De acordo com o Ministério da Saúde, no Brasil apenas 1,8% da população doa sangue, porcentagem superior à taxa recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que é de 1% dos habitantes. Apesar disso, o número ainda é baixo e demonstra o quanto a população ainda desconhece a necessidade e os benefícios da doação de sangue. E a utilidade do sangue não é exclusivadade para os seres humanos; em diversos casos, os animais também necessitam de transfusão, e é por isso que é tão importante a conscientização dos criadores para que os bichinhos doem. “A desinformação é o pior problema na transfusão sanguínea. Não há prejuízo nenhum pro doador, ele não tem nenhum malefício”, revela o veterinário Magno José, diretor-presidente do Hospital Veterinário que leva seu nome.
Existem cerca de 20 tipos de sangue canino e, assim como os humanos, há algumas restrições para que o animal seja doador. Ele precisa ter entre 1 e 5 anos, pesar acima de 25kg, estar vacinado, vermifugado e saudável. No caso das fêmeas, não podem estar prenhas. Antes de doar, o bicho passa por diversos exames, onde a saúde dele é atestada. “No dia a dia a gente sempre tem muitos pacientes que precisam de sangue. É preciso que as pessoas entendam que hoje o seu cachorrinho está saudável, mas amanhã ele pode precisar de sangue. Então, é preciso criar uma rotina de um ajudar ao outro, de estar sempre com sangue nos centros veterinários. Dessa forma, menos cachorros vão ter problemas”, explica Magno. Ainda de acordo com o veterinário, cerca de 20 transfusões de sangue canino são realizadas por mês apenas no seu hospital.
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Para doar, o cão precisa ter entre 1 e 5 anos, pesar acima de 25kg, estar vacinado, vermifugado e saudável (Foto: Rafael Bandeira/LeiaJáImagens)
Abaixo, o veterinário Magno José esclarece as principais dúvidas sobre a doação e transfusão de sangue canino. Confira!
Como funciona o procedimento de doação de sangue?
Varia de animal para animal. O cão, por exemplo...após fazer todos os testes e confirmar que ele está saudável, a [veia] jugular é canulada. O tempo de doação pode variar de 30 minutos a 1 hora.
Quanto de sangue o animal consegue doar?
A partir de 25kg nós coletamos já uma bolsa completa, que tem 400ml.
Quais os riscos para o animal que está recebendo o sangue?
A primeira transfusão a gente consegue fazer de olhos fechados. A partir da segunda transfusão, nós podemos ter problemas principalmente por causa de reações de anticorpos. Quando fazemos a transfusão, podemos ter a reação imediata, ao longo de dias ou reações até mais longas. Então a gente tem que monitorar esse paciente. A reação mais comum é o organismo do animal reconhecer aquele sangue como um corpo estranho e o sistema imunológico destruir todo o sangue recebido.
Quanto de sangue, geralmente, cada animal recebe no procedimento?
Geralmente são 20ml de sangue por quilo do animal. Por exemplo, se o animal tem 5kg, ele vai receber uma média de 100ml. Mas isso pode variar. A gente faz um cálculo do hematócrito [porcentagem de volume ocupada pelos glóbulos vermelhos ou hemácias no volume total de sangue] do doador com o hematócrito do receptor e aí calculamos a quantidade exata de sangue.
Em que casos normalmente o processo de transfusão é feito?
A orientação é que seja feita uma avaliação clínica do paciente, onde a gente leva em consideração a hemoglobina. Além disso, a transfusão também pode ser feita quando o animal tem uma anemia considerável. Na rotina clínica da nossa região, a grande causa de transfusão é as doenças transmitidas pelo carrapato - que são anemias regenerativas, perdas de sangue causados por acidentes e doenças renais crônicas.
Por que a transfusão de sangue costuma ser tão cara?
Porque quando se faz a coleta do sangue, precisa ser feito, também, hemograma, exames para ver se ele tem alguma hemoparasitose, como as doenças transmitidas pelo carrapato. É importante, ainda, ver se ele tem leishmaniose. Então, a maioria desses testes rápidos que são feitos, são muito caros. E o ideal é que sejam feitos esses testes em cada bolsa de sangue.
Qual o valor médio para fazer o procedimento?
Vai depender do peso do seu animal. O valor varia muito de hospital para hospital, mas a média de uma bolsa toda de sangue é entre quinhentos e seiscentos reais. Mas se o animal for pequeno, não toma uma bolsa toda, então esse valor pode diminuir e chegar a cerca de cento e cinquenta reais.
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HOSPITAL VETERINÁRIO DA UFRPE FECHADO
Referência no tratamento de animais, o Hospital Veterinário da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) é um dos lugares do Estado onde a transfusão de sangue pode ser feita. Assim como os demais atendimentos, no local o procedimento é gratuito, o que é um grande facilitador para os donos de bichinhos que precisam do processo e não podem pagar os valores cobrados pelas clínicas particulares.
Para facilitar o serviço, o Hospital, que recebe cerca de duas transfusões por semana, contava com um hemocentro onde podiam ser armazenadas cerca de 30 bolsas de sangue por até um mês. Há cerca de dois anos, o local está fechado. “O hemocentro por alguns anos funcionou através de um projeto de extensão que existia aqui dentro da Universidade. Eu, inclusive, na época da graduação, fui bolsista deste projeto durante dois anos. E aí teve um ano que esse projeto de extensão não foi contemplado, foi um ano que houve corte em algumas bolsas e aí não foi contemplado o novo projeto”, explica o veterinário Hugo Viana, residente em anestesiologia do Hospital Veterinário da URFPE.
Outro fator que influenciou o fechamento do Hemocentro, segundo Hugo, foi a dificuldade da Universidade em adquirir materiais para o local. “A nossa demanda é alta pra fazer transfusão sanguínea, mas não tão alta para adquirir as bolsas de um fornecedor que muitas vezes não tem interesse em vender essas bolsas por esse número não ser alto. Segundo a direção e a reitoria, esse é um problema geral do Hospital: às vezes o número de itens que vamos pedir são poucos e acaba não havendo empresas interessadas em participar da licitação”, revela.
Por conta da suspensão do hemocentro, os veterinários do Hospital precisaram adotar a doação casada, que é quando um animal específico doa diretamente para outro. “Quando tem um animal precisando [da transfusão], nós solicitamos que o tutor vá atrás de outro animal que possa doar. Ele também precisa comprar a bolsa. E, depois disso, a gente faz os exames, tanto no receptor quanto no doador, e faz um teste de reação cruzada para ver se o sangue é compatível”, aponta Viana.
Por outro lado, o veterinário revela que, mesmo na época que o hemocentro funcionava, as doações eram insuficientes. “Já chegamos a fazer campanhas de doações, mas mesmo assim a adesão era muito baixa. Quando as pessoas percebem o “trabalho” que é ter que trazer o animal para doar, desistem”, explica Hugo Viana. Sobre a volta do hemocentro, Hugo afirma que facilitaria o funcionamento do Hospital, mas que “seria utópico afirmar que teríamos uma geladeira cheia de sangue, até porque tem muita gente que nem sabe que a doação existe”. Ainda não há previsão de quando o local deve voltar a funcionar.
Serviço - banco de sangue animal em Pernambuco:
Hospital Veterinário Dr. Magno José
Rua da Harmonia, 351/2013, Casa Amarela
Telefone: 9857-5543/ 8686-0017
Plantão Veterinário 24h Dr. Rogério de Holanda
Av. Visc. de Albuquerque, 488, Madalena
Telefone: 3236-2190
Fauna Consultório Veterinário
Rua Arquiteto Luiz Nunes, 440, Imbiribeira
Telefone: 3428-9622 / 3428-1875/9977-7410
Vita 24 horas
Rua Claúdio Brotherhood, 85, Cordeiro
Telefone: 3074-1853
Rua Real da Torre, 868, Madalena
Telefone: 3072-6339