O governo afegão e os talibãs iniciaram neste sábado (12) em Doha, na presença do secretário de Estado americano Mike Pompeo, negociações históricas de paz que se anunciam difíceis dadas as profundas divergências entre os dois lados.
O chefe da diplomacia do Catar, xeque Mohammed ben Abderrahman Al Thani, presidiu a abertura das negociações, que acontecem em um grande hotel de Doha, na presença do emissário dos Estados Unidos para o Afeganistão, Zalmay Khalilzad.
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No início da cerimônia, o negociador do governo afegão, Abdullah Abdullah, pediu um "cessar-fogo humanitário".
"Temos que acabar com a violência e conseguir um cessar fogo o mais rápido possível", disse Abdullah, um ex-ministro que preside o Conselho para a Reconciliação Nacional.
Pompeo fez um apelo para que o governo afegão e os talibãs "aproveitem a oportunidade" de alcançar um acordo para as futuras gerações, após 19 anos de guerra no Afeganistão.
As negociações foram adiadas por seis meses devido a profundas divergências sobre uma polêmica troca de prisioneiros entre os rebeldes e o governo.
As conversações começam um dia depois do 19º aniversário dos atentados de 11 de setembro de 2001, que provocaram a intervenção internacional liderada pelos Estados Unidos que expulsou os talibãs do poder no Afeganistão.
As partes devem encontrar uma forma de "fazer avançar o país para reduzir a violência e satisfazer as demandas dos afegãos: um país reconciliado com um governo que reflita uma nação que não está em guerra", afirmou Pompeou na sexta-feira.
- Objetivos inconciliáveis -
Os delegados chegaram durante a manhã ao hotel de luxo que foi cenário da assinatura de um acordo histórico entre Washington e os talibãs em fevereiro, o que abriu a porta para as atuais negociações.
O presidente americano, Donald Trump, que disputará a reeleição em novembro, está determinado a acabar com a guerra mais longa da história dos Estados Unidos.
Mas uma solução rápida parece improvável e não é possível projetar o tempo de duração das negociações.
Os talibãs reiteraram o desejo de instaurar um sistema no qual a lei seja consistente com um islã rigoroso e não reconheça o governo de Cabul, que chamam de "fantoche" de Washington.
"Quero que todos levem o islã em consideração nas negociações e que o islã não seja sacrificado a interesses pessoais", reiterou neste sábado Abdul Ghani Baradar, líder político dos insurgentes afegãos, que destacou o desejo de um "sistema islâmico" no Afeganistão.
O governo do presidente Ashraf Ghani insiste em manter a jovem república e sua Constituição, que inclui muitos direitos, em particular para as minorias religiosas e as mulheres, as grandes perdedoras de um eventual retorno das práticas que vigoravam na época do governo talibã.
A Human Rights Watch (HRW) pediu aos participantes que se comprometam a respeitar os direitos fundamentais dos afegãos.
O tema da troca de prisioneiros (quase 5.000 talibãs contra mil membros das forças afegãs), previsto no acordo histórico entre talibãs e Estados Unidos, representou o primeiro obstáculo e atrasou o diálogo
Depois de muitas dúvidas, as autoridades afegãs finalmente libertaram os últimos 400 insurgentes e vários países, como França e Austrália, protestaram contra esta libertação.
Khalilzad justificou as libertações na sexta-feira e disse que era "uma decisão afegã difícil, mas necessária (...) para abrir as negociações".
- Uma guerra violenta -
A guerra afegã provocou dezenas de milhares de mortes, incluindo 2.400 soldados americanos, obrigou a fuga de milhões de pessoas e custou a Washington mais de um trilhão de dólares.
Muitos afegãos temem o retorno ao poder, parcial ou total, dos talibãs, que abrigaram a rede terrorista Al-Qaeda antes de 11 de setembro de 2001.
Os talibãs estão em uma posição de força desde a assinatura do acordo com os Estados Unidos, que prevê uma retirada das tropas americanas e a organização do diálogo interafegão.