humanas.

A propósito, os estudiosos divergem sobre o número de cópias remanescentes  eo alcance político das regras no contexto da era medieval. No entanto, todos convergem em relação a três pontos fundamentais e que justificam a celebração universal: éum texto ancestral do constitucionalismo moderno; éa primeira fonte do devido processo legal;é, sobretudo,uma imposição do primado da lei sobre o Rei João Sem-Terra, ou seja, a partir de então, ninguém, nem mesmo o Rei, podia agir, senão em conformidade com a lei.

No longínquo ano de 1215, a cláusula 39 prescrevia: Nenhum homem livre seráperseguido ou aprisionado, ou seráprivado dos seus direitos e posse, ou posto fora da lei ou exilado, nem usaremos de força contra ele, sem o devido julgamento de seus iguais ou pela lei da terra. Mais adiante, homens livres, a nobreza minoritária frente à maioria de servos da gleba, foi substituído por ninguém. Desta forma, consagrou-se no estatuto o princípioerga omnes.

Quando se usa a fita métrica do tempo, chega-se àconclusão de que a luta contra a opressão, em favor do primado da lei, é uma luta imemorial e estána raiz das pelejas políticas pela criação de uma sociedade de cidadãos.

Lamentavelmente, não chegamos lá. A boa nova, no entanto, éque estamos caminhando. Mas o caminho éde pedras. E as pedras assumem expressões que revelam uma sub-cultura política. Quem por acaso ainda não ouviu ou foi tentado a dizer: sabe com quem estáfalando?; aos inimigos os rigores da lei, aos amigos os favores da lei; manda quem pode, obedece quem tem juízo. Em recentes episódios, dois juízes infratores deram voz de prisão a uma agente de polícia e a dois funcionários de empresa aérea que cumpriam, corretamente, seus deveres funcionais.

Este caldo de cultura foi apurado e se mantém aquecido pelo autoritarismo que rege, desde as estruturas familiares o patriarca; as relações sociais hierarquizadas o dono, o chefe, o branco; ao sistema político no qual o autoritarismo se mimetiza naoligarquia, no clientelismo, no familismo e no mais nefasto e arraigado dos vícios que éo patrimonialismo.

Com efeito, este vício o patrimonialismo brota no lodo que enlameia a suposta igualdade formal e a desigualdade real na efetiva aplicação das leis onde prevalece o princípio Orwelliano (a Revolução dos Bichos, consagrada sátira ao totalitarismo soviético), segundo o qual, ao sétimo mandamento original Todos os animais são iguais, acrescentou-se mas alguns são mais iguais do que outros. Ao final, o porco Napoleão, líder da revolução, engana a todos e com sua turma de suínos brindam a prosperidade, jogando carteado com os ex-inimigos humanos Frederick e Pilkington.

Em Os donos do Poder, Raimundo Faoro fez o mais completo estudo sobre o patrimonialismo. A releitura de Faoro coloca o Brasil contemporâneo diante do espelho: Dominante o patrimonialismo, uma ordem burocrática, com o soberano sobreposto ao cidadão, na qualidade de chefe para o funcionário, tomarárelevo a expressão. Além disto, o capitalismo, dirigido pelo estado, impedindo a autonomia da empresa, ganharásubstância, anulando a esfera das liberdades públicas, de livre contrato, livre concorrência, livre profissão, opostas todas aos monopólios e concessões reais.

E na linha da promiscuidade entre o público e o privado, Faoro adverte: [...] Para isso o estado se aparelha [...] O funcionário estáem toda parte dirigindo a economia, controlando-a [...] O cargo confere fidalguia e riqueza. A venalidade acompanha o titular [...] Tudo étarefa do governo, tutelando os indivíduos, eternamente menores, incapazes [...] A expressão desta comédia se revela numa arte, cultivada às escondidas: a arte de furtar.

Contra a exímia arte de furtar, o Estado Democrático de Direito se realiza em duas vertentes: valendo para todos no resguardo do direito de defesa e valendo para todos, exercendo a função punitiva aos comprovadamente culpados.

Em meio a um ano que se mostra difícil para a economia brasileira, fomos surpreendidos pela notícia de que a China e Brasil assinaram um plano de cooperação mútua, até 2021, que somam aproximadamente US$ 53 bilhões ou R$ 167 bilhões.

O acordo chega exatamente quando os fundos de investimento globais se mostram cautelosos com o Brasil. Somos o país emergente que mais perdeu espaço nas carteiras dos fundos de investimento estrangeiros desde abril, de acordo com relatório do Instituto Internacional de Finanças, formado pelos maiores bancos do mundo.

Voltando ao acordo com os orientais, são 35 projetos previstos no projeto, incluindo os estudos de viabilidade para a construção da ferrovia transcontinental, que almeja cruzar o Brasil e seguir cortando o continente sul-americano. São parcerias nas áreas econômicas, estratégicas, de infraestrutura, transporte, agricultura, energia, mineração, comércio, ciência e tecnologia, entre outras.

A relação Brasil e China não é uma novidade. Ambos mantêm relações comerciais desde 1979, sendo que, a partir de 2009, o país asiático se transformou no maior parceiro comercial brasileiro. Juntos, eles mantêm importantes fluxos de investimentos bilaterais, sendo a China uma das principais fontes de investimento direto no Brasil. Se pensarmos em números, as trocas comerciais entre os dois países alcançaram US$ 77,9 bilhões em 2014, com superávit brasileiro de US$ 3,3 bilhões.

Sabemos que o Brasil tem um sério problema com infraestrutura, ficando sempre muito aquém nos rankings dos países com as melhores estradas, aeroportos, portos e ferrovias. Já a China, tem como preocupação principal manter 1,3 bilhões de pessoas em um país com características que não possibilitam desenvolvimento na agricultura e na pecuária e onde não há muito acesso aos recursos minerais. Assim, podemos considerar que um acordo desse nível seria benéfico para ambos os lados?

A economia é movida por três pilares: consumo, investimento – público e privado – e exportações. A China, durante anos, cresceu a uma taxa com dois dígitos. No entanto, esse número caiu e já entrou na casa de um dígito, mas ainda  é o pais que mais cresce no mundo. Os chineses precisam movimentar sua economia. Querem investir em infraestrutura no Brasil por vários motivos, um deles é o lucro. Por outro lado, precisam,  também, mudar seu modelo de crescimento econômico além de almejar garantir o escoamento de seus produtos.

Vale ressaltar que não somos uma economia que tem a capacidade competitiva dos chineses. Somos economias complementares. Precisamos de investimentos em infraestrutura e eles precisam de matéria prima. Hoje, um país emergente precisa investir, em média, 5.4% do PIB em infraestrutura e, nós, investimos apenas 2.2%. Além disso, investimentos em infraestrutura são estratégicos ao desenvolvimento do Brasil e para impulsionar a retomada de crescimento econômico. Assim, uma injeção de R$ 167 bilhões é um bom começo.

Todas as parcerias têm pontos positivos e negativos. Um acordo de cooperação mútua não seria diferente. Entretanto, há um ponto em especial que é bastante preocupante: a mão-de-obra. Será que tantos investimentos irão gerar emprego para os brasileiros ou será que centenas ou milhares de chineses imigrarão para a Brasil para suprir uma mão-de-obra qualificada que, infelizmente ainda  não podemos oferecer?

A intolerância religiosa é, certamente, um dos conflitos mais delicados em nosso planeta. Este debate, onde o fanatismo religioso está entranhado em milhões de pessoas, conduz a verdadeiras guerras, em nome, supostamente, de sua religião, como se fosse possível estabelecer qual delas "estaria com a razão".

Em casos extremos esse tipo de intolerância torna-se uma perseguição, sendo definida como um crime de ódio que fere a liberdade e a dignidade humana. A perseguição religiosa é de extrema gravidade e costuma ser caracterizada pela ofensa, discriminação e até mesmo atos que atentam à vida de um determinado grupo que tem em comum certas crenças.

O Brasil é um país de estado Laico, ou seja, imparcial, quando se trata do assunto religião, e as liberdades de expressão e de culto são asseguradas pela Declaração Universal dos Direitos Humanos e pela Constituição Federal. Então, qual é o genuíno direito do cidadão de repudiar, agredir e ir contra à religião que não faz parte de sua “fé”?

Constitucionalmente falando, todo cidadão brasileiro tem assegurado o direito de opinião e a inviolabilidade de consciência, isso quer dizer, que podemos seguir, ou não, qualquer crença religiosa, ainda que ela seja minoria. Assim, antes de sobrepor princípios inerentes, as pessoas devem respeitar as escolhas alheias e ter o entendimento de que uma religião, independente de possuir ou não a maioria de adeptos, não significa que ela seja a mais correta.

O direito de criticar dogmas e encaminhamentos é assegurado como liberdade de expressão, mas atitudes agressivas, ofensas e tratamento diferenciado a alguém em função de crença ou de não ter religião são crimes inafiançáveis e imprescritíveis. Podemos citar a falta de bom senso e de respeito mínimo à diversidade como fatores que criam e fortalecem as situações de caos e violência vistas em todo canto do mundo, inclusive em nosso país.

Vale ressaltar que crítica não é o mesmo que intolerância. Todos nós temos o direito de criticar encaminhamentos e dogmas de uma religião, desde que isso seja feito sem desrespeito ou ódio. Entretanto, no acesso ao trabalho, à escola, à moradia, a órgãos públicos ou privados, não se admite tratamento diferente em função da crença ou religião.

A grande questão não é a qual a religião correta a seguir, mas sim, o respeito que deve existir entre os adeptos de cada crença. É preciso respeitar as diferenças, seja em ambiente doméstico ou escolar. É preciso respeitar as escolhas do outro individuo, seja ela semelhante ou diferente da sua. Respeitar o próximo, independente de atitude, opinião ou crença.

Tudo começou, indicam pesquisas abalizadas, entre os anos de 1830 e 1860. Neste período, existiam mais de setenta equipes inglesas de futebol com regras específicas para cada local.

Somente em 1863, após um encontro (Freemasons Tavern) de representantes de clubes e escolas, foram criadas a Football Association e um comitêcom a tarefa de uniformizar as regras, como, de fato, foram (14) e tornadas públicas na edição de 08 de dezembro de 1863 do jornal Bell Life.

No dia 21 de maio de 1904, por obra e graça de quatro amigos, veio ao mundo um bebêa FIFA predestinado a crescer sem parar atése tornar um monstro do tamanho do mundo. Entre eles estavam o primeiro presidente, Robert Guérin, e o mais longevo presidente, Jules Rimet, (1921-1954), seguido por Stanley Rous (1961-1974), Havelange (1974-1998), Blatter (1998-2015), e os sete países fundadores (Bélgica, Dinamarca, Espanha, Holanda, Suécia, Suíça e Alemanha). Curiosamente, uma reticente Inglaterra aderiu em 1906. Em 107 anos de existência a Fifa foi comandada por, apenas, oito presidentes.

Sem limitações para alternância e um crescimento monumental de poder, a bola” seria, inevitavelmente, o caminho da perdição.

Com efeito, o ponto de inflexão foi a década de 70. Havelange marcou o golaço da globalização. A pequenina FIFA instalada no modesto escritório em Zurique e tocada por 12 funcionários, hoje gasta, US$ 397 milhões com 474 funcionários.

Com desmedido orgulho, Havelange se referia àFIFA como a maior multinacional do mundo, proclamando números espetaculares: 210 países filiados (mais que a ONU), mais de 300 mil clubes, cerca de 150 milhões de jogadores, mais de 500 milhões de pessoas vivendo direta e indiretamente do futebol.

De organizadora e gestora, a FIFA passou a ser dona e mandona do maior espetáculo da terra, um negócio planetário com audiência acumulada que oscila entre 30 a 40 bilhões de telespectadores (saltou de 5 bilhões na Copa de 1982 para 37 bilhões na Copa de 1994). Do casamento do futebol com a televisão, disse Havelange a Blatter: Vocêcriou um monstro. Juro que não entendi.

Agora, o mais importante: o tamanho da grana que rola solta noabarrotado cofre da FIFA. Em 2008, diziam os gestores que a reserva da entidade era zero. Como me considero neto da velhinha de Taubaté, acredito em milagre. Vamos a ele.

De 2011 a 2014, o relatório da FIFA registra um recorde de receita no valor de US$6,4 bilhões e uma reserva US$1,5 bilhão. Pudera, a Copa de 2014, a mais cara da história, ultrapassou a soma das Copas do Japão/Coreia, da Alemanha e da África do Sul.

Das fontes permanentes de receita, a FIFA conta com 14 patrocinadores classificados em três faixas de valores: seis parceiros (pagam entre US$24 a US$49 milhões) cujas marcas são exibidas em todos os eventos organizados pela entidade; oito patrocinadores (pagam entre US$10 e US$25 milhões), as marcas são exibidas nas Copas do Mundo e das Confederações; apoiadores nacionais (pagam entre US$4,5 e U$7,5 milhões), as marcas são exibidas no país sede (foram oito na Copa de 2014).

Um erro fatal detonou o escândalo da roubalheira: os espertalhões esnobaram os EUA e brincaram com o fisco americano. Aílascou.

A rigor, não hásurpresa. Em excelente artigo (edição de 5 de junho do JC), o Professor Tulio Velho Barreto mencionou quatro livros cujo enredo éo lado sujo do futebol.

De outra parte, poder e corrupção, ensina a experiência histórica, são irmãos; quanto maior, poder e corrupção passam a ser irmão siameses; e quando o poder éexercido sem obedecer aos controles institucionais, poder e corrupção se fundem numa entidade maligna.

Caso o triste episódio da colossal roubalheira não puna exemplarmente os culpados e introduza na entidade eficazes mecanismos de controle e responsabilização, restarão a conhecida lição de Lord Actono poder corrompe e o poder absoluto corrompe absolutamente; e uma lamentável conclusão: o Brasil incorporou o padrão FIFA.

No dia 9 de abril, quarta-feira, o senhor Marcio Martins de Oliveira soltou cinco roedores no plenário da CPI da Petrobras logo depois que o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, entrou no local para prestar depoimentos.

Dizem os especialistas no assunto que eram dois hamsters (sem rabo) e três esquilos-da-Mongólia (vendidos em Brasília a R$ 30, oito reais acima do mercado), ou seja, animais da espécie de roedores que não podem ser chamados de ratos. Taí uma discussão que não tem a menor importância. Simbolicamente, são ratos assim como são ratos, os humanos que roem o tesouro público, infectam o ambiente social, corroem  costumes, leis e instituições. Entre gritinhos de espanto e uma caça feroz, os pequeninos seres cumpriram a missão, deixando a seguinte mensagem: quem com roedores se misturam em ratos bípedes se transformam. 

Para mim, indiferente que fossem da família dos ratus ratus (rato-preto), rattus novergicus (ratazana ou rato-de-esgoto), mus musculus (catitas) ou de outra qualquer família. São animais perigosos porque inteligentes. Porém,éforçoso reconhecer que são animais benfazejos quando imolados em experiências científicas para salvar vidas humanas. Seria injusto, também, não confessar meu especial especial carinho pela criação de Walt Disney: o Mickey Mouse, sua namorada, Minnie e seus amigos inseparáveis, Pateta, Pluto e Pato Donald. Mais injusto ainda, não ser grato ao rato tecnológico, o mouse, nosso guia nos passeios cibernéticos.

Agora, o rato bípede, este sim, tem feito um mal danado ao Brasil. Maior do que a transmissão da bubônica, do tifo, da toxoplasmose e do prejuízo àprodução de grãos (algo em torno de seis bilhões de reais), éa malignidade da nova espécie, o rattus rattus brasiliensis: devora a vergonha nacional e a esperançade um Brasil melhor.

De fato, o Parlamento que deveria ser o palco onde se manifesta, plenamente, a democracia representativa, transformou-se num teatro de horrores.

Diante do noticiário televisivo (12 de maio), dou de cara com uma cena de programa de calouros (sem ofensa aos programas). Um choque. Aliás, perdão pela palavra chula, assisti à esculhambação que se supera a cada dia: a doleira, Nelma Kodama, condenada a 18 anos de prisão por uma penca de crimes cometidos, nega que tenha carregado euros na calcinha (falta de espaço); ato contínuo, de costas para o plenário, bate no bumbum, para ilustrar que guardou a grana no bolso traseiro da calça (comprida, éclaro) e, com um sorriso cínico, entoa o hit de Roberto Carlos, amada amantepara ilustrar o amor demais amigo, sem preconceito e sem saber que édireitoque viveu com o delinquente Alberto Youssef. Não mentiu. Junto com ele, fizeram suas próprias leis.

Pensei que aquela seria a cena final da encenação de horrores a que somos obrigados assistir e conviver. Puro engano. E desta vez, a vítima foi uma das paixões nacionais: a bunda. E por ser uma paixão nacional deve ser encarada com elevação e respeito.

Na arte, o tema remonta a escultura grega (Afrodite) e romana (Vênus), exposta em diversos museus. Nelas, a Vênus Calipígia retrata a deusa do amor e da beleza com nádegas protuberantes por obra e graça de Zeus em troca de prazeres ilícitos.

Na sociologia e na antropologia, ninguém menos do que Gilberto Freyre escreveu notável ensaio intitulado, Bunda, paixão nacional, em que destaca a ondulada anatomia  das afro-brasileiras, objeto de admiração e de ardente desejo do brasileiro (v. Revista Playboy, n. 113, dezembro de 1984).

Tem mais: o recatado Drumond, na obra postumamente publicada em 1992, O amor natural, compõe o poema,Bunda, que engraçada, no qual verseja: A bunda são duas luas gêmeas em rotundo meneio/anda por si na cadência mimosa/ no milagre de ser duas em uma, plenamente. O recatado e genial Drummond temia que o sensual/erótico fosse confundido com o pornográfico. Tinha razão. Que o diga a vulgaridade do "tchan" e das "popozudas".

Pois bem, um moleque da força sindical na sessão do Congresso Nacional do dia treze de maio, em protesto pela aprovação da MP 664, baixou a calça e praticou o ritual do bundalêlê. Cena repugnante de um cretino que profanou a paixão nacional. Enfim, um bundão!  

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