Desde a época do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), em 2016, que os ânimos entre partidos de direita e esquerda passaram a ficar mais aflorado dentro do cenário político brasileiro. Nas eleições presidenciais de 2018 esses conflitos ficaram mais latentes. Com a vitória do atual presidente Jair Bolsonaro (PSL), a “guerra” praticamente foi declarada.
Desde o início do ano que os bastidores políticos são muito mais notícia por desentendimentos entre parlamentares do que por projetos, debates e intervenções políticas propriamente ditas. As manchetes políticas do país, por vezes, pareciam - e ainda parecem - informativos de cadernos de entretenimento.
##RECOMENDA##Entretanto, os desentendimentos passaram a ganhar mais corpo e desbravar novos ares. Se lembrar um pouco mais pra trás, pode-se lembrar da falta de entendimento, por exemplo, entre os ex-candidatos à Presidência da República Ciro Gomes (PDT) e Fernando Haddad (PT). Há quem acredite que se ambos tivessem se juntado em uma chapa única, as chances de derrotar Bolsonaro seriam maiores.
“A esquerda se mostrou um grupo desorganizado e desunido, o que deu mais palco para a direita que só ganhava mais forças a cada dia. Ao perder no primeiro turno, Ciro não fez questão de trabalhar em prol da vitória de Haddad, o que terminou impulsionando a vitória folgada de Bolsonaro. São exemplos como esse que mostram, no jogo político, como a falta de alianças e de um pensamento estratégico atrapalham um bom desempenho”, explica o cientista político Thales Fernandes.
Os desentendimentos da esquerda parecem ter ficado no passado e, atualmente, com Bolsonaro no poder, o grupo da oposição tenta se fortalecer a cada dia, seja na Câmara Federal, seja no Senado. Porém, os embates andam crescendo vertiginosamente no lado da direita. Constantemente passou a ser visto trocas de farpas entre parlamentares que, anteriormente, eram fiéis aliados uns dos outros.
Talvez o exemplo mais claro para estas situações estejam nos deputados federais Alexandre Frota (atual PSDB), Carla Zambelli e Joice Hasselmann - ambas do PSL. Virou um acontecimento recorrente alfinetadas e trocas de acusações entre entres e deles para outros parlamentares.
“Hasselmann e Zambelli trabalharam com afinco, juntas, desde a época do impeachment de Dilma. Na eleição de Bolsonaro, então, pode-se encontrar dezenas de imagem das duas trabalhando pelo atual presidente. Mas de um tempo para cá as coisas desandaram entre as duas. Política também é um jogo de ego e, talvez, o ego de Zambelli tenha ficado ferido após a notoriedade que Hasselmann tem dentro do PSL, visto que ela é líder governista no Congresso Nacional e braço direito de Bolsonaro há alguns anos”, pontua Thales Fernandes.
Carla Zambelli chegou a criticar a ausência de articulação de Joice Hasselmann nas mobilizações de rua em prol do trabalho realizado por Bolsonaro à frente do Palácio do Planalto. Hasselmann, por sua vez, rebateu a “amiga” com críticas nada amigáveis. Recentemente, inclusive, disse que sentia vergonha do fato de Zambelli ter matriculado seu filho no Colégio Militar, em Brasília, sem que o garoto prestasse concurso.
O polêmico - desde antes do seu ingresso na política - Alexandre Frota também é um desses parlamentares que “chutou o balde” e desfez alianças importantes que contribuíram para sua eleição. Menos de oito meses após o início do ano legislativo, o parlamentar já se declarou opositor a Bolsonaro, discutiu com congressistas como o senador Major Olímpio e foi expulso do PSL.
“Essa expulsão de Frota é uma chave interessante nos recentes acontecimentos políticos. Depois que isso aconteceu, o PSDB, de João Doria, logo estendeu a mão para Frota e o levou para o seu time. Aí também temos um exemplo, mesmo que sutil, de desavenças dentro da mesma direita. Tudo bem que a direita de Bolsonaro é algo muito mais radical, mas, de forma geral, eles estavam do mesmo lado. Pode perceber como a relação entre Bolsonaro e Doria já está bem mais fragilizada”, lembra o cientista político Thales Fernandes.
Doria e Bolsonaro nunca posaram como melhores amigos, mas não há dúvidas de que a relação de ambos não é mais a mesma. Um dos principais motivos para essas desavenças são as eleições de 2022, que possivelmente terá uma candidatura própria de Doria. Bolsonaro classificou a possibilidade como “ejaculação precoce” do líder do PSDB, que rebateu dizendo ao presidente que de política ele entendia.
Não há como prever os próximos encaminhamentos desse jogo político, mas o cenário real tem mostrado uma direita bem mais desestabilizada do que a esquerda, apesar de ter o poder atual bem mais favorável para o seu lado. Dias futuros dirão se outras alianças se fortalecerão ou se romperão.