Tópicos | Um ano da morte de Eduardo Campos

A manhã era de chuva naquela quarta-feira, dia 13 de agosto de 2014, quando por volta das 10h30 a Força Aérea Brasileira (FAB) registrou a queda do jato Cessna 560-XL em Santos, no litoral de São Paulo. A aeronave transportava o então presidenciável e ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), e mais seis pessoas para agendas de campanha na região. Nenhum deles sobreviveu à tragédia. Hoje, exatamente um ano depois, a causa do acidente ainda não foi identificada pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa).

Falhas humanas, técnicas, choques com drones e até sabotagens foram algumas das teorias levantadas por populares, familiares das vítimas e profissionais para justificar a queda do jatinho. Na última semana, ao ser procurada pelo Portal LeiaJá, a FAB divulgou uma nota informando que o processo de investigação das causas do acidente está em fase de finalização, no entanto, o órgão não estimou uma data para o anúncio do relatório final.  

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“A investigação do acidente com o jato Cessna 560-XL está na fase final de análise dos dados. De acordo com as normas internacionais, só podemos divulgar as conclusões consolidadas, uma vez que especulações podem prejudicar o andamento dos trabalhos e impedir a colaboração de fontes voluntárias”, explicou o chefe do Cenipa, Brigadeiro do Ar Dilton José Schuck. “Assim como em todos os acidentes aeronáuticos, o Cenipa não fixa um prazo para a conclusão do Relatório Final”, acrescentou. 

A equipe de investigação, composta por membros da FAB e do Cenipa, afirmou que em um ano realizou estudos de desempenho e dos sistemas da aeronave, além de ter verificado as habilitações e treinamento dos pilotos, meteorologia, regulamentos existentes na aviação brasileira e manutenção.

Em janeiro de 2015, foram divulgadas as primeiras informações sobre o caso. Na ocasião, foi apontado que o piloto Marcos Martins e copiloto Geraldo Magela “fizeram rota diferente do previsto na carta de aproximação por instrumentos para pouso na Base Aérea de Santos”, deixando assim evidente a possibilidade de que a queda teria sido provocada por falha humana, com a falta de treinamento dos profissionais. 

Segundo o relatório preliminar, tanto na descida inicial para a pista da Base Aérea de Santos quanto na arremetida (quando o avião sobe de volta no momento em que não consegue aterrissar na primeira vez), os radares captaram um percurso diferente do recomendado no mapa.

Além disso, no documento também foi descartada a hipótese de colisão com aves, drones ou aeronaves. Ficou constatado que o avião não estava voando invertido antes da queda e os motores estavam funcionando no momento do impacto com o solo. 

Na época, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) divulgou uma nota dizendo que os operadores tinham habilitação válida para operar os três modelos de aeronaves da família do Cesnna. “O piloto e o copiloto estavam com licença e habilitação C560 válidas no momento do acidente e, portanto, aptos e em situação regular para voar”, pontuou o órgão.  

Além do candidato à presidência Eduardo Campos e dos pilotos Marcos Martins e Geraldo Magela, os fotógrafos Alexandre Severo e Macelo Lyra, o jornalista Carlos Percol e o assessor Pedro Valadares também morreram no acidente em Santos.

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Familiares acreditam em falha no projeto do avião 

Em paralelo as investigações do Cenipa, as famílias dos tripulantes da aeronave - que tiveram possíveis erros apontados pelo relatório preliminar – iniciaram uma averiguação técnica do projeto das aeronaves do modelo Cessna 560 Citation EXCEL (XL, XLS, XLS +), da qual o jatinho que transportava Campos pertencia. 

Com as informações levantadas pelo ex-comandante e perito Carlos Camacho, a esposa do piloto Marcos Martins, Flávia Martins, elaborou uma carta, encaminhada recentemente a Anac e ao Cenipa, alegando que os aviões de pequeno porte apresentavam uma falha nos estabilizadores horizontais, ferramentas responsáveis para dar o sentido que o nariz da aeronave deve estar durante o voo. Segundo o parecer, na hora do acidente o automatismo projetado para o estabilizador horizontal falhou, colocando o avião para a posição de Nose Down (nariz para baixo) e levando-o ao chão.

“Nessa carta foram colocadas muitas informações técnicas pedindo aos órgãos de investigação aqui no Brasil que considerasse esse novo enfoque”, detalhou o representante das famílias dos pilotos no caso, o advogado Josmeyr Oliveira, ao Portal LeiaJá. Segundo ele, inclusive, a empresa fabricante do Cesnna que fica nos Estados Unidos já foi notificada sobre o assunto e a defesa está estudando uma forma para abrir um processo na corte americana para as investigações das falhas. 

“A notificação foi feita no final de julho e está no prazo ainda de reposta. São 30 dias. Temos o final de agosto”, revelou Oliveira. “A ideia é que seja estudada uma possibilidade de um processo nos EUA, e lá, diferentemente daqui (onde os órgãos públicos investigam de maneira e sigilosa], as investigações também são conduzidas pelos órgãos privados, além dos oficiais”, acrescentou, observando que todos os aspectos são levados em consideração para um possível julgamento nos tribunais no EUA. 

Apesar dos argumentos, a tese da falha técnica, no entanto, não foi corroborada publicamente pela família Campos. O advogado que os representa no caso, José Henrique Wanderley Filho, informou que o posicionamento da viúva e dos filhos do ex-governador de Pernambuco será o de aguardar o relatório final dos órgãos investigadores. Já o irmão do então presidenciável, o advogado Antônio Campos, defendeu a tese em uma entrevista publicada no seu blog pessoal. No texto ele cita outros dois casos de aeronaves da mesma família com acidentes semelhantes. Um que ocorreu em 2 de dezembro de 2002, na Suíça (prefixo HB-VAA); e outro, em junho deste ano, em aeronave que voava de Manaus para Orlando (prefixo PP-MDB).

“Estou convencido que a causa determinante do acidente de Eduardo foi um erro de projeto do avião Cessna. O parecer do ex-comandante e perito Carlos Camacho é muito claro e inteligível”, reforçou. “Os dois aviões que tiveram problemas estavam em altitude elevada, o que fez a diferença entre viver e morrer”, pontuou Campos.

Além das investigações dos órgãos ligados a aviação brasileira, outros dois inquéritos um civil e um policial sobre o caso também aguardam a conclusão na 5ª Vara Federal de Santos.

 

Semblante firme e reflexivo. Poucas risadas e sem exposições nas mídias. A descrição que retrata alguém retraído expõe os comportamentos da mãe do ex-governador Eduardo Campos, a ministra do Tribunal de Contas da União (TCU), Ana Arraes, após a morte de seu filho. Ela, até o momento, mostra-se uma das pessoas mais abaladas pela morte precoce do ex-governador, há exatos 356 dias. Concedendo pouquíssimas entrevistas e quase sem relatos públicos, exceto nesta semana devido as homenagens ao socialista, Arraes recolhe-se em meio à saudade e a dor de uma mãe. De forma mais forte, porém não menos dolorosa, a viúva de Campos, a economista Renata Campos e seus filhos, também se reservam, mas aos poucos, marcam presença em eventos políticos e chegam até a discursar enaltecendo a gestão do ex-patriarca. No entanto, a falta do filho, irmão, esposo e pai ainda são perceptíveis nas atitudes, expressões e no olhar da família Campos desde 13 de agosto de 2014. 

Era final da manhã de uma quarta-feira cinza, tempo meio chuvoso no Recife, quando as notícias de um acidente de avião em Santos, no litoral de São Paulo, começaram a tomar os veículos de comunicação. De rumores e informações incertas, chegou a ser levantada a hipótese da morte de Eduardo Campos, Renata e seu filho mais novo, o Miguel, o que foi desmentido posteriormente. A cada minuto os fatos iam se confirmando até a triste notícia de que sete pessoas estavam no avião. E pior do que isso. Após a queda, nenhuma saiu com vida.

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Dias depois da tragédia a família teve que conciliar a dor da perda com a da espera pela liberação do corpo. Políticos de todo o Brasil, como a presidente Dilma Roussef (PT) e o ex-presidente Lula (PT) visitaram a família Campos, ou demonstraram carinho e solidariedade por meio de telefonemas e mensagens. Já os familiares, resguardados na casa localizada no bairro de Dois Irmãos, Zona Norte do Recife, se reservavam à imprensa enquanto recebia a visita dos mais próximos. 

Segundo a secretária de Cultura do Recife, Leda Alves, uma das que visitou a família logo após a confirmação do acidente, a viúva do ex-governador estava “tranquila”, mas alternava entre momentos de risadas e choro. “Ela (Renata) está muito forte, sempre com o filho Miguel no colo. Mas entre uma brincadeira e outra chora. Ela diz em pensamento a Eduardo que fique tranquilo, que dos filhos dele ela toma conta”, relatou na época. 

Diferente de Renata, Leda Alves contou que a mãe de Campos encarava a situação com questionamentos. “Está sendo muito complicado para Ana, ela fica perguntando: por quê Deus não levou a ela e deixou o filho vivo, pois ele era jovem e tinha muitas coisas para realizar. Diz que já cumpriu sua missão, portanto, teria mais sentido ela partir”, contou a secretária há um ano.

Além da dor, a inquietação pela espera da chegada do corpo só findou na madrugada do dia 17 de agosto, quatro dias após o acidente. O cachão com os restos mortais de Campos, do jornalista Carlos Augusto (Percol) e dos fotógrafos Alexandre Severo e Marcelo Lyra seguiram em cortejo pelas principais ruas do Recife. Na manhã do domingo, houve uma missa de corpo presente no Palácio do Campo das Princesas e o velório das vítimas em locais distintos. Por decisão da família, o ex-governador foi enterrado no Cemitério de Santo Amaro, onde também está seu avô Miguel Arraes. 

Com a firmeza de quem acompanhava e orientava a vida e as decisões políticas de Eduardo, como era comentado nos bastidores, Renata Campos fez questão de reafirmar o apoio e a escolha do nome de Paulo Câmara (PSB) como candidato ao governo de Pernambuco um dia após o enterro do marido. Num ato político e tomado de populares, líderes socialistas e a imprensa, a viúva do ex-governador, teve impulso e prometeu participar da campanha de Câmara. 

Participei sempre das campanhas, nesta não será diferente. Tenho a sensação que tenho que participar por dois. E aí vim porque sei da vontade dele e da importância em eleger Paulo, Raul e Fernando. E todo este time”, discursou Renata, acompanhada de seus filhos Maria Eduarda, 22 anos, João, 20, Pedro, 18, José, 9 e Miguel de sete meses, na época. 

Na fala que durou cerca de três minutos, Renata garantiu seguir a luta com a coragem de seu esposo. “Pode parecer que o nosso maior guerreiro não está na luta, mas seus sonhos estarão sempre vivos em nós. Fica tranquilo Dudu, teremos a sua coragem para mudar o Brasil. Não desistiremos do Brasil e é aqui que cuidaremos dos nossos filhos”, anunciou emocionada. 

Depois do pontapé inicial para encarar mais uma campanha política em meio à saudade e o luto ainda presente, os filhos Pedro e João Campos começaram a marcar presença nas caminhadas “40” pelo o Estado a fora. Uma das primeiras participações ocorreu logo no início de setembro e continuou até o último dia da corrida eleitoral. 

Enquanto os filhos despontavam para vida pública, Renata Campos se manifestou publicamente em rede social, quando completara um mês sem o ex-governador. Relembrando o início do relacionamento com socialista, a economista escreveu uma mensagem para o marido no Facebook. “Dudu, um dia você me presenteou com esses versos: "As pessoas não se precisam, elas se completam. Não por serem metades, mas por serem inteiras, dispostas a dividir objetivos comuns, alegrias e vida". Parece que Mário Quintana sabia direitinho tudo que vivemos desde que começamos nossa vida juntos, eu com 13 anos e você, 15”, recordou. 

A data emblemática de um mês sem Campos foi pontuada pela viúva de forma saudosa. “Há um mês, nossos filhos perderam um maravilhoso pai e eu, o melhor marido. Hoje sentimos saudade de seu sorriso generoso, seu abraço carinhoso, da alegria da sua presença. Sentimos falta de lhe ver chegar em casa, muitas vezes acompanhado de amigos, contando histórias e procurando saber das novidades da vida de cada um. Sentimos falta dos conselhos e da postura sempre firme para resolver as coisas e escolher os caminhos, afinal, como você bem nos ensinou "não podemos dar intimidade a problemas, temos que resolvê-los". Nossa perda é irreparável, mas o Brasil ganhou um exemplo”, desabafou. 

A ex-primeira dama agradeceu o carinho, as condolências e orações por toda parte do Brasil. “De todos os lugares, vieram orações, mensagens de apoio, manifestações de respeito e admiração. Somos gratos por todas. Foi do amor, da solidariedade e da fé que extraímos força para suportar essa dor”, revelou, compartilhando o choro da saudade. “O Brasil lhe descobriu e chora conosco sua perda. E está sendo belo, Dudu, ver que você se tornou aquilo que acreditava. Você se transformou em seus ideais. Sua vontade de melhorar a vida das pessoas, sua luta e sua resistência se transformaram em coragem pra mudar. O homem se tornou ideia. E, como diz aquela frase de Victor Hugo que você tanto gostava "não há nada mais poderoso do que uma ideia cujo tempo chegou", enfatizou. 

Na mensagem assinada por Renata e por seus cinco filhos, ela aproveitou para mandar um recado para o esposo. “Pode ficar tranquilo. Sua bandeira é agora a bandeira de todos os brasileiros. Seu amor e sua dedicação são nossa maior herança. Não, não vamos desistir do Brasil. Estaremos sempre juntinhos no amor, nos sonhos e na fé. Com muito amor e saudade”, prometeu.

Protagonismo político – 

Apesar da reserva dos familiares de Campos, meses após a morte do socialista, João Campos, o filho homem mas velho do ex-governador assumiu a secretaria de organização estadual do PSB em Pernambuco em outubro de 2014. “Agradeço a confiança de todos na minha juventude e na minha vontade de ajudar o partido e, principalmente, o povo de nosso estado”, publicou o jovem no Facebook, ano passado.

Na postagem, João deixou claro não ter pretensões para seguir os passos do pai, mas prometeu orgulhá-lo. “Não quero que isso seja visto como uma pretensão de seguir os passos do meu pai. Ele foi e sempre será inigualável. Vou seguir meu próprio caminho e me esforçar para que, lá junto de papai do céu, ele tenha orgulho do meu trabalho”, completou o herdeiro de Campos que já tinha costume de acompanhar o pai em agendas políticas.

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Outra configuração política foi à participação de Renata no guia eleitoral de Câmara, em setembro de 2014. “Em uma hora dessas, com uma dor dessas, não existe, você não sabe como vai agir (...). É muito interessante como eu sinto a presença dele muito forte. Então, em alguns momentos, é como se ele dissesse assim: Fique inteira, não é? Você vai dar conta (...) Eduardo tinha um amor muito grande pelo Estado, a vida de Eduardo foi dedicado à política, ele dedicava à família, aos amigos e à política. Então, essa vida que ele dedicou, tudo que ele fez pelo estado, e ele fez pelo Brasil, não podia parar, e a gente precisava continuar levando, como vai levar esse legado de Eduardo adiante”, se comprometeu a economista em rede de TV. 

A inserção na vida política deve se ampliar e não ficar apenas em torno de João. Em entrevista ao Portal LeiaJá, em março de 2015, o advogado, escritor e irmão do ex-governador, Antônio Campos, demonstrou pretensões em entrar na vida pública. Já no aniversário de 47 anos, celebrado no último 28 de junho, em Olinda, cidade onde o socialista deve encarar a disputa eleitoral, Campos chegou a ser enaltecido com a frase: “rumo à vitória”. Na festa, vários socialistas estiveram presentes, assim como sua mãe, Ana Arraes que optou em não fazer comentários e se reservar em conversas com familiares. 

Outro familiar de Campos visto como possível candidata é a própria Renata. De postura firme como é avaliada nos bastidores políticos, além de ter demonstrado sua força na campanha de Câmara, a ex-primeira dama é elogiada sem timidez por integrantes do PSB. Recentemente, o vice-presidente de relações governamentais do PSB, e ex-deputado federal, Beto Albuquerque viu na economista uma opção para 2018. 

“Acho que o nome da Renata possa ser o nome que una o nosso partido e que apresente uma resposta a essas duas bananeiras que não dão mais cachos, que é o PT e o PSDB", disparou o socialista, elogiando a atuação da viúva de Campos. “A Renata sempre foi uma expoente liderança política do nosso partido. Hoje continua sendo ainda mais fortalecida na minha visão", enalteceu.

Familiares -

Depois de quase um ano em silêncio, exceto alguns poucos discursos em homenagens ou publicações nas redes sociais, a família de Eduardo Campos falou com a imprensa nesta semana em eventos que enalteceram o ex-governador. Na última segunda-feira (10), aniversário de 50 anos do ex-líder do PSB caso estivesse vivo, a Executiva Nacional da legenda renuiu as principais lideranças para relembrar o legado do político. No evento, no Recife, a viúva fez questão de frisar a comemoração da data. "Estamos aqui para celebrar uma bela vida", resumiu em entrevista a jornalistas. 

Representando a família, Renata Campos discursou no final da comemoração e pontuou à falta do marido no dia dos pais. “Neste ano foram muitas as demonstrações de que não estávamos sozinhos. Ontem (domingo) passamos o primeiro dia dos pais sem Dudu, a saudade é enorme", desabafou com a voz embargada de emoção e acrescentando seguir os sonhos de Eduardo. “Seus sonhos também são nossos e vamos levar seu ideal adiante. Só assim construiremos um melhor Brasil para os brasileiros", pontuou. 

Confira discurso na íntegra no vídeo abaixo:

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Na mesma solenidade, João Campos, o filho mais velho do ex-governador, disse aos jornalistas ter tido o melhor pai do mundo. “Era o melhor pai do mundo. Era muito atencioso, carinhoso, presente. Um amigo leal, companheiro de todas as horas, um homem de palavra. Era uma pessoa espetacular. Mesmo com uma agenda cheia, ele nunca deixou de participar de uma festa nossa na escola, de estar presente nos aniversários, nunca deixou de viver a família na essência”, recordou emocionado. 

Para João, a dor da saudade só vem sendo superada graças ao carinho recebido e ao amor pelo pai. “Foi um ano muito difícil e completamente diferente, de um jeito que nós não esperávamos. Mas sempre estivemos unidos e recebendo muita energia do povo. Por onde passávamos era só carinho e admiração. E, claro, baseados sempre no amor que tivemos por ele como pai, político e líder”, afirmou.

Reservada e visivelmente emocionada nos eventos que prestigia, Ana Arraes quebrou o silêncio e revelou a dureza de enterrar um filho. “Não é normal uma mãe enterrar um filho (...). É um fato muito difícil de encarar. A saudade. A falta. Um bom filho, que eu agradeço a Deus por ter tido. Um homem que fazia política com amor e dedicação. Isso me dá alento”, desabafou, durante missa na cidade de São Lourenço da mata, no último dia 10 de agosto, onde Eduardo Campos fazia questão de ir para comemorar o aniversário. 

Homenagens –

Nesta quinta-feira (13), em homenagem ao ex-governador, o governador Paulo Câmara (PSB) encaminhará um projeto de Lei à Assembleia Legislativa de Pernambuco nomeando de Instituto de Gestão Governador Eduardo Campos o prédio da Secretária de Planejamento e Gestão do Estado, na Rua da Aurora. Também será celebrada uma missa, às 20h, na Igreja de Casa Forte, Zona Norte do Recife


Há exatamente um ano a morte do ex-governador Eduardo Campos abalou o Partido Socialista Brasileiro (PSB). Aquele 13 de agosto, além de tristeza para sete famílias, trouxe também frustração ao projeto de ascensão política de um partido que dava os primeiros passos firmes para um possível, e posterior, comando do país. A partir do desaparecimento do líder, como os socialistas costumam dizer, 'um desafio maior se iniciava': o de encontrar um novo norte e recomeçar sobre os mesmos (ou novos) conceitos.

A escolha da ex-senadora Marina Silva para disputar à presidência da República no lugar de Campos, os imbróglios em torno de Roberto Amaral, a escolha precoce da nova Executiva Nacional, o início do processo de fusão com o PPS e o recuo dele marcaram as movimentações da legenda nos últimos 12 meses.  

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Sob o comando da mesma linhagem desde 1993 – quando o avô de Eduardo Campos, Miguel Arraes, assumiu a presidência do partido – o PSB precisou, neste um ano, reaprender a andar já que Campos era dono de uma percepção política ímpar e centralizadora, como alguns pessebistas revelaram ao Portal LeiaJá.   

“O PSB passa por um processo de reorganização e reaprendizado. Todos têm esta noção. A responsabilidade de todo mundo aumentou (sem Eduardo Campos)”, observou o prefeito do Recife, Geraldo Julio. “O que nós fizemos neste ano sem ele foi mudar a forma de gestão do PSB. Nós tínhamos uma gestão muito centralizada em Eduardo, ele era nossa grande referência nacional. Hoje estamos com lideranças médias e que gerenciam o partido de forma horizontal”, acrescentou conjecturando o secretário-geral do PSB e presidente nacional da Fundação João Mangabeira, Renato Casagrande.

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Entre essas novas “médias lideranças” do PSB, a maior apreensão era de que houvesse uma grande dispersão do partido, o que visivelmente não aconteceu. “O partido, no primeiro momento que perde a sua grande liderança, corre sempre um grande risco de dispersão ou de desentrosamento. Mas nós estamos 100% dedicados a cuidar do partido. Felizmente foi um primeiro semestre de muitas reuniões, discussões e debates. O PSB está unido na responsabilidade de seguir a história de Eduardo”, avaliou o vice-presidente nacional do PSB e ex-deputado federal, Beto Albuquerque (RS).

Apesar da visão positiva de Albuquerque, algumas lideranças, como Roberto Amaral – que assumiu a presidência do partido logo após a morte de Campos –, protagonizou imbróglios internos e terminou sendo isolado dentro do PSB. Posicionamentos dele, como ficar contrário ao apoio da legenda a Aécio Neves no segundo turno das eleições em 2014, foram encarados como divergentes a “linha Eduardo Campos”, o que ocasionou o desembarque de Amaral do cargo de presidente do PSB e a eleição de Carlos Siqueira para substituí-lo. 

"A escolha de Siqueira foi para o amadurecimento de outros quadros, para que se possam inaugurar novas lideranças. Eles (Paulo Câmara, Rodrigo Rollemberg, Geraldo Julio e Beto Albuquerque) podem se firmar como lideranças, apesar das incertezas, e colocarem o partido para frente", avaliou o presidente do PSB em Pernambuco, Sileno Guedes. 

Eduardo Campos e o recuo da fusão com o PPS

Se o ex-governador Eduardo Campos teria ou não recuado com o processo de fusão entre o PSB e o PPS, nunca saberemos. Mas o certo é que, de acordo com líderes da legenda, as articulações para a junção dos dois partidos foi iniciada por ele com a projeção de dois cenários: a vitória nas eleições para presidente da República e uma reforma política mais ampla. 

Apesar da frustração dos dois cenários, o processo de fusão foi ensaiado e entusiasmado por socialistas, como o vice-governador de São Paulo Márcio França, no entanto não vingou. Após divergências internas e a rejeição da proposta por alguns diretórios, inclusive o de Pernambuco, a ideia excluída dos planos do PSB.  

“A fusão nasceu de uma articulação que iniciou com ele ao imaginar primeiro uma reforma política no país e a possibilidade completa de ganhar as eleições, o que não aconteceu. Neste novo cenário não valia a pena (a fusão). Se ele estivesse aqui estaríamos numa situação diferente, com a presidência da República com certeza. Projetar isso neste momento é impossível”, detalhou Sileno Guedes.

Para Renato Casagrande, Eduardo teria prezado pela união do partido diante do processo de fusão. “Não podemos dizer se ele tinha recuado, mas ele teria trabalhado pela unidade partidária como nós fizemos. Nós avançamos naquilo que era preciso avançar, estamos mantendo o assunto em aberto”, observou o secretário-geral do PSB. 

O PSB em Pernambuco e a ausência de Eduardo Campos

Casa política de Campos, o PSB de Pernambuco era o que mais sofria influência do ex-governador. Apesar de não presidir a agremiação no estado, todas as decisões políticas passavam pelo crivo do Palácio do Campo das Princesas, onde ele permaneceu por sete anos e quatro meses. 

No comando estadual desde 2011, Sileno Guedes pontuou que dentre as características de Eduardo a que mais sente falta é a agilidade na contextualização e decisão das questões partidárias.

“São tantas coisas (que fazem falta), mas, sobretudo, o time dele é a falta mais latente. Ele tinha um sentimento muito aguçado para tomar decisões e dar encaminhamento. Eduardo era muito preciso, todos nós que ficamos por aqui temos a necessidade de ouvir mais e falar menos”, observou.

O futuro do PSB e a hereditariedade de Campos

Mesmo com a ausência do líder maior, o PSB tem boas perspectivas para os próximos anos. De acordo com o presidente nacional da legenda, Carlos Siqueira, a expectativa é “continuar crescendo” e ter bons resultados nas próximas eleições. “Continuamos crescendo sobre a inspiração das ideias e do brilhantismo de Eduardo. O PSB não parou. Temos perspectivas muito boas para as eleições de 2016 e 2018. Ele (Eduardo Campos) continua mais presente do que nunca no nosso partido”, ressaltou. 

Segundo Siqueira, apesar do crescimento, Pernambuco continua sendo um dos estados mais expressivos da legenda. O que na ótica socialista deve ser perpetuada pela hereditariedade política de Eduardo Campos, apostada em João e Pedro Campos, filhos do ex-governador.

Recentemente Pedro foi anunciado pelo presidente da Assembleia Legislativa, Guilherme Uchoa (PDT), como o filho que dará “continuidade à obra de Eduardo”. E João é apontado nos bastidores como possível candidato a um cargo eletivo em 2018. 

Veja o trecho de um pronunciamento de Pedro Campos no dia 11 de agosto deste ano:

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Pedro e João se tornaram interlocutores da família em eventos públicos desde a tragédia há um ano. Os dois subiram em palanques pelo estado para reforçar as campanhas de Marina Silva à presidência da República e de Paulo Câmara ao Governo de Pernambuco. Depois do período eleitoral ficaram imersos a um silêncio que é quebrado durante as homenagens prestadas ao pai, inclusive, com análises políticas da conjuntura nacional.

 

Com um discurso afiado e forte, Eduardo Henrique Accioly Campos, era sem dúvida, a maior liderança do Partido Socialista Brasileiro (PSB) até sua trágica morte no dia 13 de agosto de 2014. Com respostas na ponta da língua, “Dudu” ou o “Gov.” como era apelidado pela imprensa pernambucana era sutil e brincalhão ao tratar os jornalistas, e quando o assunto esquentava, sempre se saia com uma brincadeira ou piada sem deixar o repórter sem jeito. No meio político era o homem que “cobrava e batia na mesa” e que buscava articular o partido em todas as decisões. Nesta quinta-feira (13), data que marca a triste notícia da morte de Campos e de outras seis pessoas de sua equipe de campanha, o Portal LeiaJá traz a saudade de políticos do PSB e traça um perfil do ex-governador de Pernambuco mais bem avaliado no Brasil, segundo pesquisas nacionais.  

Não era de se estranhar o olhar fixo do governador quando qualquer jornalista fazia uma pergunta. Observador por excelência, ele procurava agir com uma postura direta e forte, além de pensar e responder rápido enquanto olhava para o crachá do repórter de maneira a identificá-lo. Já quando o assunto era “off” ele ficava mais solto e até saia palavrões e risadas. Sempre atento à sua volta, ele ia relatando os “segredos” e de vez em quando fazia questão de reforçar “em off pessoal”. “Eduardo Campos foi um político carismático e de grande empatia junto ao eleitorado. Talvez isso também ocorresse no meio jornalístico”, avalia o cientista político da Fundação Joaquim Nabuco, Túlio Velho Barreto.

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Nos discursos, ele sempre procurava trazer a realidade do momento com uma história pitoresca, citar um líder comunitário, por exemplo, ou qualquer fato que aquela população pudesse se identificar. Quando a pauta era mais série e de executivos, o ex-presidente nacional do PSB agia como tal: fala afiada, postura ereta, palavras firmes e contextualização dos fatos atuais. Entre os assuntos que mais parecia dominar estavam: economia e a própria política.

“Eduardo Campos foi um político que, apesar da pouca idade com que morreu, teve uma trajetória relativamente longa e marcada pela estreita relação familiar e política com alguém do meio, no caso, o seu avô, Miguel Arraes. Por assim dizer, essa foi a sua escola. De fato, em mais de duas décadas de convivência intensa com Miguel Arraes teve a oportunidade de construir uma carreira sólida, que o levaria ao cargo de ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, no primeiro governo Lula, e ao governo do Estado, em 2006 e 2010”, pontuou Barreto.

Nas andanças pelo Estado afora ele se despontava em conhecer bem as lideranças de cada localidade, inclusive, pelo nome. “Eduardo tinha um profundo conhecimento da biografia política e humana do Estado. Ele conhecia pessoalmente, e pelo nome, as maiores lideranças de todos os municípios”, revelou o presidente estadual do PSB em Pernambuco, Sileno Guedes. 

O seu jeito e sua postura de atuar pelas cidades pernambucanas deixam saudades aos socialistas. “Todos nós que militamos no PSB durante muitos anos ao lado dele, sentimos falta desta percepção que ele sempre teve na realidade política, nos municípios. Hoje precisamos ouvir muito mais do que ele ouvia, levantar mais e mais informações para que a gente possa dar continuidade”, reconheceu Guedes. 

Com um tempo corrido, principalmente depois que alçou voos nacionais para a campanha, Campos mostrava-se sempre por dentro dos principais fatos nacionais. Dificilmente não sabia do assunto que se questionava. A essa característica, o analista político Maurício Romão destaca sua maneira de articulação e inteligência. “Ele tem uma grande visão política, determinação, inteligência, é um excelente dirigente partidário de sucesso, tanto que o PSB é um dos partidos que mais cresceu no Brasil recentemente e tem condições, não tenho dúvidas, de bons argumentos. Ele tem ainda uma boa oratória e sabe argumentar”, descreveu Romão, meses antes de Campos sair da gestão estadual. 

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O carisma

Deixando de lado a relação com a imprensa e os discursos políticos, Eduardo Campos era considerado um homem simples, com um carisma destacável e um excelente imitador. “Ele tinha uma capacidade de imitar as pessoas muito grande. Ele era observador dos tiques das pessoas, do jeito das pessoas falar. Imitava todos nós e sempre exagerando no que uma caricatura deve exagerar, mas ele era realmente uma pessoa diferenciada, principalmente neste aspecto”, revelou o líder do governo na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), deputado Waldemar Borges (PSB). 

Para Borges, um dos destaques do ex-governador era ser espirituoso. “Eduardo era uma pessoa muito espirituosa. Quem conviveu com ele sabe disso. Era uma pessoa que tinha a capacidade de achar graça na vida, nas pessoas, nele próprio, de ter sempre uma sacada original e de inteligência, e isso era o cotidiano dele”, lembrou.

O líder do governo na Alepe recordou uma história engraçada vivenciada numa das pautas de Campos no interior do Estado. “Tem várias histórias. Eu me lembro de uma, por exemplo, lá no começo do governo dele quando um vereador de uma cidade do Agreste veio pedir ao governador, encarecidamente, que ele fizesse uma obra, que na visão daquele vereador, era muito importante naquela cidade, que era a construção de um muro do cemitério. E Eduardo, de imediato, disse que se tinha uma obra que não era importante era aquela, porque um muro que separa quem não quer entrar, de quem não pode sair, não é uma obra importante! (risos). O vereador achou graça e teve que escolher outra obra para apresentar ao governador como pleito da cidade”, contou. 

A deputada estadual, Raquel Lyra (PSB), confirmou o carisma de Campos. “Eu vi por várias vezes sua capacidade de contar história, de imitar as pessoas. Se a gente não tivesse perto dele, era capaz de nos imitar também (risos). Para quem conhecia, sabia desse bom humor. Era uma pessoa que tinha inteligência e rapidez ao pensar”, reforçou.

Apesar de pontuar sua maneira humorística de levar a vida e o carisma do socialista, a correligionária revelou a dureza de Campos, quando era necessário. “Ele tinha a hora de exigir, de bater à mesa, e de cobrar. E tinha capacidade de fazer rir”, contextualizou, enfatizando o olhar futurístico dele. “Ele tinha capacidade de enxergar à frente. Ele mudou o modelo de gestão, mas conseguiu cobrar resultados e deixou organizadas uma máquina pública e uma inteligência instalada na máquina pública”, ressaltou. 

A saudade do líder 

Além das histórias no decorrer de sua vida política, os principais protagonistas do partido, sentem, de fato, a ausência da liderança do ex-presidente nacional do partido. “Eu me lembro de como se fosse hoje. A gente estava na solenidade de entrega de medalhas no Tribunal de Justiça. O ajudante de ordem do meu pai (João Lyra, então governador de Pernambuco), falou no ouvido dele que Eduardo podia ter sofrido um acidente, então, fomos todos para o Palácio... De fato, eu lamento muito, profundamente ainda hoje, a ausência dele como homem e como politico que podia está fazendo muita diferença”, recordou a deputada Raquel Lyra. 

De acordo com a parlamentar sua inserção no PSB foi graças à inspiração no governador. “Entrei no PSB por inspiração dele, exerci a função de procuradora do Estado (à qual está licenciada) e era sua liderada. Acho que o Brasil podia, hoje, ter alguém que podia representar o sentimento dos brasileiros. Eu não tenho dúvida nenhuma, que Eduardo estaria fazendo a diferença hoje. Lamento muito”, desabafou a socialista. 

A nível nacional Campos também faz falta, mas os integrantes do PSB se agarram no legado deixado pelo ex-gestor estadual. “Nós sentimos muito a morte de Eduardo, mas o que ele deixou como legado está fazendo com que a gente se anime muito e o partido está muito animado, crescendo muito, se desenvolvimento através de novas filiações e se transformando naquilo que ele defendeu e que fez que ele fosse candidato à presidência da República, uma alternativa para o povo brasileiro”, lamentou o presidente da Fundação Mangabeira, Renato Casagrande. 

Segundo Casagrande, apesar da ausência de Eduardo Campos, as decisões do partido são feitas buscando seguir as determinações do ex-governador. “O Eduardo mesmo não estando aqui fisicamente, ele continua nos orientando através da referência que ele foi para nós e quem foi referência uma vez, fica referência para sempre. Sempre que a gente vai decidir alguma coisa, a gente pensa assim, como pensaria ou como encaminharia esse assunto o nosso eterno presidente Eduardo Campos”, ressaltou. 

De acordo com o cientista político, Túlio Velho Barreto, Campos despontou sua atuação política após a sucessão de seu avô. “Após suceder Miguel Arraes na liderança do PSB, após a morte do ex-governador, em 2005, Eduardo Campos foi se transformando praticamente na única liderança relevante da legenda também no plano nacional, pois, no Estado, tal condição já era uma realidade antes mesmo disso”, destacou.

Apadrinhado por Campos na eleição vitoriosa de 2012 à Prefeitura do Recife, Geraldo Julio (PSB), acredita que o partido mudou bastante após a morte do ex-governador. “Mudou muito, mudou para o Brasil todo, mudou para o cenário político nacional. Existe um vazio pela ausência de Eduardo na política nacional. Um momento de tanta dificuldade no País, um momento em que a política no Brasil está vivendo tantas dificuldades, a presença de Eduardo certamente faria com que o País estivesse vivendo um momento diferente”, analisou. 

Geraldo Julio reforçou que a presença de Campos também influenciou na organização da legenda. “Do ponto de vista partidário também. Eduardo era o nosso presidente, então, o PSB passa por um processo de reorganização, de aprendizado de todos do partido e aqui em Pernambuco também, a liderança e a presença de Eduardo é muito marcante aqui em nosso Estado”, enalteceu, relembrando o contato frequente que mantinha com Campos. “Eu conversava com Eduardo quase que diariamente, desde 2007. É claro que a gente sente falta, mas nós temos a nossa responsabilidade, a nossa vivência, a nossa experiência, temos muitos outros companheiros e a gente procura cumprir a nossa missão”, disse. 

Revelando ter sofrido muito com a morte precoce de Campos, o ex-deputado federal e ex-candidato à vice-presidente da República, Beto Albuquerque (PSB), comentou sobre a ausência deixada após a morte do ex-líder. “É um vazio muito grande como brasileiro, e não apenas como militante do PSB. O Brasil perdeu com a morte de Eduardo uma grande parte de seu futuro. Nós acreditávamos muito nele, eu sofri muito com a morte dele porque nós convivemos os 24 anos de mandato que eu tive e de 90 até 2014”, recordou. 

Albuquerque lembrou que tanto ele quanto o ex-governador iniciaram na Câmara dos Deputados em 1990 e o mais importante é o legado deixado por ele. “Nós elegemos deputados federais juntos. Ele aqui, e eu no Rio Grande do Sul em 1990 e foi uma perda muito grande, um vazio, uma morte ainda inexplicada. Perde a politica, perde muito a família do Eduardo, perde Pernambuco, perde o Brasil. Mas o importante é que o Eduardo deixou um legado. Não é um homem sem história e ele, inclusive, deu sequência na história do avô, nosso líder Miguel Arraes”, enfatizou, pontuando a atuação do ex-governador. “Um governador que deixou um legado que serve de parâmetro a qualquer Estado brasileiro a estabelecer gestão, controle de resultados, de investimentos de saúde, educação e segurança, muito importantes. Nós hoje temos a tarefa de sermos a extensão deste legado dele, da sua mensagem”, enalteceu Albuquerque.

O perfil político

Para Túlio Velho Barreto, Miguel Arraes foi o grande professor de Campos, principalmente, em relação a sua maneira de liderar. “Com Miguel Arraes aprendeu a fazer política e a liderar com mão de ferro seus correligionários e aliados. E, assim como Miguel Arraes, ao sucedê-lo mostrou-se um líder político e gestor bastante centralizador. Mas, nesse segundo aspecto, foi mais além e adotou formas mais modernas na condução da gestão pública, pautada pela perseguição de metas e resultados”, analisou, relembrando a persistência do ex-líder do PSB. “Outra característica que pode ser destacada de Eduardo Campos como político era a sua obstinação em perseguir os seus próprios objetivos e a capacidade de atrair antigos desafetos e adversários para a sua realização”, completou. 

O cientista político abordou às escolhas de Eduardo Campos para às disputas da Prefeitura do Recife e do Governo do Estado, destacando a semelhança de perfis dos escolhidos. “Como sabemos, escolheu unilateralmente dois nomes de sua equipe técnica, o que lhe garantiria, certamente, caso não morresse tão prematuramente, controlá-los mais facilmente. Estes não representariam uma sombra para ele, sobretudo se não fosse bem sucedido em seus voos mais altos, como a disputa à Presidência da República. Assim sendo, evidentemente que sua saída de cena ainda em 2014 deixou um enorme vazio na legenda, em especial em Pernambuco. Geraldo Julio e Paulo Câmara, suas escolhas para a Prefeitura do Recife e o Governo do Estado, respectivamente, são dois neófitos na política”, analisou Túlio Barreto, destacando a liderança do ex-governador. “Portanto, o horizonte de incertezas, hoje, é bem maior para os pessebistas assim como para a política no Estado, que perdeu a sua única liderança política relevante do ponto de vista local e nacional”, rematou o cientista. 

Além das lideranças já citadas anteriormente, políticos locais como o governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), e nacionais como o presidente do PSB, Carlos Siqueira e até o presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves, entre outros, pontuaram a importância de Campos para a política e a falta que faz na conjuntura atual do País na última segunda-feira (10), data que o ex-líder do PSB faria 50 anos de vida. Confira os depoimentos no vídeo abaixo:

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A ministra do Tribunal de Contas da União (TCU) e mãe do ex-governador Eduardo Campos (PSB) quebrou o silêncio e contou da dificuldade que tem sido superar a perda do filho. Embargada de emoção, após participar de uma missa em São Lourenço da Mata, na Região Metropolitana do Recife (RMR), que celebrou os cinquenta anos de Campos, a ministra afirmou que “não é normal uma mãe enterrar um filho”. 

“É um fato muito difícil de encarar. A saudade. A falta. Um bom filho, que eu agradeço a Deus por ter tido. Um homem que fazia política com amor e dedicação. Isso me dá alento”, pontuou, na noite dessa segunda-feira (10). Com lágrimas nos olhos, ao conversar com os jornalistas, Ana Arraes destacou as principais lembranças que carrega de Eduardo Campos. 

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“São muitas [lembranças]. A alegria, sua [de Eduardo Campos] disposição de resolver e não dar zelo aos problemas”, ressaltou. “Desde menino ele era comunicativo, observador e interagia com todo mundo”, acrescentou lembrando que o presidenciável tinha um perfil político aguçado desde a infância. 

Durante a celebração religiosa em honra a São Lourenço Mártir, padroeiro daquela cidade, o legado e o compromisso de Eduardo Campos foram lembrados. Serena, como quase sempre costuma se portar, Renata Campos recebeu as homenagens em nome do marido e chorou ao assistir um vídeo com imagens de alguns momentos da vida do ex-governador, como o nascimento do filho mais novo do casal, Miguel. 

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Em nome da família, João Campos ressaltou que a celebração era um momento de agradecimento. “Foi graças à fé em Deus, ao amor que nos une, e ao apoio incondicional do povo pernambucano que nós conseguimos atravessar esse ano e estar aqui celebrando os 50 anos do meu pai”, pontuou. “Tenho certeza que lá no céu a festa está muito grande”, acrescentou. 

O estudante de engenharia e os irmãos: Maria Eduarda, José e Pedro Campos, além de Renata acompanhavam Eduardo desde 2009 nas celebrações em São Lourenço no dia do seu aniversário. No ano passado, de acordo com o pároco da cidade, padre Héctor Ruiz, o ex-governador chegou a prometer que enquanto estivesse vivo participaria do ato religioso. 

“Disse a ele ‘esperamos que quando o senhor for presidente da República não esqueça de São Lourenço’ e ele disse 'enquanto estiver vivo virei aqui'. Hoje peço que a família Campos diga o mesmo, não esqueçam de São Lourenço”, convocou o sacerdote.

Além dos familiares de Campos, o presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira; o secretário-geral da legenda e presidente da Fundação João Mangabeira, Renato Casagrande; o vice-presidente do PSB, Beto Albuquerque; os prefeitos de São Lourenço, Ettore Labanca, e do Recife; e o governador de Pernambuco, Paulo Câmara, participaram da missa. 

Filho mais velho do ex-governador Eduardo Campos, o estudante de engenharia João Campos projetou, nesta segunda-feira (10), o que possivelmente o pai dele faria diante da crise política e econômica do país. Em conversa com jornalistas, após a reunião suprapartidária que homenageou os 50 anos de vida do líder socialista, João pontuou a capacidade do pai em “juntar os bons” e “lutar pelo bem do país” sem “querer o poder pelo poder”. 

“[Neste cenário] Ele estaria disposto a juntar quem tinha interesse em lutar pelo bem do país e formar um grande time para escrever uma nova página na história do país”, observou. “O meu pai [Eduardo Campos] tinha uma capacidade de diálogo e de juntar os bons. Principalmente de lutar pelo bem do país e não fazer uma disputa pelo poder, mas sim discutir uma agenda que o Brasil merece e precisa”, acrescentou.

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Questionado sobre como havia sido os últimos doze meses para a família, o filho de Renata Campos disse que foi difícil, mas baseado no amor. “Foi um ano muito difícil e completamente diferente, de um jeito que nós não esperávamos. Mas sempre estivemos unidos e recebendo muita energia do povo. Por onde passávamos era só carinho e admiração. E, claro, baseados sempre no amor que tivemos por ele como pai, político e líder”, afirmou.

Sobre a postura de Eduardo Campos em família, o estudante de engenharia destrinchou o “modelo de pai” que o ex-governador foi. “Era o melhor pai do mundo. Era muito atencioso, carinhoso, presente. Um amigo leal, companheiro de todas as horas, um homem de palavra. Era uma pessoa espetacular. Mesmo com uma agenda cheia de coisas, ele nunca deixou de participar de uma festa nossa na escola, de estar presente nos aniversários, nunca deixou de viver a família na essência”, destrinchou, emocionado. 

Cotado como herdeiro político de Campos, pouco antes de conversar com os jornalistas, João Campos foi abordado por um popular que o indagava quando ele seria candidato a algum cargo eletivo. “Depois que eu terminar a faculdade, veremos isso”, respondeu educadamente. Indagado sobre qual característica política de Eduardo Campos ele levaria para a vida dele, João disse que a “lealdade e a verdade”. 

“Meu pai foi um político leal baseado, sobretudo, na verdade. Ele só falava aquilo que sabia que era verdade e poderia realizar. A verdade e a lealdade, que ele sempre baseou a vida, foram fundamentais para ele se tornar quem se tornou. Pretendo seguir e me basear nisso”, frisou.

Uma série de homenagens no Recife, no interior de Pernambuco e em Brasília vai marcar a semana em que o ex-governador Eduardo Campos (PSB) faria 50 anos e quando se completa um ano da sua morte. De acordo com um calendário organizado conjuntamente por familiares, lideranças do PSB e a Fundação João Mangabeira, de segunda (10) até a sexta-feira (14) atividades vão “celebrar a vida” do líder pernambucano. 

Na segunda-feira (10), data do aniversário de Campos, a Executiva Nacional do PSB vai realizar uma reunião suprapartidária, a partir das 9h, no Paço Alfândega, no Recife. Durante o evento será exibido um vídeo com a trajetória do socialista e lançada a primeira edição do livro “Eduardo Campos – Os discursos do governador de Pernambuco: de 2007 a 2014”, organizado pela Fundação João Mangabeira. 

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No mesmo dia, completando a programação, a cúpula do PSB, aliados e familiares participam de uma missa em São Lourenço da Mata, na Região Metropolitana do Recife (RMR). O ex-governador costumava participar do ato religioso quando vivo, já que a data também celebra a festa do santo que é padroeiro da cidade. A última agenda pública de Campos no estado, inclusive, foi a missa no município que é reduto socialista.  

Prosseguindo a agenda, na terça-feira (11), às 9h, o prefeito do Recife, Geraldo Julio, assina o projeto de lei que nomeia de "Governador Eduardo Campos" o Compaz, que está em fase de conclusão e fica localizado no Alto Santa Terezinha. Já às 18h, a Assembleia Legislativa de Pernambuco faz reunião solene em homenagem ao ex-governador. 

As homenagens deixam Pernambuco e atingem um âmbito mais nacional na quarta-feira (12) quando, na Câmara dos Deputados, em Brasília, uma sessão solene vai relembrar a trajetória parlamentar do político que cumpriu dois mandatos federais pelo PSB. 

Na quinta-feira (13), dia que fará um ano da morte do então presidenciável, o prefeito Geraldo Julio e o governador Paulo Câmara visitam o túmulo dele no Cemitério de Santo Amaro, às 14h30. Em seguida às 16h, no Palácio Campo das Princesas, Câmara encaminha um projeto de Lei à Assembleia Legislativa nomeando de Instituto de Gestão Governador Eduardo Campos o prédio da Secretária de Planejamento e Gestão do Estado, na rua da Aurora. 

Ainda no Palácio, o governador descerra placa alusiva à trajetória de Eduardo como chefe do Executivo Estadual. Já às 20h será celebrada uma missa em memória de Eduardo Campos e Miguel Arraes, também falecido no dia 13 de agosto, na Igreja Matriz de Casa Forte.

Por fim, na sexta-feira (14), às 8h30, o governador Paulo Câmara segue para o município de São Bento do Una, onde inaugura a Escola Técnica Governador Eduardo Campos. 

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