O ex-presidente do Sindicato dos Policiais Civis de Pernambuco (Sinpol-PE), Áureo Cisneiros, criticou a saída do atual líder sindical, Rafael Cavalcanti, que renunciou ao cargo, por meio de uma carta pública (confira na íntegra ao final da matéria), e afirmou que não vai concorrer à eleição, que acontece ainda esse ano. Cisneiros comentou que a “jogada de toalha” de Cavalcanti veio em um momento inoportuno, em meio às negociações da campanha salarial da categoria.
Na carta, Cavalcanti teceu críticas a Cisneiros, ao citar que “todos estes ex-presidentes que se colocam como ‘solução’ não carregam os elementos fundamentais para ocupar tão honrado posto: honestidade e a vontade de lutar pelo coletivo”.
##RECOMENDA##Áureo rebateu as críticas ao comentar sobre a saída antes das negociações com o governo e do processo eleitoral do SINPOL. “É uma decisão pessoal, manifestada numa carta (texto) pessoal. Respeito, mas não concordo. O momento foi inadequado e fragiliza a categoria nas negociações com o governo. É um presidente que, em plena gestão, diz que não quer ser mais presidente do SINPOL. Se já estava ruim, agora piorou muito. Fugir não ajuda em nada. Ou melhor, ajuda ao governo. Bastava na hora da inscrição não colocar seu nome na chapa. Simples assim”, afirmou o policial.
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“O que o atual/ex-presidente do SINPOL não consegue perceber é que, apesar de todas as suas inseguranças, existe um novo programa de segurança pública em construção e um anúncio de R$ 1 bilhão a mais para nossa área. Vamos debater com o governo o melhor uso desses recursos ou enfiar, covardemente, a cabeça no buraco, como avestruz? Vamos convencer a governadora a fazer uma reparação salarial histórica com os policiais civis, alertá-la para não fazer igual ao antecessor ou desistir covardemente da luta? É hora de lutar ou perder uma oportunidade de ganho real para a categoria?”, questionou Cisneiros.
Confira a carta de Rafael Cavalcanti, presidente do Sinpol-PE:
Meus caros colegas Policiais Civis, venho hoje aqui comunicar a toda a categoria uma dificílima decisão que tomei: não concorrerei às eleições do sindicato que se avizinham.
Quando entrei nessa Polícia, em janeiro de 2011, vindo do movimento de aprovados, achei que minha estada seria breve. Eu não possuía qualquer vinculação com a Polícia, não tinha parentes Policiais, pensava em alçar outros vôos, mas como muitos, me apaixonei pelo serviço, e como tantos, me indignei com as injustas e imorais condições as quais éramos submetidos.
Sempre fui de me inquietar diante de absurdos e não foi diferente diante de tantos abusos cometidos com nossa classe. Por isso me juntei na formação de um grupo que tinha nessa indignação com nossas péssimas condições salariais, estruturais e funcionais a razão de ir retomar nossa ferramenta de luta para combater essas injustiças.
Construímos um movimento forte e extremamente legítimo por causa da sua completa simbiose com o sentimento e as necessidades da base de todo o Estado, afinal foi dela, com ela e para ela que resolvemos encampar essa árdua missão.
Mesmo com todo o sentimento e a necessidade de mudança que a categoria carregava, enfrentar um aparelho há décadas incorporado como propriedade de um grupo (que parte dele tentará voltar nas próximas eleições sindicais) e nossa vitória foi por apenas 83 votos.
Ajudei a recolocar o Sinpol na trilha da luta verdadeira por valorização para a classe, representando os interesses dele, e não do governo de plantão.
Aprendi a lidar com uma estrutura pesadíssima, com inúmeros funcionários e histórico acumulado de desmandos, como negligência a direitos trabalhistas mínimos e um volume gigante de débitos tributários e previdenciários, por exemplo.
Além de tudo tive que me construir enquanto Ser administrativo e político, para dentro do grupo e diante de um governo bastante insensível e arbitrário com as causas dos servidores Policiais Civis.
Erramos e aprendemos com os erros uns dos outros. Vivenciei atitudes de lideranças que pregavam discursos democráticos e, na pratica tinha posturas autocratas, tentei sustentar o funcionamento do grupo e, conseqüentemente, da luta por valorização mesmo tendo que ir remendando o processo durante seu curso, já que a liderança só fazia o que queria, não seguia o coletivamente pactuado, pessoalizava as ações que deveriam ser institucionais e mostrava-se cada vez mais distante do discurso que pregava e que encantou a mim e a categoria.
Por causa do grupo tivemos sucesso em 2 negociações salariais, em 2015 e 2016, com repercussão até o ano de 2018. Fui, em todo esse período o único elemento constante em todas as mesas de negociação, pois dentre a construção que todo o grupo foi fazendo diante da capacidade e perfil de cada componente, me coube, além da co-condução dos discursos políticos, a discussão da construção técnica das propostas para corresponder os anseios e necessidades da base e da defesa delas perante o governo.
Sofri, como todo o grupo, com as covardes perseguições do Governo via Corregedoria. Mais de 11 processos Administrativos, mais de 90 dias de punição, processo de demissão... ainda assim tudo valia a pena, pois minha categoria merecia.
Fomos reeleitos com 90% de aprovação em 2017. Mas aí os esforços para tentar minimizar os equívocos da nossa maior liderança não foram mais suficientes. Uma completa desestruturação dentro do grupo com rompimentos políticos de diretores que entregaram os cargos por não mais aguentar autoritarismo, cinismo e falta de coerência.
Tudo tratado internamente, para não expor a classe a vexames públicos. Tudo pensado, não pela liderança mas pelo grupo, para não prejudicar a categoria, esse era o meu compromisso e, por também ser o do grupo, várias situações errôneas foram tratadas no grupo, como deveria ser sempre. Mas não havia jeito. A pessoalização e o interesse narcisista não mais deixava o interesse coletivo da classe ser prioridade.
Resolvi ficar por ainda acreditar que poderia ajudar mais estando junto do que abandonando o barco, por acreditar na força do grupo. Mas havia uma eleição em 2018. E um boneco gigante já havia se apropriando da nossa luta. Tentamos fazer campanha salarial em 2019, mas o grupo esfacelado e a liderança ressacada com a retumbante derrota eleitoral para deputado só se afundava ainda mais e levava a todos, direção e categoria, para o fundo do poço. 2020 e um recuo até hoje não entendido antes do Carnaval.
Veio a pandemia. A responsabilidade minha e do grupo de manter e renovar a luta, ainda mais diante das péssimas alternativas que tentavam ressurgir apenas em momentos eleitorais nos incitavam a reagrupar, repactuar, realinhar, pelo bem da nossa própria classe. Sabíamos que tínhamos nossos erros, mas sabíamos que não poderíamos parar em mãos sem qualquer compromisso ou história na luta recente da categoria.
Mas precisávamos neutralizar a fonte maior de nossos erros e de distanciamento da defesa dos interesses da classe que era nossa então maior liderança. Garanti ao grupo que não seria um terceiro mandato dele, resgatei alguns que não mais aceitavam militar ao lado por causa dele, mas também deixei claro para a categoria que não deixaria ele para trás como a grande maioria queria.
Mesmo sem mais ter relação pessoal fiz todos os esforços para mantê-lo na chapa em respeito a toda história que havíamos construído juntos, por justiça com os princípios que defendo mantê-lo dentro do guarda-chuva sindical com o intuito de diminuir a sanha do governo em demiti-lo era obrigação moral, mesmo aumentando o risco de perder as eleições.
Mesmo tendo sido vítima da covardia do ex-presidente, inclusive com lamentáveis episódios de ataques pessoais e familiares.
Vencemos as eleições e agora tínhamos os maiores desafios que nosso grupo já havia enfrentado: uma pandemia, a necessidade de reunificar uma categoria completamente dividida (em grande parte por causa do ex-presidente), e fazer a luta por valorização nesse cenário.
Realizamos, de forma inédita, 32 assembleias regionais para aprovação da pauta apresentada ao Governo, democratizando e interiorizando as decisões como nunca. Quando todas as outras classes estavam adormecidas a nossa foi a única que marchou para arrancar sua valorização.
Fizemos uma campanha salarial com todo o acúmulo das campanhas anteriores, realizamos atos, passeatas, operação padrão, Lockdown’s, estado de greve e ousamos com uma greve quando nenhuma outra Polícia Civil ousou depois da decisão do STF em 2017 que nos surrupiou o legitimo direito de paralisarmos nossas atividades diante da grave falta de estrutura e valorização que nossa categoria enfrenta e fomos até onde podíamos.
De forma inédita um dirigente sindical teve suas contas pessoais bloqueadas por fazer a luta por sua classe. Mesmo longe do que merecíamos fomos a única classe que obteve reajuste diferenciado, e ainda com o peso de carregarmos toda a segurança pública nas costas e lidando com um governador que não mais tinha aspirações políticas.
Sei que o sentimento da classe ao final, tal qual o meu, foi de muita decepção, pois fizemos o maior movimento de nossa história, mas todas essas outras circunstâncias impuseram esse teto em nossa valorização.
Diante da necessidade de representação política e face aos apelos da direção, de parte da classe e por deliberação da Cobrapol topei partir para tentar ocupar uma vaga legítima no Poder para deixarmos de terceirizar nossos interesses.
Abri mão de convicções pessoais e parti para um campo político que não representava meu pensamento ideológico pessoal para representar o pensamento coletivo da categoria em busca de um mandato, não para mim, mas para representar todos os anseios da categoria sem precisar mais pedir favores e, mesmo com toda dificuldade num meio extremamente covarde como a política partidária, sendo boicotado pelo partido, ainda assim obtivemos mais de 8 mil votos, eminentemente vindo da categoria e de seus familiares, algo que agradecerei e serei eternamente grato pelo resto de minha vida.
Após as eleições começaram o processo de desmonte e boicote da gestão, por questões pequenas mas que, diante da pretensão que se revelou no futuro de enfraquecer a gestão com o intuito de se beneficiar eleitoralmente com o esfacelamento da gestão, mesmo que para isso tenham prejudicado a luta pela valorização da classe.
Busquei manter o norte em busca do melhor para a categoria com firmeza e diálogo, com a ajuda daqueles diretores que se mantiveram no propósito que deve mover qualquer dirigente sindical: a defesa intransigente de nossa categoria.
Acredito que minha retirada da vida sindical deva oxigenar o debate pela renovação, sempre necessária, da nossa instituição máxima de luta, mas tenho a certeza que todos estes ex-presidentes que se colocam como “solução” não carregam os elementos fundamentais para ocupar tão honrado posto: honestidade e a vontade de lutar pelo coletivo dos Policiais Civis pernambucanos acima de qualquer interesse pessoal, por isso apoiarei o nome que a atual gestão irá apresentar.
Cumprirei meu mandato até 25 de novembro buscando preparar o terreno para que a próxima gestão possa pegar um caminho já minimamente alicerçado para fazer o enfrentamento com mais um governo que vem se mostrando intransigente e insensível com nós, policiais, e com a segurança de toda a população.
Volto à base com muito orgulho e com a certeza de que fiz o meu máximo, que a todo tempo que estive no Sinpol, seja como vice-presidente, seja como presidente, busquei não só valorizar financeiramente a classe, mas, sobretudo, lutei para dar a dignidade e o respeito que nossa categoria merece.
Estarei sempre disponível para contribuir naquilo que for possível, mas focarei minhas atenções na minha família, tão sacrificada devido a completa doação à causa dos Policiais Civis que foi o que moveu minha vida até hoje, e tratarei de projetos pessoais, nunca deixando de exaltar, onde quer que eu esteja, o meu ORGULHO DE SER POLICIAL CIVIL DE PERNAMBUCO.
Gratidão a todos que me acompanharam nessa jornada, obrigado categoria, pelo respeito e confiança depositados ao longo desses mais de 10 anos de luta, em especial aos amigos Aderson, o amigo-irmão Benoni, meu irmãozinho Deiviso Soares, Douglas Lemos, George Antônio, Jaciara, o gigante Márcio Hortêncio, Sílvio, uma grata surpresa sindical, Washington, Matuto, e também àqueles que se estivessem nesse plano com certeza estariam na luta no lado coerente, meus queridos Roseno e Rogério.
Meu imenso respeito, carinho e agradecimento a todas e todos os funcionários do Sinpol, de todas as áreas, limpeza, administrativo, jurídico e departamento médico, pelo compromisso, pelo cuidado com nossos filiados e pelo respeito e carinho com que sempre aos filiados e a mim. O Sinpol também são vocês!
Um forte e imenso abraço!
Rafael Cavalcanti