O modelo de cobertura jornalística das eleições municipais de outubro foram alvo de duras críticas por parte do candidato à Prefeitura do Recife, Roberto Numeriano (PSB). Para o candidato que é jornalista e cientista político, está ocorrendo um “grave e progressivo empobrecimento do debate político em torno de ideias e propostas, tornando as eleições um festival de futricas entre grupos políticos dominantes”, que denomina como "um novelão mexicano com traídos e traidores".
O candidato do PCB argumenta que a tradição política pernambucana, sobretudo recifense, era conhecida pelo do debate de políticas públicas a partir de eixos, “não necessariamente ideológicos, que fundamentavam a intervenção dos candidatos”. Entretanto, ele frisa que está “tradição” não tem se mantido atualmente. “O que temos hoje é um vale tudo pelo poder, traduzido, sobretudo, em arranjos políticos que sequer se explicam taticamente”, pontuou Numeriano.
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Para ele, o caso exemplar é a aliança Eduardo Campos e Jarbas. Numeriano argumenta que “os lances desse vale tudo de fofocas” pautou a cobertura dos principais jornais e rádios do Recife, desde a pré-campanha. “Os partidos de oposição de esquerda, como o PCB e o PSOL, por exemplo, que fazem uma crítica fundamentada no plano político-ideológico a essa gestão municipal”, avalia.
O candidato acredita que os partidos menores são, em geral, “neutralizados porque a cobertura enxerga apenas aqueles que os editores decidem como candidatos que ‘podem vencer’. Não por acaso os partidos governistas (PT e PSB, que se unirão num segundo turno se eventualmente um DEM ou PCB-PSOL surpreendam), ou a oposição consentida (o próprio DEM e o PSDB)", dispara.
Direcionando suas críticas ao espaço dado pelos veículos de comunicação aos candidatos do PT e do PSB para anunciarem suas propostas, Numeriano diz que são “doses cavalares de Geraldo Júlio, numa dada emissora ou jornal, ou de Humberto Costa”. “Claro, a legislação eleitoral determina que as entrevistas tenham o mesmo tempo, no rádio e noutros veículos. Mas o que vemos é alguns radialistas e editores de jornais convidando seguidamente os candidatos da "voz do dono", ou seja, a voz do dono da emissora.
Como exemplo da falta de “isenção” política das coberturas jornalísticas, Numeriano aponta a não publicação de nenhuma matéria da Frente nos jornais locais. "Elaboramos um agendão com os trabalhos da candidatura e vez por outra difundimos para os jornais, rádios e emissoras de TV algumas matérias, sempre solenemente ignoradas. Nenhuma foi publicada, até agora, pelos jornais. Ao mesmo tempo, vemos o desfile desse museu de grandes novidades que são as propostas do PSB, PT, DEM e PSDB, enchendo as páginas das editorias políticas”, explicou.
“Sinceramente, falando como professor de jornalismo e dirigente político, essa cobertura impressa precisa sair dessa mesmice e cobertura aética e discutir as propostas dos candidatos a partir de mesas redondas com participação de entidades, lideranças, jornalistas etc, questionando as propostas, desmascarando demagogias, mostrando as contradições de projetos", disse Numeriano, que ensinou Ética do Jornalismo na Unicap e Jornalismo Político na Maurício de Nassau.
Por fim, o candidato do PCB avaliou o formato dos debates televisivos, como engessados e controlados muito mais pelo marketing dos candidatos, do que inspirados por ideias. "É preciso debater a cidade sem amarras de tempo. A TV dá tempo para futilidades, mas para debater e planejar a cidade pela cidadania ativa, cadê o tempo?", completou.