Medicina. Oito letras formadoras de uma palavra que significa uma das carreiras mais almejadas do Brasil. Porém, muito além disso, é mais do que uma profissão, é um sonho e um planejamento de vida. E por esse sonho muitos estudantes dedicam horas, dias, meses e até mesmo anos de estudo e empenho para ingressar na graduação.
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Carla Vasconcelos conseguiu ser aprovada. Foto: Chico Peixoto/LeiaJáImagens
Por ser um curso caro, cuja média das mensalidades das instituições de ensino superior é de R$ 6.203,57, muitos candidatos buscam oportunidade em uma universidade pública. A Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP) tem o curso mais concorrido do Brasil, com um total de 266,2 candidatos por vaga. Na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), que utiliza o Sistema de Seleção Unificada (Sisu), em 2017 houve 1.720 inscritos para 120 vagas.
Segundo o presidente do Sindicato dos Médicos de Pernambuco (Simepe), Tadeu Alencar, o curso de medicina vai continuar sendo um dos mais buscados porque os que almejam fazê-lo também buscam uma realização pessoal. “Quem quer medicina está almejando ajudar ao próximo, ter contato com as pessoas, curar ou aliviar o sofrimento delas. Ao contrário do que muitos pensam que é sobre questão financeira”, explica.
Amor que não se apaga
Formada em fisioterapia, Carolina Rodrigues, 29, sempre quis ser médica. “Mas a gente tem mania de se auto sabotar, não é? Achei que não passaria e fui para algo que chegasse perto, fui pra fisioterapia. Mas sempre senti que faltava algo”, conta Carolina. Ao terminar o curso, ela fez uma pós-graduação em UTI, área em que mais de identificava, e resolveu tentar medicina quando sua mãe a apoiou. “‘Aproveite enquanto eu posso te ajudar, um dia você vai estar sozinha’”, relembra as falas da mãe.
Quando decidiu que iria voltar a fazer vestibular, dessa vez para algo que realmente ama, Carolina largou o emprego e se dedicou apenas aos conteúdos do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). “Estava fazendo cursinho e estudando mais quatro horas além das aulas. Mas aí as coisas apertaram e eu voltei a trabalhar, então estou só estudando em casa”, conta Carolina. Com essa mudança, a vestibulanda agora passou a estudar de acordo com suas escalas de plantão. “Eu estou me readaptando, coloquei a previsão de dois anos para passar em medicina. Seria um ano me readaptando e um ano, realmente, me dedicando”, explica Carolina.
Insistência é o caminho
Tentando há quatro anos ingressar em uma instituição de ensino superior de medicina, Louise Azevedo, 22 anos, tem uma rotina de estudos bem focada no seu objetivo. Chegando às 6h30 e saindo às 21h de um cursinho localizado no bairro da Madalena, Zona Oeste do Recife, a jovem dedica seu tempo aos estudos. “Eu almoço uns 15 minutos e o resto do tempo que passo aqui é para estudar e tirar dúvida com os professores”, conta a jovem.
Os quatro anos tentando medicina também foram momentos de maturidade e autoconhecimento, em relação aos estudos, para Louise. “A grande diferença nesses quatro anos é que agora eu sei as minhas dificuldades e antes não. São coisas específicas, por exemplo, em física é termodinâmica”, explica a vestibulanda. E mesmo com tantas tentativas, ela afirma que sua motivação vai muito além do curso em si. “Eu me mantenho motivada por acreditar em um futuro melhor, principalmente da classe social mais pobre”, aponta Louise.
Primeira - e confiante - tentativa
Aos 18 anos, Kercia Sampaio vai em busca de uma aprovação no curso de medicina. Estudante de um cursinho pré-vestibular localizado na Zona Oeste do Recife, a adolescente tem uma rotina bem dedicada aos estudos, mas sem esquecer do descanso. “Eu chego aqui umas sete horas da manhã e saio umas nove horas da noite, e para mim não é tão cansativo porque eu aprendi a gostar de estudar. Aos domingo eu não pego muito em livro. Eu fico mais na minha, saio com minha irmã, vou à praia, faço alguma coisa”, conta Kercia.
O dia de descanso é fundamental para a jovem recuperar as energias gastas durante os dias de semana. “Aqui eu só faço praticamente estudar. Como nas sextas-feiras aqui é avaliação, eu faço a prova e, como chego mais cedo em casa, vou estudar. Então eu estudo mais às sextas e aos sábados”, detalha a jovem.
Quem respira aliviada
Médica. Essa é a profissão de Carla Vasconcelos, 28 anos, que tentou cinco anos para conseguir ingressar no curso de medicina, no campus Garanhuns da Universidade de Pernambuco (UPE). A jovem “decidiu” a profissão aos cinco anos de idade. “Minha mãe conta que foi a primeira coisa que eu disse que queria ser”, relembra.
A aprovação chegou após muito esforço, dias e noites em regime rigoroso de estudo. “Eu estudava de manhã, de tarde e de noite. Fiz cursinho, mas no último ano eu já estava saturada e fiquei estudando em casa. Passava, no mínimo, oito horas de dedicação aos estudos. Aos sábados e domingos, esse tempo aumentava para 12 horas”, detalha Carla.
Após quatro anos de dedicação, Carla foi incentivada a fazer outro curso em uma faculdade privada. “Eu passei em primeiro lugar em fisioterapia, mas só fiz uma semana”, relata. A tentativa de ser uma universitária foi fruto das outras tentativas frustradas de entrar em medicina, mas nada apagou sua força e vontade de fazer o que amava. “Quando eu não passava, ficava triste, uma semana jogada no sofá mesmo, mas havia alguma coisa em mim que me dava força de vontade para continuar”, explica.
O nome no listão veio em 2012 - e no momento certo. “Eu fui selecionada no remanejamento para o campus de Garanhuns. Ligaram para minha mãe e disseram que eu tinha sido aprovada, só que ela achou que era trote. Depois ligaram para minha avó e aí a história se confirmou. Naquele ano, eu já tinha decidido que se eu não passasse iria fazer qualquer outra coisa” relembra Carla.
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Dedicação tem que começar de agora
“Estude por aquilo que for básico, pelo menos aquilo que for mais fácil, aquilo que você já domina um pouco. O que você não deve é dizer ‘vou tomar remédio para não dormir, vou tomar café, vou tomar energético para virar a noite’. Virar a noite não dá certo, pois você só vai se desgastar”, aconselha o médico e professor de biologia de um cursinho pré-vestibular Fernando Beltrão.
Professor Fernandinho Beltrão recomenda que alunos estudem pelos conteúdos que eles já dominam. Foto: Rafael Bandeira/LeiaJá Imagens
Mesmo que o estudante queira uma vaga numa instituição privada sem arcar com os custos, é preciso, muitas vezes, que ele faça - bem - o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) para garantir as oportunidades de bolsas como as do Programa Universidade para Todos (ProUni), Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), entre outras. “A lógica do Enem é não errar besteira. Aluno que erra três ou quatro bobagens, a nota dele não sobe mais”, afirma o professor. Esse alerta do professor é em relação à Teoria de Resposta ao Item (TRI), aplicada no Enem. Confira abaixo algumas dicas de Fernandinho.
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