O Hospital da Restauração (HR) registrou um aumento de 10% no número de queimados com fogos e fogueira no São João em relação a 2015. O número é ainda maior, 14%, se comparado com o ano de 2014. Ao todo, 56 pessoas compareceram à unidade, que é referência no tratamento de queimados no Estado, no período das festividades juninas – 21 casos com necessidade de internação, ou seja, casos considerados mais graves. Não houve óbitos.
O que chama atenção nos dados deste ano é o maior número de crianças. Dos 56 atendidos, 36 foram casos infantis (0-14 anos) e os outros 20 de adultos. A criança mais jovem que sofreu queimadura tinha um ano e meio. Para o doutor Marcos Barreto, chefe do centro de tratamentos de queimados HR, os números revelam a falta de atenção dos familiares com seus filhos no São João. “O indicativo que nós temos pelos dados estatísticos é que faltou cuidado e supervisão. Tudo isso é evitável, na hora que você está lidando com explosivo e não toma os devidos cuidados você está dando chance de se mutilar”, avalia o especialista.
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Entre alguns casos está o do garoto Carlos Henrique de Paiva, de 12 anos, morador de São Caetano, no Agreste de Pernambuco. O menino estava batendo com uma pedra em um artefato junino que explodiu. Carlos Henrique perdeu a mão e parte do antebraço. “Eu não sabia que ele estava com essa bomba, ele achou. É a primeira vez, ele nunca pegou em bomba. Hoje ele não tem mais a mão dele”, lamentou, emocionada, Maria José de Paiva, mãe da criança.
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O caso mais grave é de Wendick Rodrigues, de 5 anos, natural de São Bento do Una, no Agreste. A criança caiu na fogueira após levar um susto com uma bomba soltada pelo irmão. “É um garoto de risco porque ele tem queimaduras todas de 3º grau, pegando tórax e membros superiores e inferiores. Ele está com uma lesão a nível subcutâneo e perdeu toda a pele em 35% da superfície corporal”, relata o doutor Barreto. Para a mãe, Vera Lúcia Marques da Silva, já ficou uma lição. “Não tem fogueira mais, comigo eu não vou querer mais fogueira. Eu já tinha trauma, e depois disso que aconteceu com meu filho, recomendo para as mães fazerem nunca mais”, disse ela.
No hospital, ainda há outros casos, como o de Vanildo José da Silva, que, alcoolizado, se desequilibrou e caiu na fogueira, e o de José Francisco, jogado em uma fogueira durante uma briga. Há ocorrências também de crianças com danos na face, olhos e mãos por tirar a pólvora de fogos de artifício, fazer um montinho e tentar acender e a história de um pai que tirou um artefato da mão do filho para soltar e logo em seguida o objetivo explodiu em sua mão, que precisou ser amputada.
De acordo com Marcos Barreto, a recomendação em casos de queimadura por alimento ou água quente é passar água corrente por cerca de 15 minutos na área atingida, colocar em pano limpo e levar a uma unidade de saúde. Em casos mais graves, como os citados nesta matéria, a área deve ser protegida por um pano limpo e o ferido deve ser levado ao hospital imediatamente. “Nós temos pacientes que chegam com manteiga, margarina, clara de ovo no local queimado. Eles querem se livrar da dor, mas essas alternativas impedem a limpeza da área. Aí vai ser preciso internar, passar mais 24 horas, para poder lavar a lesão”, explica o doutor.