Voltar aos bancos da universidade depois de anos, até décadas sem estudar, é um desafio. Entretanto, é cada vez maior o número de brasileiros com mais de 30 anos que entram em universidades e faculdades no país. Muita coisa mudou nesses anos, seja a didática, a forma de estudar, e principalmente o próprio estudante, que tem que se reinventar. Dez ou 20 anos antes, não tinham as atuais obrigações, família, filhos e uma carreira para administrar.
Segundo uma pesquisa realizada pelo Ministério da Educação, em 2008, um em cada quatro estudantes que ingressavam na universidade tinham mais de 30 anos. Foi um crescimento de 206% se comparado ao ano 2000. São esses mesmo estudantes que garantem que não há nada como o prazer de realizar o sonho de sentar no banco da faculdade.
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Desse grupo de pós-trintões que decidiram investir numa graduação está Omar Wagnner, representante comercial de um dos maiores laboratórios farmacêuticos do país. Omar já trabalha na área, mas sentia necessidade de uma graduação. Com muito apoio e incentivo de sua esposa, já formada, ele decidiu ingressar no curso de administração de empresas na Fundação de Ensino Superior de Olinda (Funeso).
Aos 42 anos, se prepara cheio de orgulho para colar grau em dezembro. Omar lembra que as dificuldades vão surgindo ao longo do curso, mas ter foco é o segredo. “Quando um jovem inicia sua vida acadêmica, em geral, essa é sua única responsabilidade de vida. Quando maduro, muito provavelmente, além dos estudos, terá mulher, filhos e trabalho. Um dos grandes desafios é a administração do tempo”.
Saber administrar a tripla, até quádrupla jornada, é uma das características dos alunos mais maduros. Maria Inês Moreira, 50 anos, funcionária pública, sabe usar tão bem essa fórmula que já está na terceira graduação e tem duas pós-graduações no currículo. Formada em direito, também concluiu pedagogia e agora está matriculada em filosofia na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). “Entendi que um curso complementa o outro, e que conhecimento nunca é demais”, conta Inês. Ela ainda tem planos para depois de concluir o curso de filosofia: fazer um mestrado.
As razões que fazem esses pais estarem ao mesmo tempo em que os filhos nas universidades são muitas, desde uma busca maior por conhecimento, como uma vontade de se qualificar, até a facilidade de financiamento oferecida pelas instituições de ensino. Mas nada pode ser mais gratificante que a realização de um sonho.
É assim que Mirian Lima descreve o seu desejo em fazer uma graduação. Na casa da família Lima, ao mesmo tempo em que seu filho mais velho, Gadiel, 19 anos, vai para faculdade, ela e o marido, Daniel, 46, seguem para as aulas de psicologia e direito, respectivamente.
Costureira e dona de casa, Mirian casou cedo. Mãe de quatro filhos, ela conta que sempre teve um sonho de fazer o curso de psicologia. “Convivo com atendimento na igreja que faço parte. Sempre gostei de ouvir e aconselhar as pessoas”, conta. Daniel, seu marido, que conclui o curso de direito esse ano, sabia do desejo de sua esposa e decidiu apertar as finanças da família e realizar esse sonho dela. Ajudada pelo filho, que já trabalhava, Mirian está no segundo semestre do curso na Faculdade dos Guararapes (FG).
“Ano passado senti que chegou a minha hora. Fiz o Enem (o Exame Nacional do Ensino Médio) e entrei na faculdade. Amo meu curso. Cada aprendizado é um prazer”, conta Mirian. Esse prazer é semelhante ao sentimento de Daniel pelo curso. Formado em teologia, ele queria continuar os estudos. “Dificuldades existem, mas damos um jeito. Quando chego na faculdade esqueço de todos os problemas. Só existe minha aula”, lembra.
Outra característica desses alunos é sempre querer fazer mais um curso. Daniel quer ingressar numa pós, Miriam quer se especializar em psicologia clínica, e Omar promete ingressar já em 2013 num MBA em marketing.
Omar ainda lembra a seus amigos e familiares a importância de se dedicar ao que gostam. “O segredo é desde o início ter um projeto de administração do tempo. Não podemos só trabalhar, nem só nos dedicar à família e nem só estudar. Não é um processo fácil, mas ter suas atividades e responsabilidades previamente agendadas é a única alternativa para a felicidade de todos”, conta.