O Dia do Cacau, nesta terça-feira (26), é comemorado com os balanços positivos na indústria cacaueira. Segundo a Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac), do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, o Pará é o maior produtor de cacau do Brasil e do mundo. O Estado produziu, em 2018, 930 quilos de cacau por hectare.
Em meio a tantos problemas sociais, como violência, educação, economia e combate à pobreza, o Pará tem motivos para comemorar o avanço da indústria que empregou quase 305 mil trabalhadores em 2018. O cacau produzido no Pará tem números expressivos, e toda produção é feita em áreas alteradas, ou seja, áreas que já sofreram algum tipo de desmatamento, sendo proibido o desmatamento de áreas para cultivo.
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Segundo José Raul Guimarães, superintendente da Ceplac nos Estados do Pará e Amazonas, a cultura do cacau no sistema agroflorestal, sistema criado pela Ceplac, é altamente produtiva. “Nós fazemos produção, conservação ambiental, que é tudo o que se recomenda hoje em termos de uma agricultura sustentável, principalmente em se considerando as características dos ecossistemas da Amazônia. Eu diria, do ponto de vista técnico-agronômico, que este é um dos modelos de agricultura dos mais viáveis e mais competitivos no mundo, em função de suas peculiaridades, relacionadas ao melhor uso e aproveitamento dos recursos naturais das propriedades, nos ecossistemas e nos biomas”, explicou.
Segundo Raul, os fatores climáticos e ambientais são propícios ao cultivo do cacaueiro no Pará. “Nós temos solo de média a alta fertilidade adequados e recomendados para o plantio do cacau. O Pará tem, graças a Deus, essas potencialidades naturais”, disse Raul, ao reforçar que a cacauicultura está presente em cinco regiões do Estado, destacando-se a região Sudoeste, que representa, atualmente, 84% da produção de cacau do Pará. “No ano passado, por exemplo, (a região) totalizou um quantitativo em torno de 132 mil toneladas, isso devidamente aferido por um projeto de previsão de safras que é coordenado pelo centro de pesquisas e assistência técnica da Ceplac”, complementou.
Raul explica que são feitas contagens de cacau nas propriedades e é feito um levantamento três vezes ao longo do ano. “Uma primeira tomada de dados no mês de março, julho e outubro finaliza com a terceira tomada, quando então a Ceplac gera um relatório final da previsão da safra do cacau”, afirmou.
Segundo o superintendente, os produtores são orientados sobre de que forma devem manejar a lavoura do cacau tanto na terra firme quanto na várzea. “Chamamos de sistemas agroflorestais nativos ou caboclos. O cacau já está lá, é só manejo, é orientação para manejar, para aumentar a produção e a produtividade”, detalhou.
Raul explica que desde 1994 a Ceplac orienta a implantação de sistema agroflorestais através do aproveitamento das áreas alteradas, descartando o desmatamento. “Nós temos uma quantidade expressiva de áreas alteradas. Essas áreas fizeram com que o Pará tivesse um forte passivo ambiental. Hoje, seguindo o que diz a legislação ambiental e o código florestal, obviamente, você não pode mais orientar o plantio de culturas permanentes, perenes”, afirmou.
Os resultados positivos na indústria cacaueira respondem ao planejamento estratégico, implementado em 2012, com metas de expansão e produtividade, melhoria da qualidade do cacau, agregação do valor à produção, processo de agroindustrialização, de verticalização da produção. “A gente vê que isso é de fundamental importância. É altamente estratégico para, principalmente, o pequeno produtor que perfaz 95% do nosso público. Uma vez organizados, eles conseguem competir melhor no mercado, conquistar novos espaços, melhorar a qualidade do produto e preços tanto no mercado nacional quanto no mercado internacional junto às empresas compradoras de cacau”, disse Raul.
As famílias dos agricultores paraenses encontram, na produção do cacau, alternativas para melhorar a condição de vida, aproveitando não só os produtos principais, como amêndoa seca, mas também os subprodutos. “Na lavoura cacaueira o produtor tem muitos recursos. Ele pode aproveitar e extrair o mel de cacau e fabricar a geleia de cacau, licor de cacau, doce, então ele pode ter uma renda adicional", avaliou Raul. Segundo ele, mediante uma boa gestão da propriedade, o agricultor pode gerenciar os fatores de produção e maximizar sua renda familiar média anual.
Conforme dados da Ceplac, a produtividade de cacau está em torno de 930 quilos por hectare, a maior produtividade de cacau do Brasil e do mundo, inclusive superando a produtividade média dos países de continente africano, que é o continente que mais produz cacau no mundo. Costa do Marfim e Gana têm produtividade, respectivamente, de 660 quilos por hectare e Gana 550 quilos por hectare. “Esse material genético que nós distribuímos pode produzir duas mil toneladas por hectare, três mil toneladas por hectare, porque tem produtores que com esse mesmo material já produzem isso na Transamazônica, em Terra Roxa, que é um solo totalmente fértil, pela adoção da tecnologia, pelo manejo integrado, pela execução das boas práticas de forma correta, dentro do calendário agrícola. Estou falando de uma produtividade média do Estado, é a maior produtividade do mundo”, detalhou Raul.
Os produtores recebem assistência técnica e extensão rural. “Isso é de extrema importância para garantir ao produtor o acompanhamento, a evolução do seu sistema produtivo, da lavoura, sobretudo garantindo a ele as informações necessárias quanto à condução de sua lavoura de acordo com o calendário agrícola de cada região”, explicou Raul.
As características do cacau paraense, segundo Raul, são importantes para a indústria chocolateira. “Um estudo comparando a qualidade do cacau do Estado do Pará com a qualidade do cacau de outras regiões, inclusive comparando com o cacau da Costa do Marfim, feito por uma pesquisadora que fez tese de doutorado, comprovou que as características do nosso cacau são excelentes. O cacau produzido no bioma amazônico tem essa peculiaridade”, avaliou.
De acordo com Raul, há um déficit de produção no Pará e no mundo. “Se por um lado aumentou o consumo de chocolate, no Brasil e no mundo, então começou a faltar matéria-prima. O Pará se apresenta nesse cenário como um Estado que pode contribuir fortemente para suprir esse déficit de fornecimento de matéria-prima para os parques moageiros, para as indústrias que processam e que fabricam o chocolate. O Pará surge como todos esses indicadores, esses resultados aumentando produção significativa tanto no cenário nacional como no cenário internacional”, concluiu.