Uma avaliação completa da imunidade gerada por duas vacinas contra a Covid-19 foi uma proposta de um estudo de fase 4 realizado pela Fiocruz Minas. Ao longo de um ano, os pesquisadores acompanharam 1.587 pessoas vacinadas para avaliar como se deu a resposta de anticorpos para verificar a queda nos índices. Relacionada ao desenvolvimento da infecção em já vacinados, apenas 75 (4.7%) testaram positivo, dentre os quais somente cinco (0,3%) tiveram Covid longa.
A pesquisa mostrou uma redução de casos de Covid-19 entre os indivíduos vacinados. Antes da vacinação, dentre os 1.587 participantes, um total de 247, ou seja, 15,6%, havia testado positivo e, desse montante, 136 (8,6%) foram diagnosticados com Covid longa. Após a vacinação, apenas 75 (4.7%) testaram positivo, dentre os quais somente 5 (0,3%) tiveram Covid longa.
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Os participantes que tiveram Covid-19 antes da vacinação apresentaram índices de anticorpos superiores após a vacinação, em relação aos não infectados. Tal constatação reforça a importância da imunização mesmo para as pessoas que já tiveram a doença, uma vez que a imunidade natural gerada pela doença é inferior à induzida pela vacina.
Outro aspecto avaliado foi a ocorrência de reações adversas. De acordo com os resultados, dentre os 1.587 participantes, 325 (20,5%) apresentaram efeitos adversos após a aplicação da Coronavac, e 391 depois da administração da dose de reforço da Pfizer. A reação mais comum foi dor de cabeça e dor no local da injeção. Diarreia, corrimento nasal, febre, mialgia e prostração também foram relatados. Cinco eventos adversos moderados foram registrados, embora não tenha sido possível correlacionar com as vacinas recebidas.
“Todos os participantes do nosso estudo se recuperaram e nenhum evento adverso grave foi registrado. Assim, reforçamos a segurança e a efetividade dessa combinação de duas doses de CoronaVac e uma dose de reforço com vacina da Pfizer, com a manutenção de uma resposta imune de anticorpos e de células efetiva contra o Sars-CoV-2. Vacinas que são importantes de serem mantidas pelo Programa Nacional de Imunizações”, destaca a coordenadora do estudo, a pesquisadora Rafaella Fortini.
Pesquisa
Os cientistas avaliaram também a resposta celular específica, de forma a verificar a capacidade do organismo em reconhecer o vírus ao longo do tempo. Coordenado pela pesquisadora Rafaella Fortini, o estudo teve como foco pessoas vacinadas com a primeira e segunda doses de Coronavac, e a Pfizer, como dose de reforço na maioria dos participantes, aplicada seis meses após o protocolo primário.
Entre as principais constatações da pesquisa está a importância da dose de reforço, já que as análises mostraram uma queda significativa nos níveis de anticorpos, entre três e seis meses após a aplicação da segunda dose de Coronavac. A taxa de soropositividade passou de 98%, após 30 e 60 dias da aplicação do imunizante, para 69%, no período que compreendeu entre 91 e 180 dias após a vacinação. Mas, com a aplicação do reforço da Pfizer, tais índices foram restabelecidos, chegando a 100% de soropositividade, 15 dias após a aplicação.
A necessidade da dose de reforço se torna ainda mais explícita quando avaliados os índices de anticorpos neutralizantes, para verificar a proteção das vacinas para variantes específicas do Coronavírus. No caso da variante Ômicron, o estudo mostrou que, 30 dias após a segunda dose, a Coronavac gerou anticorpos neutralizantes em apenas 17% dos indivíduos analisados, chegando a 10%, quando analisadas amostras com 60 dias após a segunda dose. Entretanto, após a aplicação da dose de reforço da Pfizer, o número de amostras que apresentaram anticorpos neutralizantes contra a Ômicron subiu para 77% dos indivíduos analisados. Já para a variante Delta, duas doses de CoronaVac foram efetivas contra esta variante, tendo resposta reforçada após a dose de reforço.
“Os dados são claros e mostram a importância da resposta gerada pela CoronaVac e como esta resposta imune se torna ainda mais forte e robusta quando a dose de reforço da Pfizer é introduzida. Mostra ainda como esta resposta gerada pela combinação das duas vacinas se mantém forte após um ano da vacinação, gerando inclusive proteção contra as variantes Delta e Omicron”, explica a coordenadora.
Importante destacar que, nos idosos, entre o quinto e o sétimo mês após a segunda dose, os níveis de anticorpos foram15% menor do que em adultos com idade entre 18 e 30 anos. Após a dose de reforço essa diferença foi restabelecida, indicando a importância do reforço para a faixa etária acima de 60 anos.
Participantes
Participaram da pesquisa trabalhadores do Hospital da Baleia e Hospital Metropolitano Dr. Célio de Castro, ambos situados em Belo Horizonte (MG). As amostras de sangue para avaliação de imunogenicidade foram colhidas nos seguintes tempos: 1, 2, 3, 6, 9 e 12 meses após a aplicação da segunda dose.
Os participantes tinham idades entre 18 e 90 anos, sendo a média de 39 anos. Um total de 1.208 (76,1%) dos 1.587 participantes eram do sexo feminino. Dos 1.587, um total de 457 (28,8%) relatou comorbidade pré-existente, sendo que hipertensão, obesidade, asma e diabetes foram as mais citadas.