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Empregados de uma pedreira instalados em um cortiço em péssimas condições de vida enfrentam as consequências da exploração de sua força de trabalho. A sinopse de “O Cortiço”, clássico da literatura brasileira escrito por Aluísio de Azevedo no século XIX, logo capturou a atenção do estudante Kaio Silva, usuário assíduo da Biblioteca Popular do Coque, uma das comunidades mais pobres do Recife. “Eu preciso de um dicionário para ler, mas é meu livro brasileiro preferido. Acho que é porque ele trata de coisas que tem aqui no cotidiano da comunidade, como crianças brincando na rua, lavadeiras, brigas e vizinhos comprando fiado, por exemplo”, comenta. Aos 16 anos, Kaio conta que já leu, em 2023, 360 livros emprestados pela biblioteca comunitária, composta por um acervo de cerca de 3 mil livros, todos eles doados por seus entusiastas.

Dois deles, a administradora de empresas aposentada Penellope de Moura Silva e seu filho, e o estudante de administração Rafael de Moura, vivem a menos de seis quilômetros do endereço da sede da biblioteca, em um condomínio de classe média no bairro do Cordeiro, na Zona Oeste do Recife. Há alguns meses, os dois cederam cerca de 20 livros para a Biblioteca Popular do Coque. “Minha sobrinha é biblioteconomista e me falou dessa comunidade muito carente, em que os livros seriam bem-vindos. Aqui em casa a gente já tem o hábito de doar alimentos, roupas, móveis e livros. Em cada sorriso de gratidão ou muito obrigada, a gente vê que recebe muito mais do que dá quando faz uma doação”, celebra Penellope.

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Responsável pela maior parte dos livros cedidos pela família, Rafael ressalta a importância dos títulos entregues para sua própria formação como leitor. “São livros que adquiri na adolescência, quando desenvolvi o hábito da leitura e têm uma importância inestimável para mim. Hoje em dia, não aprecio mais essa literatura infantojuvenil, então espero que eles sejam a porta de entrada para muitos jovens no mundo da leitura”, comenta.

Antigo xodó de Rafael, "O Lar da Senhorita Peregrine para Crianças Peculiares", de Ransom Riggs, já foi notado por Kaio e é o próximo alvo de sua lista de leituras. “Queria agradecer, né? Porque você tá fazendo com que uma pessoa que não tem condições de comprar um livro, que provavelmente não tem uma biblioteca perto de casa se não for essa, possa entrar em outro mundo. Viajar sentada. É muito legal isso”, agradece o garoto.

Criado por sua mãe- que não possui hábito de leitura- na comunidade com o pior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Recife, Kaio desbanca até mesmo as teses deterministas que influenciaram o autor de seu livro predileto, criticado por correntes estéticas posteriores por tratar o ser humano como consequência invariável do meio em que vive. Ao lado de Aluísio Azevedo, o garoto elege Machado de Assis e Júlio Verne como os melhores que já leu, mas tagarela com empolgação quando o assunto é sua atual leitura, “...E o vento levou”, de Margaret Mitchell. Com facilidade, Kaio se diverte ao encontrar similitudes entre o clássico da literatura norte-americana e o quadrinho Sin City, que folheia durante a entrevista. “Com os quadrinhos que pego aqui, ensinei minha irmã mais nova a ler. Ela tem 10 anos, então lê os da Turma da Mônica que levo”, comemora.

Antenado, Kaio aponta a escritora Coleen Hoover como um fenômeno entre o público adolescente e cobra mais livros dela nas prateleiras da biblioteca. O garoto, que estuda em uma escola localizada na própria comunidade do Coque, se esforça para convencer os colegas a frequentar o espaço. “Acho que a literatura aproxima as pessoas. Nesse ano, eu trouxe dez colegas da escola para frequentar a biblioteca e eles se apaixonaram pela leitura. Gosto de ver essas pessoas falando de livro, dá alegria ver que influenciei alguém a fazer uma coisa boa”, celebra. Modesto, Kaio se considera o terceiro da turma escolar, mas garante que está pronto para assumir a monitoria da disciplina de português. No futuro, ele pensa em estudar letras ou pedagogia, mas deixa claro que entrar na universidade não é seu único sonho. “Gostaria que as pessoas da comunidade, ao invés de pensar no que vão comer amanhã, possam pensar no livro que querem ler”, conclui.

Dificuldades

Orgulhoso, o articulador pedagógico da Biblioteca do Coque, Ednílio da Silva, conta que Kaio frequenta a biblioteca há dois anos, desde que participou de um dos eventos literários promovidos pela instituição. “A gente tem muitas ações de leiturização, de onde conseguimos prospectar nosso público. Ele participou de uma delas e passou a frequentar o espaço, muitas vezes acompanhado de colegas da escola que ele traz para cá. É um dos frequentadores mais assíduos”, afirma. De acordo com Ednílio, que é nascido e criado no Coque, a biblioteca existe há 16 anos, atravessados a despeito de uma série de dificuldades financeiras e estruturais. “Já tivemos quatro sedes, todas elas localizadas em casas alugadas na comunidade. A gente saiu da última em razão de infiltrações causadas pelas chuvas. Isso provocou a perda de um acervo que também tinha três mil livros”, lamenta.

Com um novo acervo organizado a partir de doações, o espaço sobrevive através com o apoio do projeto Itaú + Leitura, com término previsto para o final deste ano. “Se a gente não conseguir renovar um projeto que permita o pagamento de pessoal, não sei se poderemos manter as atividades. Estamos iniciando uma campanha, em busca de parcerias para poder construir formas de impedir que isso aconteça. Se a gente fechar, vamos perder toda essa estrutura, muito importante para a comunidade”, ressalta Ednílio.

Formação de leitores

Em 2007, um grupo de bibliotecas comunitárias da Região Metropolitana do Recife (RMR) deu início à Releitura- Bibliotecas Comunitárias em Rede, uma iniciativa conjunta para promoção do diálogo entre as instituições.“A Releitura hoje congrega nove instituições dos municípios de Olinda, Recife e Jaboatão dos Guararapes. A princípio, várias delas passavam pelas mesmas dificuldades, a exemplo de falta de conhecimento de gestão, captação de recursos, manutenção e catalogação de acervos. Com a rede, passamos a contar com um fórum que dialoga com o poder público, pois infelizmente Pernambuco ainda não possui uma política pública voltada para apoio e permanência de bibliotecas comunitárias”, cobra.

Sob a batuta da Releitura, o grupo buscou articulação nacional e fundou a Rede Nacional de Bibliotecas Comunitárias, atualmente composta por 133 instituições de todo o país. “Na rede, nosso foco é estimular a formação de leitores. Por esse motivo, geralmente a gente não aceita doações de livros didáticos, dicionários e enciclopédias, que ficam desatualizados muito rápido e não têm viés literário. Além disso, pedimos que os livros estejam em bom estado, com todas as páginas, sem mofo e sem rasuras, até porque se você empresta um livro rasurado para as crianças, está incentivando essa prática”, ressalta.

Cultura: o oposto de morte

Em 1997, Rogério fez parte do grupo de artistas que decidiu ocupar de forma autônoma a estrutura do antigo Matadouro Municipal Industrial de Peixinhos, um dos grandes responsáveis pelo arruado que fez deslanchar o bairro homônimo, localizado na região limítrofe entre Recife e Olinda. Inaugurado em 1919, o Matadouro funcionou até 1970, a partir de quando se tornara uma espécie de não-lugar, tomado por mato, prostituição e tráfico de drogas. Apenas no ano 2.000, a inauguração de uma biblioteca comunitária transformou em Nascedouro um espaço que parecia vocacionado à morte. “Ela surgiu como um equipamento importante inclusive para os fundadores. A maioria de nós não teve uma boa relação com a escola formal, onde a biblioteca costumava ser tratada como depósito de materiais ou sala de castigo. A biblioteca foi criada para ser o oposto, é o que chamamos de biblioteca viva, que dialoga com outras linguagens artísticas, contando com cineclube e espaço de leitura coletiva”, lembra Rogério.

Sem recursos, o grupo contou com a solidariedade dos moradores do bairro para organizar a biblioteca. As primeiras prateleiras, por exemplo, foram improvisadas em caixas de tomate cedidas por feirantes. “Hoje, a gente conta com cerca de 8 mil livros. Apesar disso, as doações seguem sendo muito importantes para a renovação do acervo”, ressalta Rogério. Nascida e criada em Peixinhos, a fotógrafa Renata Rodrigues atribui à biblioteca uma profunda ressignificação de sua relação com o bairro. “Quando eu comecei a frequentar o Nascedouro, ainda na adolescência, eu mesma reproduzia vários preconceitos contra o bairro, que eu via como um lugar ruim e violento. Ainda é uma comunidade muito invisível, composta por maioria de população negra e pobre. Além disso, fica localizada entre Olinda e Recife, parece que nenhuma das duas prefeituras quer assumir a responsabilidade pelos problemas daqui”, denuncia. Aos 32 anos, Renata deixou de ser apenas usuária, para se tornar doadora da instituição. “É uma forma de agradecer por tudo que esse lugar me proporcionou. Aqui descobri que Peixinhos tem uma cultura forte e uma história muito interessante”, orgulha-se, citando o cantor e compositor Chico Science como um dos ícones culturais revelados pelo bairro.

Cultura de doação

Após a perda do pai, a engenheira civil Patrícia Torquato também escolheu as bibliotecas comunitárias como principal destino para centenas de livros que herdou. “Meu pai sempre nos mostrou que através dos livros a gente poderia conhecer muita coisa e que esse conhecimento precisava ser repassado para outras pessoas.Ele tinha um acervo bem eclético, era um amante de literatura de maneira geral”, afirma. Segundo Patrícia, não houve apego no processo de repasse dos títulos, pois a família já nutria forte cultura de doação. “Sempre fomos uma família estimulada a doar aquilo que a gente não estivesse utilizando. O que a gente ganha com isso é saber que o conhecimento está sendo multiplicado e com isso a educação está sendo ampliada, especialmente para pessoas que não têm condições de comprar um livro”, coloca.

Segundo a Pesquisa Doação Brasil 2022, promovida pelo Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (IDIS), 84% dos brasileiros realizaram alguma doação no ano passado, dos quais 75% praticaram repasses de bens, materiais e alimentos. Além disso, 48% dos doadores brasileiros fizeram doações em dinheiro, 36% repassaram dinheiro para ONG’s e 26% doaram o próprio tempo, através de trabalho voluntário. “Outro dado interessante é o aumento do valor doado no ano, que passou de R$ 200, em 2020, para R$ 300, em 2022. Esse número representa uma mediana, isto é, o valor que ficaria no meio se a gente fizesse uma reta entre todos os valores doados”, explica a gerente de comunicação do IDIS, Luísa Lima.

De acordo com Luísa, o doador brasileiro não possui um perfil específico, em relação a categorias como classe social, raça, gênero e adesão a uma religião. “A doação está muito enraizada em diferentes níveis e estratos da população”, frisa Luísa. Apesar disso, a pesquisa traz um recorte específico sobre a participação de jovens entre 18 e 27 anos nas doações. “Eles são menores doadores porque têm menos recursos, mas estão mais conscientes em relação ao trabalho das organizações. De forma geral, nossa leitura é a de que a pandemia de covid-19 teve um impacto muito grande na cultura de doação, com uma série de campanhas e iniciativas convocando pessoas e empresas a realizarem doações”, comenta Lima.

Para ela, o aquecimento do debate sobre as doações na opinião pública e nos meios de comunicação é a maneira mais eficaz de difundir a importância de doar. “Quando falamos de cultura de doação, falamos de pessoas que entendem a doação como um ato cívico, que contribui para a transformação dos problemas e combate às desigualdades. É diferente de uma doação pontual, que muitas vezes tem o objetivo de aliviar o sofrimento de alguém. A cultura de doação é quando as pessoas entendem que podem ir além da emergência”, defende.

Espontaneidade e autonomia

De acordo com a professora aposentada do Centro de Educação da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Ester Rosa, as bibliotecas comunitárias têm em comum o fato de que não serem fruto de iniciativas do poder público, mas da atuação de pessoas ou grupos já envolvidos na luta por direitos e melhores condições de vida das comunidades, que colocam em pauta a importância do acesso à leitura. “As bibliotecas comunitárias surgem e se mantêm de forma autônoma. Mesmo quando recebem recursos de editais, elas têm autonomia para gerir a programação ou escolher quem vai trabalhar lá. Outra característica é que normalmente quem atua na biblioteca muitas vezes são jovens, mulheres e vizinhos do próprio bairro, que têm vontade de manter um projeto, mas também precisam ser remuneradas por seu trabalho”, explica.

Coordenadora do projeto de extensão “Bibliotecas Comunitárias na UFPE e UFPE nas Bibliotecas Comunitárias”, que articula alunos dos cursos de letras, biblioteconomia e pedagogia a 13 bibliotecas comunitárias da Região Metropolitana do Recife (RMR), a professora também observa que esses equipamentos costumam surgir como espaços de apoio às tarefas escolares, com acervos inicialmente compostos por livros didáticos e informativos, que, com o tempo, passam a ganhar perfil mais literário. “A gente vê uma predominância de literatura para jovens e crianças, bem como um estímulo para práticas de leitura compartilhada. Em Peixinhos, há um cineclube, enquanto na biblioteca comunitária de Caranguejo Tabaiares há um trabalho com idosas. São bibliotecas que têm o cuidado de atender às demandas dos leitores”, completa.

Uma das bibliotecas contempladas pelo programa “Bibliotecas Comunitárias na UFPE e UFPE nas Bibliotecas Comunitárias”, a Biblioteca Comunitária Inez Fornari- Mangueira da Torre, na Zona Norte do Recife, foi inaugurada em outubro de 2019 com o objetivo de preencher a carência de atividades para crianças e jovens no horário de trabalho das mães. “Aqui temos muitas mães solo, mulheres negras, que precisam trabalhar e não tem com quem deixar os filhos. Eu mesma trabalho das 16h às 00h e uso a biblioteca como uma creche temporária ”, diz a atendente Tássia Andrea da Silva, mãe de Maria Laura Silva, de 10 anos.

A menina frequenta a biblioteca desde os quatro anos de idade e, graças ao contato intenso com a leitura, aprendeu a ler ainda aos seis anos. “Minha mãe me deixava aqui e eu vinha ler com a tia. Aí, um dia, eu juntei as palavras de um livro e comecei a ler. Gosto de vir para cá ficar com as tias, brincando e lendo”, diz Maria Laura.

Composta por apenas três ruas, Mangueira da Torre é lar de 600 famílias e curiosamente não possui nenhuma casa para vender ou alugar. Imprensada entre os edifícios dos bairros da Torre e da Madalena, ambos majoritariamente habitados pela classe média, a pequena comunidade se desenvolveu a partir de casamentos entre membros de quatro famílias, que ao longo de pelo menos cem anos de existência foram construindo moradias para os parentes em seus quintais e garagens. “Aqui não tem problema de violência nem de drogas, todo mundo se conhece. Mesmo assim, a gente não vê ninguém descer dos prédios para ajudar nossa biblioteca, que é o único equipamento cultural que temos”, acrescenta Tássia.

Uma das responsáveis pela biblioteca, fundada com o apoio das lideranças comunitárias, ela ressalta que a biblioteca só conta com o apoio dos bolsistas da extensão da UFPE para manter suas atividades, motivo pelo qual não consegue se manter aberta todos os dias. “Os livros sempre são bem-vindos, mas o que a gente está precisando muito de voluntários para fazer atividades com as crianças, sejam leituras, brincadeiras e ou sessões de cinema”, cobra Tássia. Na biblioteca também falta acesso à internet, bem como fornecimento de água e alimento em atividades importantes. “Outra coisa que a gente queria era uma parceria para oferecer passeios culturais para as crianças. É importante ler, mas elas não podem ficar fechadas no mundo lúdico dos livros, sem conhecer o mundo real, os museus e espaços culturais do estado. Principalmente os que são voltados para nossa história, como uma comunidade de maioria negra”, completa.

Na era digital, é comum avistar pessoas dividindo livros em pdf ou comprando um ‘kindle’, produto que serve para ler livros digitais. Apesar da grande popularização destas obras na web, os livros físicos não são apagados, é o que defendem os bibliotecários. Bibliotecas públicas e comunitárias são espaços que se mantêm carregando cultura, aprendizado e intelecto nos dias de hoje.

Bibliotecas públicas

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As bibliotecas públicas são ofertadas e mantidas pelo poder público, aberta para todos, de todas as faixas etárias, e que disponibilizam livros para estudo no local e empréstimo. Parte da rede de 'bibliotecas pela paz', Deborah Echeverria representa as bibliotecas municipais do Recife, em Pernambuco.

“Elas são importantíssimas para o combate à desigualdade, porque elas são democráticas. Então qualquer cidadão de qualquer classe social, idade, sexo, podem usufruir daquele espaço”, afirma.

Deborah explica que existem tipos diferentes de bibliotecas. A mais conhecida é a biblioteca do silêncio. Segundo a profissional, esse tipo foi importado para o Brasil e trabalha apenas para um público leitor e estudioso, muito comum nas universidades, o que não é o público principal do país.

Já o sistema da biblioteca viva, além de disponibilizar os serviços tradicionais, se torna um centro cultural que acolhe o público. Não é feito para receber leitores, mas para criar leitores e oferecer cultura, lazer e educação informal dentro desse mesmo espaço. Um local de convivência é o sistema que se tornou mais comum pelas bibliotecas públicas.

“As bibliotecas nunca foram muito valorizadas, é como eu digo, as bibliotecas públicas no sistema tradicional que é de silêncio, ela não é muito acessada porque a gente não tem uma população muito leitora. Então ela fica muito restrita às pessoas que vão fazer pesquisa para trabalho de escola, para universidade… Essa biblioteca que estamos mudando o formato para ser uma biblioteca mais de acordo com o que o país precisa, com o que o nosso povo precisa, é mais ampla e com mais oportunidade”, defende Deborah.

“A sociedade e o poder público tem que ter a percepção da importância biblioteca para uma cidade da força e da potência que esse equipamento tem para cidade. Principalmente no combate à desigualdade social. Porque é um espaço como ele diz, democrático, de livre acesso e que você disponibiliza ali um espaço de expansão de conhecimento de forma gratuita”, conta a profissional.

A bibliotecária reforça que o modelo de biblioteca do silêncio não é tão usado pelo governo como antes. As bibliotecas públicas contam, além dos livros disponíveis, com mostras de cinema, música, apresentações, musicais, sarau literário, oficinas de artesanato e disponibilizam computadores e wi-fi. “Isso tudo pode acontecer dentro de uma biblioteca, sempre mediando um pouco os livros nessas atividades. Começa a ler uma história para depois a gente desenvolver uma outra atividade”, explica.

Bibliotecas comunitárias

Criada e mantida por algum membro da comunidade nas áreas mais periféricas das cidades, as bibliotecas comunitárias não contam propriamente com o apoio do governo para continuar na ativa. “No intuito de modificar um pouco a realidade local, e que por vezes é o único equipamento cultural daquela região, está em locais onde o poder público não consegue chegar”, é o que diz Juliana Albuquerque, bibliotecária.

Juliana é mestranda em Ciências da Informação pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e é membro da rede de bibliotecas comunitárias em Recife que conta com nove bibliotecas diferentes, a Releitura. A profissional conta que toda biblioteca comunitária tem uma proximidade com seus usuários e dá a segurança de estar em um espaço em que ele tem pertencimento.

Assim como algumas bibliotecas públicas, as bibliotecas comunitárias também não se encaixam no modelo do silêncio e trabalham diversas atividades com toda a comunidade. Entre o empréstimo de livros também acontecem ações de mediação de leitura, rodas de conversas, projetos literários, atividades culturais, entre outros.

“Temos o Papo de Mulher, em que são trazidos temas para debate com as mulheres da comunidade. Neste dia, só ficam as mulheres mesmo, é até dia de folga do gestor. Temos a Mala de Leitura, em que é escolhido junto com o usuário quais livros gostaria de levar para ficar alguns dias em sua casa, com sua família, o Fuxico Literário…”, relembra Juliana.

“Algumas práticas de mediações culturais conectam as atividades literárias com as manifestações populares e estabelecem significados de identificação com a comunidade como o Boizinho Menino do Nascedouro, da Biblioteca Multicultural Nascedouro de Peixinhos, Recife/Olinda, O Urso Leitor, da Biblioteca Popular do Coque, no Recife, e os grupos de Dança Popular e ao Maracatu Nação Erê, primeiro Maracatu Infantil da cidade, fundado em 1993, da Biblioteca Comunitária do CEPOMA, em Brasília Teimosa, Recife”, explica a bibliotecária. 

Apesar do grande trabalho, pessoas de fora da comunidade não ouvem tanto sobre esses projetos e não dão a atenção necessária às bibliotecas comunitárias. É por meio dos membros e colaboradores do próprio espaço, que valorizam e cuidam do ambiente, que há um trabalho de valorização para manter vivo estes lugares de convívio e aprendizado.

A mestranda em Ciências da Computação explica que, em muitos bairros, as bibliotecas comunitárias são os principais, às vezes até único, meios de comunicação comunitária para garantir o acesso às informações de interesse público da própria comunidade. 

“A pandemia, por exemplo, interferiu diretamente na dinâmica de abertura dos espaços físicos das bibliotecas comunitárias, e, na Releitura, foi preciso intensificar as estratégias de utilização do universo digital e foi necessário produzir mais conteúdos de incentivo à leitura literária para manter a relação de afeto e pertencimento.”

Qual a importância das bibliotecas nos dias de hoje?

Não é mais só sobre pegar um livro emprestado, as bibliotecas hoje produzem muito mais que um empréstimo, produzem cultura, arte, participação e integração de uma comunidade. A tecnologia sempre pode existir junto ao físico, com experiências diferentes.

“Assim como quando surgiu a televisão o cinema não se acabou, você vai ter sempre público porque a experiência de ler um livro impresso é diferente de uma experiência de ler um livro no Kindle ou no tablet. As pessoas vão gostar de vivenciar ou um ou outro ou até as duas, eu acho que uma não anula a outra”, é o que acredita Deborah Echeverria.

Contudo, não é só sobre a tecnologia. Pois há, também, aquelas pessoas que não têm acesso ou condições de obter um Kindle, ou internet para baixar os livros digitais em PDF. Manter estes ambientes é garantir o acesso sem restrições, é criar leitores e fortalecer uma comunidade.

“Se você entende que as bibliotecas vão além de um espaço físico para leitura, ou somente um depósito de livros, o que infelizmente acontece em algumas bibliotecas, se consegue vê-las e percebê-las como espaços importantes de convivência, local para trocas e cuidados da população para a população e aprendizagem informacional. Acho que ajuda a entender que mesmo na era digital há espaço para a existência de bibliotecas. Afinal, um dos materiais que lidamos é a informação”, diz Juliana Albuquerque.

Uma prova desse trabalho realizado pelas bibliotecas é a história de Rosângela Maria de Santana, manicure de 51 anos que participa de rodas de conversa promovidas por bibliotecas comunitárias da Rede Releitura. Rosângela afirma que conseguiu passar o interesse pelos livros para a filha desde muito nova.

“A Releitura teve um impacto muito grande para mim, minha família e a minha comunidade. A biblioteca comunitária nos proporciona muitos projetos e ações para diversas famílias, foi através da releitura que eu pude aprimorar meus conhecimentos e aprender mais. A rede de apoio para todos nós dessa comunidade é muito grande, somos gratos e felizes por tudo isso”, afirma a entrevistada.

Promover o acesso às bibliotecas, aos livros e à leitura como direito humano, e contribuir para a formação de leitores é uma das missões que as bibliotecas comunitárias carregam consigo e é com esse objetivo que elas produzem tantos projetos e influências importantes na sociedade de hoje.

O estado de São Paulo terá uma programação cultural especial para marcar o Dia dos Pais neste domingo (14). Entre as atividades voltadas para a família estão apresentações teatrais, musicais, feiras literárias e contação de histórias.

Bibliotecas e museus de todo estado exibirão filmes com a paternidade como tema, além de contação de histórias. Também estará disponível uma programação virtual na plataforma de streaming e vídeo por demanda do governo do estado #CulturaEmCasa.

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Ao longo do domingo, as bibliotecas Parque Villa-Lobos e Biblioteca de São Paulo promoverão contação de histórias da literatura infanto-juvenil e experiências de interação com a leitura para a primeira infância, voltada para bebês e crianças de 6 meses a 4 anos, pais e cuidadores.

Além disso, exclusivamente na Biblioteca de São Paulo, será realizada uma oficina de xadrez que ensinará as regras, movimentos de peças e algumas táticas do jogo.

Para os interessados em música e literatura a Rede de Museus-Casas Literárias preparou uma programação no jardim da Casa das Rosas, onde será realizado o Domingo de Livro e Música, com a Feira de Livros da Giostri e espetáculo musical. O espaço também contará com a apresentação da peça Senhor Tati, da Companhia Artesãos do Corpo, às 11h.

No Museu da Imagem e do Som (MIS-SP) será oferecido o Clube MIS, que é um programa de benefícios e descontos voltado aos amantes das artes. A assinatura do serviço oferece acesso livre a todas as exposições do MIS-SP e MIS Experience, além de cursos, descontos e benefícios em museus, teatros, cinemas, universidades e demais organizações dos setores cultural, de educação e de serviços.

Para saber mais sobre a iniciativa, basta acessar o site do Clube MIS.

Confira a programação:

- Museu da Imagem e do Som (MIS): Apresentação do filme Suspiria (1977), presencial às 15h. Ingressos: R$ 20 (inteira), R$ 10 (meia entrada);
- Biblioteca Parque Villa-Lobos: Contação de histórias – Lê no ninho, presencial, das 11h às 11h45, sem necessidade de inscrição prévia; contação de histórias – Hora do Conto, das 16h às 16h45, sem necessidade de inscrição prévia;
- Biblioteca de São Paulo: Contação de histórias – Lê no ninho, presencial, das 11h às 11h45, sem necessidade de inscrição prévia; Contação de histórias – Hora do Conto, das 16h às 16h45, sem necessidade de inscrição prévia; Jogos para todos – Oficina de xadrez, presencial, das 15h às 17h, vagas limitadas por hora de chegada;
- Casa das Rosas: Domingo de Livro e Música, presencial, das 10h às 17h; apresentação do espetáculo Senhor Tati – Cia Artesãos do Corpo, presencial, 11h;
- Museu Felícia Leirner e Auditório Claudio Santoro (Campos do Jordão): Domingo Musical: Dos anos 8 aos 128 bits: A história da música dos games, presencial e gratuito, 11h;
- Museu Casa de Portinari (Brodowski) – Domingo com arte: especial Dia dos Pais, presencial e gratuito, 10h às 16h;

Programação virtual no site ou aplicativo #CulturaEmCasa:

- Todos nós 5 milhões, 7 de agosto, 20h;
- Transformação, o poder da sucata, 11 de agosto, 15h30;
- Show Maurício Pereira e Chico Bernardes, 14 de agosto, 20h;
- Paternidade e cultura com Piangers, 21de agosto, 20h.

A Academia Brasileira de Letras (ABL) reabriu esta semana, para o público, as bibliotecas Lúcio de Mendonça e Rodolfo Garcia. A Biblioteca Lúcio de Mendonça reúne obras dos acadêmicos, e em função do seu perfil especializado, funcionará em regime de agendamento, que pode ser feito no site da ABL. Já a Biblioteca Rodolfo Garcia (BRG), devido ao seu caráter geral, abrirá de segunda-feira a quinta-feira, no horário das 13h às 17h, para consulta local e empréstimo de obras.

Segundo o diretor das bibliotecas, acadêmico Arno Wehling, ocupante da cadeira 37 da instituição, o recesso forçado pela pandemia do novo coronavírus (covid-19) e pelo isolamento social, a partir de março de 2020, limitou as atividades da academia. Mudadas as circunstâncias, disse o acadêmico à Agência Brasil, após a amenização da crise sanitária este ano, a ABL anunciou a reabertura das duas bibliotecas, com todos os cuidados ainda exigidos pela situação.

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“Será importante recebermos na biblioteca a visita de todos os interessados na difusão do conhecimento”, disse Wehling. “A cultura só é fecunda se contribui para a circulação e o debate das ideias. A ABL, desde sua fundação, tem esse objetivo. Nunca é demais lembrar o que repetiu Machado de Assis na sessão de encerramento, quando da fundação da academia: A ocupação mais honrosa e útil dos homens é trabalhar pela extensão das ideias humanas”, disse o diretor.

Acervo

A BRG fica no segundo andar do Palácio Austregésilo de Athayde, sede da ABL, região central do Rio de Janeiro. O espaço é composto por terminais de acesso ao acervo, rede wi-fi, salas de estudo individuais. O público pode levar seu próprio material de estudo ou notebook e, ainda, utilizar o serviço de empréstimo de livro.

Com um acervo de aproximadamente 130 mil obras, a BRG objetiva perpetuar o conhecimento e integrar a sociedade para além do âmbito institucional. A biblioteca foi inaugurada em setembro de 2005 com a proposta de atender um público diversificado, como estudantes, profissionais de múltiplas áreas e pesquisadores. O nome homenageia o quarto ocupante da cadeira 39 da academia, o historiador e intelectual Rodolfo Garcia.

O acervo reúne obras de temática cultural, ampla, voltada para a literatura, filosofia, linguística, história e ciências sociais. É composto por obras de referência, periódicos, monografias, materiais especiais (audiovisuais, por exemplo) e de coleções particulares de personalidades históricas dos meios políticos, intelectuais e literários, além de raridades dos séculos 19 e 20, informou a ABL.

Já a Biblioteca Acadêmica Lúcio de Mendonça teve origem na própria época de criação da ABL, a partir da doação do romance Flor de Sangue, por Valentim Magalhães, registrada na ata de 28 de dezembro de 1896. Sua criação oficial, entretanto, ocorreu em 13 de novembro de 1905, por proposta de Rodrigo Octavio, seu primeiro diretor, sob a presidência de Machado de Assis.

Desde sua fundação, a ABL recebe doações de coleções particulares de acadêmicos, de personalidades do mundo literário e cultural e de bibliófilos. Fazem parte do seu acervo primeiras edições de obras clássicas da literatura mundial, além de um grande número de obras raras dos séculos 16 a 20. Destaque para a edição princeps (primeira edição) de Os Lusíadas, de 1572, e um raríssimo exemplar das Rhythmas, impresso em Lisboa, no ano de 1595, de Luís de Camões.

A Biblioteca Lúcio de Mendonça atende aos acadêmicos da casa e pesquisadores com um acervo bibliográfico de aproximadamente 20 mil volumes. O acervo é formado pelas coleções Acadêmica, ABL, Referência, Camoniana, Periódicos e obras raras dos séculos 16 a 18, além de coleções particulares de Alberto de Oliveira, Afrânio Peixoto, Domício da Gama, Machado de Assis, Manuel Bandeira e Olavo Bilac.

Instalada no 2º andar do Petit Trianon, a biblioteca ocupa área de 250 metros quadrados e é dividida em três ambientes. Além de livros, tem um acervo museológico composto por móveis de época, esculturas e quadros de grandes pintores.

 

Computadores que não servem mais para o uso em repartições públicas, mas que podem ser de grande valia para quem não tem acesso a essa tecnologia, estão sendo reaproveitados em escolas e bibliotecas. O Programa Computadores para a Inclusão se encarrega de consertar peças que iriam para o lixo e entregá-las para a comunidade, em ações de inclusão digital. Só nesta Semana Nacional das Comunicações, estão sendo entregues 590 máquinas.

De um lado ganha a comunidade com um computador pronto pra uso. De outro, ganha também quem atua nesse processo de recondicionamento. São jovens em situação de vulnerabilidade que são capacitados para fazer a manutenção desses equipamentos nos centros de recondicionamento de computadores (CRC’s). Eles aprendem a executar ações de triagem, recondicionamento, estoque, descarte e doação de equipamentos.

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Os centros de recondicionamento estão funcionando em São Paulo, Minas Gerais, Ceará, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Pernambuco, Mato Grosso do Sul e no Distrito Federal.

Triagem

De acordo com a gerente operacional da organização não governamental (ONG) Programando o Futuro, que coordena o CRC do Distrito Federal, Kelly Cristina, os computadores passam por uma triagem. Os que têm condições de conserto, com a substituição de peças, entram na logística do recondicionamento.

Os que não têm condições são desmanchados, e as peças em bom estado são reaproveitadas em outros equipamentos. Segundo ela, o recondicionamento é feito por jovens de 16 a 24 anos que fizeram o curso de informática básica e montagem e configuração e que se saíram bem em ambos. “Eles ficam como voluntários bolsistas por 4 meses”, conta Kelly.

É o caso de Giovanna Rodrigues de Sousa. Ela tem 20 anos e é estagiária de tecnologia da informação. O gosto pela área começou exatamente graças aos cursos que fez no CRC. Segundo ela, eles foram imprescindíveis para a conquista de uma vaga no mercado de trabalho. “É gratificante fazer os reparos nos computadores, já acompanhei algumas entregas e montagens de laboratórios. Saber que outras pessoas vão ter oportunidade de fazer um curso assim é incrível, de poder levar a tecnologia até eles de alguma forma.”

Desde o início do programa, em 2004, mais de 12,3 mil alunos foram capacitados, 20 mil computadores foram recondicionados e doados a 1,4 mil pontos de Inclusão Digital localizados em 498 municípios em todo o Brasil. Mais de 1,1 mil toneladas de resíduos eletrônicos foram tratadas. A meta é entregar mais 20 mil computadores até 2023 e formar 13 mil pessoas nos CRC´s.

O Supremo Tribunal Federal (STF) formou maioria para derrubar uma lei do Amazonas que obrigava escolas e bibliotecas públicas estaduais a manterem ao menos um exemplar da Bíblia em seus acervos.

O julgamento no plenário virtual, ferramenta que permite aos ministros analisarem as ações e incluírem os votos na plataforma digital sem necessidade de reunião física ou por videoconferência, termina na segunda-feira, 12.

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O assunto está sendo discutido em uma ação proposta ainda em 2015 pelo então procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que viu na lei amazonense ofensa ao princípios da laicidade estatal e ao direito à liberdade religiosa. Na ocasião, o chefe do Ministério Público Federal também questionou legislações semelhantes do Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte e de Mato Grosso do Sul, mas os demais processos ainda aguardam julgamento no tribunal.

A argumentação da PGR foi endossada pela ministra Cármen Lúcia, relatora do processo, para quem o dispositivo dispensa 'tratamento desigual' às crenças ao 'facilitar' acesso apenas à Bíblia, 'desprestigiando' outras religiões e estudantes que não professam crença religiosa.

"Nas normas impugnadas, ao determinar-se a existência de exemplar da Bíblia nas escolas e bibliotecas públicas, institui-se comportamento, em espaço público estatal, de divulgação, estímulo e promoção de conjunto de crenças e dogmas nela presentes. Prejudicam-se outras, configurando-se ofensa ao princípio da laicidade estatal, da liberdade religiosa e da isonomia entre os cidadãos", diz trecho do voto da ministra.

As normas amazonenses conferem tratamento desigual entre os cidadãos. Assegura apenas aos adeptos de crenças inspiradas na Bíblia acesso facilitado em instituições públicas. Não há fundamento constitucional a justificar esta promoção específica de valores culturais", prossegue a relatora.

Até o momento, Cármen foi acompanhada pelos colegas Alexandre de Moraes, Marco Aurélio Mello, Edson Fachin, Rosa Weber, Ricardo Lewandowski e Dias Toffoli.

As Bibliotecas de São Paulo e do Parque Villa-Lobos lançaram uma plataforma digital que reúne, de maneira gratuita, vários livros. O projeto BSP Digital é administrado pela Organização Social SP Leituras e a Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado.

Para ter acesso ao acervo digital, é preciso acessar o aplicativo BSP Digital (Android e IOs) ou site spleituras.odilo.us e inserir o número de matrícula ao lado da senha. Os que ainda não são sócios devem realizar o cadastro nos espaços físicos de terça a domingo, das 10h às 16h, a partir desta terça-feira (5).

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Na plataforma será possível fazer o empréstimo de até dois livros por 15 dias, além de outras funcionalidades, como fazer lista de favoritos, compartilhar dicas de leituras nas redes sociais, criar reservas e também analisar o histórico de aluguéis.

Neste fim de semana (17 e 18), São Paulo recebe a 5ª Jornada do Patrimônio e será palco de mais de mil atividades em cerca de 500 pontos da cidade. Estão programadas atividades educativas ligadas à preservação e valorização de patrimônios históricos e culturais tanto da capital como de todo o estado bandeirante.

Entre os destaques está o Grande Cortejo da Memória Paulistana, que percorre o Centro no sábado (17) saindo do Largo do Paissandu e caminhando com base em um roteiro de memórias. Os teatros independentes, inscritos no Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (Conpresp) como patrimônio imaterial da cidade, realizam 30 atividades, além de apresentações artísticas gratuitas.

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Nos museus, além da visita à obra de reconstrução do Museu da Língua Portuguesa, na região central, estão programadas atividades no Museu da Imigração, no Museu da Casa Brasileira, na Casa Guilherme de Almeida, na Casa Mário de Andrade, na Casa das Rosas, no Museu do Futebol, na Pinacoteca, na Estação Pinacoteca, no Memorial da Resistência, no Museu da Imagem e do Som (MIS), no Museu Catavento, no Museu Afro Brasil e no Memorial da América Latina. Para as atrações do Museu da Imigração, da Casa Mario de Andrade e Memorial da América Latina, é necessário inscrever-se com antecedência.

Haverá também encontros para contar histórias nas bibliotecas da cidade com o programa "Hora do Conto" e os "Jogos do Patrimônio", que testarão a memória dos participantes sobre o patrimônio histórico e cultural de São Paulo. Os eventos acontecerão na Biblioteca de São Paulo e na Biblioteca Parque Villa-Lobos.

Além dos museus e das bibliotecas, as "Fábricas de Cultura" estarão envolvidas na programação da Jornada do Patrimônio. Os eventos serão na Fábrica de Cultura do Parque Belém, da Vila Curuçá e do Itaim Paulista.

Parceria com o Sesc SP

O Sesc SP, parceiro da Jornada do Patrimônio desde a primeira edição, tem 28 atividades programadas em 13 unidades na capital e região metropolitana. Os roteiros e a programação podem ser consultados em www.sescsp.org.br/jornadadopatrimonio.

Serviço

Jornada do Patrimônio - 2019

Inscrições e/ou agendamento prévio: Museu da ImigraçãoCasa Mario de Andrade e Memorial da América Latina.

Além de melhorar a leitura e o conhecimento em língua portuguesa, frequentar uma biblioteca integrada ao projeto pedagógico da escola pode incrementar o aprendizado dos alunos em matemática. A conclusão é de uma pesquisa do Instituto Pró-Livro, que será apresentada no Fórum de Educação da Bienal do Livro do Rio de Janeiro, em 2 de setembro.

Foram ouvidos na pesquisa professores de português, diretores e bibliotecários das 500 escolas públicas com melhor nota na Prova Brasil, comparando as diferenças entre os resultados obtidos e as atividades desenvolvidas nas bibliotecas. Sem antecipar todos os dados, a coordenadora da pesquisa, Zoara Failla, disse que foi possível identificar uma influência positiva das bibliotecas no aprendizado dos alunos do 5º ano do ensino fundamental.

A pesquisa leva em conta diversos fatores, inclusive físicos, como a infraestrutura da biblioteca, sua acessibilidade e a conexão à internet. Também são considerados a atuação do responsável pela biblioteca e do professor entrevistado, a disponibilidade de acervo e recursos eletrônicos e o uso desse espaço pelos alunos.

O grupo de escolas mais bem avaliadas na disponibilidade de acervo e recursos eletrônicos teve um acréscimo de 10 pontos em matemática no Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), enquanto, em português, o incremento da nota foi de 6 para o acervo e de 10 pontos para recursos eletrônicos. Quando considerados todos os critérios, há uma associação positiva das bibliotecas bem avaliadas com o resultado do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb).

"A gente ficou surpreso, mas quando a gente pensa na matemática, o enunciado do problema é fundamental. Você tem que ter a compreensão leitora, depende da compreensão para resolver um problema", disse Zoara Failla, em entrevista à Agência Brasil.

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A pesquisadora ponderou que ter uma biblioteca não é o bastante para que as escolas impactem a formação de seus alunos. É preciso que o espaço seja aproveitado de forma multidisciplinar, de modo que atividades orientadas incentivem os alunos a pesquisar em seu acervo. "É preciso ter uma mediação. As atividades têm que estar orientadas pelo currículo escolar e pelo projeto político-pedagógico da escola. É esse conjunto de possibilidades e ofertas que vai impactar na aprendizagem", acrescentou Zoara. 

As conclusões, que serão apresentadas na Bienal, incluirão ainda informações sobre como a existência de uma biblioteca ativa é especialmente positiva em escolas que atendem a populações mais vulneráveis. No dia 23 de setembro, os dados serão novamente apresentados em São Paulo, em um seminário no Itaú Cultural.

O presidente da Academia Brasileira de Letras, professor Marco Lucchesi, assina na terça-feira (9) convênio com o Instituto de Terras e Cartografia do Estado do Rio de Janeiro (Iterj) para a formação de bibliotecas nas comunidades quilombolas e nas escolas que atendem essa população. Lucchesi informou à Agência Brasil,que o acordo com o Iterj, responsável pela titulação das terras quilombolas, resultou da viagem que fez em junho passado a quatro quilombos situados entre os municípios de Araruama e Cabo Frio, na Região dos Lagos: Maria Joaquina, Preto Forro, Fazenda Espírito Santo e Quilombo de Sobara.

"Foi um momento inesquecível em que fizemos como sempre doação de livros mas, principalmente, pela proximidade com essa importante parcela da população brasileira", externou. De acordo com levantamento da Fundação Cultural Palmares, o Brasil tem 2.197 comunidades quilombolas reconhecidas, das quais 29 estão no estado do Rio de Janeiro. Marco Lucchesi disse ter ficado empolgado com a preservação de tradições quilombolas e decidiu manter com os quilombos uma maior aproximação do ponto de vista institucional e solidário. O acordo com o Iterj terá duração de um ano, prorrogável por igual período.

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A ABL continuará fazendo uma escolha de livros adequada à realidade dos quilombos e o Iterj responderá pela capilaridade, identificando as carências existentes. Na aproximação com os qiuilombolas, o presidente da ABL contou com o auxílio do desembargador Marco Aurélio Bezerra de Melo, estudioso do tema do direito à terra na cidade e no campo e na relação do Estado na promoção desse direito.

Indígenas

Lucchesi pretende dar continuidade também à aproximação com os povos indígenas, iniciada este ano com a doação de uma estante com livros, CDs e DVDs para a biblioteca da Aldeia Guarani da Mata Verde Bonita, em Maricá, região metropolitana do Rio de Janeiro.

A ação faz parte do Projeto Ivy Marey (que significa Terra sem Males), criado em parceria com a cacique Jurema Nunes de Oliveira e outros membros da aldeia. O projeto prevê maior aproximação cultural da academia com as oito aldeias Guaranis do estado do Rio.

Ainda neste semestre, o presidente da ABL fará viagem ao sul fluminense para conhecer os índios pataxós, "sempre com a mesma ideia de doar livros".

Prisões

Os presidiários continuam também na meta do presidente da ABL, que visitará este mês duas penitenciárias em Campos dos Goytacazes, no Norte do estado. A ideia principal é ter contato com as escolas prisionais, embora mantendo a vocação da ABL que é trabalhar no campo da cultura. "Isso exige hoje no Brasil uma escuta muito profunda de uma população à margem, muitas vezes, do que se espera minimamente dos brasileiros que estejam em situação de conflito com a lei, mas resgatando esse conflito, em uma situação que a gente espera que melhore".

A ABL oferece livros às escolas prisionais e também a escolas de periferia, mais vulneráveis, estas em acordo com a Marinha, sempre visando a formação de bibliotecas e leitores. "Sempre começa com uma palestra. Eu digo alguma coisa e acabo ouvindo. Essa escuta é fundamental nessas zonas de abandono e esquecimento". O mesmo ocorre em relação a hospitais e asilos. "Muitos hospitais já começam a entender que é preciso humanizar o próprio espaço. E essa humanização é composta de várias especificidades, entre as quais o fato que o doente pode ler, o acompanhante e os médicos também podem ler".

A Academia Brasileira de Letras mantém programas nesse sentido com os hospitais que "compreendam e estejam nessa mesma vibração e intensidade", disse Marco Lucchesi. Para escolas e centros que atendem deficientes visuais, a academia envia mais CDs e DVDs que o próprio presidente faz questão de escolher, um a um.

Preocupação

A maior preocupação de Marco Lucchesi hoje, em relação à população privada de liberdade, é com os mais jovens. "O que me interessa mais hoje, sobretudo, é visitar os menores privados de liberdade". Para ele, o Estado não pode ser movido pela raiva contra um menor que cometeu um delito, "e nem atender os instintos mais imediatistas e um pouco mais vingadores de quem não compreende o funcionamento do sistema". O professor revelou que, muitas vezes, durante visita a instituições onde ficam apreendidos menores infratores, ele tem visto jovens de distintas facções se reunirem para montar, com Lego, uma cidade com acessibilidade, democrática para todos. "Me interessa muito o trabalho com menores em conflito com a lei, é a minha menina dos olhos".

Lucchesi tem ido reiteradamente ao Centro Dom Bosco, ex-Padre Severino, onde se encanta com o trabalho dos professores e diretores, apesar de todas as carências que, nas prisões, se tornam mais agudas. "O que falta aqui fora, lá falta duas vezes mais". O presidente da ABL defendeu o aumento do número de vagas tanto para presos adultos, como para menores porque, na sua avaliação, os detentos querem estudar e trabalhar. Isso não é possível na estrutura das prisões que foram criadas no país, de castigo e punição absoluta, e não de um resgate mais profundo e humano, comentou.

A questão não é se os presos vão ficar melhores ou piores, disse. A questão é interior, ressaltou Marco Lucchesi. "Eles têm direito ao estudo, como seres humanos? Eles são brasileiros e têm garantia de que podem ir à escola? Essa é a pergunta essencial. E muitos mudam porque veem nova perspectiva". Para Lucchesi, trata-se de uma dívida social que precisa ser resgatada onde for possível.

Universidades

A ABL fará ainda em julho uma grande doação de livros para o Instituto Federal Fluminense, localizado em Campos dos Goytacazes, dentro da meta de fortalecer, "quando possível", as bibliotecas das universidades.

No campo social, a academia avança no sentido de tornar o site acessível para os deficientes visuais, transformando as informações escritas disponíveis em voz. "Estamos navegando para isso", disse.

A pesquisa Bibliotecas Comunitárias no Brasil: Impacto na formação de leitores mostrou que 86,7% dessas bibliotecas estão localizadas em zonas periféricas de áreas urbanas em regiões de elevados índices de pobreza, violência e exclusão de serviços públicos. Do restante, 12,6 % delas estão em zonas rurais e apenas 7% em área ribeirinha.

“Descobrimos que essas bibliotecas estão, em sua maioria, em regiões periféricas. Mas uma grande característica é que essas bibliotecas estão onde o poder público não chega. Elas surgem por essa vontade da comunidade em ter esses espaços, que muitas vezes são os únicos espaços culturais nos territórios”, disse Luís Gustavo dos Santos, mediador de leitura e um dos pesquisadores.

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O estudo foi coordenado pelos Grupo de Pesquisa Bibliotecas Públicas do Brasil, da Universidade Federal do Estado do Rio (Unirio), o Centro de Estudos de Educação e Linguagem da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e o Centro de Cultura Luiz Freire (PE).

Outro dado revelado foi que 66,5% das bibliotecas foram criadas por coletivos – grupos de pessoas do território e movimentos sociais. A prática da leitura compartilhada também faz parte da identidade da maioria das bibliotecas pesquisadas.

A amostra para a pesquisa incluiu 143 bibliotecas, sendo 92 integrantes da Rede Nacional de Bibliotecas Comunitárias (RNBC) e as outras 51 sem vínculo com a rede, em 15 estados e o Distrito Federal. As bibliotecas comunitárias são aquelas criadas e mantida pela sociedade civil. Os pesquisadores destacam a luta das comunidades para conquistar e garantir seu direito nesses territórios marcados pela exclusão de políticas públicas de cultura e educação.

A pesquisa mostrou que as bibliotecas são acessíveis e estão envolvidas com suas comunidades, seus espaços são pensados para assegurar práticas de leitura compartilhada, têm acervos que priorizam o letramento literário, a gestão é compartilhada e que a população identifica a biblioteca e os mediadores de leitura como referências.

“Uma característica da biblioteca comunitária é a gestão compartilhada, então, por mais que esse espaço surja por meio de alguma instituição, é um espaço que é gerido também pela comunidade. Não é apenas um usuário e sim uma pessoa que participa da gestão, da organização e das decisões que acontecem nessa biblioteca”, disse Santos.

Segundo ele, são poucas as pesquisas no país sobre a importância das bibliotecas comunitárias e, em maioria, são estudos muito específicos com recortes locais. “[A pesquisa] mostra o impacto na formação de leitores através dos relatos. Muitas pessoas entram na biblioteca apenas como leitores e saem como mediadores. Então, existe um grande impacto na formação dessas bibliotecas comunitárias.”

Apesar de essas bibliotecas conseguirem se manter por meio de doações e voluntariado, Santos disse que um dos objetivos é que haja investimento público para que esses espaços se desenvolvam melhor. “Como é um espaço, muitas vezes, o único espaço cultural e de acesso público nesses territórios, ela necessita sim de recursos públicos. [Precisa de recursos] para que as bibliotecas consigam se manter com qualidade, pagando seus mediadores, conseguindo custear o espaço, que muitas vezes é feito por meio de doação e de trabalho voluntário.” 

O estudo concluiu também que os profissionais que atuam nas bibliotecas comunitárias cumprem diferentes funções, como gestores, bibliotecários, facilitadores e mediadores de leitura. Os pesquisadores consideraram relevante também que entre os mediadores de leitura, pessoas que apresentam os livros aos leitores, é alto o índice de escolarização: mais de 90,2% têm de ensino médio a pós-graduação.

Stefanie Felício da Silva, articuladora da biblioteca comunitária Ademir Santos, na zona lesta da capital paulista, diz que o espaço tem função que extrapola a leitura. “Só de a criançada chegar, entrar aqui e passar a tarde toda já acho muito importante porque, pela realidade que elas vivenciam aqui, esse é um espaço de acolhimento para elas. Elas estando aqui dentro, elas estão entrando em contato com outras culturas, outros conhecimentos e elas não estão tão vulneráveis como elas poderiam estar na rua”, disse.

“Não considero nem um trabalho, considero uma contribuição pela comunidade onde eu moro. Sempre tive esse desejo de fazer alguma coisa pelo lugar onde eu moro. Tento aproveitar ao máximo [este espaço] para conseguir alcançar o maior número de pessoas possível [com a leitura]”, acrescentou.

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“E agora é só felicidade. O menino invisível não existe mais.” Assim termina a história de Lucas Queiróz. O menino relata o bullying que sofreu na escola por usar uma bolsa de colostomia. O texto faz parte de seu livro, escrito a partir do incentivo de um dos projetos da Escola de Ensino Fundamental Clodomir de Lima Begot, em Ananindeua, município de Belém.

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A escolinha fica no fim de uma rua deserta, tem quatro salas e um único corredor. Os 205 alunos são apaixonados pela sala de leitura de onde emprestam livros às sextas-feiras e os levam para casa para ler com os pais. 

Clodomir de Lima Begot é uma das poucas escolas de Ananindeua que incentivam massivamente a leitura desde o Ensino Funtamental. Às quartas, quintas e sextas-feiras, as professoras responsáveis pela sala de leitura entram em sala de aula para contar histórias para os alunos. “Eu leio, conto histórias, faço um momento de roda de histórias, tanto que eu sou querida na escola por causa disso. Eu entro na sala com as literaturas e eles já sabem que eu vou fazer uma roda, que eu vou contar histórias e eles gostam”, conta a professora Vera Raiol. 

Vera é uma das idealizadoras dos projetos de leitura e escrita que a escola realiza há dois anos. Ela conta que incentiva as crianças a se inspirarem em literaturas infanto-juvenis para produzir seus textos. A professora leva um bauzinho literário com os livros que mais interessam aos alunos para dentro das salas. Eles sentam em roda e ela lê. “Então eu leio, conquisto, porque primeiro tem que ter essa fase de encantamento”, conta. 

Um dos projetos é o Amolendas, criado em 2016, que deu origem ao livro “Lendas Ananins – Sob Novos Olhares”, lançado em Brasília e apresentado na Feira da Cultura da escola, onde foram distribuídos alguns exemplares. No livro, as crianças recontam lendas de Ananindeua a partir da interpretação e imaginação delas. As histórias acabaram virando peça teatral. 

Em 2017, foi lançado o Projeto Novos Autores. Vinte e seis crianças entre 8 e 12 anos escreveram 27 histórias por meio de textos e desenhos. Inspirados nos livros da sala de leitura, os alunos narraram histórias de princesas, fantasmas, bullying, amizade e sonhos realizados. Os livros serão utilizados como material paradidático na escola. 

“Quando você dá um papel pra uma criança onde ela só risca, ela fala, ela vai te contar uma história através de rabisco. Quando ela te conta a história, todo aquele rabisco pra ela tem um significado. Muita das vezes você diz ‘mas como que uma criança vai produzir algo?’. Ela produz da forma dela, da visão dela”, explica a diretora da escola, Jacirema Silva, que acredita que a criança deve ter contato com a leitura e escrita desde a Educação Infantil.

Sorte de poucos - Maria do Socorro Tavares é formada em Pedagogia há 30 anos pela Ficom(Faculdades Integradas do Colégio Moderno) e especialista em Gestão Escolar pela Universidade Estadual do Pará (Uepa). Aposentada há quatro anos, ela trabalhou como professora, coordenadora e diretora durante os 30 anos de profissão em escolas estaduais e municipais de Breves, Melgaço, Porto de Moz, Belterra, Jacareacanga, Trairão, Ipixuna do Pará e Santa Cruz do Arari, nos interiores do Pará.  “Eu, professora durante 30 anos, observei que até hoje nós estamos engatinhando no trabalho em relação a melhorar tanto a leitura quanto a escrita dos nossos alunos. O que nós vemos são crianças que não conseguem ler. Quando eu digo ler, é ler e entender”, diz a professora. 

 De acordo com a educadora, a realidade no interior do Pará é desestimulante tanto para as crianças como para os professores da rede pública. As condições tanto do ambiente interno quanto do ambiente externo da escola e a falta de material para o prosseguimento de projetos acabam comprometendo o desenvolvimento das crianças. “Nossas crianças têm falta de vontade e nós temos uma escola que não dá essas oportunidades para criança, em termos de incentivá-las e de ajudá-las. Quando nós temos escolas que trabalham dessa forma, infelizmente, os projetos ficam por um tempo e depois se perdem, na questão da falta de estrutura, da falta de material”, diz. 

“O professor começa a cansar. Eu mesmo dei muitos murros em ponta de faca. É você batalhar. Você consegue levar um trabalho à frente e vai faltando a estrutura para que esse projeto permaneça firme. O professor se sente cansado porque a ele também faltam incentivos”, explica a professora.

Maria do Socorro passou por várias escolas em que não havia bibliotecas ou sala de leitura. Era comum esses espaços serem improvisadas embaixo de árvores e salas de barro com chão de terra batida com poucos livros. Quando questionada sobre os espaços de leitura, ela responde rindo: “Essa questão de bibliotecas, de espaço de leitura, eu posso dizer com bastante propriedade, porque eu andei por muitos municípios do Pará e eu conheci diversos espaços que não chegavam nem perto de se dizer que era uma biblioteca. Bibliotecas mesmo eu encontrei poucas, pouquíssimas. O que eu achava era uma sala com um acervo velho. Salas em que tinham só as carteiras, que o piso nem existia, era barro ou espaços mesmo embaixo das árvores, como os antigos filósofos faziam. O que eu mais achava era esse embaixo das árvores”.

“Muitas vezes a gente vê nas redes sociais as escolas fazendo ações para angariar fundos e muitas vezes os professores tiram dinheiro do próprio bolso, como eu em muitos momentos comprei pincel para quadro, comprei material para que eu pudesse levar projetos à frente. Muitas vezes brigando com a Secretaria de Educação, quando fui diretora, tentando mostrar a importância dos projetos de leitura e escrita”, conta Maria do Socorro sobre os esforços que os professores fazem para um manter um projeto em uma escola de rede pública. 

Segundo a professora aposentada, os trabalhos desenvolvidos pelas Secretaria de Educação tanto em nível municipal como estadual são muito bons para incentivarem os alunos à leitura. Mas com a falta de comunicação e divulgação do projeto as escolas não conseguem se organizar para participar. “Na verdade, as escolas públicas têm projetos maravilhosos que muitas vezes não são divulgados por falta de comunicação. Às vezes chega com atraso, chega em cima da hora, falta uma semana, faltam dois dias e acaba não dando tempo para escola se organizar.”

Mesmo diante dessa realidade, existem pessoas que contribuem para o desenvolvimento de instituições que priorizam a educação por meio da leitura. O Projeto Livro Solidário faz doações de livros para escolas públicas, centros comunitários, ONGs e iniciativas particulares com o objetivo de suprir as necessidades de leitura das comunidades de Belém e região metropolitana. Livros de poesia, contos, crônicas e romances são doados por meios de campanhas de órgãos públicos. 

O Livro Solidário já implantou salas de leitura em escolas dos municípios de Ananindeua e Benevides e no bairro do Bengui e distrito de Mosqueiro, em Belém. O projeto acredita na esperança de promover a cidadania e o desenvolvimento social. “Acreditamos nessa iniciativa porque, cada vez que doamos livros, vemos a felicidade de pessoas que lutam por uma educação melhor”, afirmam os coordenadores.

Por Belisa Maria Amaral, Irlaine Nóbrega e Jamyla Magno.

 

Para melhorar o acervo bibliográfico oferecido à comunidade e estimular a leitura, a Fundação Cultural do Pará (FCP) abriu as inscrições do Edital Biblioteca Viva 2017. O prazo para realizar as inscrições se encerra nesta sexta-feira (29).

O projeto faz parte do programa Seiva de Incentivo à Arte e à Cultura, que beneficiará 10 bibliotecas públicas municipais integrantes do Sistema Estadual de Bibliotecas Públicas do Pará, com aproximadamente 400 livros de literatura infantil e infantojuvenil. Podem participar do concurso as prefeituras responsáveis pelas bibliotecas públicas municipais integradas ao Sistema Estadual que estejam funcionando regularmente, com espaço e equipe para atendimento aos usuários e horário de atendimento de no mínimo seis horas diárias.

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Os interessados podem efetivar suas inscrições até o dia 29 de setembro de 2017, das 9 às 17 horas, no protocolo geral, localizado no subsolo do prédio-sede da FCP da avenida Gentil Bittencourt, 650, bairro de Nazaré. É obrigatório apresentar o formulário de Cadastro de Bibliotecas Públicas e anexar todos os documentos exigidos no edital.

Com informações da assessoria da Fundação Cultural do Pará.


 

 

 

O governo de São Paulo entregou hoje (4), através da Secretaria de Estado dos Direitos da Pessoa com Deficiência, equipamentos de acessibilidade para pessoas com deficiência visual (total ou parcial) em três bibliotecas do estado: Biblioteca Monteiro Lobato, em Guarulhos; Biblioteca Municipal Veneranda Freitas Pinto, em Cajamar; e Biblioteca Municipal Cecília Meireles, em Santana de Parnaíba. O objetivo do projeto “Acessibilidade em Bibliotecas” é atender 62 locais em todo o estado até o final de 2017. 

As bibliotecas receberam ampliadores de imagem (item que deixa as imagens maiores e mais nítidas), scanner leitor de mesa (capta imagens e dados e os transfere para o computador), teclado ampliado (permite maior visibilidade), mouse estacionário (maior precisão do cursor na tela do computador, o que exige menor habilidade motora do usuário), software de voz sintetizada (transforma palavras escritas em áudio), software leitor de tela NVDA (programa compatível com Windows que fala o que está aparecendo no monitor) e novos computadores. 

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O projeto é uma parceria entre a Secretaria de Estado dos Direitos da Pessoa com Deficiência e o Fundo de Interesse Difusos (FID) da Secretaria de Justiça e Defesa da Cidadania do Estado de São Paulo. 

Organizada pela Companhia Editora de Pernambuco (Cepe) e pela Biblioteca Pública do Estado (BPE), a Campanha Livro Solidário tem como objetivo recuperar o acervo das bibliotecas públicas das cidades da Zona da Mata de Pernambuco, atingidas por enchentes no mês de maio. 

No próximo domingo (2), o Museu do Estado de Pernambuco, que fica no bairro das Graças, zona norte do Recife, promoverá atrações gratuitas voltadas para o público juvenil. O ingresso é um livro infanto-juvenil que pode ser usado desde que esteja em bom estado, para ser doado às bibliotecas. 

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A programação terá início às 9h com atrações como contação de histórias e apresentação do coral infantil do Conservatório Pernambucano de Música. Quem não for ao evento mas desejar colaborar com doações pode entregar livros em uma das 96 escolas estaduais que estarão coletando doações em todas as regiões do Estado até o dia 4 de agosto das 8h às 17h de segunda a sexta-feira. 

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Quem gosta de andar de bicicleta, agora também pode aproveitar a prática para fazer passeios culturais pela cidade de São Paulo. Alguns museus e bibliotecas da cidade oferecem gratuitamente o serviço de bicicletario, que estimula os visitantes a frequentarem os espaços de bike.

No Museu da Casa Brasileira, que fica na avenida Brigadeiro Faria Lima, 2.705, o bicicletário comporta 40 bikes. O local fornece cadeado e corrente, sem custo, que deverá ser devolvido na saída. Especializado em arquitetura e design, o Museu da Casa Brasileira conta com um jardim de 6.600m², ideal para se sentir mais próximo da natureza. Nos finais de semana a entrada é gratuita; nos outros dias, o ingresso custa R$ 7,00 (inteira) e R$ 3,50 (meia).

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Já no Museu da Imagem e do Som (MIS), localizado na avenida Europa, 158, o bicicletário fica no estacionamento e tem seis vagas. Para ter acesso é necessário levar corrente e cadeado. Ao visitar o local, confira a programação completa com atividades, filmes, shows e músicas. Entrada gratuita às terças-feiras; aos sábados, acesso grátis às exposições do térreo e do acervo.

Na Casa das Rosas, localizada na avenida Paulista, 37 o bicicletário possui 20 vagas e fica no jardim do museu, espaço ideal para relaxar. O museu, mais conhecido como “casa da poesia”, oferece cursos, oficinas, exposições e eventos diversos sobre poesia e literatura. A entrada é gratuita todos os dias.

Já o Museu do Futebol, que fica no Estádio do Pacaembu (praça Charles Miller s/n), oferece um bicicletário gratuito para até 12 bikes. O museu conta com um acervo de vídeos, áudios e fotos do esporte mais popular do Brasil. No sábado, a entrada é gratuita; nos outros dias, o ingresso custa R$ 6,00 (inteira) e R$ 3,00 (meia).

No Museu da Imigração, localizado na rua Visconde de Parnaíba, 1.316, há um bicicletário gratuito com oito vagas que podem ser utilizadas pelos visitantes do espaço. É preciso levar cadeado e corrente para guardar a bike. No local ocorrem diversas atividades, oficinas e há uma exposição de longa duração chamada “Migrar: experiências, memórias e identidades”, que apresenta ao público os trabalhos de preservação e pesquisa, que refletem o processo migratório. No sábado, a entrada é gratuita; nos outros dias, o ingresso custa R$ 10,00 (inteira) e R$ 5,00 (meia).

O Museu de Arte Sacra, na avenida Tiradentes, 676, conta com um bicicletário para três vagas, localizado dentro do estacionamento, com acesso pela Rua Jorge Miranda, 43. Ao visitar o espaço, não deixe de conhecer o acervo e o seu jardim interno com bancos para descanso. No sábado, a entrada é gratuita; nos outros dias, o ingresso custa R$ 6,00 (inteira) e R$ 3,00 (meia).

Na Pinacoteca de São Paulo, localizada na praça da Luz, o bicicletário é gratuito e possui seis vagas, exclusivas para visitantes. Para ter acesso, é necessário levar cadeado e corrente. Ao visitar o espaço, não deixe de conferir o acervo e a exposição de longa duração com obras da Coleção do artista Roger Wright, sobre a vanguarda brasileira dos anos 1960. No sábado, a entrada é gratuita; nos outros dias, o ingresso custa R$ 6,00 (inteira) e R$ 3,00 (meia).

Para quem for visitar ou conferir a programação da Sala São Paulo, que fica na praça Júlio Prestes, do Memorial da Resistência e da Estação Pinacoteca, ambos localizados no largo General Osório, 66, há um bicicletário exclusivo e gratuito no subsolo do estacionamento situado na Rua Mauá, 51. O local fornece um cadeado, que deve ser entregue na saída.

Na Biblioteca de São Paulo, que fica no Parque da Juventude (Estação Carandiru do Metrô), é possível guardar as bicicletas nas quatro vagas que o espaço oferece, assim como na biblioteca do Parque Villa-Lobos, que tem espaço para cinco bikes. Nas duas bibliotecas é preciso levar corrente e cadeado. Ao visitar os locais aproveite e participe das diversas oficinas oferecidas pelo espaço. 

Nesta quinta-feira (16), o prefeito João Doria e o secretário municipal da Cultura, André Sturm lançaram o programa “Biblioteca Viva”, inspirada em um modelo de Medellín, na Colômbia, a Prefeitura de São Paulo quer revitalizar as 54 bibliotecas municipais da capital paulista.

Além de alterar o modelo de exibição dos livros, a mudança prevê novas categorias de organização, como: humor, literatura policial, fantasia, mangás, entre outros. O prefeito prometeu que as bibliotecas abrirão aos domingos e que todas terão Wi-fi livre. A ideia também pretende levar atividades culturais, teatro, dança e música, aos espaços.

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André Sturn disse que está fazendo acordos com editoras para a aquisição de novos livros com o valor próximo do custo. O secretário também afirmou que a prefeitura ainda estuda um projeto de concessão de cafeterias nas bibliotecas paulistas. 

O Brasil tem uma lei - a 12244/10 - que prega que, até 2020, todas as escolas do país deverão ter sua biblioteca. Mas, apesar de já ter sido sancionada há cerca de seis anos, atualmente apenas 36% das instituições de ensino brasileiras - tanto públicas quanto particulares - dispõem deste tipo de equipamento. Para discutir estes números e a importância de se criar uma cultura para a valorização das bibliotecas, a Editora Cuzbac, com patrocínio da Companhia Editora de Pernambuco (Cepe), promove o Seminário Biblioteca nas Escolas: da leitura na escola para uma vida de leitura.

Profissionais da área editorial de diversos lugares se reunirão, no dia 10 de março, na Livraria Cultura do Shopping RioMar, para colocar a temática em pauta. O acesso é gratuito e as inscrições podem ser feitas através do site da Cuzbac. Na manhã desta quarta (24), a idealizadora do evento - a diretora da Cuzbac, Deborah Echeverria - e o presidente da Cepe, Ricardo Leitão, falaram em coletiva de imprensa sobre os detalhes do Seminário.

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Serão três mesas redondas que abordarão temas como: Lei 12.244/10 da universalização das bibliotecas escolares: caminhos possíveis; Aquisição pública de livros: visão do processo e Setor do livro, leitura, literatura e bibliotecas: dificuldades e oportunidades. Segundo Deborah, o objetivo do evento é estimular a criação de uma cultura de valorização às bibliotecas e, consequentemente, promover a formação de um público leitor.

"Esta não é uma tarefa só do poder público, a sociedade também tem parte nisso. A ideia é sensibilizar a sociedade e os gestores de educação", justificou. O presidente da Cepe, Ricardo Leitão, endossou a fala da diretora: "Um projeto como este é inovador, pela primeira vez vamos discutir este assunto. Num contexto como o nosso, de pobreza e dificuldades, as bibliotecas são, com certeza, um berçário para a formação de leitores".

Entre os convidados estarão José Castilho, Secretário-executivo do Plano Nacional do Livro e Leitura (PNLL - Minc/MEC); Renata Jatobá, gerente geral de Planejamento e Monitoramento pedagógico da Secretaria de Educação da Prefeitura do Recife; Érica Verçosa, Assessora pedagógica do Programa Prazer em Ler do Instituto C&A; José Luiz Goldfarb, professor da PUC-SP e coordenador de projetos de incentivo à leitura e Roberto Azoubel, Assessor Técnico da Representação Regional Nordeste do Ministério da Cultura (RRNE/MinC), entre outros. A escolha dos participantes foi feita pensando num intercâmbio de experiências e informações: "A ideia foi misturar agentes locais e de fora para que pudessem trazer conhecimentos para somar e trocar", disse Deborah. O Secretário de Educação de Pernambuco, Frederico Amâncio, também estará presente na abertura do seminário. 

Serviço

Seminário Biblioteca nas Escolas: da leitura na escola para uma vida de leitura

10 de março | 9h30

Teatro Eva Herz - Livraria Cultura no RioMar Shopping (Av. república do Líbano, 251- Pina)

Gratuito

 

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Uma biblioteca pública não é um espaço dedicado somente ao empréstimo de livros. Há quem frequente o local como uma forma de lazer, ou seja, pelo prazer de estar naquele ambiente. Embora recente pesquisa da Federação do Comércio (Fecomércio) do Rio de Janeiro revelar que 70% dos brasileiros não leram um livro em 2014, ainda existe pessoas que nadam contra a maré e usam intensamente o ambiente bibliotecário.

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A Biblioteca Pública do Estado de Pernambuco possui um acervo que contempla mais de 270 mil títulos, além de mais de 370 mil volumes de periódicos, nacionais e estrangeiros, classificados em mapas, manuscritos, iconografias e folhetos. O espaço está localizado no bairro de Santo Amaro, na área central do Recife, e recebe pessoas de todos os lugares. “Para cá, vêm desde moradores de rua a pesquisadores internacionais renomados”, afirmou a chefe da unidade de atendimento ao público, Andréa Batista.

A biblioteca se torna muito mais do que um ambiente de empréstimo de livros. Oficinas, cursos, locais de convivência, salas de leitura de jornais, salas de leitura em Braille e laboratórios de informática podem ser usufruídos pelos frequentadores.  A partir da próxima terça-feira (12), reeducandos da Fundação de Atendimento Socioeducativo (Funase) irão participar do projeto “Incluir é Preciso”. “Nele, os socioeducandos vão participar de projetos de inclusão social por meio da tecnologia”, explicou Andréa.

Apaixonados pelo ambiente bibliotecário


O frentista Flávio Reginaldo Rafael, de 24 anos, estuda, todos os dias, desde seus 20 anos, na Biblioteca Pública do Estado de Pernambuco. O jovem contou que passa o dia todo no local estudando para concursos. “Eu comecei a vir aqui com meus amigos para estudar para a ESA [Escola de Sargentos das Armas] quando Eu tinha 20 anos. Acabei reprovando três anos e não posso mais fazer, então estou me preparando agora para o concurso da PM [Polícia Militar]”, explicou Flávio. 

Ele disse que escolheu o lugar pela calmaria. “Em casa eu não posso estudar com tranquilidade. Chega um amigo ou um primo para conversar, televisão com volume alto, música do vizinho... Tudo isso atrapalha muito”, completou Flávio Reginaldo. 

Quem também não troca o ambiente da biblioteca é o vendedor Devaldo Oliveira Costa, de 62 anos. Desde seus tempos de colégio (ele lembra, com certa dificuldade, nos anos 70) que o setor de recepção virou a extensão da sua casa. “Eu venho estudar aqui, sou formado em direito e tenho pós-graduação em direito penal. Adoro esse ambiente calmo e tranquilo, sempre fui bem atendido e em uma biblioteca sempre se têm valores a agregar”, explicou, Devaldo, o motivo de sua paixão.

O vendedor chegou a afirmar que passa mais de cinco horas diárias dentro das instalações de Biblioteca Pública do Estado de Pernambuco. “Se abrisse, eu estaria aqui, também, nos sábados e domingos”, brincou Devaldo. 

Apesar de gostarem do ambiente da biblioteca, os dois frequentadores também apontam defeitos nas instalações. “Os banheiros e os bebedouros, por exemplo, vivem interditados”, comentou Flávio Reginaldo. O frentista sugeriu que tais defeitos seriam consequência das atitudes dos próprios usuários. “As mesmas pessoas que usam são as que quebram os sanitários, gastam excessivamente o papal higiênico, tiram os equipamentos do bebedouro”, disse. Já Devaldo apenas sente falta de uma lanchonete. “Uma ‘lanchonetezinha’ aqui seria ótimo, não é?”, brincou.

Dificuldades

A chefe da unidade de atendimento ao público, Andréa Batista, afirmou que a Biblioteca Pública de Pernambuco passa por diversas dificuldades.  Segundo a gestora, as verbas encaminhadas pelo Estado não são suficientes. “Muitas vezes temos que procurar um incentivo externo para conseguir custear e manter nossas instalações”, explicou.

O novo laboratório de informática, por exemplo, onde os socioeducandos da Funase irão ter suas atividades, é uma parceria com a Instituição Bill Gates com o Comitê para Democratização da Informática (CDI) de Pernambuco. 

Andréa também reclama da ação dos próprios usuários. “Muitas vezes fazemos a reparação de banheiros e bebedouros, por exemplo, e no outro dia já está quebrado novamente. Recentemente consertamos o vaso sanitário e na semana seguinte roubaram a tampa. Assim não há manutenção que suporte”, comentou. “Por isso, ações de conscientização estão sendo desenvolvidas dentro das nossas instalações para que os frequentadores vejam que tudo aqui é de todos e destruindo alguma coisa da biblioteca seria como acabar com nossos próprios membros”, finalizou a gestora.

Bibliotecas fechadas

Em Paulista, na Região Metropolitana do Recife, a Biblioteca Pública Municipal Silvino Lopes encontra-se inativa. No Recife, as bibliotecas de Casa Amarela e Afogados também não estão em funcionamento. Todas as três unidades alegam reforma das instalações e modernização dos acervos.

Onde encontrar bibliotecas públicas

Recife

Biblioteca Pública do Estado de Pernambuco

Endereço: Rua João Lira, s/n – Santo Amaro

Telefones: (81) 3181-2642 / Fax: (81) 3181-2640

Horário de funcionamento: das 8h às 19h45 (janeiro)/das 8h às 20h45 (demais meses)

Biblioteca Popular de Casa Amarela (fechada para reforma)

Previsão de reabertura: primeiro semestre de 2016

Endereço: Rua Major Afonso, s/n

Biblioteca Popular de Afogados (fechada para reforma)

Previsão de reabertura: primeiro semestre de 2016

Endereço: Rua Jacira, s/n

Moreno

Biblioteca Municipal João Dourado Filho

Endereço: Rua Ormenzinda Vasconcelos, s/n – Centro

Horário de funcionamento: 8h às 17h (intervalo 12h às 13h30)

Bonança

Biblioteca Municipal Severina Julieta de Holanda Vasconcelos

Endereço: Rua Cláudio Joaquim, s/n

Horário de funcionamento: 8h às 17h (intervalo 12h às 13h30)

Paulista

Biblioteca Pública Municipal Silvino Lopes (fechada para reforma)

Endereço: Rua Rufino Marques, nº 14 – Centro

Previsão de reabertura: primeiro semestre de 2016

O Brasil precisa construir mais de 64,3 mil bibliotecas em escolas públicas até 2020 para cumprir a meta de universalizar esses espaços, prevista na Lei 12.244. A legislação, sancionada em 24 de maio de 2010, obriga todos os gestores a providenciarem um acervo de, no mínimo, um livro para cada aluno matriculado, tanto na rede pública quanto privada. A cinco anos do fim do prazo, 53% das 120,5 mil escolas públicas do país não têm biblioteca ou sala de leitura. A contar de hoje, seria necessário levantar e equipar mais de 1 mil bibliotecas por mês para cumprir a lei.

O levantamento foi feito pelo portal Qedu, da Fundação Lemann, a pedido da Agência Brasil, com base em dados do Censo Escolar 2014 – levantamento anual feito em todas as escolas do país. Esses são os últimos números disponíveis e trazem informações tanto de instituições de ensino fundamental quanto de ensino médio.

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Os dados mostram grande disparidade regional na oferta de bibliotecas escolares. Enquanto na Região Sul 77,6% das escolas públicas têm biblioteca, na Norte apenas 26,7% das escolas têm o equipamento e na Nordeste, 30,4%. No Sudeste, esse índice é 71,1% e no Centro-Oeste, 63,6%.

O Maranhão é o estado com menor índice de bibliotecas escolares – apenas 15,1% das escolas tem o equipamento – seguido pelo Acre (20,4%) e pelo Amazonas (20,6%). Na outra ponta do ranking, estão o Distrito Federal (90,9%), o Rio Grande do Sul (83,7%) e o Rio de Janeiro (79,4%).

A Agência Brasil não conseguiu entrar em contato com a Secretaria de Educação do Maranhão. As secretarias do Amazonas e do Acre não responderam ao pedido da reportagem.

De acordo com o levantamento, também há diferenças na oferta de bibliotecas entre as escolas de ensino médio e fundamental. Em melhor situação, 86,9% das escolas públicas de ensino médio públicas têm bibliotecas ou salas de leitura. No ensino fundamental, entretanto, o índice cai para 45%.

O coordenador de projetos da Fundação Lemann, Ernesto Martins Faria, explicou que, na edição de 2014, o Ministério da Educação (MEC), responsável pelo Censo Escolar, juntou os dados de sala de leitura e bibliotecas, ao passo que, em anos anteriores, esses números eram descritos de forma separada. Por esse motivo, não é possível comparar a evolução dos dados com anos anteriores.

“A gente tem que pensar especificações que garantam que a criança tenha ambientes propícios para praticar a leitura. É pouco viável, do ponto de vista orçamentário e de factibilidade, a universalização das bibliotecas [no prazo estipulado em lei]. Temos que pensar como promover mais espaços para leitura e disponibilizar mais conteúdos para os alunos”, disse Faria.

Para a diretora de educação e cultura do Instituto Ecofuturo, Christine Fontelles, faltam  recursos para todas as áreas da educação e, por esse motivo, a leitura não costuma estar entre as prioridades dos gestores. Coordenadora do projeto Eu Quero Minha Biblioteca, que ajuda professores, diretores, pais e alunos a requisitar e implantar bibliotecas nas escolas, ela ajuda na articulação com as secretarias de Educação e o MEC.

“O fato central é que não se dá importância para a biblioteca. Nós somos um país que não dá valor para a biblioteca, que ainda não tem a noção de que a educação para a leitura é uma coisa que deve acontecer desde sempre, e que a biblioteca pública é o equipamento fundamental para que famílias e escolas possam desenvolver essa habilidade no jovem”, defendeu Christine em entrevista à Agência Brasil.

Segundo ela, é preciso que a biblioteca tenha papel central dentro da escola. “O país perde um grande tempo ao não munir as escolas desse equipamento e não promover uma campanha de expressão nacional para que as famílias se envolvam na formação leitora das crianças. É importante que a biblioteca seja a casa do leitor, não um depósito de livro”, afirmou.

Para o presidente do Instituto Pró-Livro, Antônio Luiz Rios, uma biblioteca na escola contribui para a formação literária, melhora a escrita, o vocabulário e é fundamental para a formação do cidadão.

“O hábito da leitura começa em casa, com a família. Mas é preciso seguir nas escolas, com acervo interessante e profissionais capacitados. Sem uma base leitora forte, o aluno não tem uma boa formação”, acredita. “Com a leitura, o cidadão pode ter acesso a todo o conhecimento humano, ele não é mais guiado, tem a possibilidade crítica. O Brasil ainda não despertou para a importância da leitura”, acrescentou Rios.

De acordo com a pesquisa Retrato da Leitura no Brasil 2012, feita pelo Instituto Pró-Livro, as bibliotecas escolares estão à frente de qualquer outra forma de acesso ao livro para crianças e adolescentes de 5 a 17 anos.

O Ministério da Educação informou que a instalação de bibliotecas é uma responsabilidade das escolas. De acordo com a assessoria da pasta, as instituições de ensino públicas recebem recursos federais para investimento em estrutura e cabe à escola decidir como gastar esse dinheiro.

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