Cerca de 200 pessoas compareceram na manhã desta quarta-feira, 11, à missa de sétimo dia em homenagem às vítimas do incêndio na creche Gente Inocente, em Janaúba, cidade do norte de Minas Gerais. A cerimônia foi realizada em frente ao Hospital Regional da cidade, unidade que prestou o primeiro atendimento às vítimas da tragédia que deixou 11 mortos até o momento - sendo nove crianças, de 4 e 5 anos, além da professora Heley de Abreu, de 43, que lutou com o agressor, e do vigia Damião Soares dos Santos, de 50, autor do crime.
A missa durou cerca de uma hora e meia e foi celebrada pelo padre Carlos Alves dos Anjos em clima de forte comoção. Estiveram presentes o diretor do hospital, médicos, enfermeiros, moradores da cidade e parentes das vítimas. No fim da celebração, funcionárias, bastante emocionadas, trouxeram bexigas brancas para o púlpito improvisado. O padre segurou os balões e os soltou, um de cada vez, dizendo o nome das crianças e da professora, sob aplausos da multidão.
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"Quando meu filho estava internado em Montes Claros eu queria acariciar o seu rosto, seu corpo, mas ele estava num estado que isso não era possível", afirmou Valdirene Santos, mãe do menino Matheus Felipe Rocha dos Santos, que teve a morte confirmada na madrugada de segunda-feira, 9, no Hospital João XXIII, em Belo Horizonte.
A fala arrancou lágrimas dos presentes. "Só pude tê-lo em minhas mãos, tocar seu rosto e beijá-lo quando ele já não estava entre nós, mas isso me deu algum conforto."
Ajuda
Vestido com roupa azul, de paciente, o embalador Elton Batista de Oliveira, de 47 anos, recebeu permissão para assistir à missa mesmo ainda estando com acesso de soro na veia. Ele foi uma das pessoas que ajudou no resgate às vítimas do incêndio na creche.
Na quinta-feira, Oliveira vinha de bicicleta do bairro de Santa Terezinha quando ouviu gritos de socorro. Era uma funcionária da creche pedindo ajuda.
Ao avistar a fumaça, Oliveira correu para ajudar no resgate de crianças e professoras, a maioria queimada ou intoxicada pelo incêndio provocado pelo vigia na unidade de ensino, por volta das 9h30. Ele diz ter carregado de quatro a cinco crianças por vez. Pedreiros que trabalhavam em uma obra na rua da creche também auxiliaram no socorro, conta Oliveira.
"Teve uns que a gente jogava pelo janela, pelo muro. Os bichinhos pulavam no meu pescoço querendo sair de lá. Tinha um colchão no meio do caminho. Depois fiquei sabendo que quatro criancinhas estavam lá embaixo, mortas", afirmou.
Segundo Oliveira, foi ele quem tirou o agressor de lá. "Eu o arrastei e o tirei de dentro da creche, não sabia que era ele que tinha feito tudo isso."
Oliveira precisou ser internado por ter inalado fumaça durante o resgate das vítimas. Pai de duas moças, uma de 18 e uma de 16, disse que só parou de entrar e sair da creche, tentando tirar as crianças, quando já não tinha forças e caiu no chão, exausto, e intoxicado pelo derretimento do teto de PVC.
Na missa, ficou afastado em um canto, sozinho, observando de longe a celebração. Começou a chorar quando o padre soltou os balões brancos representando cada uma das crianças e a professora Heley. Ele não tem previsão de receber alta.
"Em nenhum momento tive dúvidas de entrar lá e tentar salvar as crianças. Fiz o que todo pai faria no lugar", diz.
Hoje, Oliveira se ressente de ter machucado algumas crianças na hora, por causa da rapidez com que as atirava para fora da escola, e lamenta não ter salvado o menino Luiz David Ferreira, de 4 anos, uma das vítimas. "Eu o tirei de lá, carreguei nos meus braços mas, infelizmente, não resistiu."