A extrema pobreza dificulta a sobrevivência de mais de 1,2 milhão de pernambucanos. A informação consta na Síntese de Indicadores Sociais 2020 (SIS), divulgada nessa quinta-feira (12) pelo IBGE, com dados relativos a 2019. Segundo o levantamento, Pernambuco está em terceiro lugar em desigualdade entre os estados, e Recife é a capital mais desigual do país, com índice de 0,612, posição que não ocupava desde 2016.
Isso significa que 13% da população possui renda mensal domiciliar per capita inferior a R$ 151 (US$ 1,9 por dia, equivalente, na cotação do dia desta publicação, a R$ 10,39), critério adotado pelo Banco Mundial para identificar a condição de extrema pobreza. É o maior patamar da série histórica iniciada em 2012, e o dobro da média nacional, de 6,5%, que se manteve inalterada entre um ano e outro. Em 2018, os muito pobres eram 11,4% da população.
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No Recife, cerca de 115 mil pessoas, ou 7% da população da capital, vivem abaixo da linha de extrema pobreza.
A síntese mostra ainda que a extrema pobreza implica em menor acesso a serviços básicos. 9% dos pernambucanos com renda mensal inferior a R$ 10,39 por dia não têm a cobertura de nenhum tipo de programa de proteção social. 28,6% têm ao menos uma precariedade nas condições de moradia, 38,8% têm dificuldade no acesso à educação, 47,1% não têm conexão à Internet e 66,5% vivem em domicílios sem saneamento básico.
A SIS também demonstra que o índice de pessoas pobres em Pernambuco passou de 41,1% em 2018 para 41,8% em 2019. Este foi o pior resultado em sete anos. Isso significa que pouco mais de quatro em cada dez pernambucanos vivem com menos de R$ 436 reais por mês, ou US$ 5,5 por dia (R$ 30,07), de acordo com o mesmo critério do Banco Mundial. O resultado supera a média nacional, de 24,7% da população abaixo da linha de pobreza.
Comparativo e questões raciais
A desigualdade na distribuição de renda é medida pelo índice de Gini, dado que também faz parte da Síntese de Indicadores Sociais. Ano passado, Pernambuco foi o terceiro estado com maior concentração de renda do Brasil, com 0,573, atrás apenas de Sergipe (0,580) e Roraima (0,576).
Recife, por sua vez, é a capital brasileira mais desigual, com índice de 0,612. A cidade é seguida por João Pessoa (0,591) e Aracaju (0,581). Quanto mais perto de 1, mais a renda é concentrada nas mãos de poucas pessoas. O índice de Gini do Brasil, o nono país mais desigual do mundo, é de 0,543, inferior aos índices tanto de Pernambuco quanto do Recife. Tanto o estado quanto a capital seguiram a tendência do Nordeste, única região do país a ter aumento no índice entre 2018 e 2019.
Os resultados são ainda mais preocupantes entre as pessoas de cor preta ou parda que, segundo os números, têm pouco mais da metade da renda domiciliar per capita dos brancos
Em 2019, o rendimento médio domiciliar per capita da população pernambucana foi de R$ 954,; no Recife, o valor é praticamente o dobro: R$ 1.899. No ano passado, 75,5% da população pernambucana tinha rendimento médio domiciliar per capita de até um salário mínimo.
Pessoas de cor ou raça preta ou parda tiveram rendimento médio domiciliar per capita de R$ 771, pouco mais da metade do rendimento de R$ 1.347 das pessoas de cor ou raça branca, uma diferença de R$ 576. Além disso, entre os 10% da população com menores rendimentos, três quartos, ou 75,4%, são pretos e pardos. Já entre os 10% com maiores rendimentos, mais da metade, ou seja, 56,5%, é branca.
A situação se repete quanto às oportunidades e remuneração das pessoas de cor. Apesar do desemprego ser maior para esse grupo, os salários são menores. A taxa de desocupação, em 2019, era de 16,3%, contra 12,5% entre os brancos e acima da média de 15,1% para a população em geral. A desocupação entre as mulheres era ainda maior, alcançando 17% no período, enquanto, para os homens, o índice era de 13,6%.
O tempo de procura de trabalho para a população desocupada também foi mensurado na pesquisa pela primeira vez. Das 631 mil pessoas desempregadas em 2019, 14,6% delas procurava uma ocupação há menos de um mês, 31,6% de um mês a menos de um ano, 16,5% entre um ano e dois anos e a maior parte, 37,4%, há dois anos ou mais.
Os pretos e pardos também recebem menores salários do que a população branca, seja em ocupações formais ou informais. Enquanto os brancos recebem, em média, R$ 3.130, quando estão formalizados, o valor cai para R$ 1.942 entre pretos e pardos. Os trabalhadores informalis branco recebem por volta de R$ 1.324, os pretos e pardos recebem menos de um salário mínimo, ou R$ 873.