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Recife e Olinda celebram, nesta segunda-feira (12), 481 e 482 anos de fundação, respectivamente. As cidades, consideradas irmãs, têm protagonismo na história política pernambucana. Cada uma, ao seu modo, já foi palco de revoluções, atos e mobilizações políticas que marcaram época. Fatos que reforçam ainda mais a responsabilidade dos gestores que administraram os dois municípios.

Prefeito da capital de 1979 a 1982, Gustavo Krause (DEM), ponderou que “ser gestor do Recife é uma responsabilidade aguda, pelo que o município representa”. “É carregar toda a responsabilidade histórica de séculos”, declarou, admitindo que mesmo tendo governado Pernambuco, gerir a cidade “foi uma das mais ricas experiências” que já teve na vida. “Na prefeitura é um governo com muita proximidade com a cidade, o bairro que você mora, as pessoas que você convive”, completou.

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De colônia portuguesa à considerada capital do Nordeste, Recife carrega um destaque político no país que ultrapassa os séculos. “A visibilidade do Recife é secular, é o abrigo da expulsão dos holandeses e está na vanguarda do processo histórico brasileiro. Acabamos de celebrar o bicentenário da Revolução de 1817. A cidade abriga enormes vocações culturais, basta você ir ao Alto José do Pinho ou à Bomba do Hemetério. O Recife tem o privilégio de ter uma música própria, quando se fala no frevo. Sempre foi destaque, inclusive, em matéria de gestão municipal, prefeitos que passaram pela cidade e fizeram grandes administrações”, considerou Krause. 

Com a Marim dos Caetés o cenário de luta política não é diferente desde, por exemplo, a primeira gestão do ex-prefeito Germano Coelho em 1977. Naquela ocasião, ainda com os governos do Estado e federal sob a batuta de militares, Germano se articulou visando “reconstruir Olinda do passado para construir Olinda do futuro”. Foi a partir deste plano de administração que a cidade foi transformada, em 1982, Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). 

“Não é fácil administrar uma cidade, e naquelas circunstâncias, mais difícil ainda. Mas tínhamos o plano de metas para cuidar do patrimônio. [...] Em vez de fugir, eu resolvi enfrentar os velhos e novos problemas de Olinda. Eu vinha já com a experiência do Movimento de Cultura Popular (MCP)... Não era somente um slogan de campanha eleitoral, mas um programa de governo pautado nessa ideia. Algo profundo. A gente precisava operar mudanças sérias”, descreve Germano, em trecho do livro “Olinda no coração, história afetiva da cidade-humanidade”, no qual ele conta detalhes das administrações de 1977 a 1980 e 1993 a 1996. 

A proposta do ex-prefeito emedebista teve sucesso e não à toa, Olinda conquistou espaço político e cultural no país e no mundo. “Olinda é uma das cidades mais importantes do país e está ligada aos fatos históricos mais importantes da formação do povo brasileiro. Olinda protagonizou a primeira manifestação em defesa da república da América Latina. É uma honra grande ser escolhido pela população para governar uma cidade como esta. O Brasil inteiro tem um carinho por Olinda, sempre encontrei as portas abertas nos lugares que cheguei, dos governos estadual e federal à ONU. Isso ajudou muito a viabilizar projeto para reestruturar a cidade e dar uma visibilidade maior, mais pujante”, declarou o ex-prefeito Renildo Calheiros (PCdoB). 

O comunista geriu a cidade vizinha à capital pernambucana por dois mandatos, de 2009 a 2017, e para ele “Olinda é mais que uma cidade é um estado de espírito”. “As pessoas quando batem aqui se apaixonam. A cidade tem uma energia e não é só no Carnaval, a energia vai descendo as ladeiras e contagiando quem a visita ou mora por aqui”, pontuou, frisando a “honra de ter sido escolhido” para administrar o município que hoje celebra 482 anos. 

O Democratas (DEM) pode liderar uma chapa para disputar, pela primeira vez, o comando da Presidência da República. A tese vem sendo reforçada nos últimos dias, com as articulações para o credenciamento do nome do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (RJ), para a corrida em outubro. O DEM, que é a nova roupagem do antigo PFL desde 2007, esteve presente em duas eleições gerais e nelas firmou apenas aliança com o PSDB. Na primeira, em 2010, ocupou a vaga de vice de José Serra, com Índio da Costa, já em 2014 esteve na base aliada do senador Aécio Neves.

Ainda como PFL, desde o início da nova república, o partido concorreu apenas uma vez ao cargo de presidente, com  Aureliano Chaves em 1989. Nas eleições de 1994 e 1998, aliada dos tucanos, conquistou a vaga da vice-presidência de Fernando Henrique Cardoso, com o pernambucano Marco Maciel. Já em 2006, tendo o também pernambucano José Jorge na vice, não obteve êxito com a postulação de Geraldo Alckmin, atual governador de São Paulo que, inclusive, também estuda participar da eleição presidencial este ano.

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A expectativa de reedição da aliança com os tucanos, no entanto, tem sido deixada em segundo plano desde que o próprio Maia admitiu ser um dos “três ou quatro nomes” democratas viáveis para  o pleito. Nos bastidores, comenta-se que o presidente da Câmara, inclusive, já iniciou conversas com o PP e o Solidariedade, para angariar apoios. Além disso, Maia vem se movimentando para legitimar a sua liderança política, desta vez, mirando na reforma da Previdência.

Em discursos oficiais e entrevistas, Maia diz que ainda é cedo para tratar sobre eleições e reforça a necessidade de debater a matéria que atualiza as regras previdenciárias e será colocada em votação na Câmara em 19 de fevereiro.

“Não está na hora de tratar de eleição, temos uma agenda de votações ainda na Câmara que são fundamentais para o futuro do Brasil. Não adianta estarmos preocupados com eleição se a gente não conseguir superar esta distorção enorme começando pelo sistema previdenciário e tributário”, disse o parlamentar, em passagem recente pelo Recife. Na ocasião, uma cena chamou a atenção. Ele foi chamado de “candidato” pelo deputado federal SIlvio Costa (Avante), mas preferiu levar em tom de brincadeira.

No DEM, lideranças da legenda já veem o presidente da Câmara como alternativa viável para a disputa. “Na construção de uma candidatura presidencial, o nome natural do partido é Rodrigo Maia. Ele se credenciou como presidente da Casa no segundo mandato, tem tocado a agenda das reformas que estão possibilitando recuperação econômica do Brasil. Hoje o foco do Rodrigo e a principal prioridade dele é a agenda de reformas”, disse o ministro da Educação e presidente do DEM em Pernambuco, Mendonça Filho.

Ex-governador de Pernambuco, Gustavo Krause considerou as movimentações de Rodrigo Maia como “previsíveis e naturais”. “É natural que partidos do centro busquem seus espaços, a movimentação dele é legítima e reflete a importância que ele vem assumindo no cenário político”, salientou, ponderando que as pré-candidaturas já postas - do ex-presidente Lula (PT) e do deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ) - são “populistas”. “O país precisa de serenidade, essas candidaturas de centro vão buscar isso”, acrescentou Krause.

Questionado se via possibilidade reais de disputa e se a participação no pleito fortaleceria o partido, Krause fez uma avaliação positiva. “É preciso jogar, para ganhar e fortalecer o time, na política é exatamente assim”, frisou.  

Chapa pura ou aliança?

Rodrigo Maia tem mantido conversas com o PP e o Solidariedade para uma eventual aliança, mas Geraldo Alckmin também não descartou ainda ter o Democratas no seu palanque. Diante da incerteza, também passou a surgir rumores de que o DEM venha a lançar uma chapa pura para o Planalto. Sendo ventilado, inclusive, o nome de Mendonça Filho para vice.

Neste aspecto, Gustavo Krause disse que os dois tem “densidade no ponto de vista político e eleitoral”. “São hoje expressões nacionais. De um lado o presidente da Câmara, que tem um protagonismo evidente, e de outra parte um ministro que tem tudo um desempenho reconhecido nacionalmente. São postulações legítimas que ocupam o espaço e vai se vendo ao longo do tempo, a minha expectativa é que o centro político tenha mais de uma candidatura”, soltou, descartando aliança com o PSDB.

Se terá candidato a presidente ou não, o DEM deve definir isso na convenção nacional marcada para o dia 6 de fevereiro. A expectativa é de que o nome de Rodrigo Maia não seja lançado, mesmo se a sinalização por participar do pleito seja positiva, mas a tendência é que o presidente da Câmara já afira sua aceitação partidária com um discurso efusivo.  

Não é uma apologia à impontualidade, mas instigante título de um grande livro de Thomas Friedman (autor de "O mundo é plano"). Obra fascinante em que o autor busca compreender e fazer com que os leitores compreendam a transição atual que é uma profunda inflexão histórica marcada por três grandes vetores de aceleração: a globalização, a tecnologia e a mudança climática.

Neste sentido, o autor se socorre de Marie Curie (primeira mulher a ganhar o prémio Nobel e única vencedora em dois campos distintos: química e física) que ensina: “Nada na vida deve ser temido, se formos capazes de compreendê-lo. Agora é o momento de compreendermos mais, para que venhamos a temer menos”. Muito apropriado para o nosso tempo em que o ritmo da mudança e da aceleração coincidem no crescimento exponencial das transformações e dificultam as adaptações, especialmente, para quem não está atento ao fenômeno.

Vivemos a “Era da Aceleração”. Sem botão para a pausa, como as máquinas, caminhamos, de disrupção em disrupções, de ruptura em rupturas, velozes, furiosos, ansiosos, angustiados, patologicamente, na direção do pânico. 

Pois bem, o autor narra que usa o tempo da refeição matinal para despistar a solidão, entrevistar personalidades e compartilhar conhecimentos com amigos. Certa manhã, um dos companheiros do desjejum atrasou e, desmanchando-se, em desculpas, ouviu uma resposta inesperada “obrigado pelo atraso”: o autor encontrou tempo para pensar e produzir. Friedman descobriu e apertou o botão “pausa”, mergulhou na reflexão que a, partir daquele momento, passou a integrar o seu funcionamento psíquico.

Momento raro e silencioso. Liberto do celular; mensagens do zap; postagens dos tuítes; narcísicos faces e selfies, a pausa serviu para duas constatações: a velocidade das mudanças e a carga brutal de informação somente são úteis se a reflexão transformá-las em conhecimento.

Dei o livro de presente a uma amiga que retribuiu com brilhante comentário: “Estava num restaurante e, diante de mim, um casal não tirava os olhos dos smartfones. E aí constatei que as máquinas estão pensando por nós. Nos mandam desejos, imperativos. Robotizados, somos impessoas. Para quê? Cadê os olhos nos olhos, o toque. Seres digitalcêntricos, perdemos a pele. Possivelmente um escudo contra a dor do existir; hipnotizada, sou ninguém; nada me responsabiliza; afugento o inevitável: a morte, porque estou abraçada à potência da máquina, um placebo contra as impotências nossas de cada dia. Receba um abraço humanamente afetuoso”. Falou e disse!

O grande pensador Norberto Bobbio publicou, em Torino, “alguns escritos dos últimos anos sobre as chamadas ‘transformações’ da democracia (...) Prefiro falar em transformação, e não de crise, porque ‘crise’ nos faz pensar num colapso iminente. A democracia não goza no mundo de ótima saúde, como de resto jamais gozou no passado, mas não está à beira do túmulo (O futuro da democracia; uma defesa das regras do jogo; Ed, Paz e Terra, 1986).

No livro Sobre a Tirania, (2017, Companhia das Letras), o historiador Timothy Snyder, pesquisador profundo das atrocidades cometidas pela Alemanha Nazista, a União Soviética e, sob o impacto da eleição de Trump, alerta: “É preciso se preparar agora para a possibilidade de um colapso quanto o ocorrido nos anos 1920, 1930 e 1940”.

Na mesma linha de preocupaçāo com os riscos que correm as democracias, estão Steven Levitsky e Daniel Ziblatt (Harvard), co-autores do livro "Como morrem as democracias", a ser lançado no próximo ano.

Somente o tempo insondável do futuro dará razão a tão notáveis intérpretes da cena política. A prudência aconselha a não submeter as singularidades locais à uniformidade de “ondas” globais. Preventivamente, o ponto de partida é admitir que a democracia é uma ideia antiga, mas uma experiência recente que, segundo Huntington, sobreviveu às “ondas reversas”.

Por sua vez, Snyder registra que o avanço totalitário se dá pelo voto e obedece à lógica de que na política, todos passaram a ser vistos como suspeitos” e, em sociedades assim, não percebemos o perigo de que “quem tem o melhor controle do palco tende a alcançar o poder”. Fatos, verdades e tolerância dialética não contam.

Transpondo para o caso brasileiro estes marcos analíticos, é fundamental atentar para a precisa constatação feita pelo cientista político Antonio Lavareda sobre o tamanho do mercado “supostamente não democrático no Brasil de hoje”. Ele toma como indicativo a pesquisa do instituto Latinobarômetro (2016), na qual, apenas, 32% dos brasileiros preferem a democracia como forma de governo, à frente da Guatemala e abaixo da média continental em que 54% dos povos preferem a democracia.

Considerando que o radicalismo à direita, interpretado por Bolsonaro, tem um potencial de cerca de 20% do eleitorado e o lulopetismo, um piso cativo em torno de 30%, cabe indagar: onde fica o centro democrático ocupado por uma esquerda contemporânea e liberais esclarecidos? Submersos na crise de representatividade e salpicados de lama?

Nada de previsão. No Brasil de hoje, o futuro foi ontem. Não custa, porém, ler as 20 vacinas ao autoritarismo, propostas por Snyder.      

 

Os seis ex-governadores de Pernambuco fizeram, nesta sexta-feira (26), um comunicado à nação defendendo o respeito e cumprimento da Constituição Federal diante do cenário político nacional e o “rigor da punição a corruptos e corruptores”. Na carta, capitaneada por João Lyra Neto (PSDB), os ex-gestores do Executivo estadual dizem que as investigações devem ser levadas “às últimas consequências”. 

Além disso, eles ponderam também que “só uma ação integrada e harmônica entre os três poderes constituídos garantirá uma solução para o impasse político que o País enfrenta neste grave momento da nacionalidade”.

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Em conversa com o LeiaJá, Lyra Neto disse que as propostas expostas pelos ex-governadores podem ajudar o país a recuperar a estabilidade. “Tive esta iniciativa exatamente por causa do quadro que vive o país e em relação a nossa participação na história brasileira, vivemos um momento de instabilidade e grande crise econômica, ética e política, temos que em primeiro lugar obedecer a Constituição, trabalhar pela punição dos corruptos e restabelecer o entendimento entre os poderes”, declarou.

Segundo o tucano, as articulações para a construção do manifesto iniciaram na última segunda-feira (22). A carta será encaminhada ao Congresso Nacional, ao presidente Michel Temer (PMDB) e ao Poder Judiciário. 

Apesar de já terem sido citados nas investigações da Lava Jato, maior esquema de corrupção do país, os ex-governadores Jarbas Vasconcelos e Mendonça Filho, atuais deputado federal e ministro da Educação, respectivamente, também assinaram a carta. 

Jarbas está na lista do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Edson Fachin, por ter recebido doações da Odebrecht para a campanha, mas ele afirma que tudo aconteceu “dentro da lei”. Enquanto Mendonça, teve o pedido de abertura de inquérito negado pelo então ministro Teori Zavascki. Ele era acusado de receber propinas da UTC. 

Mesmo com estas ressalvas, nos bastidores, os ex-governadores consideram que compõem o único grupo de ex-gestores dos estados do país sem acusações formais de corrupção e com legitimidade para se posicionar sobre o assunto. 

Alguns, inclusive, acreditam que o Brasil precisa passar por uma operação igual a Mãos Limpas que aconteceu na Itália e reorganizou a política no país, dissolvendo até os partidos políticos. 

Veja a carta na íntegra:

Aos Brasileiros

Pernambuco deu, ao longo de sua história, notáveis exemplos de compromissos com as lutas pela liberdade, pela democracia e pelo respeito aos direitos humanos.

Desde a Revolução Pernambucana de 1817, a Confederação do Equador de 1824 e a Revolução Praieira de 1848 que estamos na vanguarda das melhores causas nacionais.

Nós, ex-governadores de Pernambuco, firmamos posição - neste momento de grave crise política, ética e econômica - em defesa dos princípios democráticos e do mais absoluto respeito à Constituição em vigor, fruto da luta de milhões de brasileiros.

Defendemos irrestrito apoio as ações desenvolvidas pelo Ministério Público e o Poder Judiciário no sentido que seja aplicado o rigor da punição a corruptos e corruptores. As investigações de desvios de recursos públicos devem ser levadas às últimas consequências.

Só uma ação integrada e harmônica entre os três poderes constituídos garantirá uma solução para o impasse político que o País enfrenta neste grave momento da nacionalidade.

A Nação clama por respeito à Constituição, aos princípios democráticos, punição aos corruptos e corruptores, como premissa básica para estabilidade da economia e retomada da geração de empregos.

Gustavo Krause

Jarbas Vasconcelos

João Lyra Neto

Joaquim Francisco

Mendonça Filho

Roberto Magalhães

O ex-governador de Pernambuco, Gustavo Krause, pai da candidata à Prefeitura do Recife Priscila Krause (DEM) prestigiou o lançamento do programa de governo da democrata nessa quinta (25). Em entrevista exclusiva concedida ao Portal LeiaJá, ele falou sobre o primeiro obstáculo que os candidatos terão durante esta campanha eleitoral é vencer a descrença da população agravados pelos escândalos de corrupção.

Gustavo Krause ressaltou que o Brasil não suporta mais estelionatos na política e nas eleições. “Todos terão que passar esse descrédito, inclusive, Priscila. Mais do que descrédito, as pessoas estão irritadas. Essa conjuntura adversa à política de um modo geral é o primeiro dos obstáculos que eles têm que superar. No entanto, como minha filha afirma: só existe a política como instrumento de mudança. Não existe nada para se colocar no lugar”, disse.

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O também ex-prefeito do Recife declarou que não se pode deixar levar pela aparência do candidato. “Não se deve deixar levar por um sorriso encantador, pela simpatia ou pelos olhos bonitos de um candidato. É preciso procurar saber sobre a sua história, seu trabalho e a maneira que ele se conduz. As pessoas precisam assumir a consciência de que o voto traz consequências, então, pense antes de votar”, pediu.

Gestão de Geraldo Julio

Sobre a gestão municipal, Gustavo Krause ponderou. “Eu não tenho dúvidas de que o prefeito tentou procurar fazer o máximo, no entanto, ele incorreu no erro de criar grandes expectativas, foram promessas que não conseguiram ser realizadas. Essa diferença entre o que foi prometido e o que foi entregue, no meu entender, é o aspecto negativo da gestão dele, agora, de fato, ele fez coisas positivas e cabe ao eleitor julgar”, finalizou.

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A candidata à Prefeitura do Recife Priscila Krause (DEM) lançou, na noite desta quinta (25), seu programa de governo no Clube Internacional. Na sua primeira fala, pediu desculpas pelo atraso do horário previsto para o início do evento explicando que a falta de mobilidade na cidade causa esses incidentes. Em seguida, ressaltou que, embora “um exército pequeno”, era muito forte e com capacidade de crescimento.

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A candidata declarou que decidiu iniciar “a campanha com o que muitos deixam para o final, que são as propostas de governo porque o ato de hoje já representa um momento de diálogo”, disse. Krause, no seu discurso, reafirmou que há 12 anos conhece o Recife. “Ao logo de todos esses anos tenho convicção de que, se não houve progressos é porque existe a negação da política. Vemos por aí muito safadeza e que não são verdadeiros políticos. Precisamos transformar com a democracia, quem nega a política, nega a democracia”, disparou Krause.

A democrata, que é deputada estadual, ressaltou que ninguém tem o direito de brincar com a esperança de um povo que sofre. “Dizem que há três momentos na vida que se mente: quando se caça, quando se pesca e no período de eleições. Eu não concordo. Os recifenses merecem respeito”, disse Priscila.

Programa de Governo

Entre as propostas apresentadas no encontro, a parlamentar falou sobre a criação de um Comitê de Avaliação de Gastos com objetivo de fiscalizar os gastos e despesas da gestão, bem como de uma Agência de Desenvolvimento do Bairro do Recife. Também propõe cuidar das ilhas como as de Santo Antônio e de São José. “Esses são lugares estratégicos que não podem ser problemas. Também precisamos estimular as economias, acima de tudo, um prefeito tem que ser um líder”, frisou Priscila Krause.

Ainda prometeu, caso eleita, cuidar dos corredores de pedestres pensando numa cidade inclusiva. “Temos que pensar nas pessoas que têm deficiência, idosos, as grávidas, pois, se essas pessoas se locomoverem bem, todas as demais também conseguirão. Também incentivaremos o uso de energia solar e criaremos a Casa-Mãe, que é o meu xodó. Não sei se pela condição de mãe, mas me angustia, independente da classe social, ver mães que não têm a certeza de onde deixar o filho para ir trabalhar ou optam por não ser mãe por não ter onde deixar. Essas serão algumas de várias outras iniciativas”, disse a candidata. 

Vocação

O pai de Priscila Krause, que também esteve presente no ato, o ex-governador Gustavo Krause, salientou que a candidatura de Priscila foi construída a partir de uma vocação que foi manifestada nela quando ainda muito jovem. “Essa vocação se manifestou, ela trilhou um caminho e obteve sucesso em três eleições para vereadora com votação crescente, desempenhou mandato com muita consistência e respeito, aprendeu muito durante esse processo, que é de acumulação de conhecimento, elegeu-se deputada também com uma votação expressiva e se credenciou dentro do partido como uma força capaz de disputar uma eleição majoritária”, declarou.

Gustavo Krause também disse que o programa de governo de Priscila foi baseado nas propostas da população e das contribuições de um debate público. “Também teve a escuta de especialistas. É por isso que o jogo democrático é bonito, porque as pessoas manifestam os seus desejos e, cabe aos candidatos, acolherem essas vontades e ter a coragem de fazer uma campanha decente, sem mentiras e sem promessas mirabolantes”, acrescentou. 

A carreira profissional dos pais é espelho para muitos filhos que optam por seguir o mesmo caminho. Na política isto não é diferente e as eleições municipais sempre reforçam o ditado de que “filho de peixe, peixinho é”. Neste ano, em diversas cidades pernambucanas, estão sendo apresentadas candidaturas de filhos de políticos que já administraram os municípios e hoje concorrem ao mesmo cargo. 

Algumas delas, inclusive, são resultados de projeções feitas pelos próprios pais para perpetuar a passagem de uma família pela administração municipal, onde avós, pais, tios, filhos ou primos deixam nas prefeituras um legado genético, tal como a direção de empresas privadas. Outras, entretanto, são frutos de uma construção política e de candidaturas posteriores que podem ter enfrentado o contragosto paterno. 

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No Recife, um exemplo disso é a candidatura de Priscila Krause (DEM). Filha do ex-prefeito da capital (entre 1979 e 1982) e ex-governador Gustavo Krause (DEM), a democrata afirmou ao Portal LeiaJá que a chegada à disputa não é resultado de algum tipo de projeção feita há 10 anos quando ingressou na política. Priscila disputa pela primeira vez um cargo executivo 22 anos após o pai deixar a vida pública. 

“Não existia um projeto traçado, mas avalio de uma maneira super positiva [ser filha de um ex-prefeito] porque meu pai deixou uma marca muito grande [no Recife]. Onde eu ando tem uma referência muito forte em relação a gestão dele, embora faça muito tempo. As pessoas dizem ‘ você tem que ser 10% do que seu pai foi’. Então traz uma responsabilidade e um comprometimento maior. Acho isso muito bom, gosto desta responsabilidade. Ando a cidade inteira levada pelo legado que ele deixou na vida pública. Não vejo isso, de forma negativa. Pelo contrário, tenho isso a meu favor”, disse. 

Segundo a democrata, quando decidiu disputar pela primeira vez um cargo público ela se deparou com “ponderações” feitas por Gustavo Krause, mas agora, com a disputa pela prefeitura, ouviu muitos conselhos. “A gente conversou muito, muito, muito. Aí ele me disse: ‘se eu posso lhe dar um conselho e se minha gestão deu certo foi porque eu governei da cidade para a rua, seja fiscal de você mesmo’. E é isso que vou fazer”, completou.

Priscila Krause, no entanto, não é a única. Na Região Metropolitana, outros dois exemplos se enquadram neste perfil. Um em São Lourenço da Mata, onde o DNA rege constantemente as disputas, o filho do ex-prefeito Jairo Pereira, Bruno Pereira (PTB) é o principal adversário do atual gestor e postulante à reeleição, Gino Albanez (PSB). Outro no Cabo de Santo Agostinho, onde Betinho Gomes (PSDB) tenta mais uma vez ocupar o cargo de prefeito que o pai e atual prefeito de Jaboatão dos Guararapes, Elias Gomes, já exerceu por dois mandatos (1982 a 1985 e de 1996 a 2000). 

“Elias nunca projetou minha candidatura aqui no Cabo. Na realidade surgiu de forma muito natural, fui me inserindo na política aos poucos, claro que estimulado pela admiração que sempre tive pelo trabalho dele. Mas ao contrário [do que pensam] ele sempre me pediu para que eu não entrasse na política. Hoje disputo a eleição independente do desejo de Elias como líder político. Somos aliados, debatemos as questões da cidade do Cabo, mas há uma autonomia em relação aos meus posicionamentos”, esclareceu o tucano. 

Na análise de Betinho, não existe um peso maior na postulação dele, mas sim algo que amplia suas credenciais ao cargo. “Na verdade tem uma referência positiva do governo que ele realizou, o que nos ajuda, pois aumenta minhas credenciais. Fico apenas me sentindo estimulado a superar os desafios que ele teve que enfrentar no passado com a condição financeira até mais adversa”, salientou.

No Sertão, onde as disputas familiares e a hereditariedade política são mais latentes, um novo retrato disso pode ser visto em Petrolina com a candidatura de Miguel Coelho (PSB) que é filho do senador Fernando Bezerra Coelho (PSB), prefeito da cidade sertaneja entre 1993 e 1996. “Concorrer ao cargo que ele já ocupou na verdade não traz um peso a mais, mas faz uma boa referência do que foi feito no passado. Petrolina tinha um ritmo de desenvolvimento há 10 anos que hoje não tem mais. A comparação das ações dele e as nossas propostas é inevitável, ele é uma base e uma referência que fico feliz em tê-la”, afirmou o socialista. 

“Meu pai sempre apoiou as nossas decisões. No momento que decidi ser candidato ele viu que era o melhor nome para sair vitorioso. Nosso projeto é um projeto da cidade”, acrescentou, rebatendo as críticas de que a postulação seria um projeto familiar. Miguel é o exemplo atual, mas o filho mais velho de FBC, como é conhecido no meio político o ministro de Minas e Energia, Fernando Filho (PSB), também já concorreu ao Executivo Municipal, chegando quase a assumir o posto com a cassação do mandato do atual gestor Julio Lossio (PMDB). 

Já na capital do Agreste, Caruaru, a filha do ex-prefeito e ex-governador João Lyra Neto (PSDB), Raquel Lyra (PSDB) também concorre ao comando do Executivo municipal. Para a disputa, inclusive, os dois deixaram o PSB e ingressaram na legenda tucana pelo nome de Raquel ter sido preterido pelos socialistas. João Lyra comandou Caruaru em duas oportunidades, de 1989 a 1993 e de 1997 a 2001. Entramos em contato com Raquel Lyra e Bruno Pereira, mas não obtemos êxito até o fechamento desta matéria.

O ex-governador de Pernambuco Gustavo Krause se emocionou no seu discurso durante o ato de homologação da candidatura da sua filha e candidata à Prefeitura do Recife, Priscila Krause (DEM). Ele destacou que seu discurso seria feito com a razão política e não como pai e ainda fez uma homenagem em nome a Marco Maciel, ex-governador do estado e vice-presidente da República, sendo ovacionado.

Para Gustavo Krause, a eleição de Priscila em 2002, quando concorreu a uma vaga na Câmara Municipal do Recife, não era dada como certa. "Era algo absolutamente improvável que ela se elegesse e conseguiu. Eu nunca quis influenciar nas carreiras que meus filhos escolheram. Eu sempre dizia que ajudaria no que fosse possível, porém, que tratasse de ser não a filha de Gustavo Krause, mas que eu me orgulhasse de Priscila Krause", ressaltou. Otimista, o ex-governador ressaltou as qualidades da filha e apostou na sua eleição para o cargo máximo da capital pernambucana. "A coragem irá construir a primeira mulher prefeita do Recife", disse.

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Gustavo Krause finalizou fazendo referência ao país e ao Recife. "Nós desde sempre ouvimos dizer que o Brasil estava em crise, desde os oito anos de idade. Convivi com um país de incerteza e dificuldades. O que posso dizer é que não desanimem. O país vai sair em frente. O Brasil tem essa capacidade de superação. O sistema político está doente, porém há soluções. O Recife também precisa de um líder para manejar a cidade. Difícil é ser líder, porém um líder se faz diante dos desafios" , pontuou.

Na edição de 26/2/2016, Folha SP, o leitor Álvaro Abrantes Cerqueira (Muriaé, MG), indaga sobre o custo moral e material, causado pela Presidente Dilma para se manter no poder.

Existem vários articulistas e renomados economistas que tentam responder a tão complexa e intrincada questão. Não háuma resposta precisa. A pergunta, a meu ver, remete a uma questão preliminar que merece reflexão: o erro, um fenômeno essencial àvulnerabilidade da natureza humana.

O erro, consequência indesejada dos nossos atos, pode ser cometido nas diversas esferas da ação humana e opera, em cada uma delas, consequências distintas quanto à abrangência eàgravidade.

Na esfera privada, os erros têm limites mais reduzidos, porém, importância semelhante a uma pedra que, ao ser jogada em um lago, gera um raio crescente de círculos concêntricos. Exemplo singelo: os erros cometidos pelos pais na formação do núcleo familiar podem gerar uma cadeia de consequências negativas no espaço alargado da sociedade.

Ainda na esfera privada, o erro do empresário opera necessariamente efeitos negativos e imediatos sobre a vida dos empregados e efeitos, mais ou menos significativos sobre a formação da riqueza nacional a depender do tamanho e da natureza dos bens e serviços produzidos.

No espaço público, espaço predominantemente ocupado pela Política, os erros cometidos afetam a coletividade e, dependendo da natureza e dimensão, podem comprometer gerações e o futuro de uma nação. Podem, até, colocar em risco a humanidade. Em síntese, os erros dos políticos são megaerros.

No caso da atual Presidente, houve um erro original que foi cometido pelo seu inventor, o ex-Presidente, Lula que, com força política e prestígio eleitoral, apresentou a candidata àsua sucessão como a gerentonacapaz de dar continuidade àgestãodo país que tinha rumo; um país que, aos olhos do mundo, tinha um manifesto destino de potência global; um país que, sob o comando de firme da gestora, com inquestionável competência (?), transformaria o Brasil dos nossos sonhos: nação grande, próspera e, sobretudo, justa.

Infelizmente, estamos diante de um cenário de horror: crises superpostas, indicadores econômicos, diariamente, apontando para o agravamento da situação e, o mais assustador, o ambiente de paralisia decorrente da incerteza e da deterioração do ambiente social o que, somados, comprometem possibilidades e disseminam o medo em relação ao dia de amanhã.

Neste sentido, não faltam palavras para descrever e sentir as dores das perdas; o que desafia a todos éavaliar o custo real do nosso infortúnio.

Eis o que afirma, em artigo publicado no Estadão, edição de 23/01/2016, Mônica de Bolle (Pesquisadora do Petterson Institute for International Economics e Professora da Sais Johns Hopkins University): A taxa de poupança como proporção do PIB caiu de uma média de 20% em meados de 2011 para míseros 15% em 2015 (...) perda de riqueza para economia brasileira de R$ 300 bilhões (...) em função das ´medidas contracíclicas´ que não surtiram os efeitos desejados, como nos tem dito a comandante-chefe da economia, a Presidente Dilma.

Por sua vez, Paulo Rabello de Castro (PH.D pela Universidade de Havard e autor de ´O mito do governo grátis'), em artigo publicado no Estadão, edição de 03/02/2016, fez uma conta pelo método da acumulação de passivos e prejuízos, contabilizando a média histórica de crescimento econômico, nela incluídas as década de 70, 80, os 3,5% da gestão Lula, custos financeiros da dívida,  e concluiu; São 15 pontos percentuais do PIB acrescidos ao nosso passivo financeiro (...) Dilma também éa senhora de um trilhão de reais acumulados ao nosso passivo financeiro (...) Essa éa conta. Juros a mais, PIB a menos, empregos eliminados, capital evaporado, confiança desfeita, futuro destroçado (...) Por isso a década esbanjadaseráconcluída com êxito! Ninguém, afinal, conseguirároubar essa Olimpíada de Dilma.

Antes que esqueça: nós, eleitores, erramos, ou, para aliviar o peso da consciência, fomos enganados. 

“Duas circunstâncias respondem pelo tempo de validade dos ministros da área econômica: conjuntura estável e favorável; confiança e identidade político-ideológico com o Presidente da República”.

Aí vai trecho do artigo de minha autoria, publicado no Blog do Jamildo em 08/01/15. No governo FHC (1995/2002), o Ministro foi Malan; governo Lula, dois ministros: Palocci (01/1/03-27/3/06) abatido pela quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo em decorrência do escândalo da “mansão do contubérnio” e sucedido pelo Ministro Guido Mantega que, apesar do recorde nacional de permanência no cargo e cega obediência à cartilha econômica da Presidente, foi alvo de humilhante “demissão” antecipada no início do mês de setembro de 2014. (Para refrescar a memória, na década perdida, 1980-1994, tivemos 15 Ministros da Fazenda, seis moedas, seis planos de estabilização e 720% de inflação média anual).

Com efeito, os fins eleitorais justificavam os meios: o corpo decapitado de Mantega, vagando pela esplanada do Ministério e o caminho aberto para a escolha de Joaquim Levy, representavam um sinal oportunista para o mercado, ainda que o cidadão fosse eleitor de Aécio e devoto de ideias que causam náuseas a Dilma, à bancada, aos economistas do PT e a todos que sempre defenderam uma saída pela esquerda. O roteiro do calvário era previsível e, por uma crueldade do destino, nem o clima de solidariedade natalina poupou Joaquim Levy da imagem de Papai Noel às avessas com um saco de maldades às costas para surrupiar a comida da mesa dos pobres. Na origem, ele estava marcado para morrer de morte matada. E que venha Nelson Barbosa sem repetir, porém, a opinião sobre a dupla indexação do salário mínimo e seus notórios efeitos sobre a previdência, o que lhe valeu, em janeiro, um pito público da Presidente. Barbosa, Dilma é o ministro!

Ora, a questão central não está na mudança de ministro porque a raiz da grave crise brasileira está na falência de um sistema político que permite e valida escolhas equivocadas e de má qualidade. Toda linha sucessória está sob suspeita. A Política deslegitimada corre o risco de abrir espaços para perigosas aventuras. O fato é que  falta Política à Economia e não receita econômica para enfrentar a crise.

Qualquer economista razoavelmente informado sabe que um ajuste duradouro repousa no tripé: redução estrutural das despesas públicas, redução da dívida e crescimento econômico sustentado. Claro que por trás do simples enunciado, a execução é de enorme complexidade e, somente, viável, caso esteja alicerçada num amplo consenso nacional.

O descontrole é estrutural porque a despesa cresce acima da renda nacional; o déficit nominal chegará a 9% do PIB em 2015 (6% em 2014); a dívida pública chegará aos 70% do PIB; a carga tributária que era 24% do PIB em 1988, hoje, está em torno de 36% (aumento do 50%); o déficit da previdência será de 85 bilhões de reais em 2015 e 125 bilhões em 2016; a vinculação de gastos é uma monstruosidade orçamentária porque enfraquece o Legislativo e o Executivo, e financeira porque enrijece a noção de prioridades, comprometendo a qualidade dos gastos e transformando o Estado num ente disfuncional e incapaz de arbitrar os conflitos distributivistas.

Diante de tamanhos desafios, cabe ao governo apontar e construir caminhos de modo a reverter expectativas; resgatar a confiança e agir de modo a iniciar um círculo virtuoso.

Neste sentido, o ajuste estrutural demanda uma agenda de curto prazo que enfrente a crise fiscal e uma agenda reformista de, médio e longo prazos, que permita enxergar a viabilidade de uma país que vive um flerte histórico e inacabado com o futuro.

Não é o Ministro Barbosa, nem o Ministro Simão que vão responder a tamanhos desafios. É Dilma, gerentona esporrenta, presidenta despótica, gestora plenipotenciária, que enfrentará sua obra desastrosa: a imobilidade política do próprio governo, a inércia reformista, a fragmentação da base parlamentar, a impopularidade e o imponderável, este sim, um adversário oculto que, iluminado pela Lava Jato, sacode as madrugadas brasileiras e confirma que cada dia há de ser consumido pela própria agonia.

Cícero não éo jogador que ganhou destaque no Santos, Fluminense e, atualmente, corre atrás da bola no Al-Gharafa do Catar.

Seu nome épomposo Marcus Tullius Cícero. Nasceu na Itália no longínquo janeiro do ano 107 a.C e morreu assassinado por conta das artes da política em dezembro do ano 44 a.C.

Era dotado de fulgurante e versátil inteligência. Escritor, poeta e filósofo introduziu na língua latina a prosa filosófica dos gregos. Seguidor de Platão, é autor de Da República, Das Leis, Da Natureza dos Deusese, entre outras obras, um livro notável sob a forma de diálogo sobre a velhice (De Senectute) no qual revela a contagiante sabedoria dos estoicos.

Porém, apesar da imortalidade garantida como pensador, manteve-se vivo e influente atéos dias atuais por conta de sua conduta como político e, sobretudo, como advogado e orador imbatível.

Os bacharéis em direito da minha e de gerações anteriores enfrentavam nas provas de vestibular, português, inglês ou francês, e o latim (no ano em que prestei vestibular, duas matérias foram adicionadas história e filosofia e as Catilinárias substituídas pela monumental obra Corpus Juris Civilis que, por ordem do Imperador Jusitiniano, e concluída em 530 da era cristã, salvaguardou para a posteridade o maior feito do Império que foi o Direito Romano).

E o que eram as Catilinárias? Uma coletânea de quatro discursos de Cícero que destruiu a conspiração de Lucio Sérgio Catilina, um político que encarnava a conjuntura romana da época, marcada por uma corrupção endêmica, estrelada por uma geração de jovens precocemente corruptos, sem o mínimo zelo com a dignidade pessoal e dispostos a satisfazer ambições inconfessáveis na busca de acumulação de riqueza e da fruição dos prazeres mundanos (uma advertência: estamos falando de Roma, logo qualquer semelhança com nações modernas émera coincidência).

Pois bem, os estudantes que almejavam transpor os umbrais das faculdades de direito eram obrigados (e treinados) para ler, traduzir e fazer análise sintática da língua morta/viva, de enorme complexidade. Caso contrário, seriam reprovados.

Éfamosa e conhecida a abertura dos discursos: Atéquando, Catilina, abusarás da nossa paciência?Mais uma vez, mera coincidência com personagens vivos e buliçosos.

Depois de ocupar, muito jovem, os cargos de Questor (espécie de gestor fiscal), Edil, Pretor e eleito Consul (43 anos) e derrotar Catilina, Cícero recebeu o título de Pai da Pátria, Libertador e Fundador da Nova Roma. No entanto, pagou com a própria vida pela conduta reta e ilibada: foi cruelmente assassinado pelos asseclas de Marco Antonio.

Não bastassem as obras e os exemplos, Cícero nos deixou uma admirável síntese que érecorrentemente citada em palestras e aulas sobre a gestão pública: O orçamento nacional deve ser equilibrado. As dívidas públicas devem ser reduzidas, a arrogância das autoridades deve ser moderada e controlada. Os pagamentosa governos estrangeiros devem ser reduzidos se a Nação não quiser ir àfalência. As pessoas devem novamente aprender a trabalhar, em vez de viver por conta pública(ano 55 a.C).

Cai o pano. 2015, d.C, A Presidente Dilma corretamente veta um malsinado projeto de lei sobre o futebol brasileiro e emite a MP 671 que Instiui o Programa de Modernização da Gestão e de Responsabilidade Fiscal do Futebol Brasileiro, dispõe sobre a gestão temerária no âmbito das entidades desportivas profissionais, e dáoutras providências.

Quem se der o trabalho de ler detidamente os 37 artigos da MP compreenderáa atualidade de um texto que tem mais de dois mil anos. A MP pode se tornar um marco na lenta evolução institucional do futebol e reverter a vergonhosa situação a que chegou a grande paixão nacional.

Apesar dos avanços, a MP corre um risco e tem um pecado capital.

O risco éser destroçada por interesses subalternos e pressões ilegítimas na tramitação congressual. Seráuma luta inglória se a sociedade não se mobilizar, especialmente os que lidam direta ou indiretamente com o futebol, o maior espetáculo da Terra.

O pecado: a MP não trata de uma questão vital que éa distribuição, minimamente equânime, das cotas de televisionamento, entre as entidades desportivas profissionais.

Caso as bancadas do atraso vençam, o placar permanecerá: Alemanha 7x Brasil 1.

As falhas na representatividade política dos parlamentares brasileiros, diante da visão popular, estiveram entre os assuntos mais consensuais abordados, nesta segunda-feira (6), durante a audiência pública promovida pela Comissão Especial da Reforma Política na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), no Recife. 

Citando dados de pesquisas nacionais, o relator da Comissão, Marcelo Castro (PMDB-PI) pontuou que 71% dos eleitores brasileiros não têm nenhuma afinidade com nenhum partido político. O percentual, segundo ele, “é uma demonstração inequívoca da falência do nosso sistema político”. “Os movimentos nas ruas são contra Dilma, mas é contra todos nós também”, analisou o parlamentar.

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“Político virou uma classe estranha à sociedade e amaldiçoada. Há um verdadeiro divórcio entre a sociedade brasileira e os políticos”, acrescentou o peemedebista.

Corroborando Castro, o ex-governador Gustavo Krause (DEM), afirmou que “crise de representatividade é óbvia” e não é resultado apenas da falta de uma reforma política, mas de um conjunto irregularidades cometidas pelos que “deveriam representar o povo”.  

“Há uma faixa que diz assim: Isto não é uma crise, é que nós não amamos mais vocês. Vocês somos nós, os políticos. Vamos continuar sempre neste posicionamento de comodidade? A pergunta que cabe é porque a reforma não foi feita antes?”, indagou analisando que no Brasil existem 32 partidos, 28 com representatividade no Congresso Nacional e outros em processo de análise no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para criação.

Krause ainda observou que normalmente se colocam a responsabilidade dos escândalos de corrupção na falta de uma reforma política, quando na realidade não é este o motivo. “Não é a política que faz o candidato ladrão, mas o voto que faz ladrão o candidato e político”, disparou.

Ampliando o debate sobre representação, o deputado federal Jarbas Vasconcelos (PMDB) disparou contra a presidente Dilma Rousseff (PT). “Não sei até quando o Brasil vai aguentar um a presidente que ainda não completou 100 dias e está na crise de representatividade como esta”, observou. “Não sei se a presidente renúncia, se ela vai ser submetida ao impeachment, se ela vai tentar uma conciliação nacional ou se ela vai se unir e ouvir o seu protetor, o Lula”, acrescentou o deputado.

Cada povo tem um senso de humor peculiar. Uma das peculiaridades do humor brasileiro é rir e fazer com que as pessoas riam do próprio infortúnio.

O Brasil sofre duas longas e históricas secas: a seca da vergonha e a seca d´água,  a estiagem que pelas bandas do sertão (mais amplamente, o semiárido) fez morada desde sempre  e matou de fome milhões de nordestinos. A solução da seca da vergonha foi proposta por Capistrano de Abreu pela mais sintética constituição do universo: Artigo único: Todo brasileiro fica obrigado a ter vergonha na cara. E aíseríamos felizes para sempre.

Do espaço sideral, a exclamação A terra éazul!" foi uma ilusão de ótica do astronauta Yuri Gagarin: é quase tudo água salgada. E como se não bastasse, o homo sapiens tratou de maltratar a Terra, planeta água, uma das mais belas construções poéticas do grande Guilherme Arantes.

Pois bem, a seca chegou ao sudeste brasileiro e de forma devastadora em São Paulo, exatamente para onde fugiam da desdita, humilhados, que nem a ave migratória, a arribação que dánome ao romance de Antonio Sales (década de trinta) e foi fonte inspiração para a pungente, dolorida, sofrida obra do cancioneiro nordestino.

Nesta vasta e bela produção artística não tem espaço para o humor. Basta para verter lágrimas sobreviventes do sol ardente, inclemente, ouvir Triste Partidade Gonzaga, canto que mistura a dor lancinante da desesperança e a contrita prece de uma féinabalável em Deus. E se a gente ouve o crepitar da fogueira na metáfora a terra arder, bate um sentimento de tristeza e impotência transformadas por Gonzaga e Humberto Teixeira, na segunda música mais marcante do século XX ao lado de Carinhoso, de acordo com o julgamento dos imortais da ABL em 1997.

Se o que dáprárir, dápráchorar na conformação do ethos brasileiro, o humor do Jeca-Tatu, Macunaíma, Pedro Malasartes, Policarpo Quaresma nos transporta para a anarco-carnavalização do Reino de Momo. Aíos compositores das marchinhas brincam de humor/ironia com a água (ou a falta dela).

Aívão alguns exemplos: AllahLáÔ”, Cachaça(vocêpensa que cachaça éágua..), Saca-Rolha(as águas vão rolar...), Chuva, suor e cerveja. Estas e outras marchinhas de idêntica temática fazem parte dos carnavais passados. Porém, a crise hídricapaulistana levou Joaquim Candeias Junior a aproveitar Lata d´água na cabeçae concluir que Maria sem eira nem beiratermina na ressaca da Cantareirae, numa toada ainda mais irreverente, o compositor Emerson Boy do Jegue Elétrico, aproveitando o vocabulário da moda volume morto, manda o pessoal ir pro Uruguai/brincar com o Mujica/látem meu remédio/vou sair do tédio. Dando um tapinha, certamente.

Deixei por fim a marchinha Tomara que chova(composta por Romeu Gentil, cantada pela notável Emilinha Borba, 1950) que dizia: Tomara que chova/três dias sem parar/a minha grande mágoa/éláem casa não ter água/eu preciso me lavar.

Esta marcha me remete a uma história que presenciei na fazenda Pirauá, propriedade de minha família onde passava parte das férias escolares. Com curiosidade de adolescente ouvia as conversas de meu pai e tios com a matutada. Tinha um morador, chamado Neco de dona Menininha, rezadeira e parteira. Ele, um cara parrudo, não enjeitava trabalho, nem na roça, nem no curral, ordenhando e, no pasto, vaquejando. Tinha vinte cinco anos e casou com Eulina, cabocla brejeira e boa parideira: cinco anos de casamento cinco bruguelos. Por coincidência, conversavam sobre aquele ano que foi  de seca braba. No meio da conversa, sob a sombra de um Ficus exuberante que aplacava o mormaço, meu pai perguntou Neco, e essa danada da seca? Nunca vi nada parecido.  Neco, prontamente, concordou: Dotô, por Deus a fé, táfartando água pra tudo. Onte, Eulina, adespois de butá os mininoprádrumir, preguntô, o Neco tu vai pricisá deu hoje, a água tápôca, mai si tu pricisar, aíeu lavo os meu pissuídos. Eulina fez bom uso da água, tanto que no ano seguinte a gente conheceu o sexto rebento de Neco.

 

Na noite da última quarta-feira (4), o ex-governador de Pernambuco, Gustavo Krause, foi homenageado na Câmara dos Vereadores do Recife com a medalha do Mérito José Mariano, mais alta comenda do legislativo municipal. A homenagem foi entregue pelo presidente da casa, Vicente André Gomes (PSB). Pai da vereadora Priscila Krause, Gustavo já foi Prefeito e Vereador do Recife, e ministro da Fazenda e do Meio Ambiente durante o governo de Fernando Henrique Cardoso. 

Durante a sessão, parlamentares falaram um pouco sobre o homenageado. O primeiro a falar foi o vereador Raul Henry (PPS). “Interessa-me falar desse último que no auge da carreira política se afastou, deixando perplexidade. Talvez tenha sido pela conivência com a República que a cada dia se desfaz, ou talvez, para ser fiel a si mesmo. Deu-nos Priscila que a ele sucede e representa uma esperança”, falou.

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O presidente da Câmara, Vicente André Gomes (PSB), reassaltou que um dos maiores legados da gestão de Gustavo Krause na Prefeitura do Recife foi a criação dos “barracões” nas áreas pobres da cidade.  “Uma visão futurista e empreendedora do administrador público, comprometido com as classes mais necessitadas”. 

O homenageado agradeceu e afirmou que a maior recompensa foi rever todos os presentes na sessão.“Essa homenagem é um teste para cardíacos. É um dia de reencontro com a emoção, alegria, gratidão a Deus e amigos presentes e ausentes. Nesta Casa vivi momentos inesquecíveis. Tenho fascínio pelo poder municipal, o mais humanizado da república federativa onde tudo se vê e se ouve. Para quem vive o município, como vivi , o mundo é a casa, a rua, o bairro, a cidade, o país, e o tempo é agora. Aqui pude compreender a verdade sobre o parlamento, esse poder colegiado, o autêntico poder democrático”, concluiu.

Gustavo Krause é natural de Vitória de Santo Antão, na Zona da Mata Sul do Estado. Formado em direito e com especialização em Direito Tributário e consultor de empresas, atualmente trabalha na Universidade Católica de Pernambuco e presta serviços à AACD.

A Câmara dos Vereadores do Recife irá homenagear, nesta quarta-feira (3), o ex-governador de Pernambuco Gustavo Krause concedendo a ele a medalha do mérito José Mariano, mais alta comenda do legislativo recifense. A solenidade foi proposta pelo presidente da casa, Vicente André Gomes (PSB), e está prevista para começar às 16h, no plenário da Câmara.  

Gustavo Krause já foi vereador e prefeito do Recife, vice-governador e governador, deputado federal, ministro da Fazendo e do Meio Ambiente. A homenagem, de acordo com o decreto legislativo, será prestada pelas "políticas públicas que já demonstravam a visão futurista e empreendedora, comprometido principalmente com as populações mais pobres e desassistidas". O documento cita ainda a iniciativa dos “barracões” e o programa “Um por Todos”.

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O ex-governador, que é pai da vereadora da capital e deputada estadual eleita Priscila Krause (DEM), deixou a vida política depois que saiu do Ministério do Meio Ambiente, em 1998.

“Eu sou o segundo poste”. Assim se definiu o prefeito paulista Fernando Hadadd em meio à euforia da comemoração da vitória no pleito de 2012. As referências implícitas eram facilmente decifráveis: o primeiro poste foi a presidente Dilma; o autor das proezas o grão-mestre da política brasileiro Lula da Silva que prepara o terceiro poste, se é que se sustenta em pé, o ex-ministro da saúde Alexandre Padilha.

Com efeito, o eleitor brasileiro já se viu diante de duas “teorias” eleitorais: a do poste e a do andor. Ambas têm um traço em comum: dependem para o êxito nas urnas da força política de um líder ou de um conjunto de forças que carregam, tanto num caso, como no outro um candidato “pesado” e sem luz própria. Pode dar certo ou não, mas, no caso de vitória explicação é simples: o candidato não ganhou, ganharam por ele e, a partir da posse, trate de iluminar seu próprio caminho.

Importante não esquecer que a “invenção do poste” tem origem numa das inúmeras tiradas mordazes de Delfim Netto que mandou bala em Fernando Henrique: “Se um poste disputar com Fernando Henrique tem grandes chances de ganhar. Mas se derem nome ao poste, FH se elege sem fazer força”. Deram nome ao poste, Lula, o neo-amigo de Delfim, que perdeu duas eleições para FHC.

Bom, mas isso é passado. O que interessa são os postes atuais, o maior deles que é a presidente Dilma.

O poste não acendeu. Sob uma conjuntura econômica favorável, ampla base política, vitaminada com o apelo eleitoral do dinheiro público sob forma de “bolsas”, montada no Estado aparelhado de fio a pavio, e desfrutando de um animador de comício com retórica populista, a candidata venceu a eleição. O Brasil estava diante de mais uma promessa de Lula: a “gerentona” que levaria o país à terra prometida.

Repita-se: o poste não acendeu. A herança maldita no plano ético exigiu atividades comparadas a de uma faxineira que encantou a classe média. Bom começo. No entanto, com o passar do tempo, a experiência mostrou que não houve faxina que desse jeito. O Estado brasileiro foi capturado, cupinizado em setores e estatais nunca dantes imaginados e, na mesma toada, a Presidente provocou um apagão na política, erodiu os fundamentos da economia e, ao manter imobilizadas as reformas estruturais, jogou uma densa nuvem de incerteza na esperança dos brasileiros.

Um curto-circuito nos fios desencapados da insatisfação represada provocou, em junho de 2103, um choque de alta voltagem na sociedade. Não se sabe para onde caminha esta situação do ponto de vista político-eleitoral. Uma coisa é certa: as manifestações de rua ratificam um sentimento majoritário de mudança.

Resultado: acendeu a luz amarela para o longevo projeto de poder engendrado pelo lulopetismo. E agora? Uma solução: “Volta, Lula!” Surpresa? Para mim, nenhuma. Diante das opiniões discordantes da hipótese, analisava, em primeiro lugar, o perfil do caudilho que vive do poder, para o poder e, mesmo quando morre, sobrevive sob a forma de mito; em segundo lugar, porque a soberba de quem resdescobriu e reinventou o Brasil, alimenta o ego e canta aos ouvidos do condutor de massas “eu sou a força”; terceiro, porque o messianismo (fonte de inspiração de candidatos e movimentos sociais no Brasil) é filho do velho sebastianismo lusitano que esperou por muito tempo a volta do salvador, o Rei D. Sebastião que morreu lutando contra os mouros, em 1578, na batalha de Alcácer-Quibir. Atenção: Lula está, felizmente, mais vivo do que nunca. Só pensa naquilo: entrar em campo como solução para a manutenção do projeto de poder e, espero, não seja rebatizado com nome Luiz Inácio lula Sebastião da Silva.

No Brasil houve um tempo em que, no crepúsculo vespertino, o acendedor de lampiões, não passou despercebido pelo poeta alagoano Jorge de Lima que, assim, definiu sua função: “Parodiar o sol e associar-lhe à lua, quando a sombra da noite da noite enegrece o poente!”

No Brasil atual, a conta salgada da energia elétrica tirou de cena o “acendedor de lampiões”. Por sua vez, o eleitor bem que poderia eliminar o “acendedor de postes” ou evitar que Lula seja o poste de si mesmo.

Milenar provérbio romano. De força indiscutível como conselho aos que se aventuram falar sobre o que não sabem ou fazer o que está além de suas habilidades. O jovem contemporâneo reproduziria o antigo lema com um descolado "te manca, velho. Fica na tua".

Depois de ler os artigos de Adriano Oliveira e Maurício Romão, autoridades sobre ciência política e leitores privilegiados de pesquisas de opinião, eu me arrisco a desobedecer o velho dito. Não para contraditar ou para desdizer, apenas meter o bedelho onde não fui chamado, mas que trata de assunto estimulante para qualquer cidadão.

Uma preliminar antes de entrar no mérito do assunto: meu respeito profissional pelos articulistas é de tal ordem que não hesitaria em tê-los como conselheiros se poder tivesse para tanto. Eles sabem disso.

O tema é a interpretação das recentes pesquisas do Datafolha e a questão magna é a majoritária tendência de mudança revelada pelos entrevistados e a quem esta tendência beneficia.

Afirmo com convicção: a maioria quer mudança. Ora conselheiro Acácio, qual é a novidade? Os números estão aí dizendo. Então para não ser confundido com a ridicularia solene do personagem eciano, vou expor minhas razões.

 

1. Em todas as eleições, somente existem dois caminhos ou, digamos, duas propostas dialeticamente opostas: continuidade ou mudança;

 

2. De um modo geral, a experiência do jogo democrático das competições eleitorais demonstra que as mudanças se operam, entre 8 e 12 anos, alternando forças política e ideologicamente opostas seja por fadiga de material, seja por desgaste das políticas públicas praticadas;

 

3. Na história da novel democracia brasileira tem sido assim: FHC 8 anos (governo de quatro continuado por mais quatro anos); Lula 8 anos (governo de mudança em  4 e de continuidade em mais 4 anos). Aqui há um dado curioso: a "Carta aos Brasileiros" do então candidato Lula, abjurando tudo o que disse ele, disseram os documentos oficiais, os economistas do PT, e, em particular, largando de mão toda a maluquice da heterodoxia econômica. Tradução: cambiar, pero no mucho;

 

4. Com Dilma, Lula prorrogou a lógica da mudança e aproveitando os bons ventos da economia, creditou-se integralmente das melhorias da elevação da renda do brasileiro; deu um porre de consumo generalizado à base social; assumiu  a condição de novo "pai dos pobres" (o autêntico é vô Getúlio), e verdadeira mãe dos muito ricos; metamorfoseou-se em Dilma, a "mãezona (fake) do PAC" e logrou alargar o ciclo de poder para doze anos; 

5. Com Dilma, sem Dilma, apesar de Dilma, a mudança é inexorável por uma simples razão: pior não pode ficar. O governo derrete e joga na população o óleo fervente da Petrobrás; a gerentona distribui esporro em quarenta ministros e adjacentes; a gestão política é comandada pelos notórios de sempre; a política econômica e seus antigos pilares ruíram e austeridade não rima com eleição, mas sua falta rima com inflação e com a intoxicação dos juros altos. Reformas estruturais, nem pensar.

6. Vai mudar. E nos primeiros dias de janeiro de 2015, serão ministrados remédios amargos ao povo brasileiro que se imaginava a salvo da reprise de filmes de terror: tarifaço, arrocho salarial, arrocho orçamentário, juros em ascensão, contas externas desequilibradas, câmbio (quem sabe?). Vai mudar e pode ser com Dilma ou o Padrinho: sob a euforia do hexacampeonato mundial de uma Copa onde tudo vai funcionar. Neste glorioso momento, ela ou ele escreve um "Bilhete aos brasileiros" prometendo o inverso de 2002, ou seja, 2015 o ano de grandes mudanças. O eleitor brasileiro vai adorar. De estelionato eleitoral, a gente entende. Lembrem-se do Cruzado II nas eleições de 1986.

A vida é dureza. Sempre foi. Cada vez mais. Hoje em dia, invade a casa da gente. Rádio, televisão e a hipnose da família eletrônica dos “I”, “Face”, “WattsApp” nos levam a prestar menos atenção ao próximo mais próximo. Em matéria de informação o que nos chega é a violência nas mais variadas e requintadas formas; a corrupção organizada pelos homens do colarinho branco, amarelado pelo suor fétido dos seus usuários rechonchudos; tome imposto de verdade e engula a mentira dos serviços públicos.

O jeito é falar de moleza. Moleza inocente. Natural. Na maioria das vezes, herdadas. Vem no DNA. É mole e atormenta quem não merece: as mulheres. E  atende por um nome assustador: celulite. Um terror que se localiza nas redondezas da região glútea e, dependendo do caso, se espalha pela parte posterior das coxas. As magrinhas não estão imunes às ondulações do tecido fibroso que nem casca de laranja.

No começo da década de noventa, em parceria com o famoso J. Michiles, nasceu a marchinha cujo refrão é o seguinte: “Gordinha, linda Afrodite/parei no seu it de anjo barroco/você me deixa louco com seu apetite/acredite/adoro celulite!”. Criamos o bloco. Disputa acirrada para escolher a porta-bandeira (quem ganhou? Segredo de confissão). Quase sai tapa. O bloco era curtição e somente uma vez foi às ruas. A preguiça era muito grande. A gente anunciava todo ano a presença de celebridades (Jô Soares, Wilza Carla) e, no clima de carnaval,...tudo era fantasia. Mas as portadoras de celulite estavam de alma e tecido adiposo lavados: o frevo-canção era uma resposta ao Bloco da Malhação da academia da saudosa Jandira Airam, letra de minha autoria, musicada, adivinhem por quem? O doce amigo e notável compositor Luiz Bandeira. Refrão: “Malha, menina!/menina, malha!/fica durinha senão encalha!” Quase linchado, fui perdoado com a apologia à celulite.

Bem, a celulite é a saúva do século XXI: ou se acaba com ela ou ela põe em risco  o sexo feminino. Tem receita de todo tipo: fórmulas caras, “cientifícas”, naturais, soluções caseiras (manteiga de cacau com açúcar e pó de café, eca!, banho de algas, três copos ao dia de suco de limão e pimenta caiena,  a couve milagrosa e por aí vai).

E haja maluquice. As loucademias de ginásticas são verdadeiros sanatórios que fabricam a neurose da “mulher perfeita” (para ela e o espelho, espelho meu), o ideal da Vênus calipígia (com todo respeito) de bunda dura e pacientes de ortopedistas e fisioterapeutas.

Aliás, “A bunda dura” é um artigo atribuído (?) a Arnaldo Jabor e leitura recomendável para auxiliar o tratamento psicanalítico no mundo que glorifica os “máximos”; canoniza a aparência; subestima a essência; e, para mergulhar na inconsciência, consome, adoidado, pílulas para dormir, para acordar, para sorrir, para sentir prazeres em escala negada pela natureza. Somos vítimas da civilização do medo generalizado em fuga permanente do real que dói, maltrata, mas que precisa ser enfrentado.

Ora, a mulher não precisa ser dura, nem mole; não precisa ser uma estátua de charme; não precisa se redesenhar a cada década passada; basta ser mulher no corpo cuidado, adequado a cada idade e sem perder o viço interior do senso de humor e do amor; manter acesa a luz de uma sabedoria que emana dos sentimentos da maternidade; mulher que ria, faça rir e que tenha idéias mais longas do que os cabelos. Esta escultura da alma feminina jamais perderá a graça e a capacidade de sedução.

E nós homens, fracotes, como precisamos delas. Precisamos daquela metade que na narrativa da obra platônica, o “Banquete”, é separada do ser original completo e, a partir de então, vaga pelo mundo em busca da outra metade.

Encontrando, amigas, é prudente relevar o desleixo do toalha molhada em cima da cama; de mijar no assento do vaso sanitário; de jogar a pelada regada a cerveja, conversando leseira. Encontrando, amigos, vale sentir no corpo da mulher, o suave aconchego, revestido pela gordurinha localizada e pela indesejada celulite. E todo dia, repetir, em tom de prece, o que diz o cancioneiro “Meu amigo, se ajeite comigo e dê graças a Deus”.

Existe muita gente disposta a embromar e um número de embromáveis infinitamente maior. Trata-se de uma luta desigual entre vigaristas e pessoas de boa fé, os otários, na linguagem dos criminosos.

Por falar em linguagem, o leitor pode ficar sossegado: tenho juízo suficiente para não ir além do trivial. Nada de entrar na semiótica de notáveis teóricos como Peirce, Saussure, Umberto Ecco, etc... Muito menos profanar as ideias de Aristóteles sobre retórica, lógica, dialética, poética e suas relações com a metafísica, a política e a ética que o passar dos milênios absorveu e reverencia.

Vou simplificar. Ou seja, pensar um pouco nessas categorias tão presentes no nosso cotidiano como a nutritiva mistura do feijão com arroz.

Mas vamos pensar, tentando identificar quem ilude e os sintomas da farsa da embromação.

Por definição, seja astúcia, embuste, mentira, ardil, em maior ou menor escala,  pecado venial ou mortal, ninguém pode atirar a primeira pedra contra o embromador. O que interessa é a grande embromação, a embromação dos que têm o poder de atingir o respeitável público a exemplo de líderes políticos, empresariais, grandes executivos, jornalistas, técnicos de futebol, enfim, todo e qualquer profissional que, ao lidar com a opinião pública, engana e do engano obtêm proveito ilícito ou aparentemente lícito.

Em comum, eles tratam o respeitável público como idiotas.

Infelizmente, não foi descoberta uma vacina. A gente só se dá conta depois. Eita! Bateram minha carteira.

Todavia, alguns sinais ajudam na proteção coletiva:

- A pedra de toque do discurso do embromador é o jargão. Ele usa com a grave solenidade como se fosse o dono (cuidado com o discurso “moderno” da “governança corporativa” dos CEOs);

- o discurso do embromador é sempre uma exaltação aos “conhecimentos especializados”, usando termos técnicos em moda, se possível, em outros idiomas;

- para o embromador, importante é impressionar. Um rolando lero elegante. Impressionou, enganou o besta;

- o discurso do embromador tem algo de obscuro, melhor dizendo, misterioso. Na vida laica, mistério é ilusionismo;

- no conjunto da obra, o discurso impressionista é uma espécie de “turbina intelectual”. É um arretado! Sabe tudo. A plateia baba.

 

Mas não sejamos tão inclementes. Existe o outro lado da moeda que é o discurso do convencimento:

- é breve e fundamentado em fatos consistentes;

- é objetivo, claro e conquista pela forma e pelo conteúdo;

- é próximo das pessoas e a proximidade se alimenta de “histórias” que contêm  grandezas e fraquezas. Ninguém aguenta os “heróis” que jamais levaram porrada;

- é, na dose certa, bem humorado. É preciso não se levar muito a sério para levar a sério tudo que faz;

- quem convence não precisa optar entre ser chato um autêntico ou um simpático artificial. Estilo não se inventa e as pesquisas sobre o assunto indicam que a comunicação convincente deriva 7% das palavras e 93% de pistas não-verbais.

Resta uma grande questão: diante de um escândalo de dimensão nacional, internacional, multinacional, como agir? Simples: contratar a maior consultoria do Planeta em embromação: a BRASILBRÁS. 

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