Com um discurso afiado e forte, Eduardo Henrique Accioly Campos, era sem dúvida, a maior liderança do Partido Socialista Brasileiro (PSB) até sua trágica morte no dia 13 de agosto de 2014. Com respostas na ponta da língua, “Dudu” ou o “Gov.” como era apelidado pela imprensa pernambucana era sutil e brincalhão ao tratar os jornalistas, e quando o assunto esquentava, sempre se saia com uma brincadeira ou piada sem deixar o repórter sem jeito. No meio político era o homem que “cobrava e batia na mesa” e que buscava articular o partido em todas as decisões. Nesta quinta-feira (13), data que marca a triste notícia da morte de Campos e de outras seis pessoas de sua equipe de campanha, o Portal LeiaJá traz a saudade de políticos do PSB e traça um perfil do ex-governador de Pernambuco mais bem avaliado no Brasil, segundo pesquisas nacionais.
Não era de se estranhar o olhar fixo do governador quando qualquer jornalista fazia uma pergunta. Observador por excelência, ele procurava agir com uma postura direta e forte, além de pensar e responder rápido enquanto olhava para o crachá do repórter de maneira a identificá-lo. Já quando o assunto era “off” ele ficava mais solto e até saia palavrões e risadas. Sempre atento à sua volta, ele ia relatando os “segredos” e de vez em quando fazia questão de reforçar “em off pessoal”. “Eduardo Campos foi um político carismático e de grande empatia junto ao eleitorado. Talvez isso também ocorresse no meio jornalístico”, avalia o cientista político da Fundação Joaquim Nabuco, Túlio Velho Barreto.
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Nos discursos, ele sempre procurava trazer a realidade do momento com uma história pitoresca, citar um líder comunitário, por exemplo, ou qualquer fato que aquela população pudesse se identificar. Quando a pauta era mais série e de executivos, o ex-presidente nacional do PSB agia como tal: fala afiada, postura ereta, palavras firmes e contextualização dos fatos atuais. Entre os assuntos que mais parecia dominar estavam: economia e a própria política.
“Eduardo Campos foi um político que, apesar da pouca idade com que morreu, teve uma trajetória relativamente longa e marcada pela estreita relação familiar e política com alguém do meio, no caso, o seu avô, Miguel Arraes. Por assim dizer, essa foi a sua escola. De fato, em mais de duas décadas de convivência intensa com Miguel Arraes teve a oportunidade de construir uma carreira sólida, que o levaria ao cargo de ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, no primeiro governo Lula, e ao governo do Estado, em 2006 e 2010”, pontuou Barreto.
Nas andanças pelo Estado afora ele se despontava em conhecer bem as lideranças de cada localidade, inclusive, pelo nome. “Eduardo tinha um profundo conhecimento da biografia política e humana do Estado. Ele conhecia pessoalmente, e pelo nome, as maiores lideranças de todos os municípios”, revelou o presidente estadual do PSB em Pernambuco, Sileno Guedes.
O seu jeito e sua postura de atuar pelas cidades pernambucanas deixam saudades aos socialistas. “Todos nós que militamos no PSB durante muitos anos ao lado dele, sentimos falta desta percepção que ele sempre teve na realidade política, nos municípios. Hoje precisamos ouvir muito mais do que ele ouvia, levantar mais e mais informações para que a gente possa dar continuidade”, reconheceu Guedes.
Com um tempo corrido, principalmente depois que alçou voos nacionais para a campanha, Campos mostrava-se sempre por dentro dos principais fatos nacionais. Dificilmente não sabia do assunto que se questionava. A essa característica, o analista político Maurício Romão destaca sua maneira de articulação e inteligência. “Ele tem uma grande visão política, determinação, inteligência, é um excelente dirigente partidário de sucesso, tanto que o PSB é um dos partidos que mais cresceu no Brasil recentemente e tem condições, não tenho dúvidas, de bons argumentos. Ele tem ainda uma boa oratória e sabe argumentar”, descreveu Romão, meses antes de Campos sair da gestão estadual.
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O carisma
Deixando de lado a relação com a imprensa e os discursos políticos, Eduardo Campos era considerado um homem simples, com um carisma destacável e um excelente imitador. “Ele tinha uma capacidade de imitar as pessoas muito grande. Ele era observador dos tiques das pessoas, do jeito das pessoas falar. Imitava todos nós e sempre exagerando no que uma caricatura deve exagerar, mas ele era realmente uma pessoa diferenciada, principalmente neste aspecto”, revelou o líder do governo na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), deputado Waldemar Borges (PSB).
Para Borges, um dos destaques do ex-governador era ser espirituoso. “Eduardo era uma pessoa muito espirituosa. Quem conviveu com ele sabe disso. Era uma pessoa que tinha a capacidade de achar graça na vida, nas pessoas, nele próprio, de ter sempre uma sacada original e de inteligência, e isso era o cotidiano dele”, lembrou.
O líder do governo na Alepe recordou uma história engraçada vivenciada numa das pautas de Campos no interior do Estado. “Tem várias histórias. Eu me lembro de uma, por exemplo, lá no começo do governo dele quando um vereador de uma cidade do Agreste veio pedir ao governador, encarecidamente, que ele fizesse uma obra, que na visão daquele vereador, era muito importante naquela cidade, que era a construção de um muro do cemitério. E Eduardo, de imediato, disse que se tinha uma obra que não era importante era aquela, porque um muro que separa quem não quer entrar, de quem não pode sair, não é uma obra importante! (risos). O vereador achou graça e teve que escolher outra obra para apresentar ao governador como pleito da cidade”, contou.
A deputada estadual, Raquel Lyra (PSB), confirmou o carisma de Campos. “Eu vi por várias vezes sua capacidade de contar história, de imitar as pessoas. Se a gente não tivesse perto dele, era capaz de nos imitar também (risos). Para quem conhecia, sabia desse bom humor. Era uma pessoa que tinha inteligência e rapidez ao pensar”, reforçou.
Apesar de pontuar sua maneira humorística de levar a vida e o carisma do socialista, a correligionária revelou a dureza de Campos, quando era necessário. “Ele tinha a hora de exigir, de bater à mesa, e de cobrar. E tinha capacidade de fazer rir”, contextualizou, enfatizando o olhar futurístico dele. “Ele tinha capacidade de enxergar à frente. Ele mudou o modelo de gestão, mas conseguiu cobrar resultados e deixou organizadas uma máquina pública e uma inteligência instalada na máquina pública”, ressaltou.
A saudade do líder
Além das histórias no decorrer de sua vida política, os principais protagonistas do partido, sentem, de fato, a ausência da liderança do ex-presidente nacional do partido. “Eu me lembro de como se fosse hoje. A gente estava na solenidade de entrega de medalhas no Tribunal de Justiça. O ajudante de ordem do meu pai (João Lyra, então governador de Pernambuco), falou no ouvido dele que Eduardo podia ter sofrido um acidente, então, fomos todos para o Palácio... De fato, eu lamento muito, profundamente ainda hoje, a ausência dele como homem e como politico que podia está fazendo muita diferença”, recordou a deputada Raquel Lyra.
De acordo com a parlamentar sua inserção no PSB foi graças à inspiração no governador. “Entrei no PSB por inspiração dele, exerci a função de procuradora do Estado (à qual está licenciada) e era sua liderada. Acho que o Brasil podia, hoje, ter alguém que podia representar o sentimento dos brasileiros. Eu não tenho dúvida nenhuma, que Eduardo estaria fazendo a diferença hoje. Lamento muito”, desabafou a socialista.
A nível nacional Campos também faz falta, mas os integrantes do PSB se agarram no legado deixado pelo ex-gestor estadual. “Nós sentimos muito a morte de Eduardo, mas o que ele deixou como legado está fazendo com que a gente se anime muito e o partido está muito animado, crescendo muito, se desenvolvimento através de novas filiações e se transformando naquilo que ele defendeu e que fez que ele fosse candidato à presidência da República, uma alternativa para o povo brasileiro”, lamentou o presidente da Fundação Mangabeira, Renato Casagrande.
Segundo Casagrande, apesar da ausência de Eduardo Campos, as decisões do partido são feitas buscando seguir as determinações do ex-governador. “O Eduardo mesmo não estando aqui fisicamente, ele continua nos orientando através da referência que ele foi para nós e quem foi referência uma vez, fica referência para sempre. Sempre que a gente vai decidir alguma coisa, a gente pensa assim, como pensaria ou como encaminharia esse assunto o nosso eterno presidente Eduardo Campos”, ressaltou.
De acordo com o cientista político, Túlio Velho Barreto, Campos despontou sua atuação política após a sucessão de seu avô. “Após suceder Miguel Arraes na liderança do PSB, após a morte do ex-governador, em 2005, Eduardo Campos foi se transformando praticamente na única liderança relevante da legenda também no plano nacional, pois, no Estado, tal condição já era uma realidade antes mesmo disso”, destacou.
Apadrinhado por Campos na eleição vitoriosa de 2012 à Prefeitura do Recife, Geraldo Julio (PSB), acredita que o partido mudou bastante após a morte do ex-governador. “Mudou muito, mudou para o Brasil todo, mudou para o cenário político nacional. Existe um vazio pela ausência de Eduardo na política nacional. Um momento de tanta dificuldade no País, um momento em que a política no Brasil está vivendo tantas dificuldades, a presença de Eduardo certamente faria com que o País estivesse vivendo um momento diferente”, analisou.
Geraldo Julio reforçou que a presença de Campos também influenciou na organização da legenda. “Do ponto de vista partidário também. Eduardo era o nosso presidente, então, o PSB passa por um processo de reorganização, de aprendizado de todos do partido e aqui em Pernambuco também, a liderança e a presença de Eduardo é muito marcante aqui em nosso Estado”, enalteceu, relembrando o contato frequente que mantinha com Campos. “Eu conversava com Eduardo quase que diariamente, desde 2007. É claro que a gente sente falta, mas nós temos a nossa responsabilidade, a nossa vivência, a nossa experiência, temos muitos outros companheiros e a gente procura cumprir a nossa missão”, disse.
Revelando ter sofrido muito com a morte precoce de Campos, o ex-deputado federal e ex-candidato à vice-presidente da República, Beto Albuquerque (PSB), comentou sobre a ausência deixada após a morte do ex-líder. “É um vazio muito grande como brasileiro, e não apenas como militante do PSB. O Brasil perdeu com a morte de Eduardo uma grande parte de seu futuro. Nós acreditávamos muito nele, eu sofri muito com a morte dele porque nós convivemos os 24 anos de mandato que eu tive e de 90 até 2014”, recordou.
Albuquerque lembrou que tanto ele quanto o ex-governador iniciaram na Câmara dos Deputados em 1990 e o mais importante é o legado deixado por ele. “Nós elegemos deputados federais juntos. Ele aqui, e eu no Rio Grande do Sul em 1990 e foi uma perda muito grande, um vazio, uma morte ainda inexplicada. Perde a politica, perde muito a família do Eduardo, perde Pernambuco, perde o Brasil. Mas o importante é que o Eduardo deixou um legado. Não é um homem sem história e ele, inclusive, deu sequência na história do avô, nosso líder Miguel Arraes”, enfatizou, pontuando a atuação do ex-governador. “Um governador que deixou um legado que serve de parâmetro a qualquer Estado brasileiro a estabelecer gestão, controle de resultados, de investimentos de saúde, educação e segurança, muito importantes. Nós hoje temos a tarefa de sermos a extensão deste legado dele, da sua mensagem”, enalteceu Albuquerque.
O perfil político
Para Túlio Velho Barreto, Miguel Arraes foi o grande professor de Campos, principalmente, em relação a sua maneira de liderar. “Com Miguel Arraes aprendeu a fazer política e a liderar com mão de ferro seus correligionários e aliados. E, assim como Miguel Arraes, ao sucedê-lo mostrou-se um líder político e gestor bastante centralizador. Mas, nesse segundo aspecto, foi mais além e adotou formas mais modernas na condução da gestão pública, pautada pela perseguição de metas e resultados”, analisou, relembrando a persistência do ex-líder do PSB. “Outra característica que pode ser destacada de Eduardo Campos como político era a sua obstinação em perseguir os seus próprios objetivos e a capacidade de atrair antigos desafetos e adversários para a sua realização”, completou.
O cientista político abordou às escolhas de Eduardo Campos para às disputas da Prefeitura do Recife e do Governo do Estado, destacando a semelhança de perfis dos escolhidos. “Como sabemos, escolheu unilateralmente dois nomes de sua equipe técnica, o que lhe garantiria, certamente, caso não morresse tão prematuramente, controlá-los mais facilmente. Estes não representariam uma sombra para ele, sobretudo se não fosse bem sucedido em seus voos mais altos, como a disputa à Presidência da República. Assim sendo, evidentemente que sua saída de cena ainda em 2014 deixou um enorme vazio na legenda, em especial em Pernambuco. Geraldo Julio e Paulo Câmara, suas escolhas para a Prefeitura do Recife e o Governo do Estado, respectivamente, são dois neófitos na política”, analisou Túlio Barreto, destacando a liderança do ex-governador. “Portanto, o horizonte de incertezas, hoje, é bem maior para os pessebistas assim como para a política no Estado, que perdeu a sua única liderança política relevante do ponto de vista local e nacional”, rematou o cientista.
Além das lideranças já citadas anteriormente, políticos locais como o governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), e nacionais como o presidente do PSB, Carlos Siqueira e até o presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves, entre outros, pontuaram a importância de Campos para a política e a falta que faz na conjuntura atual do País na última segunda-feira (10), data que o ex-líder do PSB faria 50 anos de vida. Confira os depoimentos no vídeo abaixo:
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