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O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que o PT "não pode ter medo de polarizar", e sim, de "não polarizar e ficar esquecido". Segundo Lula, o que não pode acontecer, no entanto, é polarização como aconteceu nas eleições de 2014 com o PSDB que, em sua avaliação, "radicalizaram com ódio".

Para o petista, a sigla "vai sempre disputar eleições para polarizar, seja Bolsonaro ou qualquer partido". "Podemos polarizar com quem quer que seja desde que seja esquerda com direita", afirmou. Lula explica que, desde as eleições de 1988, o PT investe na polarização política.

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Para as próximas eleições presidenciais, no entanto, Lula afirma que não tem certeza dos seus planos. Segundo ele, discutir candidatura é "só mais para frente". "Quando chegar o momento, vamos discutir 2022, se vai ter candidato de uma frente ampla ou do PT", afirma. Apesar do futuro incerto, Lula afirma que, assim que for vacinado, irá voltar a percorrer o Brasil e construir alianças. "Precisamos recuperar relações internacionais para o País crescer, empresários confiarem e retomarmos investimentos".

Segundo Lula, ele está "convencido que aliança política será possível; por isso, temos que ter paciência". "Quando chegar momento de decidir, veremos se vai ser possível construir alianças fora da esquerda", aponta. "Você pode construir programa que envolva setores conservadores, por exemplo vacina e auxílio emergencial". Para Lula, a "única coisa que eu penso é que Flávio Dino, Boulos e dirigentes sindicais andem este País". "Em 2002, com José Alencar como meu vice, foi 1ª vez que fizemos aliança entre o capital e o trabalho".

Em sua visão, o apoio a favor de Ciro Gomes em 2022 ainda é incerto. "Se Ciro Gomes continuar com grosserias, não vai ter apoio da esquerda nem confiança da direita", comenta. Ainda, Lula disse não ter certeza sobre o atual governador de São Paulo, João Doria. "Temos um candidato do PSDB, vamos desenterrar aquele Doria?", questionou.

A interferência do presidente Jair Bolsonaro na eleição para o comando da Câmara e do Senado transformou a disputa, marcada para fevereiro, em um "referendo" sobre o governo. Enquanto o País discute o início da vacinação contra a Covid-19, Bolsonaro entrou no varejo das negociações. Em campanha para angariar votos para Arthur Lira (Progressistas-AL), chefe do Centrão, ao comando da Câmara, o presidente recebeu ontem sete deputados em seu gabinete, no Palácio do Planalto.

O resultado da queda de braço no Congresso antecipa a correlação de forças para a disputa de 2022, quando o presidente pretende concorrer a novo mandato. Bolsonaro quer eleger Lira para ter o controle da Câmara, aprovar sua agenda e evitar eventual processo de impeachment. Na outra ponta, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), pede votos para Baleia Rossi (MDB-SP), em um bloco que quer derrotar Bolsonaro e impedir a sua reeleição.

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Deputados do PTB que estiveram com Bolsonaro aproveitaram para fazer a ele um convite de filiação ao partido, que é comandado por Roberto Jefferson. Ainda não há, porém, definição por parte do presidente, que ainda vai esperar até março para ver se o Aliança pelo Brasil - partido idealizado por ele - consegue sair do papel.

De 9h30 ao meio-dia, Bolsonaro teve três reuniões diferentes com parlamentares. Wilson Santiago (PTB-PB), um dos que participaram do encontro, confirmou a tendência do partido de apoiar Lira. Disse que o tema foi tratado no Planalto, mas negou pressão por parte do presidente. "É natural que se toque nesses assuntos (eleições na Câmara). Mas não houve, por parte do presidente, nenhuma cobrança no que se refere a posicionamento partidário", afirmou Santiago. "Estamos de braços abertos para receber o presidente no PTB", emendou Paulo Bengtson (PA).

Cobrança

Nos últimos dias, Bolsonaro cobrou de integrantes da bancada ruralista o respaldo a Lira, sob o argumento de que é preciso manter os bons resultados econômicos do setor agropecuário. O chefe do Executivo entrou no jogo de forma mais agressiva depois que o presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária, deputado Alceu Moreira (MDB-RS), declarou apoio a Baleia Rossi.

"Não podemos ter mais dois anos pela frente com a esquerda fazendo a pauta", disse Bolsonaro na segunda-feira, em referência ao bloco de Baleia, que tem aval de Maia e do PT, entre outros partidos de oposição.

Dos sete deputados que conversaram ontem com Bolsonaro, cinco fazem parte da bancada ruralista: Paulo Bengtson (PTB-PA), Santini (PTB-RS), Nivaldo Albuquerque (PTB-AL), Marcelo Moraes (PTB-RS) e Capitão Wagner (PROS-CE).

Articulador político do Planalto, o ministro Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria de Governo, participou da reunião. Como revelou o Estadão no mês passado, foi no gabinete do general que deputados ouviram argumentos do governo em defesa da eleição de Lira.

De lá, saíram com promessas de emendas parlamentares, algumas além daquelas a que já têm direito, e de cargos em seus redutos eleitorais.

Na lista dos deputados que Bolsonaro recebeu ontem também estava Osmar Terra (MDB-RS), seu ex-ministro da Cidadania. Embora correligionário de Baleia, Terra deve fechar acordo com Lira.

Para a eleição no Senado, o "referendo" é entre o governo Bolsonaro e o ex-ministro da Justiça Sérgio Moro, por causa da Lava Jato. O presidente disse ter "simpatia" pelo candidato do DEM, Rodrigo Pacheco (MG), lançado pelo presidente da Casa, Davi Alcolumbre (DEM-AP). Nesta semana, Pacheco aumentou sua rede apoio: ontem, por exemplo, conquistou o respaldo do Progressistas, com sete senadores.

O candidato do DEM também ganhou a adesão do PT, em uma aliança inusitada que reúne Bolsonaro e o partido do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Nessa disputa nem o Planalto nem o PT quiseram apoiar Simone Tebet (MS), candidata do MDB. Presidente da Comissão de Constituição e Justiça, Simone virou uma espécie de "Moro de saias" no confronto com o Planalto, vestindo o figurino da Lava Jato.

A parceria do PT com bolsonaristas no bloco do DEM recebeu críticas. "Pois é! Para acabar com a Lava Jato vale tudo! Incrível!", escreveu no Twitter o ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot. "Nunca foi razoável o apoio explícito do presidente a um candidato do Senado porque isso afeta a independência do Congresso", disse o senador Renan Calheiros (MDB-AL), que disputou a candidatura do MDB com Simone, em 2019. 

A falta de credibilidade das instituições políticas tradicionais e o aumento da polarização que levam ao surgimento de ‘outsiders’ nas estruturas de poder político ameaçam a democracia em todos os continentes e parecem ter cada vez mais apelo em sociedades que buscam soluções fáceis para resolver seus conflitos complexos. Analistas afirmam que as crises democráticas têm impacto sobre a presença de empresas nos países e a mobilização popular consciente é um elemento-chave para mudar o cenário.

"Há muitas pessoas dispostas a tolerar a erosão das instituições democráticas se gostam das políticas, ideologias ou identidade do líder. Mas quando um número razoável de pessoas decide dizer ‘ele pode dizer o que eu quero, fazer o que concordo, mas está minando nossa capacidade futura demudar governos, então vou me virar contra eles, porque são antidemocráticos ’, essa é a única esperança ", afirma Adam Przeworski, autor do livro Crises da Democracia.

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A invasão ao Congresso americano no dia em que o Senado ratificava Joe Biden como o novo presidente americano mostra como até o país considerado "a maior democracia do mundo" está em crise e tem seus sistemas políticos tradicionais questionados.

O ressurgimento de partidos extremistas na Europa, com o aumento do número de seguidores, desafia a unidade da União Europeia e ganha força em países como Polônia e Hungria. "Se você perguntar sobre a democracia na Polônia, ela está nas ruas agora. Não está no governo, nas instituições oficiais, mas na auto-organização da sociedade", sustenta Malgorzata Fidelis, professora polonesa de estudos do Leste Europeu na Universidade de Illinois.

"Jaroslaw Kaczynski ( presidente do partido Lei e Justiça, majoritário no governo polonês) disse acreditar que a política polonesa, após a queda do comunismo em 1989, foi tomada pelo o que ele chama de uklad ( establishment)", explica Adam Traczyk, pesquisador especializado em Europa Central e Leste Europeu no Conselho Alemão de Relações Exteriores. "Esse uklad teria sido criado por elites liberais e ex-comunistas que negociaram uma transição pacífica e agora controlam os negócios, a mídia e o Judiciário. Basicamente, todo mundo que não apoia ele e seu partido é membro da uklad."

A tradicional divisão entre esquerda e direita não é mais o centro das disputas políticas. É preciso levar em conta o novo embate político tradicionais versus outsiders e políticos democráticos versus políticos autoritários.

"Estamos tendo uma transição no processo democrático que ainda não sabemos se para melhor ou pior, mas percebemos uma certa fadiga do modelo tradicional atual. A busca por resultados rápidos tira da cena políticos tradicionais e traz outsiders, principalmente da ala empresarial", explica o coordenador de relações internacionais da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESP-SP), Moisés Marques.

Segundo o analista de risco político Thomaz Favaro, diretor da Control Risks, a erosão da democracia tem impacto na vida empresarial nos países.

"Houve um aumento na demanda por análises de risco para os EUA nos últimos anos, desde empresas operando no país, até empresas estrangeiras, que usam matéria-prima por exemplo da China, e poderiam ser afetadas por alguma decisão política. Os EUA eram um bastião de estabilidade e de repente não são mais", conta Favaro. No Brasil, diz ele, não ocorreu o mesmo por causa da eleição de Jair Bolsonaro, pois o país nunca foi considerado um "bastião de estabilidade".

Até mesmo em uma democracia consolidada como a de Israel, em uma região que abriga governos autoritários e fechados, a crise é explícita. O primeiro-ministro Binyamin Netanyahu enfrenta acusações de corrupção e, sem conseguir manter sua coalizão política, viu o Parlamento ser dissolvido de novo. Como resultado, Israel terá a quarta eleição em menos de dois anos.

"Aqui você tem a direita moderada e a direita mais radical. Netanyahu ainda não tem certeza a qual ele pertence. A direita moderada está disposta a se comprometer se sentir que há uma chance real de paz ( com os palestinos). A direita radical, que representa cerca de 25% do eleitorado, enxerga esse conflito como sendo um jogo em que ‘é tudo nosso e nada deles’. Mas 75% do eleitorado não é assim. E a questão é como se quebra a aliança entre a direita moderada e a radical", explica Yossi Klein Halevi, analista israelense e autor do livro Cartas Para Meu Vizinho Palestino.

Embate entre democráticos e autoritários

Democracias tidas como consolidadas nas Américas enfrentaram desafios inéditos. Nos EUA, o país considerado a maior democracia do mundo, as instituições políticas que garantiam os freios e contrapesos ao Poder Executivo foram colocadas em xeque por Donald Trump, e Joe Biden tem o desafio de reunificar o país. No México, após duas décadas de construção de uma democracia com falhas, mas com pluralismo partidário, o líder de esquerda Andrés Manuel López Obrador tem abusado do populismo e, segundo analistas, usado sua popularidade para fazer referendos e atacar o Judiciário. Na Bolívia, onde a esquerda aliada a Evo Morales voltou ao poder com Luis Arce, e no Peru, onde o sistema político levou a renúncias e impeachments em sequência, a volatilidade política deve continuar.

Governos populistas desafiam a UE

Governos autoritários de Polônia e Hungria desafiam a unidade da União Europeia. Sob o comando de Viktor Orbán e do partido Fidesz, a Hungria deu uma guinada autoritária. Reduziu a independência do Judiciário, perseguiu a oposição política, a imprensa livre e minou os direitos civis, dificultando a atuação de ONGs e o combate à corrupção nos altos escalões. A Polônia segue o mesmo roteiro desde que Jaroslaw Kazcynski, líder do partido de extrema direita polonês Lei e Justiça (PiS), chegou ao poder, em 2015. Um relatório da Comissão Europeia publicado em setembro de 2020 afirma que "as reformas do judiciário polonês desde 2015 são fonte de controvérsia, tanto domesticamente e em nível da UE, e levanta vários problemas, vários desses ainda persistem".

Regimes se fortalecem na pandemia

A pandemia de covid-19 acelerou tendências populistas e nacionalistas no mundo, mas a Ásia foi uma exceção. A China e a Coreia do Norte, é claro, continuam sendo Estados de um só partido, com pouco espaço para a liberdade de expressão, muito menos escolha política. Mas as democracias da região resistiram ao lidar com a covid-19 com competência e manter suas economias à tona - e, no processo, reforçando a fé do público nos sistemas democráticos, casos de Japão, Coreia do Sul e Taiwan. No sul da Ásia, países como Índia e Paquistão, sofreram com o renascimento do discurso nacionalista. Na Ásia Central, a democracia nunca foi o forte, e países como Turcomenistão, Casaquistão e Usbequistão viram mais do mesmo: eleições fraudulentas ou dominadas por um autocrata.

Diversos sistemas políticos

O ano de 2020 foi marcado por eleições importantes em todo o continente africano. No total, 13 países foram às urnas. A complexidade do cenário é prova de que não há um padrão de democracia no continente, o maior em número de países - 54 - que abriga 1,3 bilhão de habitantes. Desses, 10 são democracias com algum grau de liberdade. Outros 28 são regimes híbridos: onde as instituições democráticas tem pouca capacidade de atuar, mas não são uma ditadura. E 16 são regimes autoritários - mas só quatro nações não realizam nenhuma forma de eleição. Por outro lado, muitas dessas democracias passam por estados de fragilidade, e o continente. Muitos países sofreram com governantes que usaram a pandemia de covid-19 para reprimir a oposição ou impor mais controle sobre as instituições.

Democracias, autoritários e religião

Há dez anos, o mundo assistia a um levante popular que provocou um terremoto no Oriente Médio, com jovens indo às ruas para protestar contra regimes repressores, pedindo liberdade e democracia. Depois da Tunísia, Egito, Líbia, Bahrein, Síria e Iêmen se viram presos em um redemoinho que mudou a face do Oriente Médio e Norte da África. Já a Turquia, que no fim do século 20 era considerada um exemplo regional, aos poucos teve suas instituições democráticas minadas pelo poder de Recep Tayyip Erdogan. Em Israel, o baluarte da democracia no Oriente Médio, os quase 12 anos de Binyamin Netanyahu no poder levaram ao aumento da polarização no país. No Irã, onde lampejos de movimentos sociais são sufocados pelo regime teocrático, a consolidação da democracia permanece distante.

Instituições reforçadas na pandemia

Os países do continente fortaleceram a governança no combate à pandemia de covid-19, segundo muitos especialistas. O sucesso no combate ao surto de covid-19 se deveu, em grande parte, às democracias consolidadas na região, e às fortes instituições que asseguram o ambiente democrático. Desde o início da pandemia do novo coronavírus, o número de mortes e casos da Oceania tem sido relativamente baixo: 943 mortes e 30.657 casos (até dezembro). A condução dada à crise pelo governo da Nova Zelândia chamou atenção e levou à reeleição da primeira-ministra Jacinda Ardern. O Partido Trabalhista, da primeira-ministra, venceu com ampla margem as eleições gerais de novembro, com quase 50% dos votos, um "resultado excepcional", imediatamente reconhecido pela oposição.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Antagonistas na política nacional até a eleição de Jair Bolsonaro (sem partido) em 2018, o PT e o PSDB ainda polarizam as eleições nas principais cidades da Grande São Paulo. O chamado "cinturão vermelho" implodiu em 2016 no primeiro teste das urnas após o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT).

Naquele ano, o PT tinha 9 prefeituras dos 39 municípios da região, mas ficou com apenas uma: Franco da Rocha. Além de São Paulo, onde o prefeito Fernando Haddad perdeu para João Doria (PSDB), os petistas foram derrotados em Santo André, São Bernardo do Campo e Mauá, na região do ABC, além de Guarulhos e Osasco.

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No sentido oposto, o PSDB obteve a maior vitória na região no que chamou de "onda azul", que tenta repetir em 2020, apesar do desgaste da sigla nos últimos anos. O principal palco da disputa entre petistas e tucanos é São Bernardo do Campos, berço do PT e base do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Candidato à reeleição, o prefeito de São Bernardo do Campo, Orlando Morando (PSDB), que integra a executiva nacional tucana, recebeu o segundo maior repasse do Fundo Eleitoral do PSDB no Estado - R$ 750 mil. Esse valor só é menor do que o investimento na campanha à reeleição de Bruno Covas, que já recebeu R$ 5 milhões e ainda vai receber mais R$ 3 milhões.

Assim como nas demais cidade do Grande ABC, o antipetismo é a marca no discurso dos tucanos. "A sociedade tem muito medo de que o PT volte a governar a cidade. Se eles ganharem, São Bernardo corre o risco de se tornar abrigo dos petistas sem cargo: dá para imaginar Dilma Rousseff na Secretaria de Habitação, José Dirceu na de Governo e Antonio Palocci nas Finanças", disse Morando.

Uma das vitrine de sua gestão é a Fábrica de Cultura que foi construída onde seria o Museu do Trabalho e do Trabalhador, mais conhecido como Museu do Lula. Nas pesquisas na cidade (e registradas no TSE) Morando aparece em 1° lugar à frente do ex-prefeito Luiz Marinho, que é dirigente estadual do PT.

"Meu adversário é um desqualificado. Ele falar que vou trazer o Palocci é tão absurdo quanto eu dizer que ele vai trazer o Aécio (Neves) ou o Paulo Preto. Ele não quer é discutir a cidade, o desastre que foi a administração dele. Em 2016 ele surfou a onda do ódio ao PT mas agora não tem mais esse mar para nadar", respondeu Marinho, que só recebeu do PT R$ 165 mil do Fundo Eleitoral até agora.

O ex-prefeito usou contra os tucanos o fechamento da fábrica da Ford na cidade. "Eles agiram como corretores de imóveis, ficaram oferecendo a área e em nenhum momento se preocuparam de fato em manter a Ford." Segundo Morando, investidores confirmaram a compra do imóvel da Ford. "Quatro grandes empresas vão para o local."

Depois de ter sido varrido nas eleições de 2016, o PT avalia que tem boas chances de vencer as eleições em várias cidades importantes da Grande São Paulo como Guarulhos, Diadema, São Bernardo, Mauá, Osasco e Carapicuíba. A estimativa de Marinho, que é também presidente estadual do partido, é que o PT eleja cerca de 30 prefeitos no Estado. Em 2016 foram sete.

"Não será o resultado fabuloso de 2012 nem o desastre de 2016", disse ele. Segundo o candidato/dirigente petista, a polarização é natural nas cidades hoje governadas pelo PSDB como São Bernardo e Santo André.

Em Santo André, Carlos Grana (PT) perdeu para Paulo Serra (PSDB) em 2016. Candidato à reeleição, Serra assiste a uma disputa na esquerda por uma vaga no segundo turno. Irmão do ex-prefeito petista Celso Daniel, assassinado em 2002, Bruno Daniel entrou na disputa pelo PSOL e tem como adversária Beth Siraque (PT). O tucano adotou como mote o lema "Um futuro seguro para Santo André" que remete ao "perigo" de a esquerda voltar a governar a cidade.

Antipetismo

"Existe um sentimento antipetista muito forte na cidade dentro da própria esquerda, mas ainda assim o PT deve crescer", prevê Serra. Já em Guarulhos, as pesquisas registradas no TSE apontam para o favoritismo do ex-prefeito petista Elói Pietá, um quadro histórico do PT. A cidade, segundo maior colégio eleitoral do Estado, com 814.342 eleitores, vive uma disputa entre Pietá, o atual prefeito Gustavo Guti (PSD) e Fran Corrêa (PSDB). "O antipetismo continua forte, mas a população também se ressente da atual gestão. Pietá tem o recall de ter sido prefeito", disse Fran Corrêa.

Ela vai receber R$ 280 mil do PSDB para a campanha. Diadema é a outra cidade que em 2016 registrou derrota para o PT. Para tentar voltar ao poder, o partido escalou José de Filippi Júnior, que governou a cidade, foi secretário da Saúde de Fernando Haddad e tesoureiro da campanha presidencial de Dilma Rousseff. Seu adversário tucano é o vereador Ricardo Yoshio.

Para o cientista político Carlos Melo, professor do Insper, a marca do PT não está hoje tão desgastada como em 2016, mas está longe do auge da popularidade de 2012. "A inexistência de novos nomes abriu caminho para antigos prefeitos do PT, que são referência nas cidades", avaliou.

Coletivos de cristãos e evangélicos criados em reação à eleição de Jair Bolsonaro, em 2018, lançaram dezenas de candidatos por partidos de esquerda e centro-esquerda no pleito deste ano. O objetivo, segundo eles, é disputar com a direita os votos desse segmento que representa quase um terço do eleitorado, levando a polarização política para dentro das igrejas, território onde o bolsonarismo exerce hegemonia. A movimentação já provoca reação de grandes denominações, como a Igreja Universal do Reino de Deus, que tenta frear a atuação desses novos grupos.

Criado em 2018 como resposta à atuação do bolsonarismo dentro das igrejas, o Cristãos Contra o Fascismo vem se preparando para disputar a primeira eleição neste ano. Serão 42 candidaturas a vereador, algumas delas coletivas, e três a prefeito em todo o Brasil por sete partidos diferentes: PT, PDT, PSOL, PCdoB, Cidadania, Rede e UP. Os candidatos têm origem em igrejas como Assembleia de Deus, Presbiteriana, Batista e Católica.

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"Estava havendo uma perseguição dentro das igrejas em função das escolhas políticas e assuntos envolvendo LGBTs, negros e pobres", disse Diana Brasilis, candidata a vereadora em São Paulo pelo PDT e integrante do grupo, que já reúne mais de 40 mil pessoas.

O Cristãos Contra o Fascismo é apenas um dos vários coletivos de religiosos, na maior parte evangélicos, surgidos nos últimos anos como espaço para expressão política de fiéis que discordam da linha ideológica conservadora de direita predominante nas principais denominações. Movimento pela Bancada Evangélica Popular, Frente Evangélica pelo Estado de Direito, Evangélicas pela Igualdade de Gênero, Evangélicos pela Diversidade e outros registraram candidatos neste ano e vão disputar os votos no segmento que, segundo pesquisas, foi determinante para a vitória de Bolsonaro em 2018.

As iniciativas se somam aos esforços dos partidos de esquerda para aumentar o diálogo e voltar a disputar essa parcela do eleitorado. O PT, PSOL, PCdoB, PDT, PSB e Rede adotaram ações voltadas a este segmento. "Sempre tivemos bom diálogo, inclusive no governo Lula. Em 2014 Dilma (Rousseff) e Aécio (Neves, do PSDB) dividiram este eleitorado meio a meio. Só não tivemos sucesso em 2018, quando o Bolsonaro teve 70% entre os evangélicos e o Fernando Haddad, 30%. Desde então a gente vem tentando organizar esse diálogo", disse Geter Borges, da coordenação nacional do Núcleo Evangélico do PT.

Segundo ele, o partido terá 2.033 candidatos a vereador, 66 a prefeito e 68 a vice que se declaram evangélicos. É a primeira vez que o partido faz esse recorte, o que mostra maior atenção a este segmento. Mas, para Borges, a principal mudança vem dos próprios evangélicos: "Existe uma reação e vários agrupamentos estão surgindo".

'Alternativa'

O Movimento pela Bancada Evangélica Popular, por exemplo, deve lançar dez candidatos a vereador, quatro deles em São Paulo. "A gente está tentando oferecer uma alternativa de fé para o público evangélico e isso está atraindo muita gente. Até porque é na periferia, onde tem mais evangélicos, que há mais opressão", disse Samuel Oliveira, candidato a vereador em São Paulo pelo PCdoB.

Segundo ele, as igrejas tradicionais já detectaram a movimentação e estão reagindo. Na edição do dia 27 de setembro, a Folha Universal, jornal da Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd), publicou uma chamada na primeira página sobre grupos que propagam "a divisão entre evangélicos" e explicando porque a iniciativa é "questionável". No programa "Entrelinhas", veiculado no streaming da Iurd, o pastor Renato Cardoso dedicou 30 minutos a listar os motivos pelos quais evangélicos não podem ser de esquerda. Um dos argumentos é que, segundo ele, o evangelho sempre associa a palavra esquerda ao "mal", embora os conceitos de esquerda e direita tenham surgido apenas na Revolução Francesa, muitos séculos depois da crucificação de Jesus Cristo.

"Silas Malafaia, Edir Macedo e outros tinham um discurso hegemônico, sempre falando em nome de todos os evangélicos, e estão reagindo depois que a gente se levantou", disse o pastor José Barbosa Júnior, da Comunidade Cristã da Lapa, no Rio. O surgimento de coletivos e candidaturas evangélicas de esquerda, diz ele, é um sintoma de que a polarização política também chegou aos templos religiosos.

'Desigrejados'

Segundo o teólogo, muitos fiéis são forçados a sair das igrejas por discordância política com os pastores e acabam criando pequenos núcleos paraeclesiásticos. Diana Brasilis, do PDT, chama estes fiéis de "desigrejados". Barbosa aponta ainda a dificuldade da esquerda para entender e dialogar com este segmento. "Como os evangélicos que têm mídia são os conservadores, a esquerda os rechaçou e entregou de bandeja para a direita", acrescentou.

Essa dificuldade foi detectada pela Fundação Perseu Abramo, do PT, na pesquisa Percepções e Valores Políticos nas Periferias de São Paulo, revelada pelo Estadão em 2017. O estudo mostrava que a base evangélica é menos conservadora do que se imaginava, principalmente em comparação com o discurso dos pastores, e que as igrejas ocuparam o vácuo deixado pelos partidos de esquerda na periferia a partir da chegada de legendas como o PT ao poder.

"O diálogo com os evangélicos tem que ser menos pragmático e mais afetivo. O voto é consequência desse relacionamento, porque do outro lado tem o pastor que pergunta toda semana à senhorinha evangélica de coque no cabelo se está faltando alguma coisa na geladeira. Quem ela vai obedecer?", questionou Vinícius Lima, evangélico, candidato a vereador em São Paulo pela Rede.

Reverenda trans tenta vaga na Câmara

Primeira reverenda transsexual da América Latina, Alexya Salvador será candidata a vereadora em São Paulo pelo PSOL. Segundo ela, a esquerda errou ao tratar as igrejas evangélicas como "inimigas". "A esquerda errou quando não quis dialogar. Agora, começa a repensar. Entendemos que Jesus, enquanto um homem político do seu tempo, lutou contra a opressão", disse Alexya ao Estadão.

Em sua participação nas redes sociais, a reverenda defende as causas de gênero. Em seu material de propaganda aparecem as cores da bandeira do movimento transgênero: azul, rosa e branco.

Alexya frequenta a Igreja da Comunidade Metropolitana (ICM), uma denominação internacional fundada em 1968 nos Estados Unidos com a intenção de ser aberta à comunidade LGBT, seus familiares e amigos. Na eleição passada, Alexya se candidatou ao cargo de deputada estadual, também pelo PSOL. Conseguiu 10.486 votos. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Em reunião com um grupo de aliados do PSL, no Palácio do Planalto, o presidente Jair Bolsonaro anunciou na terça-feira (12) que deixará o partido pelo qual foi eleito e fundará uma nova sigla, batizada de Aliança pelo Brasil. A saída do PSL ocorre após uma crise que expôs a fratura da legenda, mas Bolsonaro escolheu esta semana para fazer o comunicado com o objetivo de acentuar o clima de polarização com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que deixou a prisão depois de o Supremo Tribunal Federal derrubar a possibilidade de execução antecipada da pena.

Um manifesto do partido a ser criado por Bolsonaro prega "uma nova e verdadeira atitude de aliados que almejam livrar o País dos larápios, dos espertos, dos demagogos e dos traidores que enganam os pobres e os ignorantes que eles mesmos mantêm, para se fartar". Mesmo sem citar o PT, o documento tem trechos que estimulam o clima do "nós contra eles" e destaca que a Aliança é o caminho escolhido para o resgate de um País "massacrado pela corrupção e pela degradação moral".

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A portas fechadas, Bolsonaro tem dito que já começou a construir a estratégia para o seu projeto de reeleição, em 2022, e por isso "não poderia ficar" em um partido como o PSL, acusado de lançar candidaturas laranjas no ano passado e de desviar verba pública. Um dos planos do presidente é fazer uma dobradinha com o ministro da Justiça, Sérgio Moro, que seria candidato a vice em sua chapa.

A estratégia montada no Planalto prevê o reforço do enfrentamento com Lula. A avaliação ali é a de que as disputas para as prefeituras, no ano que vem, serão "fundamentais" para consolidar o projeto da extrema-direita e derrotar o PT e a esquerda, pavimentando a estrada para 2022.

Dos 53 deputados do PSL, 27 pretendem acompanhar Bolsonaro na nova sigla - uma intenção que, se der certo, esvazia a legenda comandada por Luciano Bivar (PE). Mas, ao contrário do presidente - que deve ficar sem partido até a Aliança pelo Brasil sair do papel -, os bolsonaristas querem permanecer no PSL e fazer a migração apenas quando estiver tudo aprovado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), pois, caso contrário, correm o risco de perder o mandato. Não será uma tarefa fácil: o grupo do deputado Bivar (PE) já avisou que pretendem impedir a criação da legenda de Bolsonaro no TSE.

"A porta da rua é serventia da casa. Mas o mandato é do partido", disse a deputada Joice Hasselmann (PSL-SP). Bivar, por sua vez, também tenta negociar a fusão do PSL com o DEM, como antecipou o jornal O Estado de S. Paulo, mas há resistências internas ao acordo. Além disso, a cúpula do PSL vai acelerar processos disciplinares contra deputados considerados "infieis", e pedir expulsões. Em conversas reservadas, Bivar disse que não abrirá mão dos recursos públicos a que a sigla tem direito. Somente de Fundo Partidário o PSL vai arrecadar R$ 110 milhões neste ano. Até 2022, o partido deve receber aproximadamente R$ 1 bilhão, se incluído o Fundo Eleitoral.

Desde a redemocratização, apenas o então presidente Itamar Franco ficou sem partido por um período. Em 1992, antes mesmo da renúncia do então presidente Fernando Collor, hoje senador, Itamar deixou o PRN. Com a queda de Collor, o político mineiro - que era vice - assumiu o Planalto sem legenda. Ele retornou ao PMDB - partido ao qual já havia sido filiado - somente em 1997.

Para que o pedido de criação de um partido seja protocolado no TSE são necessárias 491,9 mil assinaturas em nove Estados. Na prática, porém, a Aliança só participará das eleições municipais de 2020 se todos os trâmites forem cumpridos até o fim de março. A lei exige que as mudanças sejam feitas até seis meses antes das eleições. A equipe jurídica de Bolsonaro, capitaneada pelo ex-ministro do TSE Admar Gonzaga e pela advogada Karina Kufa, estuda a possibilidade de lançar um aplicativo para coletar assinaturas digitais. A inovação, porém, ainda terá de ser aceita pelo TSE.

O reportagem apurou que a Aliança deve ser presidida pelo próprio Bolsonaro. O deputado Eduardo Bolsonaro (SP), filho do presidente e atual líder do PSL na Câmara, pode assumir a fundação ligada à legenda. A convenção para apresentar o estatuto da nova sigla será realizada no dia 21, em Brasília. "O partido vai se manter sempre alinhado àquilo que o presidente defendeu na campanha", disse o líder do governo na Câmara, Major Vitor Hugo (GO).

Destituída da liderança do governo no Congresso, Joice criticou bolsonaristas pelo Twitter. "As lambanças do Palácio, dos filhos e do próprio PR conseguiram o impossível: dividir o único partido q. era 100% do gov. (...) Q os xiitas saiam juntos e deixem os adultos trabalharem", escreveu. A resposta, irônica, não tardou. "Falou a Bolsonaro de saias, a mais filha que os filhos", disse Eduardo.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso voltou a usar suas redes sociais para comentar o atual ambiente político brasileiro na manhã deste domingo, 10.

"A polarização aumenta. Sem alternativas populares e progressistas continuaremos no jogo político/pessoal", afirmou, em sua conta oficial do Twitter. Foi a primeira manifestação de FHC após a soltura do também ex-presidente Lula.

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FHC citou o cenário econômico. "Em meu tempo a questão central era a inflação; hoje é crescimento e emprego".

"Sem corrupção", emendou, finalizando na sequência da seguinte forma: "No começo era o verbo. Novamente, com gestos e ações os caminhos abrem-se. A eles!".

O segundo dia do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fora da prisão deu o tom do acirramento da polarização política no País e do papel que o petista deve ocupar na oposição ao governo Jair Bolsonaro. Discursando para apoiadores em frente ao Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo, Lula ligou Bolsonaro a milicianos, chamou o ministro da Economia Paulo Guedes de "destruidor de sonhos" e voltou a dizer que o ministro da Justiça e Segurança Pública Sérgio Moro é "mentiroso".

Ao deixar o Palácio do Alvorada, ontem de manhã, 9, para comparecer a um churrasco no setor militar de Brasília, Bolsonaro comentou a soltura do petista pela primeira vez. "Está solto, mas continua com todos os crimes dele nas costas", disse. "Não vamos dar espaço e nem contemporizar para um presidiário", afirmou. Nas redes sociais, o presidente pediu que seus simpatizantes não dêem "munição ao canalha, que momentaneamente está livre". Enquanto Lula discursava no ABC, Bolsonaro tomava sorvete na Praça dos Três Poderes.

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Responsável por condenar Lula por corrupção e lavagem de dinheiro no caso do triplex do Guarujá, o agora ministro Moro também recorreu às redes sociais para responder aos ataques que tem sofrido de Lula nos dois últimos dias. "Aos que me pedem respostas a ofensas, esclareço: não respondo a criminosos, presos ou soltos. Algumas pessoas só merecem ser ignoradas", escreveu. Em seu discurso, Lula lembrou que Bolsonaro disse anteontem que deve sua eleição a Moro.

A polarização também ficou clara nas manifestações contra a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de derrubar o cumprimento da pena após prisão em segunda instância. Aliado de Bolsonaro, o empresário Luciano Hang, dono da rede lojas Havan, atacou a esquerda ao discursar, na Avenida Paulista. "A esquerda destruiu o Brasil."

Ao longo do discurso, Lula citou os protestos populares que tomaram as ruas do Chile nas últimas semanas contra a política econômica do governo para criticar Guedes. "O Chile é o modelo de país que o Guedes quer fazer aqui. Os aposentados lá estão morrendo." O ministro não comentou as declarações. "Duvido que Bolsonaro durma com a consciência tranquila. Duvido que o ministro dele destruidor de sonhos do povo brasileiro durma bem", afirmou o ex-presidente.

Pela manhã, Bolsonaro se reuniu com o comando militar para avaliar o cenário após Lula ter deixado a prisão. Entre os militares, a avaliação é que não há sinais de movimentações atípicas, mas há a preocupação de que o discurso de Lula possa incitar a violência.

Marielle

Lula afirmou que a eleição de Bolsonaro deve ser respeitada, mas cobrou o presidente sobre a morte da ex-vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ) e sobre a investigação que envolve o ex-assessor parlamentar Fabrício Queiroz, que trabalhou para Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) na Assembleia do Rio. "Tem gente que fala em impeachment. Veja, o cara foi eleito democraticamente e nós aceitamos isso, mas ele (Bolsonaro) foi eleito para governar para o povo brasileiro, e não para os milicianos do Rio de Janeiro."

Como já havia feito ao deixar a Superintendência da Polícia Federal (PF), em Curitiba, Lula criticou a força-tarefa da Lava Jato. Dessa vez, acusou o procurador da República Deltan Dallagnol, de "montar uma quadrilha para tomar dinheiro da Petrobrás e das empreiteiras". Não existe nenhuma acusação ou investigação contra Dallagnol sobre crimes. O procurador é alvo de procedimentos disciplinares administrativos no Conselho Nacional do Ministério Público sobre comentários feitos por ele contra políticos. Dallagnol não comentou os ataques ontem.

Próximos dias

O ex-presidente voltou a afirmar que pretende rodar o País ao lado de Fernando Haddad, candidato derrotado do PT à Presidência, da presidente do partido, Gleisi Hoffmann, e de "companheiros" de outras legendas, como PSOL e PCdoB. Ele determinou a seus colaboradores um levantamento aprofundado de números sobre emprego, renda e condições de vida dos brasileiros desde que o PT deixou o governo. Os dados devem embasar o pronunciamento que ele pretende fazer no Congresso do PT, entre os dias 22 e 24, quando deve subir mais um degrau na polarização com Bolsonaro.

"Lula está com o foco na defesa da qualidade de vida das pessoas", disse Gleisi. Segundo ela, a libertação de Lula e a forma como ele se colocou contra Bolsonaro já no segundo dia fora da prisão representam um salto para a oposição. A ideia é que Lula adote um discurso focado na realidade das pessoas, especialmente na economia, para se reconectar com seu eleitorado. Além disso, Lula pediu a auxiliares que examinem uma agenda de viagens para o exterior. "Estou de bem com a vida e vou lutar por esse País." Ao final do discurso, o petista antecipou a discussão sobre eleições em 2022: "Se nós trabalharmos direitinho, em 2022 a chamada esquerda que o Bolsonaro tanto tem medo vai derrotar a extrema direita." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O mercado reagiu nessa sexta-feira (8) à soltura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com alta forte do dólar e queda no Ibovespa, principal indicador do Bolsa de São Paulo. A leitura foi de que, do ponto de vista jurídico, a mudança de posição do Supremo Tribunal Federal (STF) traz insegurança e assusta sobretudo o investidor estrangeiro. Pelo lado político, na visão dos agentes, significa o acirramento da polarização em Brasília e nas ruas, o que poderia afetar o andamento da pauta econômica do governo.

Há, inclusive, parlamentares ameaçando obstruir qualquer votação no Congresso até que ocorra a análise da proposta de emenda à Constituição (PEC) sobre a prisão em segunda instância. Foi nesse ambiente que o dólar subiu 1,80% ontem e fechou cotado a R$ 4,1666 no mercado à vista. Já a Bolsa fechou com queda de 1,78%, aos 107.628,98 pontos.

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Ontem, no caso do câmbio, em menos de 45 minutos, período entre a notícia de que o ex-presidente seria solto e o fechamento do mercado, houve renovação de sucessivas máximas e a incorporação de dois centavos na cotação, da casa de R$ 4,14 para a de R$ 4,16.

"Na semana, a moeda norte-americana refletiu dois eventos: de um lado, o leilão, que começou tudo, e depois a liberação do Lula. O mercado deu uma azedada, não teve nenhuma notícia que ajudasse o real (na semana)", disse o economista da corretora Nova Futura, Pedro Paulo Silveira. O economista se referia também ao fracasso dos leilões realizados pela Agência Nacional de Petróleo (ANP).

Bolsa

A semana no mercado de ações encerrou com os investidores se desfazendo de suas posições, mesmo após terem absorvido a frustração com os dois leilões de petróleo e gás, com resultado negativo para o governo.

Na avaliação do economista-chefe do banco digital ModalMais, Álvaro Bandeira, o noticiário deu impulso à realização de ganhos acumulados na esticada de cinco mil pontos do índice à vista desde o final de outubro. "A soltura de Lula já estava mais ou menos no preço. O mercado já estava meio que esperando a decisão do Supremo desde que a ministra Rosa Weber mudou o voto", disse.

No entanto, para ele, apesar dos ruídos que podem haver com a intensificação da polarização, se o governo seguir tocando a agenda liberal e reformista, não deve comprometer a tendência até agora vista para a Bolsa. "Por enquanto, não dá para assustar, vamos ver os desdobramentos."

O analista-chefe da Necton Corretora, Glauco Legat, ressalta que o tom pode ser mais negativo com Lula solto em um contexto no qual o governo quer fazer mais reformas. "De maneira geral, a soltura dele traz eventos negativos e fica mais evidente o Brasil dividido, com passeatas que já começam", diz.

Nesse meio tempo, o senador José Serra (PSDB-SP) protocolou requerimento solicitando dados que embasaram a elaboração das três Propostas de Emenda à Constituição (PECs) do pacote Mais Brasil, em tramitação no Senado. O senador quer saber informações detalhadas, entre elas, a economia esperada das medidas e a memória de cálculo das projeções.

O ministro da Economia, Paulo Guedes, poderá ter de abrir em até 30 dias todos os dados e, caso contrário, a tramitação das PECs ficará sobrestada, interrompendo sua tramitação. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

A polarização política no Brasil atingiu um nível elevado de intolerância que supera a média internacional de 27 países observados em uma pesquisa do Instituto Ipsos. Tema perceptível no cotidiano do brasileiro nos últimos anos, o radicalismo que envolve as discussões político-partidárias foi o aspecto medido na pesquisa. O levantamento mostrou que os entrevistados no Brasil estão menos propensos a aceitar as diferenças. Segundo o instituto, 32% dos brasileiros acreditam que não vale a pena tentar conversar com pessoas que tenham visões políticas diferentes das suas.

O índice nacional nesta questão é maior do que quase todos os países pesquisados - que ficou, na média, em 24% -, atrás apenas de Índia (35%) e África do Sul (33%). Na prática, o nível de intolerância nas discussões políticas afeta as diversas relações pessoais, sejam as familiares, as profissionais e as interações nas redes sociais.

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A microempresária Patrícia Jimenes, de 42 anos, não vê a mãe há cerca de um ano, resultado de um rompimento por divergências políticas, associadas a "valores e princípios". Nas eleições do ano passado, elas ficaram quase três meses sem se falar. Patrícia, que se identifica com a esquerda, bloqueou a mãe nas redes sociais por um tempo - tudo para não receber mensagens de política, explicou. "Em abril do ano passado eu explodi. Depois de um comentário no jantar de família, eu peguei minhas coisas e disse que não voltaria mais lá."

O estudante universitário Erick Ferreira, 27, também se sentiu obrigado a cortar relações. Identificado com a centro-direita, ele diz já ter sido alvo de perseguição. "Colaram cartazes nos banheiros femininos da universidade com nomes de homens com quem as mulheres não deveriam se relacionar por questão ideológica. Meu nome estava lá por eu ser de centro-direita. Isso fez muita gente se afastar de mim. Já discuti demais. Agora, estou cansado."

A pesquisa do Ipsos foi realizada com 19,7 mil entrevistados entre 16 e 64 anos nos países em que o instituto atua. Os cerca de mil brasileiros são majoritariamente pessoas de centros urbanos, com salário e nível educacional superior à média nacional.

Em outra pergunta feita aos participantes, 40% dos brasileiros disseram que se sentem mais confortáveis junto de pessoas que têm pensamentos similares. O índice é de 42% levando-se em conta os 27 países. A visão crítica de brasileiros a respeito de quem pensa diferente também foi ligeiramente acima da média geral quando o assunto foi o futuro do país e as razões de suas escolhas. Para 31%, aqueles com visão política diferente das suas não ligam de verdade para o futuro do Brasil. A média geral é 29%. 39% dos brasileiros concordaram com a frase "quem tem visão política diferente de mim foi enganado" - dois pontos porcentuais a mais que a média.

Marcos Calliari, CEO da Ipsos Brasil, avalia que o principal efeito observado no País está relacionado ao questionamento no qual 39% dos entrevistados brasileiros acreditam que pessoas não mudarão de opinião mesmo com evidências contrárias apresentadas. Além disso, 34% concordam com a frase "quem tem visão política diferente de mim não liga para pessoas como eu". "A falta de transformar opiniões distintas em diálogo construtivo é o que mais nos preocupa. Temos evidências que os entrevistados não veem ganho no diálogo."

Os brasileiros também se destacaram quando questionados se o País corre mais ou menos perigo com pessoas com opiniões políticas diferentes do que há 20 anos: 44% dos brasileiros acredita que há mais perigo atualmente. A média global, também elevada, é de 41%. Suécia e Estados Unidos lideram, com 57% cada.

Para o cientista político e professor da FGV Marco Antonio Teixeira, a polarização no Brasil está ligada a diferenças de valores, e acabou sendo absorvida pelas disputas políticas. "Nos anos anteriores, as eleições traziam projetos políticos diferentes, não valores, do ponto de vista moral. Não se discutia moralidade em termos de religião, de ser a favor de cotas. Em 2018, foi quase uma luta do bem contra o mal. De conservadores e não conservadores", afirmou.

Na visão de Calliari, o fato de que o debate político está desestimulado é preocupante para o futuro do País. "Intolerância tem a ver com o voto ‘anti-oposto’. Nesse caso, mantém e reforça a intolerância. (Os eleitores) Não apoiaram uma causa que acreditam, mas sim o anti. Não se reconhece os pontos positivos de outros projetos. Como chegamos aqui, tem uma coisa cultural. Não temos cultura de dialogar ideias. Isso se reflete na família, no contexto educacional, na hierarquia das empresas. Uma conjunção de fatores institucionais que desestimula o diálogo. Essa talvez seja a origem. É um futuro incerto, dúbio. É preocupante."

Valores morais têm sido apontados entre os principais motivos do acirramento político na sociedade brasileira, por vezes às frente dos embates diretamente políticos ou partidários. Para o cientista político Kleber Carrilho, da Universidade Metodista, isso é um sinal de que falta educação sobre política no País. "Há uma tendência de não sabermos o que é política."

O corretor de imóveis Paulo Henrique Nolasco, de 49 anos, diz defender valores da igreja católica e não se considera de direita. "Minha luta é pelos valores. Sou cristão católico. Luto pela moral que a igreja defende. Acho que nossos filhos têm de ter a oportunidade de serem criados pela família tradicional. A família brasileira é conservadora. Apoiaria Bolsonaro de novo por falta de opção, mas não sou mais ‘bolsominion’. Você vai amadurecendo, vê quem está cercando as pessoas. O Brasil precisa de um estadista, a gente sabe que o Bolsonaro não é."

Para a estudante de nutrição Marcella Carvalho, de 22, o menos importante é a política em si. "As pessoas que votam no Bolsonaro partem de princípios completamente opostos aos meus, e isso me desanima de conversar. Não dá certo, não chega a conclusão nenhuma e me leva ao desgaste, porque temos morais e princípios muito diferentes."

Também identificada com a esquerda, a produtora de vídeos Priscila Miranda, de 50 anos, admite que bloquear pessoas nas mídias sociais é algo controverso até mesmo para ela, que sempre preservou o diálogo e a pluralidade de ideias. Mas afirma ter perdido a disposição. "Eu fiquei intolerante, e isso eu falo abertamente. Não tenho mais paciência."

Dentro e fora das redes sociais, ela diz manter apenas amigos de esquerda e anarquistas. Quem manifestar qualquer discurso de extrema direita, imediatamente é deletado. "Não deleto só por partido. É por ideias. Quando falam de matar bandido, de que estupro é causado por roupa da vítima, que gays são anormais." Ela conta que última pessoa que excluiu do Facebook foi um colega de curso que fez um comentário que ela considerou machista.

O estudante Erick Ferreira, que relatou ter sido hostilizado em sua universidade, conta que passou a ser alvo de provocações depois que Abraham Weintraub foi indicado por Jair Bolsonaro para assumir o Ministério da Educação. "Eu era próximo do professor, depois que ele virou ministro, passei a ouvir provocações. Procuro não comprar discussões, mas me tacharam. Nas eleições foi assim. Eu seguia os dois candidatos do 2.º turno nas redes. Fui acusado de machista e homofóbico por seguir Bolsonaro, e diziam para eu ir para Cuba ou Venezuela por seguir Fernando Haddad (PT)."

O protagonismo das pautas morais gera uma discussão em que argumentos são deixados em segundo plano, de acordo com o pesquisador da Universidade Metodista. "Não estamos estimulados a debater política e, quando isso acontece, o debate vira uma discussão entre tribos que trabalham não com argumentos, mas com ataques ao que é diferente. Vira um ambiente de Fla-Flu", diz Carrilho.

Para o cientista político, o cenário favorece a simplificação de discursos. "Algumas estruturas políticas estimulam este tipo de enfrentamento a partir de uma técnica de propaganda que existe desde sempre e que foi explorada por regimes totalitários, que é a simplificação de discursos. Indicando um inimigo comum. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

As escolas de samba de São Paulo negam qualquer intenção de reproduzir a polarização do universo político na avenida e não querem nem ouvir falar de direita ou esquerda. A tendência, pelo menos no Anhembi, é de pouca crítica ou elogio ao atual governo e seus personagens.

Ainda assim, com um pouco de atenção, é possível destacar uma curiosa sequência de desfiles na madrugada deste sábado, 2, no carnaval de avenida em São Paulo. Às 2h30, entra no sambódromo a Acadêmicos do Tucuruvi, com o enredo "Liberdade - O Canto Retumbante de um Povo Heroico". Depois dela (às 3h35), será a vez da Acadêmicos do Tatuapé, com o enredo "Bravos Guerreiros. Por Deus, Pela Honra, Pela Justiça e Pelos que Precisam de Nós".

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As duas escolas de samba tratam de política, mas com narrativas que soam opostas. Na Tucuruvi, por exemplo, o foco é nos movimentos sociais e em manifestações, como Parada Gay e greve dos professores (com destaque para o último carro, tratará do embate eleitoral entre Ele Sim e Ele Não - expressões usadas por detratores e apoiadores do presidente Jair Bolsonaro durante a campanha, no ano passado).

Além disso, o samba da Tucuruvi traz referências a músicas de Caetano Veloso ("Caminhar contra o vento, eu vou...), Geraldo Vandré ("Quem sabe faz a hora, não espera acontecer..."), Chico Buarque ( "Apesar de você...") e ao cancioneiro da sambista Clara Nunes.

Já a Acadêmicos do Tatuapé segue pela linha do patriotismo e amor ao País: "Sou brasileiro/Vou defender minha nação/Oh Pátria amada idolatrada não chores em vão/Sou brasileiro". O presidente da escola, Eduardo dos Santos, nega qualquer intenção política no desfile da escola. "Não pode ter militância, não pode ter ideologia. Na escola, temos componentes de direita e de esquerda, o nosso papel social é abrigar todas as pessoas."

Outras

A noite começa às 23h15 desta sexta-feira com a Colorado do Brás, com o enredo "Hakuna Matata Isso é Viver". A agremiação vem com um tema recorrente nas escolas de São Paulo, a cultura negra e a África - principalmente o Quênia. A Mancha Verde, que desfila à 1h25, também tem a cultura africana como ponto de partida. Ela vai falar do Congo e seus Orixás.

Segunda escola a desfilar, o Império da Casa Verde traz o momento mais pop dos sambódromo, com o enredo "O Império Contra-Ataca". Além da óbvia autorreferência, a escola vai brincar com a ideia de Star Wars ("Tudo vai se transformar, tudo pode acontecer/ Imperiano, que a força esteja com você"). É possível esperar sabres de luz e até um Darth Vader cruzando a avenida. No mais, o desfile será todo pontuado por personagens e momentos cinematográficos.

Já a X-9 Paulistana, que será a penúltima na avenida, sofreu uma baixa de última hora. O homenageado pela escola, o sambista Arlindo Cruz (que completou 60 anos), não estará presente no desfile. Mesmo liberado pela equipe médica que o acompanha (ele sofreu um acidente vascular cerebral há dois anos), a família não o trará para o desfile. "O maior entrave para a confirmação da viagem do artista para o desfile da escola de samba se deu em torno do custo da infraestrutura de equipes, médica, produção e de segurança, além de transporte e transfer especial para que todo esse trâmite fosse feito livre de perigo", diz a nota da família no perfil do Instagram de Babi Cruz, mulher de Arlindo.

Fé x ciência

Fecha a noite a escola Tom Maior, que vem com o enredo "Penso... Logo existo - As Interrogações do Nosso Imaginário em Busca do Inimaginável". A agremiação vai misturar religião com teoria da evolução no mesmo samba. A oposição entre fé e ciência deve encerrar o primeiro dia do Anhembi com alguma polêmica.

Difícil a barraca ficar 15 segundos sem cliente algum. Também não demoram as caras feias e os protestos de quem passa pela loja improvisada na calçada da Rua 25 de Março, no centro de São Paulo. "Ele não", gritam adolescentes em grupo. O único produto disponível só varia de cor ou inscrição: "Acabou a palhaçada, Bolsonaro presidente", "É melhor Jair se acostumando", "Deus acima de tudo". Instalada na frente de um dos armarinhos mais movimentados da região, a banca vende cerca de 300 camisetas por dia com o rosto do candidato à Presidência pelo PSL, Jair Bolsonaro.

"Eu confio nele, na pessoa, não importa o partido", diz o metalúrgico Ademir Silva, de 49 anos, que pagava R$ 20 por um modelo de cor preta. Em 2002, ele votou em Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, mas conta que "se decepcionou". "A cultura política no Brasil é personalista, os brasileiros buscam constantemente salvadores da Pátria, que expurgariam todos os nossos males", explica o cientista político e professor da Universidade Mackenzie Rodrigo Prando.

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Segundo analistas, outros políticos já tiveram também esse papel na história do País, como Getúlio Vargas, Jânio Quadros, Paulo Maluf, Fernando Collor e o próprio Lula. As eleições deste ano começaram justamente com o ex-presidente em primeiro lugar nas pesquisas. Mesmo condenado e preso, ele chegou a ter 39% das intenções de voto. Depois, com a mudança para o nome de Fernando Haddad, seus eleitores transferiram o voto, declarando que nem sequer conheciam o ex-prefeito de São Paulo, mas ele era "o candidato do Lula". A referência ao ex-presidente foi usada em todo o primeiro turno pelo PT.

Emoção

"Não é um traço da esquerda ou da direita. Isso remonta à nossa formação de sociedade patriarcal, à tradição portuguesa", diz o cientista político e professor do Insper Carlos Melo. Para Prando, o comportamento também vem do fato de as relações no Brasil serem muito assentadas na emoção. "Apenas o carisma e a personalidade do Bolsonaro conseguiram enfrentar o carisma e personalidade do Lula", acredita. Ele diz que, em geral, os brasileiros gostam da ideia de ter um político que é como "um pai protetor".

"Ele é o mito, acho que vai tirar a gente desse buraco", diz o funcionário público Walter Moreno, de 40 anos, enquanto a mulher escolhia qual camiseta de Bolsonaro iria levar. Moreno acredita que o candidato, se eleito, não vai facilitar para os sem-terra nem "dar muito benefício para quem não trabalha". "Ele é sincero. A melhor frase dele é que Deus está acima de tudo", emenda o publicitário Cleber Faria, de 48 anos.

Um casal de jovens de cabelo azul e piercing se interessa pelas camisetas, mas não leva. Pouco depois, um homem se aproxima da barraca com o celular. Ele grava um vídeo mostrando os vários tipos de camisetas com a estampa de Bolsonaro e diz: "Dia 29 (dia seguinte ao segundo turno) vai ser feriado, todo mundo na Paulista". A dona da banca, Maria Ferreira, de 58 anos, conta que deixou para trás os outros modelos que vendia antes das eleições. "Você puxa na internet e sai tudinho", diz, sobre como criou as estampas. A barraca ao lado, que vende biquínis e camisetas do Super-Homem, está vazia.

Rio

Na Saara, local de tradicional comércio popular no Rio, as camisetas com o rosto do candidato do PSL disputam espaço com as que trazem a frase "Ele não". Entre os outros modelos, há só referências pessoais, a Haddad, à vice em sua chapa, Manuela d'Ávila, e ao presidente Michel Temer - mas nada de partidos.

Para o professor de História do Brasil da Universidade de São Paulo (USP) Marcos Napolitano, apesar de o voto ser muito personalizado, não se pode subestimar a importância dos partidos. "Ao longo da história do País, a gente assiste a uma série de crises políticas porque o governante entra em choque com o Congresso, com o sistema de partidos."

Ele cita Fernando Collor e Getúlio Vargas. "É preciso entender que não há salvadores da Pátria e os partidos precisam ser construídos com participação popular."

"A grande questão é a decepção com esse líder messiânico que pode acontecer logo depois", diz Melo, do Insper. Para ele, enquanto o País não criar uma outra cultura política, vai repetir os erros do passado. "Em democracias avançadas, com partidos consolidados, esse personalismo não acontece." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O segundo turno da eleição presidencial evidenciou a existência de duas "bolhas", dois grupos que não se tocam, que não conseguem se ouvir nem dialogar entre si. De um lado, eleitores e simpatizantes de Jair Bolsonaro (PSL); do outro, eleitores e simpatizantes de Fernando Haddad (PT). Fechados no conforto de suas redes sociais, em grupos de WhatsApp que só reverberam informações que confirmam suas próprias crenças ou entre amigos que pensam de forma parecida, eleitores de Bolsonaro e Haddad parecem falar sozinhos ou de frente para os próprios espelhos.

A reportagem do Estado se encontrou com um grupo de apoiadores de Bolsonaro que diz "não perder tempo com quem não quer conversar e é xiita", segundo a gerente de RH Priscila Wilbert.

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No encontro com eleitores de Haddad, um sentimento parecido: "Não consigo conversar ou ter relacionamento próximo com 'bolsominions', com quem fala que o Brasil vai virar uma Venezuela com o PT", disse a publicitária Ana Carolina Macedo. Entre essas bolhas, existe ainda um terceiro grupo: pessoas que devem anular ou votar em branco. "Nenhum deles me representa. Em tempos de ódio o não posicionamento é se posicionar", observou a executiva Diane da Costa.

Bolsonaristas contra o 'mimimi'

A gerente de recursos humanos Priscila Wilbert, de 39 anos, diz ter colocado o Facebook no "modo soneca para não ler comentários desagradáveis de eleitores do PT". Ela também saiu de grupos de WhatsApp sobre comunicação não violenta e veganismo por ter sido chamada de racista. Agora, Priscila conta que 90% dos seus amigos e conhecidos votam em Jair Bolsonaro e que não perde tempo em conversar "com quem não quer escutar e é xiita".

A reportagem do Estado encontrou Priscila e outros três eleitores de Jair Bolsonaro (PSL): o empresário Rogério Wilbert, de 49 anos, marido de Priscila; o analista de sistema Vinícius Souza Diamantino, de 21; e o gerente de projetos Luciano Ramos Junior, de 39. A conversa aconteceu em um lugar definido por eles: a praça de alimentação de um shopping center de São Paulo.

Os amigos bolsonaristas dizem que o apoio ao candidato do PSL é um voto contra corrupção, valores distorcidos e o socialismo representado pelo PT. O medo de uma "venezuelização" do Brasil também está presente - assim como um senso de patriotismo.

"Quero que a minha filha aprenda a cantar o Hino Nacional na escola como eu aprendi", comentou Priscila.

Nada tem irritado mais Luciano Ramos do que ser chamado de fascista por eleitores de Haddad. "Quando falam que a gente é fascista, está na cara que não estudaram, não sabem o que estão falando e (nem) sequer sabem o que é o fascismo", disse.

A questão religiosa também parece importante para o grupo de bolsonaristas. Vinicius Souza Diamantino conta que, como cristão evangélico, não pode se omitir - principalmente "pelo apoio à ideologia de gênero" que o PT representa. Segundo eles, o que existe contra Bolsonaro é "mimimi". "Eu sofro preconceito por ser liberal, quase branco, casado com uma mulher, cristão... Minha mulher ganha mais do que eu, e eu acho fantástico", afirmou Ramos.

Para o grupo, as polêmicas em que o capitão reformado se envolve são "turbinadas" pelos opositores. "São coisas que meu pai falaria e que todo mundo ri. Não tem nada demais", disse.

Haddadistas criticam violência

A publicitária Ana Carolina Macedo, de 28 anos, confessa ser difícil ter empatia por quem vota em Bolsonaro. "Não consigo ter um relacionamento muito próximo com 'bolsominions'. Não dá match." Ela admite que só fala sobre política com pessoas de sua própria bolha e amigos. "Eu não sei como iniciar um debate com quem fala que o Brasil vai virar uma Venezuela se o PT ganhar. É tão absurdo que não tem nem como rebater."

A reportagem do Estado encontrou Ana Carolina e outros três eleitores de Fernando Haddad (PT): os também formados em publicidade Thiago Guimarães, de 32 anos, Dandara de Carvalho, de 26, e Mariella Nascimento, de 27. A conversa aconteceu em um lugar definido por eles: um bar no bairro Santa Cecília, no centro de São Paulo.

Os amigos haddadistas dizem que o apoio ao candidato petista é um voto "em favor da democracia e contra o discurso do ódio". Embora afirmem que nem todo eleitor de Bolsonaro "seja fascista", eles atribuem à postura do candidato do PSL uma onda de violência nas eleições. "Existe agora o medo de apanhar na rua", disse Thiago Guimarães. "E o kit gay que o Bolsonaro tanto fala? Eu não recebi."

Nada irrita mais Guimarães do que os ataques sistemáticos ao PT. "O antipetismo é bizarro", afirmou. "Muita gente, muito empresário ganhou dinheiro no governo do PT e agora vêm com esse papo de Venezuela", completou. Para ele, o partido lançou luz sobre a corrupção existente e deixou a Polícia Federal investigar como nenhum outro partido fez.

Para Mariella Nascimento e Dandara de Carvalho, o brasileiro é "preguiçoso" para discutir política - e isso fez com que Bolsonaro crescesse. "Os bolsonaristas dominam melhor as ferramentas de internet. Jogam esse jogo melhor. Eles atuam de forma muito forte e até a exaustão", disse Mariella.

Os eleitores do Haddad também consideram o discurso sobre segurança pública e violência repetido por Bolsonaro algo "fácil" e sem profundidade. "Falar que vai acabar com a bandidagem não é plano de governo", afirmou Ana Carolina.

'Nenhum lado quer entender o outro'

Além de não dialogar entre si, as "bolhas" que apoiam Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT) não conseguiram, pelo menos até agora, conversar com eleitores que pertencem a um terceiro grupo: os isentos - aqueles que pretendem anular o voto ou votar em branco no segundo turno. "Nenhum deles me representa", disse Diane Alves da Costa, de 27 anos, executiva de contas de uma rede de hotelaria.

Esse grupo é formado, em sua maioria, por eleitores de Geraldo Alckmin (PSDB) e João Amoêdo (Novo). Ainda assim, é possível encontrar gente que votou em Ciro Gomes (PDT) e Marina Silva (Rede) e outros candidatos no primeiro turno.

Além disso, são eleitores que, em sua maioria, abdicaram de "bater boca" em redes sociais e grupos de WhatsApp - evitando até conversas mais profundas com seus parentes mais próximos.

"Em tempos de ódio, o não posicionamento é se posicionar", afirmou Diane. Para não se posicionar, a executiva preferiu não ter em seu celular nenhum grupo de discussão sobre eleições. "Não tem diálogo. Nas redes sociais, um não quer entender o outro", disse. "Tem fanatismo dos dois lados. Já ouvi discursos inflamados de bolsonarista e de petista", completou.

Para o engenheiro agrônomo Caio Cugler Siqueira, de 25 anos, os políticos não entenderam os protestos de 2013 e o efeito da Lava Jato. "O desejo por uma renovação no sistema político foi subestimado."

Clichês

"O País se perdeu em um debate de clichês entre segurança pública, armas, ameaça comunista e Lula, enquanto temas como economia, desemprego, reforma tributária, política e previdência são ignoradas ou superficialmente discutidas", disse Siqueira.

Ele também não acredita que Haddad nem Bolsonaro sejam capazes de encerrar a polarização, considerando que ambos têm os maiores índices de rejeição entre todos aqueles que se candidataram.

Na opinião do empresário Afonso Soares Trigo, de 32 anos, eleitor de Marina Silva no primeiro turno, petistas e bolsonaristas agem com arrogância e parecem donos da razão. "É impossível conversar com os dois lados. Eles simplesmente querem impor uma visão de mundo", afirmou. Por enquanto, Soares pretende votar em branco. "Vai ser a primeira vez que vou fazer isso. Ainda não bati o martelo, mas essa é a tendência", afirmou o empresário.

"O WhatsApp da minha família virou um campo de guerra. Quando não tem ofensa direta, tem alfinetada. Já bloqueei e avisei que nem vou votar", disse a estudante de publicidade Amanda Dias, de 21 anos. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Simpatizantes de Jair Bolsonaro (PSL) e de Fernando Haddad (PT) fazem neste segundo turno da eleição presidencial uma disputa particular em Amaporã, município a cerca de 540 quilômetros de Curitiba.

A cidade, de 5,9 mil habitantes, vizinha de Paranavaí, noroeste do Paraná, se descobriu politicamente fora do centro ao registrar exatamente o mesmo número de votos, 1.191, para cada uma das pontas, direita e esquerda, no primeiro turno da eleição. Com o empate nas urnas, a pequena produtora de cana, mandioca, soja e milho e criadora de gado, de 3,8 mil eleitores, dos quais 2,9 mil votaram para presidente, passou a viver dias de tensão com o eleitorado se mobilizando para arregimentar cada voto discordante para a votação do dia 28.

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"Bolsonaro não é um salvador da pátria, mas representa a possibilidade de mudança para o País", afirmou o vereador Amauri Schuroff, presidente da Câmara Municipal e produtor rural. Ele já foi eleito em dois mandatos pelo PT, mas nas últimas duas eleições migrou para o PSD. Agora, é bolsonarista convicto.

Na quinta-feira passada, apostando na vitória do deputado federal fluminense contra o ex-prefeito de São Paulo, Schuroff e a família aceitaram posar para o Estado na residência deles. Ao lado do filho, Luis Fernando; da nora, a administradora Carla Miranda; e da mulher, a pedagoga Valdirene Meurer Schuroff, o ex-motorista de ônibus, um dos fundadores do PT local, hoje ferrenho eleitor de Bolsonaro, afirmou que "os partidos têm ciclos" e que "chegou a vez de mudar as coisas".

Para ele, que planeja se lançar à prefeitura em 2020, "educação, saúde e segurança pública são os três problemas a serem atacados no município e no País". Em uma madrugada de dezembro passado, ladrões atacaram a agência do Banco do Brasil da cidade e fugiram, mas, segundo a Secretaria de Segurança do Paraná, o município registrou somente dois homicídios no primeiro semestre.

'Surpresa'

"Para nós foi até uma surpresa a votação deles", disse Valdirene Schuroff, vestindo a camisa amarela de Bolsonaro e fazendo referência aos petistas. Acompanhada pela nora, proprietária de uma academia de ginástica na rua principal de Amaporã, elas recordaram que, dias antes do primeiro turno, uma carreata pró-Bolsonaro chegou a reunir 120 carros, enquanto a do PT teve 13 carros. "No dia da votação, eu até comentei com um amigo que seria apertado", afirmou o vereador Schuroff. "Pela manhã, foi o pessoal do Bolsonaro votar, mas à tarde começou a chegar o pessoal do outro lado."

Petistas

A cerca de cinco minutos de caminhada da casa dos Schuroff, o casal de professores Pedro Nóbrega e Maria Agnete também aceitou falar da divisão política local. Eles concordaram em se reunir ao filho Pedro José Franklin (o PJ) e um sobrinho, Antonio Carlos Franklin de Souza, professor de educação física, todos defensores do voto em Haddad. "A família é PT desde o meu avô", declarou PJ Franklin, como gosta de ser identificado o rapaz, que já foi candidato a vereador.

Para o ex-prefeito Mauro Lemos, que já venceu duas eleições no município pelo PT, a política local produz mesmo resultados apertados. Está no partido de Lula desde 2004 e, aliás, também conseguiu a façanha de repetir votação: exatos 1.721 votos nas eleições de 2008 e 2012. Quando prefeito, nos "tempos gordos" de governo federal petista, foi aliado de Zeca Dirceu, ex-prefeito de Cruzeiro do Sul. Em 2012, Lemos teve apoio da então ministra da Casa Civil de Dilma Rousseff, Gleisi Hoffmann. "Não tenho nada a reclamar do governo federal, mas pelo governo estadual do Beto Richa (PSDB) fui perseguido", disse Lemos, que admitiu ter ficado afastado desta campanha, mas planeja voltar à disputa municipal em 2020.

Desta vez, porém, com o PT em baixa em relação aos "tempos dourados" de Lula e Dilma, ele tratou de abrir um outro arranjo político. Apoiou a eleição o deputado Tião Medeiros, do PTB. Pecuarista e produtor de mandioca, Lemos argumentou que vai de Haddad para presidente e não pretende deixar o partido. Com as contas de sua gestão, encerrada em 2016, ainda aguardando julgamento pela Câmara, ele se disse perseguido e reconheceu que pode ter dificuldades já nos próximos dias. Precisa de quatro votos favoráveis para suas contas, que foram aprovadas com ressalvas pela Justiça. Mas o PT tem somente uma das nove cadeiras do Legislativo municipal.

"Esse resultado exato de agora para presidente é uma coincidência", disse a prefeita Terezinha Fumiko Yamakawa, do MDB, que já foi do PPS e do PSDB, e que agora faz campanha para Bolsonaro. Para ela, a filiação a partidos políticos não é relevante na cidade - o PSL, por exemplo, nem tem representação em Amaporã. "Nem precisa. Aqui, as pessoas não olham para os partidos, mas para quem é o candidato e se ele ajuda a região ou não", resumiu Terezinha, produtora rural e pecuarista que está no terceiro mandato na prefeitura. Segundo ela, a campanha eleitoral no primeiro turno foi mais para garantir a eleição dos representantes da região. "Nós trabalhamos aqui para Maria Vitória (PP), Caputo (PSDB) e Anibelli Neto (MDB), e todos se elegeram para deputado estadual. A campanha para prefeito, sim, essa pega fogo", afirmou a prefeita.

Campanha

Nas ruas da área urbana da cidade, os carros com adesivos "Bolsonaro-17" são os mais avistados. Não há a mesma presença ostensiva da militância "Haddad-13", embora o município tenha pelo menos dois assentamentos do MST consolidados, que descarregam votos nas urnas da cidade.

No Assentamento Roseli Nunes, com 60 famílias, há cerca de 190 votos. Já o Assentamento Antônio Conselheiro, com 38 famílias, "tem uns 50 votos", segundo o ex-presidente da Câmara Paulo Fernandes Alves, o Bugão, um dos organizadores da mobilização petista na região. Atualmente sem partido, ele deixou o PT por divergências internas locais, mas trabalha para organizar o comício pró-Haddad do dia 25.

Entre os "haddadistas", uma novidade: a roupa vermelha, ícone do petismo, não é a mais preferida e muitos até temem vestir a cor nas ruas. "Ninguém sabe onde isso vai parar", afirmou um eletricista, que pediu para não ser identificado, declarou voto em Ciro Gomes (169 votos), mas "confessou" ter ido de PT em eleições anteriores. "Aqui, todo mundo precisa fazer um serviço aqui, outro lá, e não pode ficar se expondo."

A disputa na cidade está tão acirrada que em algumas famílias as coisas parecem complicadas. "Eu vou com aquele da camisa preta, como o meu filho falou", disse a aposentada Neuza Ana dos Santos, de 66 anos, moradora da periferia de Amaporã, referindo-se a Bolsonaro. Ela admite que votou no PT em outros tempos. Mas agora pretende seguir a opinião de um filho e trocar o voto.

Até a semana passada, filho e nora tentavam convencer a aposentada a se bandear para o lado deles. Animada, ela parecia decidida e disse querer "mudança", porque é a única em casa a ter renda e não aguenta mais arcar com todas as contas. "Tive de fazer empréstimo de R$ 4 mil para as despesas, tenho cirurgia marcada. É preciso mudar alguma coisa."

A decisão de dona Neuza, porém, não é tranquila na residência simples. A neta dela, Carolaine dos Santos, de 20 anos, trabalhadora rural desempregada, bate o pé na discussão com a avó. "Esse aí diz que mulher é vagabunda, que vai acabar com o Bolsa Família. Eu sou bem contra esse Bolsonaro", afirmou Carolaine. "Eu sou Lula e vou de 13."

Mas nem tudo é desavença em Amaporã. De acordo com a vereadora Elisabete de Souza Pereira, a Polaca, moradora do Assentamento Roseli Nunes, ex-petista, hoje no PMN, "é difícil alguém que não seja do PT no assentamento". Ela, porém, mantém relação cordial com a prefeita bolsonarista. "Temos um bom relacionamento, sim", confirmou a prefeita. Na manhã de quinta-feira, ambas percorreram escolas na cidade e participaram, animadas, da festa antecipada do Dia das Crianças no Ginásio de Esportes. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O acirramento da política em meio à disputa eleitoral tem desembocado em episódios de violência física e até um assassinato. Nos últimos dias, foram registrados no País diversos casos de agressão por motivação política, o que analistas veem como uma realidade das eleições de 2018.

Até o líder das pesquisas de intenção de voto na disputa presidencial, Jair Bolsonaro (PSL) - que disputa o segundo turno contra Fernando Haddad (PT) -, foi alvo. Ele levou uma facada durante ato de campanha.

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O caso mais extremo ocorreu na capital baiana, horas após a votação em primeiro turno. Depois de se envolver em uma discussão na qual defendia o candidato petista, o mestre de capoeira Romualdo Rosário da Costa, conhecido como Moa do Katendê, de 63 anos, foi assassinado a facadas dentro de um bar. Segundo a Secretaria de Segurança Pública da Bahia, o autor das facadas tinha chegado ao local gritando o nome do candidato do PSL.

O barbeiro Paulo Sérgio Ferreira de Santana, de 36 anos, autor das 12 facadas que mataram o mestre de capoeira, foi preso em flagrante. Nesta quarta-feira, 10, a prisão foi transformada em preventiva.

Bolsonaro

Na terça-feira, 9, Bolsonaro foi questionado sobre o assassinato de Moa do Katendê. "A pergunta deveria ser invertida. Quem levou a facada fui eu. Se um cara lá que tem uma camisa minha comete um excesso, o que tem a ver comigo? Eu lamento, e peço ao pessoal que não pratique isso, mas eu não tenho controle."

Na quarta, ele voltou ao assunto em seu Twitter. "Dispensamos voto e qualquer aproximação de quem pratica violência contra eleitores que não votam em mim. A este tipo de gente peço que vote nulo ou na oposição por coerência, e que as autoridades tomem as medidas cabíveis, assim como contra caluniadores que tentam nos prejudicar." Em uma segunda postagem, disse haver um "movimento orquestrado forjando agressões" para o prejudicar, "nos ligando ao nazismo, que, assim como o comunismo, repudiamos".

Youtuber e agora eleito deputado estadual por São Paulo, Arthur Moledo do Val (DEM) relatou em sua rede social uma agressão durante ato de sua campanha. Ele disse que foi abordado por um homem que teria se identificado como anarquista. O então candidato conseguiu desviar da agressão, mas caiu e lesionou o braço. À reportagem, ele disse receber ameaças com frequência, mas não vê a campanha como violenta. "Sofro ameaças praticamente toda semana na minha página, mas não sofri mais violência do que as pessoas no dia a dia."

O cineasta Guilherme Daldin registrou boletim de ocorrência em Curitiba no domingo. Ele disse estar em frente a bar onde comemorava a eleição de um deputado quando foi atropelado. Vestia camiseta com o rosto do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva - condenado e preso na Lava Jato - e acusa o motorista de agir deliberadamente.

"É intolerância, intransigência, falta de respeito por posicionamento. Mas é uma situação que foi criada pelos dois lados. Muita gente vem sendo hostilizada desde 2013, mas agora a situação está mais radical a partir do momento em que surge outra grande polarização, agora entre PT e Bolsonaro", disse a cientista política Vera Chaia, da PUC-SP.

'Homofobia'

Em Porto Alegre, uma jovem de 19 anos relatou ter sido atacada na noite de segunda. A vítima, que não teve o nome revelado, disse que voltava para casa quando, aos descer do ônibus, foi seguida por três homens, agredida e teve a barriga marcada com traços semelhantes a uma suástica - símbolo do nazismo. Segundo o delegado Paulo César Jardim e a advogada da jovem, ela teria sido vítima de homofobia por usar adesivo com a bandeira do arco-íris e a inscrição #Elenão, referência ao movimento de mulheres contra Bolsonaro. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

No primeiro debate entre os presidenciáveis da TV Bandeirantes sem a presença de um candidato do PT desde a redemocratização, não houve uma polarização de provocações nos bastidores como nas edições anteriores.

Os únicos petistas presentes na plateia foram o tesoureiro do PT, Emídio Souza, e o advogado Marco Aurélio Carvalho. Quando chegaram ao estúdio, a dupla logo soube que não havia lugares reservados para a sigla e teve que buscar onde sentar perto dos jornalistas.

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Acabaram indo embora no segundo bloco. Muitos políticos, aliás, tiveram que dar meia volta e ir embora, já que os oito candidatos tiveram apenas sete convites para distribuir entre aliados.

Fora do foco da câmera, Ciro Gomes (PDT) não escondia o incomodo por ser pouco acionado. Quando foi chamado pela primeira vez, levantou às mãos para o alto em agradecimento.

Já Jair Bolsonaro demonstrou nervosismo no começo do programa e virou um copo de água inteiro quando foi interpelado por Guilherme Boulos (PSOL). No primeiro bloco, ele ficou sentado durante todo o tempo para, segundo um auxiliar, demonstrar moderação.

O General Augusto Heleno, que quase foi vice de Bolsonaro, disse a jornalistas que ajudou no "mídia training" do candidato e o aconselhou a ter moderação. No intervalo, porém, a estratégia mudou. O deputado do PSL foi aconselhado pelo senador Magno Malta a mudar o tom, e seguiu a orientação.

No segundo bloco, Bolsonaro ficou de pé para parecer mais altivo. Seus apoiadores comentaram que se sentiram mais "confortáveis' com essa segunda versão. Mas ele não conseguia ficar parado e passou a se alongar.

O ex-ministro Henrique Meirelles (MDB) levou vários assessores para a TV Bandeirantes, mas sua gravata ficou torta durante quase todo o programa.

Já o stafe de Marina correu para levar um xale no primeiro bloco, pois ela estava reclamando do frio no estúdio.

Alckmin permaneceu impassível nos intervalos e parecia um pouco desconfortável como o banco.

Coordenador do programa de governo do PT e apontado como um "plano B" do partido para a campanha presidencial, o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad disse, durante convenção nacional do PT, neste sábdo, 4, que a eleição ficará polarizada entre PT e PSDB.

Em seu discurso, ele enfatizou que de um lado está o PSDB, que lançou o ex-governador Geraldo Alckmin na disputa, e de outro está no PT, que tem Lula na lideranças das pesquisas, apesar de estar preso e condenado em segunda instância. "Eu não tenho dúvida que o cenário está configurado", disse Haddad, ao falar dos dois partidos.

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Haddad atacou Alckmin afirmando que o PSDB "deu a coluna vertebral e organizou o governo Temer" porque o MDB não teria um projeto para o País. "Se eles querem acabar com o PT, só tem um jeito: se aliar ao nosso projeto de País e acabar com a extrema desigualdade que o nosso povo vive no dia a dia", disse Haddad. O ex-prefeito ressaltou que, enquanto houver desigualdade no País, "vai existir o PT".

Haddad encerrou sua fala dizendo "Lula derrotou todos os golpistas e o PT vai ganhar essas eleições de outubro de 2018."

O PSDB vem investido na estratégia de polarizar a disputa presidencial com o deputado federal Jair Bolsonaro (PSL-RJ), que lidera as pesquisas de intenções de votos. A legenda, que tem o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin como pré-candidato à Presidência, divulgou nas redes sociais, nessa quarta-feira (27), um vídeo produzido pela ala feminina em que críticas são direcionadas a Bolsonaro. 

“Cara, você só fala absurdo. Não posso confiar em alguém que é machista, racista e homofóbico… Você é o atraso de vida. Sou mulher e exijo respeito. Bolsonaro? Tô fora”, diz trecho do esquete. A atriz ainda faz referência a declarações do presidenciável sobre esterilização dos pobres, remuneração de mulheres no mercado de trabalho e o apoio a torturadores.

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O filho do presidenciável, deputado Carlos Bolsonaro (PSL), reagiu a gravação divulgada pelos tucanos e os desafiou a chamar o pai de “corrupto”. “A que ponto chegará o sistema para tentar denegrir Bolsonaro? Chamem-no de corrupto, bandidos mentirosos”, disparou. 

O direcionamento de críticas a Bolsonaro não é uma estratégia apenas do PSDB. De acordo com uma reportagem do Estadão, o pré-candidato do MDB ao Palácio do Planalto, Henrique Meirelles, também deve divulgar vídeo nessa quinta (28), com cenas de violência verbal do adversário contra mulheres. Meirelles também deve estender as críticas a outro presidenciável, Ciro Gomes (PDT).

Uma pesquisa da Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getulio Vargas (DAPP/FGV) mostra que robôs – perfis automatizados nas mídias sociais – estão influenciando os debates políticos na web e aumentando a polarização das discussões. O estudo denominado Robôs, Redes Sociais e Política no Brasil, publicado no final de agosto, aponta ainda que o processo de disputa política nos próximos anos pode estar ameaçado.

Os robôs, ou bots, são perfis falsos presentes em mídias sociais como o Facebook e o Twitter que são capazes de distribuir, em escala industrial, mensagens pré-programadas. Na disputa política, esse tipo de instrumento pode ser contratado em empresas especializadas para que um candidato, ou uma proposta, receba milhares de mensagens de apoio, inflando artificialmente sua aceitação popular, e influenciando assim a percepção das pessoas.

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“Elemento flagrante é o 'inchamento' de movimentos políticos que são, na realidade, de dimensão bastante inferior. Somados, esses riscos e outros representados pelos robôs, são mais do que o suficiente para jogar luz sobre uma ameaça real à qualidade do debate público no Brasil e, consequentemente, do processo político e social definidor dos próximos anos”, destaca a pesquisa.

O estudo aponta que perfis comandados por robôs chegaram a ser responsáveis por mais de 10% das interações no Twitter nas eleições presidenciais de 2014. Durante protestos pelo impeachment da então presidenta da República Dilma Rousseff, as ações dessas contas falsas foram responsáveis por 20% das interações dos apoiadores dela, que usavam significativamente esse tipo de mecanismo. Um outro exemplo analisado mostra que quase 20% das interações no debate entre os usuários favoráveis a Aécio Neves no segundo turno das eleições de 2014 foram motivadas por robôs.

No entanto, segundo a pesquisa, não é possível afirmar que os grupos políticos ou candidatos beneficiados pelas mensagens sejam, de fato, seus mentores. "Ao identificarmos robôs operando para um campo, porém não queremos dizer que os atores políticos e públicos ali situados sejam responsáveis diretos pelos robôs a seu favor. Diversos grupos de interesse podem estar fazendo uso desse tipo de recurso de disseminação de informações".

Para o pesquisador da DAPP/FGV Amaro Grassi, ainda não é possível afirmar que a ação dos perfis falsos seria decisiva em uma eleição. No entanto, o uso desse tipo de ferramenta pode aumentar artificialmente a impressão de que determinada candidatura ou programa político possui mais apoio popular do que realmente tem.

“Qual que é o objetivo desse tipo de ação? É inflar um determinado posicionamento por interesses que podem ser os mais diversos. Pode ser um interesse por um assunto específico, pode ser o interesse por um um partido ou por uma narrativa”, explica.

Grassi ressalta que a ação dos robôs, por sua natureza, acaba degradando os debates políticos, transformando as discussões na web em embates extremados, sem espaço para a construção de consensos. “Por definição, não vai ser uma mensagem aberta ao diálogo, porque ela é uma mensagem propagada por um robô. Então, isso naturalmente se encaixa no contexto de mensagens que são mensagens de propaganda, mensagens mais afirmativas, que são de posicionamentos mais rígidos”.

"Em termos de impacto, o que a gente consegue perceber com bastante clareza é que eles favorecem a polarização. O tipo de mensagem que eles [robôs] difundem acaba favorecendo posições mais radiciais, e dificultando um debate mais sereno em torno das questões que estão colocadas em cada momento".

A pesquisa destaca ainda que a identificação dos "mentores" dos robôs passou a ter uma importância ainda maior, já que os perfis falsos, cada vez mais, conseguem replicar o padrão humano com mais precisão. Dessa forma, um usuário comum das redes sociais tende a ter mais dificuldade em saber se está lendo ou compartilhando um conteúdo artificial, ou escrito por uma pessoa de verdade. “Isso tem de ser incorporado no repertório de controle dos órgãos responsáveis pela eleição, pelos tribunais regionais e pelo Tribunal Superior Eleitoral. Tem que estar atentos a esse tipo de ação, pode ter uma interferência decisiva no processo eleitoral”, ressalta o pesquisador.

O estudo chama atenção também para o fato de que há robôs que operam no exterior e disseminam mensagens em território nacional. “Isso inclusive enseja a reflexão de manipulação não só interna, mas também para além dos campos políticos nacionais, sugerindo a hipótese da possibilidade de até mesmo outros atores, estranhos ao quadro nacional, operarem nas redes esses mecanismos”, alerta.

A definição sobre quem será o prefeito do Recife pelos próximos quatro anos ficou para o segundo turno. Com 100% das urnas apuradas, de acordo com o Tribunal Regional Eleitoral (TRE-PE), os candidatos Geraldo Julio (PSB) e João Paulo (PT) vão se enfrentar novamente no próximo dia 30. O socialista recebeu 49,34% dos votos válidos e o petista 23,76%, mas nenhum dos dois o suficiente para encerrar o pleito no 1º turno. A diferença entre Geraldo e João Paulo foi de mais de 200 mil votos. 

Os dois foram os mais votados entre os oito candidatos que concorreram ao cargo. O terceiro lugar na disputa ficou com Daniel Coelho (PSDB) que conquistou 18,59% da preferência do eleitorado. A democrata Priscila Krause recebeu 5,43%, Edilson Silva (PSOL) 2,10%, Carlos Augusto (PV) 0,62% , Simone Fontana (PSTU) 0,12% e Pantaleão 0,05%.

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Os percentuais se equiparam ao previsto pelo Instituto de Pesquisa Maurício de Nassau (IPMN) nesse sábado (1º) em relação aos votos válidos se consideramos a margem de erro de 3,5 pontos percentuais. De acordo com o estudo, Geraldo receberia 49,2% dos votos e João 29,9%. 

O segundo turno consolida um cenário já vivido desde o início da campanha eleitoral deste ano, em agosto, quando Geraldo e João Paulo passaram a protagonizar uma disputa mais polarizada. Entre uma alfinetada e outra, Geraldo sempre pontuou ter feito mais em 3 anos e meio do que o PT em 12. Enquanto João Paulo disparava contra o inchaço da máquina pública, os novos equipamentos e o que ele classificou como ‘descaso’ na  cidade.

Os dois, além dos embates entre si nos discursos em atos pelo Recife, também foram alvo de críticas dos adversários, principalmente por se ausentarem dos debates no período. O socialista e o petista se enfrentaram apenas no último dia 29, quando aconteceu o único debate televisivo do pleito.

Geraldo concorre com um leque de 20 partidos [PSB, PCdoB, PMDB, PPS, PP, PSDC, PPL, PSC, PHS, PRP, PTC, PMB, SD, Rede, PDT, PR, PSD, PROS, PRTB e PEN] formando a Frente Popular do Recife, ao lado do vice, Luciano Siqueira (PCdoB). Já João é o candidato da coligação Recife Pela Democracia [PT, PTB, PTdoB, PRB e PTN] com o postulante a vice, Silvio Costa Filho (PRB).

Promessas

Para o segundo mandato, o prefeito reeleito prometeu, entre outras ações, consertar a Avenida Conde da Boa Vista, um dos principais gargalos da cidade na questão de mobilidade; concluir a reforma do Teatro do Parque, fechado desde 2010, ainda na gestão do ex-prefeito João da Costa (PT); construir o Hospital do Idoso nos mesmos moldes do Hospital da Mulher e criar 1.500 novas vagas para creches na capital pernambucana. Geraldo não lançou um novo programa de governo durante a campanha deste ano.

Enquanto João Paulo divulgou um plano com 210 propostas. Entre elas estão a defesa da implantação de um sistema de transporte com integração temporal em qualquer parada, sem precisar passar pelos terminais integrados; a rediscussão do Pacto Pela Vida municipal; a reedição do Programa Aluno nos Trinques; a ampliação das equipes de saúde e dos horários de funcionamento das unidades de saúde da família e a retomada do Orçamento Participativo. Além disso, ele prometeu reduzir o número de secretarias para no máximo 18 e concluir obras paralisadas. 

Perfis

Geraldo Julio de Mello Filho é servidor de carreira do Tribunal de Contas do Estado (TCE) desde 1992, onde diretor de Recursos Humanos do TCE.  Entre 1995 e 1998 atuou no terceiro Governo Arraes. Em 2000 e 2001 foi diretor de planejamento da secretaria de Administração da Prefeitura do Recife. Anos depois assumiu a secretaria da Fazenda da Prefeitura de Petrolina e trabalhou no Ministério da Ciência e Tecnologia.

A partir de 2007, no Governo de Eduardo Campos ele atuou como secretário de Planejamento e Gestão, coordenador do Pacto pela Vida, secretário de Desenvolvimento Econômico e presidente do Complexo Portuário de Suape. 

João Paulo Lima e Silva é formado em economia e iniciou sua trajetória em 1978 quando ingressou no movimento sindical e militou na clandestinidade no Partido Comunista Revolucionário (PCR). Foi presidente da Central Única de Trabalhadores no Estado e ajudou a criar o Partido dos Trabalhadores em Pernambuco em 1979.

Nas eleições municipais de 2000, João Paulo foi eleito prefeito do Recife no segundo turno e em 2004 reeleito com 56,11% dos votos válidos, sendo o primeiro prefeito reeleito da história da capital pernambucana. 

Praticante da meditação transcendental há anos, em 2010 o ex-prefeito do Recife disputou uma vaga para Câmara dos Deputados, já em 2012, em meio a um imbróglio interno no PT entre ele e o seu sucessor, João da Costa, João Paulo foi candidato a vice-prefeito, ao lado do senador Humberto Costa, mas não conquistou êxito. A última eleição que disputou foi em 2014, quando concorreu a uma vaga no Senado Federal. 

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