Tópicos | Mulheres negras

Uma pesquisa feita pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV), mostra que as mulheres negras integram o grupo empreendedor mais afetado pela pandemia de Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2). Foram ouvidos 6.470 donos de pequenos negócios de todos os estados do país e Distrito Federal, entre os dias 25 e 30 de junho.

Os dados apontam que as empresas chefiadas por negras têm mais dificuldades de se manter funcionando funcionando: 36% das empreendedoras negras estão com a atividade interrompida temporariamente, frente a 29% entre as empresárias brancas e 24% entre os homens brancos e 30% de homens negros. Isso se deve em grande parte ao fato de seus negócios só poderem funcionar presencialmente: essa é uma realidade para 27% das empresárias negras e 21% das brancas.

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As dificuldades também são sentidas na busca por recursos para manter as empresas funcionando durante a pandemia. De acordo com o levantamento, as empreendedoras negras são uma fatia expressiva entre donos de empreendimentos que tiveram empréstimos bancários negados devido a CPF’s negativados, representando 58% desse grupo. O percentual só é menor que o de homens negros, com 64%.

Comparadas às empreendedoras brancas, as mulheres negras também apresentaram um aumento nas dívidas em atraso: 45% delas enfrentam essa situação, frente a  36% das mulheres brancas. A informalidade nos negócios e os índices de demissão também são problemas que atingem as empreendedoras negras com mais força. São elas as com o menor percentual de funcionários registrados no regime de CLT (29%) e demitiram um número médio maior de empregados (em média 3, quem demitiu). 

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Kemla Baptista é idealizadora da iniciativa 'Caçando Estórias'. Foto: Raphael de Faria

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Ao longo da história, os saberes ancestrais da população negra, que tradicionalmente são passados de forma oral, vem ganhando novas formas de registros por meio da literatura e também nas plataformas de interações sociais na internet. Educadoras e escritoras negras de Pernambuco movimentam esses acessos, promovendo educação antirracista no cotidiano da sociedade, em especial no das crianças, adolescentes e adultos afro-brasileiros. Neste sábado (25), Dia Internacional da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha, o LeiaJá compartilha ações de educadoras que fazem a diferença entre alunos e famílias.

A caçadora de estórias 

“Eu não construí um modelo pedagógico! Eu me valho de referências pedagógicas relevantes. Com isso, a gente pensa o construtivismo, na pedagogia de Freinet; a gente pensa em educação popular, considerando aquela referência de movimento de Paulo Freire; pensamos em tantas outras referências importantes, mas nós temos que considerar que todas elas foram criadas, pensadas e experimentadas por pessoas brancas”. É a partir da fala concedida pela educadora e contadora de estórias Kemla Baptista que exploramos outras possibilidades de entender a educação e seus processos diversos que, além de ensinar o básico, tem a pretensão de conduzir “crianças ao patamar de desbravadora do universo das tradições afro-brasileiras e agente criadora de arte”.

Kemla é a idealizadora e realizadora da proposta de educação social 'Caçando Estórias', que há 12 anos compartilha saberes ancestrais por meio de ações multidisciplinares que envolvem contação de estórias, literatura, audiovisual, criação de conteúdo para a internet, teatro de objetos, música e dança sempre atravessada pelas africanidades. Para ela, “ouvir estórias é alimento para a alma e faz bem à pessoa de qualquer idade”.

Em entrevista ao LeiaJá, a psicoterapeuta com abordagem psicanalítica, Maria de Jesus Moura, analisa que é necessário que as crianças possam se ver representadas em diversos espaços e, através desse reconhecimento, fortalecer a autoestima não só de crianças negras, como também de adolescentes e adultos. “Uma atividade de contação de estórias pode ser extremamente importante, pois dá acesso às crianças a determinadas realidades positivas, saudáveis, de força, de elevação de autoestima”, enfatiza a psicoterapeuta, que também é mestra em psicologia social com estudos no campo racial e de gêneros.

Seguindo essa lógica, o Caçando Estórias, que iniciou sua trajetória nas periferias do Rio de Janeiro, dissemina em Recife a mesma dinâmica educacional. Assim como no Rio, Kemla dá seguimento às atividades - antes presenciais e agora virtual - como um processo que interrompe uma movimentação de pessoas não negras fazendo apropriação de símbolos pertencentes à diáspora negra para repassar os conhecimentos, sem a devida propriedade desses saberes.

I Caçando Estórias, que tem a oralidade como principal ferramenta de comunicação, teve início dentro dos terreiros de candomblé. Kemla afirma que há necessidade de ampliar a popularização do conhecimento ancestral, em outros espaços, sendo eles formais ou não. Nesse sentido, ela enfatiza que “prefere usar como referências quem vive e quem pertence” aos lugares de axé - nomenclatura dada às pessoas que fazem parte do candomblé - para traduzir as histórias contadas por ela. Essa atividade está ligada à educação antirracista, que vem criando espaços para promover debates e demandas de ensino acerca das filosofias e artistas que fazem parte da negritude.

Devido à necessidade de transmitir os valores e ensinamentos assimilados no terreiro, somada a algumas técnicas adquirida na academia, Kemla tornou-se voz para mediar rodas de diálogo e de contos tradicionais africanos em uma versão lúdica, pensados para facilitar a compreensão. Em 2017, motivada principalmente pela chegada da sua filha, Kemla passa a promover o seu trabalho no ambiente virtual, além das ações presenciais. Dessa forma, a iniciativa ficou mais próxima de crianças e adultos, negros e não negros, por meio de uma forma de educar que não está ligada ao capitalismo e nem ao neoliberalismo, segundo Kemla.

Foto: Raphael Faria

“São outras possibilidades de pensar um mundo de outra forma. E vai para a internet com essa bagagem de axé, para dar esse nova perspectiva de educação que quebra com a lógica dos pensamentos e ensinamentos eurocêntricos”, destaca Kemla.

Antes da pandemia, esse trabalho era feito em comunidades periféricas da capital de Pernambuco, como no Alto do Páscoal, localizado na Zona Norte de Recife. Além do Caçando Estórias, Kemla coordena outras três ações afirmativas, intituladas 'Nos Terreiros do Brasil' - contação de histórias, espetáculos e oficinas com base em técnicas de arteterapia para crianças -; 'Balaio de Leituras' - ação de mediação de leitura nas escolas públicas, particulares, bibliotecas e museus que trazem personagens negros em papéis socialmente valorizados -; e o 'Aguerézinho - evento anual que festeja os contos, tradições e vivências afro-brasileiras -.

Agora, durante o isolamento social em razão da pandemia do novo coronavírus, as atividades presenciais promovidas pela Kemla foram adaptadas para a produção de novos conteúdos nas redes sociais, com agenda de lives, por exemplo. Nos encontros virtuais, são realizadas contações de estórias e outras ações adaptadas para a plataforma, incluindo o incentivo para que as crianças e seus responsáveis pratiquem as recomendações de prevenção ao contágio do coronavírus, como lavar as mãos e usar máscara.

Com as novas rotinas na web, também surgiram novas reflexões quanto ao papel social que o Caçando Estórias tem desempenhado para com a população mais vulnerável. Diante desse dilema, outras ações foram realizadas por Kemla, como a arrecadação e entrega de cestas básicas e a produção de livro 'O Vovô Treloso Mais Treloso do Mundo', de forma gratuita e on-line para crianças periféricas. O conto infantil fala das vivências de seu avô Gentil.

Feito de forma autônoma, o projeto do livro foi abraçado pela marca de biscoito 'Treloso', da empresa Vitarella, que financia a confecção de mil exemplares. O lançamento será neste domingo (26), pelo perfil Caçando Estórias no Instagram.

Todas as produções de viés educativo e cultural de autoria da pernambucana deixam marcas positivas por onde passa, chegando a impactar mais de 25 mil pessoas, seja no recebimento dos saberes traduzidos em palavras ou pela entrega de cestas básicas, que servem de alento às famílias em situação de vulnerabilidade social.

Cores - Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os negros (pretos e pardos) representam 56% da população brasileira. Em Pernambuco, estima-se uma população de 9.557.071 pessoas, em que dessas, 60,4% são autodeclaradas pardas e 7,2% se dizem pretas. Os dados são de 2019. 

Das escrevivências 

Por meio das poesias, escritoras negras possibilitam que vivências e conhecimentos em comum na população possam ser documentados em linhas que aqui chamarei de ‘escrevivências’. Vinda de uma família humilde, a educadora e escritora Odailta Alves, que nasceu e foi criada na favela de Santo Amaro, no Recife, foi a primeira - entre os nove irmãos - a aprender a ler. Hoje, em razão da projeção a nível nacional do seu trabalho literário, Odailta lança virtualmente um novo livro chamado 'Pretos Prazeres'.

Odailta Alves é autora de cinco livros. Foto: Mayara Barbosa

A publicação conta com 75% das vendas totais pela internet. “Os livros ganharam voo e isso é também um processo de reconhecimento de trabalho que a gente vem fazendo há um tempo. Meu eu lírico é o lírico homem preto e mulher preta, principalmente mulher preta. Então, eu acho que as pessoas negras se veem representadas nessa literatura, porque a literatura sempre foi um espaço muito brancocentrado, um espaço de idealização da mulher branca e hipersexualização da mulher preta ou em lugar de serviços braçais”, enfatiza Odailta Alves, em entrevista ao LeiaJá.

A escritora também atua na Unidade de Educação para as Relações Étnicos-Raciais (Unera), que é gerenciada pela Gerência de Políticas Educacionais, Educação Inclusiva, Direitos Humanos e Cidadania (GEIDH), da Secretaria de Educação e Esportes do Estado de Pernambuco (SEE-PE). Em suas atribuições, estão as elaborações de estratégias que efetivam a aplicabilidade da Lei 10.639/2003, que trata inclusão no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade do ensino da história, da cultura, da luta afro-brasileira, além da contribuição do negro na formação da sociedade nacional; bem como da Lei 11.645/2008, que inclui no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática “História e cultura afro-brasileira e indígena”.

É por meio da literatura que Odailta traz a idealização da mulher negra em espaço de afetividade, retratando-a como uma mulher de força, poder e de luta, mas não a imposta pela sociedade e sim uma força que emana das raízes fincadas de um povo que historicamente é colocado à margem. Mesmo com grande público negro, a escritora explica que há pessoas brancas que consomem as suas produções. “[Pessoas não negras] que tentem ler essa pessoa negra pelo seu lugar de fala e não pela voz do colonizador como tem sido historicamente e, nesse sentido, acaba sendo sim uma literatura que ajuda a promover uma educação antirracista. Porque vai quebrar com o imaginário racista, vai denunciar um processo histórico de escravidão que não encerrou em 1988, e vai denunciar as nuances do racismo que vai se reinventando; precisamos criar estratégias com relação a esse racismo”, enfatiza.

Odailta comemora os livros lançados. Foto: Priscilla Buhr

Até então, a escritora conta com cinco livros publicados, sendo o primeiro de nome 'Clamor Negro', em 2016, seguidos de Escrevivências' e 'Cativeiro de Versos', em 2018; 'Letras Pretas, em 2019; e 'Pretos Prazeres', lançado em 2020. O 'Escrevivências' está na segunda edição pela editora independente chamada Castanha Mecânica. 

“É muito bom ver esse quantitativo de livros saindo, sabe? Sem vínculos à editora nenhuma”, comemora. Enquanto produtora de arte, a escritora pernambucana diz que recebe feedbacks positivos sobre suas produções. Indo de uma geração à outra, Odailta inspira outras mulheres pretos por todo país, sendo escritoras ou não.

Educadoras explicam que, quando há espelhos, é possível construir novas narrativas para educar. Mesmo com esse fato apontado, a psicoterapeuta Maria Jesus Moura fala que em diversos setores ainda é possível identificar o racismo como estruturador de abordagens. Ela avalia que todo esse contexto de escravização e invisibilização histórica, “incidem naturalmente na saúde mental da população negra, mais ou menos, com ou sem resposta patológica, algumas ansiedades e depressões são bem frequentes”.

Na percepção da psicoterapeuta, em primeiro momento, é necessária uma admissão do racismo na esfera educacional. “A instituição educacional é atravessada por um conjunto de invisibilidades das populações negra e indígenas. Isso acontece fortemente quando não se vê representações delas em outros lugares, a não ser em outras crianças que pertencem ao ambiente escolar”, aponta. Contudo, diante de todas as dificuldades, como a falta ou pouca internet, poucos recursos financeiros, e mesmo com os novos obstáculos impostos pela pandemia da Covid-19, educadoras negras buscam caminhos para oferecer educação.

Por fim, basta olhar ao redor, que percebemos que as palavras verbalizadas ou redigidas por mulheres negras, como Kemla Baptista e Odailta Alves, servem de referências para diversos poetas e produtores de arte, dentro e fora do Estado. É importante ressaltar que os esforços para manter a educação antirracista fluida, estendem-se aos espaços educacionais formais, por meio de atividades similares aos trazidos nesta reportagem do LeiaJá. Essas atividades alcançam os pequenos e suas famílias.

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A partir da década de 1970 o Brasil comemora o Dia da Consciência Negra, em 20 de novembro, sendo escolhida tal data em respeito a Zumbi dos Palmares, símbolo de resistência ao regime escravocrata, assassinado em 1695. O marco serve, principalmente, para refletir sobre a inserção do indivíduo negro na sociedade nacional, assim como pontuar questões relacionadas à igualdade racial.

A história associa Zumbi como companheiro de Dandara que, como ele, também lutou de forma ativa pela libertação total das negras e negros no Brasil. Dandara, de acordo com a Enciclopédia Brasileira da Diáspora Africana, é descrita pelo pesquisador da cultura afro-brasileira e compositor Nei Lopes como “personagem lendária da história de Palmares. Celebrada como a grande liderança feminina. Contudo sua real existência está ainda envolta em uma aura de lenda”.

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A vivência de Dandara divide opiniões, pois existe a real possibilidade de que ela possa ter sido a condensação de várias mulheres negras quilombolas em uma só. Lendária ou não, Dandara simboliza o trabalho árduo das mulheres pretas e demonstra a importância da individualidade de pensamento feminino perante à problemática sexista no que tange a liderança e o sucesso em diversos campos, inclusive o do trabalho.

A mulher negra e o empreendedorismo

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), por meio da pesquisa “Desigualdades Sociais por Cor ou Raça”, as mulheres pretas ou pardas continuam na base da desigualdade de renda no Brasil. Em 2018, elas receberam, em média, menos da metade dos salários dos homens brancos (44,4%), que ocupam o topo da escala de remuneração no país. Além disso, uma pesquisa do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), divulgada em outubro deste ano (2019), mostrou que 49% das mulheres negras, que possuem seus próprios negócios, começam a empreender por necessidade.

Para a empresária capixaba e criadora de uma linha de fitocosméticos Paula Breder, de 40 anos, as mulheres negras precisam transpor diversas barreiras quando se propõem a empreender. “Todos os dias quando acordo eu tenho plena consciência que serei julgada, questionada. Tenho sempre a impressão que para outras mulheres as coisas sempre são mais simples”, diz a empresária. “Meu marido [Márcio Breder, 36] adoeceu e eu precisei substituir a renda que ele tinha. Depois de um ano que eu estava estudando sobre fitoterapia comecei a vender os meus produtos justamente por isso”, explica.

A ideia de desenvolver fitocosméticos (cosméticos cujos princípios ativos são extratos integrais de vegetais e óleos) começou de maneira discreta: Paula produzia apenas para si mesma e para algumas mulheres próximas, pois era revendedora de outra marca de produtos. Ela diz que sua situação financeira era estável e conseguia complementar a renda familiar trabalhando como cabelereira – apesar de não possuir todos os equipamentos que um salão de beleza dispõe. Durante o atendimento diário de suas clientes, a profissional percebeu que as mulheres estavam consumindo diversos produtos para o cabelo e não se sentiam satisfeitas com o resultado. “Como eu tinha muito acesso a ativos naturais, manteigas, óleos, extratos e plantas, por morar no interior do Maranhão, comecei a fazer algumas alquimias e a estudar sobre fitoterapia de forma autodidata”, explica.

A empresária diz que o assunto lhe despertou bastante atenção, principalmente pelo resultado de suas misturas superarem fórmulas industrializadas de marcas famosas.

Observando os resultados e se aprofundando nos estudos, a empreendedora começou a fazer um curso de fitoterapia, a fim de formular seu primeiro fitocosmético capilar. “Comecei a perceber que os produtos que eu desenvolvi apresentavam resultados superiores até do que os produtos que eu vendia de marcas conhecidas. Foi nesse momento que eu comecei a estudar mais, principalmente patologias do couro cabeludo e, após um ano, vendê-los”.

Atualmente, Breder investe em e-commerce e mantém uma equipe de 12 pessoas próximas a ela, além de 120 revendedores credenciados em todo o Brasil.  Paula viaja o país oferecendo palestras e treinamento de seus produtos – em salões de beleza, principalmente – e, segundo a empreendedora, planeja contratar mais pessoas até o final de 2019.

Paula Breder durante treinamento sobre a utilização de fitocosméticos. Foto: acervo pessoal

Trabalhos informais, objetivos e sonhos

Além da necessidade financeira, a escassez de empregos formais piora a situação das mulheres negras brasileiras, pois a taxa de trabalhadores informais (serviços sem registro em carteira ou vínculo empregatício, o que inclui a área artística, geralmente) é maior entre pretos ou pardos. Enquanto 34,6% dos trabalhadores brancos estão em empregos informais, entre os pretos ou pardos o percentual é maior: 47,3%, segundo a pesquisa do IBGE. Dados da PNAD Contínua mostram também que a crise econômica atingiu mais as mulheres pretas: de 4,1 milhões de desempregados que o país tem hoje, 63,2% são mulheres negras. No primeiro trimestre do ano passado, o desemprego atingiu 73% das mulheres. Entre as negras, o percentual foi de 96%.

Para a artista visual Di Monique Novaes, 31 anos, trabalhar com arte é estar atrelada à ideia de somar a renda com outros tipos de serviço. “A palavra artista demorou para ficar confortável na minha boca por parecer muito pedante, principalmente por vir acompanhada de comentários como ‘você é artista/alguma outra coisa’, como garçonete, operadora de caixa e afins. É impossível viver apenas de arte por enquanto, portanto preciso complementar a renda com outros tipos de trabalho, ainda que eu tente colocar um pouco de minha arte em todos esses ambientes”, desabafa.

Di Monique é natural de Iguape – litoral sul – e veio para a capital paulista com o sonho de ser artista visual, em tudo que o termo contempla: artes cênicas, pintura, escultura, performance e desenho, entre outras coisas. Licenciada em Artes, atualmente trabalha com encomendas de quadros e esculturas e é líder de equipe em um restaurante na região central de São Paulo, o Mira – antigo Mirante Nove de Julho. O espaço é de livre acesso, prega a diversidade cultural e expõe obras de diversos artistas, inclusive de Novaes.

Obra "Terra", exposta no Mira. Foto: Caroline Nunes

Contudo, a artista sonha em um dia ter uma casa de cultura em que possa oferecer oficinas e viver confortavelmente apenas de seus trabalhos artísticos. “Eu quero viver essa arte, expandi-la. Ter um espaço que seja um lugar de afeto em que as pessoas possam aprender arte, praticar e conversar sobre tudo que está sendo feito ali”. Di Monique ainda diz que deseja lecionar para crianças de diversas capacidades cognitivas de forma inclusiva.

Já a empresária Paula Breder tem como objetivo expandir os negócios, visando estabelecer lojas físicas por todo o país. “Eu quero que as pessoas tenham a opção de não usar ativos nocivos em seus cabelos. Que tenham a opção de não usar química e que entendam o poder das plantas. Quero ter um espaço PB [sigla de Paula Breder] em cada canto do Brasil e também no exterior”, declara. “Os nãos que eu tomei nunca me fizeram desacreditar do meu trabalho, muito pelo contrário”, completa a empreendedora.

 

Inspirações e apoio afetivo

Para Paula Breder, uma mulher negra inspiradora é a apresentadora de televisão, atriz e empresária norte-americana Oprah Winfrey. “A imagem dela já é muito representativa, por ter chegado onde chegou sendo uma mulher negra. É a referência-mor de mulher bem-sucedida”, explica.

Para Di Monique, a inspiração de todo o seu trabalho e de outros campos da vida é oriunda das mulheres. Criada em um ambiente composto majoritariamente pelo gênero feminino e sem a presença do pai, a artista recorda que observava situações cotidianas com admiração pela feminilidade ao redor dela, fato que inspirou sua série artística “Pele”, que retrata diferentes mulheres nuas. “Inspiração? Elza Soares. Alcione, Nina Simone, Ângela Davis, Daniele Almeida – ex-educadora do Museu Afro. Marta Souza e Márcia Saraiva também, que serviram de modelos para a minha série de obras. São todas mulheres negras, fortes, que eu realmente me espelho. Mulheres que vi de perto e outras que somente pela televisão”, afirma Novaes.

No recenseamento mais recente, realizado pelo IBGE, dados sobre a mulher negra brasileira chamaram a atenção: o levantamento aponta que mais da metade delas – 52,52% – não vive em união estável, independentemente do estado civil, e não possui uma rede familiar de apoio emocional e afetivo.

Breder acredita que, apesar de todas as barreiras que uma mulher negra enfrenta, tanto no campo profissional quanto na questão da autoestima intelectual, o bom ambiente familiar e profissional são essenciais para seguir em frente. “Meu marido suporta e apoia tudo que me aflige, está ao meu lado enfrentando todos os meus leões diários. E a minha filha [Acsa Raquel, 12] também. Ela entende a minha ausência para trabalhar, entende a minha luta. Depois deles, me apoio em minha equipe de trabalho, que é sensacional. Meninas fortes que nunca trabalharam antes, vestiram a camisa da empresa e criaram uma expectativa profissional gigante. Essa é a minha rede de apoio”, completa Paula.  A empreendedora diz que o mês de novembro, em especial a comemoração do Dia da Consciência Negra, representa gratidão e reflexão sobre às expectativas impostas à uma mulher negra. “Neste dia em especial, eu me sinto vitoriosa, pois, segundo a expectativa – e enquanto mulher negra – não era para eu estar aqui”, diz.

A empresária Paula Breder. Foto: Divulgação

Para Novaes, dia 20 de novembro significa, principalmente, atenção e visibilidade. “Tento retratar pessoas negras, em minhas duas séries [‘Pele’ e ‘Pretas’], para que elas sejam visíveis. É um dia de comemoração e eu penso que posso contribuir com meu olhar para que essas pessoas pretas, essas mulheres, sejam vistas e suas questões, tão particulares, enxergadas”, declara a artista.

A artista visual Di Monique Novaes. Foto: Caroline Nunes

Sobre as redes de apoio afetivo e inspiração, a artista se emociona e enfatiza que a figura materna é a fonte de sua força. “Tenho uma rainha em seu trono fixo. Eu louvo a minha mãe, dona Eliana Novaes, por toda a minha existência. Além de artista, ou qualquer outra nomenclatura, eu sou filha dessa mulher magnífica”, completa.

Eliana Novaes, mãe da artista, retratada na série "Pele". Foto: Caroline Nunes

Di Monique ainda acredita que para que exista visibilidade feminina dentre os espaços de profissionais é necessário que as pessoas “apoiem o trabalho das mulheres negras. Consumam seus produtos, valorizem sua arte, inspirem-se com seus sonhos e deem voz aos seus empreendimentos”, finaliza.

 

Serviço

Paula Breder

Site oficial:  https://paulabreder.com.br/wp2/

Loja: www.lojapaulabreder.com.br/

Página: facebook.com/PB.Fitocosmeticos/

Contato: (27) 99885-6336/ (27) 3063-6336/ contato@paulabreder.com.br

 

Di Monique Novaes

Página: facebook.com/dimoniquearte/

Instagram: @dimoniquenovaes/ @mirantemira

Contato: moniquedinovaes@gmail.com

 

Um estudo recém-concluído mostra que as mulheres negras são o principal alvo de comentários depreciativos nas redes sociais. Os dados estão na tese de doutorado defendida na Universidade de Southampton, na Inglaterra, pelo pesquisador brasileiro e PHD em Sociologia Luiz Valério Trindade. Ele analisou mais de 109 páginas de Facebook e 16 mil perfis de usuários.

O levantamento também incluiu 224 artigos jornalísticos que abordaram dezenas de casos de racismo nas redes sociais brasileiras entre 2012 e 2016. Luiz Valério constatou que 65% dos usuários que disseminam intolerância racial são homens na faixa de 20 e 25 anos. Já 81% das vítimas de discurso depreciativo nas redes sociais são mulheres negras entre 20 e 35 anos.

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De acordo com Luiz Valério, as mulheres negras causam muito incômodo em um modelo de construção social machista e racista. As principais vítimas de agressões nas redes são médicas, jornalistas, advogadas e engenheiras negras.

“A partir do momento em que essas mulheres negras ascendem socialmente, adquirem maior escolaridade, elas se engajam em profissões de maior visibilidade e maior qualificação. Isso entra em choque com aquele modelo que diz que a mulher negra tem que estar associada ou engajada em atividades subservientes e de baixa qualificação”, afirmou o pesquisador.

Combate à violência

Luiz Valério chama a atenção para a importância do Poder Público e das empresas que administram as redes sociais de combater a violência contra as mulheres negras na internet. O pesquisador, que é negro, defende o aprimoramento das políticas de privacidade das redes sociais, com mais punição para usuários que disseminam discurso de ódio.

“As atitudes que as pessoas têm no mundo virtual elas têm, sim, que responder civilmente por suas atitudes. Elas não estão protegidas por trás da tela do computador da forma como elas imaginam. As escolas de ensino médio e fundamental precisam preparar os jovens para que, na sua vida adulta, não repliquem esse tipo de comportamento”,

A agressão pelas redes têm o potencial de se transformar em violência verbal e física fora do mundo virtual. A blogueira maranhense Charô Nunes já vivenciou essa situação e hoje, radicada em São Paulo, coordena o Blogueiras Negras, plataforma colaborativa de publicação de textos de mulheres negras de todo o país.

Diante das estatísticas de casos de feminicídio, abuso sexual e disparidade salarial, um grupo de mulheres organizou o primeiro Encontro de Mulheres Negras Latinas e Caribenhas, realizado em 1992 na República Dominicana, para discussão dessas temáticas. Na ocasião, foram abordadas questões como racismo, machismo e ações para combatê-los.

O encontro foi o precursor do Dia da Mulher Negra e Caribenha, celebrado nesta quarta-feira (25). A data é um momento de reflexão e discussão sobre a situação das mulheres negras e trazer visibilidade para a luta.

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A data abre precedentes para expor a questão da representatividade na televisão e no cinema, que sempre rende calorosas discussões. Neste cenário, acredita-se que a mídia, como meio de comunicação de massa, influencia na formação de opinião dos espectadores, ou seja, o que nela é veiculado pode estar a serviço da quebra de paradigmas ou do reforço de alguns discursos excludentes e discriminatórios.

Diante dessa discussão, muitas pessoas apontam que papéis direcionados às atrizes negras, em sua maioria, são de coadjuvantes, figuração ou em cargos submissos aos de pessoas brancas.

De acordo com Priscilla Melo, do Coletivo Cara Preta, a ausência ou pequena participação em novelas, seriados e na sétima arte é reflexo da recente saída da escravização dos negros. “A imagem do negro como protagonista em uma novela ou filme e que não retratam a imagem estereotipada do sujo, leigo, ignorante é difícil de ser vista com outro olhar”, ressalta.

Para ela, a mídia reforça o racismo ao apresentar uma figura retrógrada dessa população. “Reforça-se o discurso racista quando se é colocado esse papel de empregada ou outro que deseja afirmar a autoridade sobre outra pessoa. A visão retrógrada da escravização ainda perpetua e é estruturada em pequenos detalhes intensificados pela mídia”, explica.

Recentemente, a novela 'Segundo Sol', da Rede Globo, ambientada na Bahia, levantou, novamente, essa temática, devido à ausência de representatividade dos afrodescendentes no elenco que é formado, majoritariamente, por artistas brancos. Nos últimos oitos anos - de 2010 a 2018 -, das quinze novelas produzidas pela Rede Globo para a faixa das nove, apenas duas produções contaram com protagonistas negras: Babilônia (2015) e Velho Chico (2017), ambas com Camila Pitanga no papel principal.

Durante participação, na última terça-feira (24), no Programa do Porchat, a atriz Zéze Motta comentou sobre a abertura de espaço para atores e atrizes negros na televisão. “As coisas estão mudando muito devagar. Tem mais espaço para o artista negro, mas tem muita luta pela frente. Organizamos um cadastro com 500 atores negros, porque as produções afirmam que não encontram”, salientou.

Ela também afirmou sobre a figura do afrodescendentes a serviçais. "Não tenho o menor problema em fazer a empregada doméstica, desde que ela faça parte da trama, não fique a reboque dos outros personagens. Eu ficava muito frustrada, pensava: ‘fiz curso de arte dramática no Tablado para abrir porta, fechar porta, servir cafezinho, ‘sim senhora’, ‘não senhora’?”, desabafou Zezé Motta.

No cinema, a conjuntura também é desanimadora. Um levantamento realizado pela Agência Nacional do Cinema (ANCINE) e divulgado em junho deste ano, mostra o cenário desigual na indústria cinematográfica no tocante a realização, direção, roteirizarão e elenco de curtas, longas e documentários. Os dados apresentados pela Ancine, durante a análise de 142 longas-metragens datados de 2016, mostram 13,3% de atores e atrizes negros no elenco geral dessas obras cinematográficas.

“Os dados alarmantes apresentam que é urgente conquistarmos esses lugares de fala. Outro dia, houve um debate super acalorado no Cinema São Luiz. Durante a estreia do longa a ‘Baronesa’, que é protagonizado por uma mulher negra, mas dirigido por uma mulher branca. É uma grande problemática, sabe? Os lugares de fala são representados desde a escrita do filme”, observa a jornalista Karol Pacheco.

Na pesquisa ‘A cara do cinema nacional: perfil de gênero e cor dos atores, diretores e roteiristas dos filmes brasileiros’, realizada pelo GEMAA – Grupo de Estudos Multidisciplinares da Ação Afirmativa da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, 2014, mostra que o cinema nacional tem gênero e cor, ou seja, ocupado por brancos e homens. Além disso, as produções, em sua maioria, apresentam a mulher negra de forma hipersexualizadas.

“A vulgarização e venda desse corpo sobre promessas de uma relação sexual incrível e ‘selvagem’. O ser mulher é totalmente deslocado e atribuido a mulher branca no senso padrão de beleza também. As mulheres negras são colocadas também com o padrão da mulher branca em suas expressões. Onde são silenciadas e colocadas no papel de omissas e de aceitação daquele destino dado”, ressalta Priscilla.

Karol salienta a série de performances #TECNOLOGIAASERVICODAORGIA, a qual aborda essa questão. "É um trabalho criado e realizado por uma negra periférica. Tem um peso diferente, o do lugar de fala. ‘Videoperformo’ sobre prostituição, assédio sexual, sobre indústria cosmética e erótica, masturbação e também sobre aborto e violência obstétrica. Toda uma cadeia sexual que oprime os nossos corpos de mulheres negras".

Será inaugurada sábado (9) a primeira livraria em São Paulo destinada a promover a literatura produzida por mulheres negras. O projeto foi batizado de Livraria Africanidades e o espaço batizado com o nome de Lá do Mato pela idealizadora do projeto, Ketty Valêncio, de 34 anos. Ela é formada em biblioteconomia e pesquisadora das questões de gênero e étnico-raciais. O local também servirá para oferecer treinamentos e workshops para empreendedoras e é o primeiro do tipo no Brasil.

“Nossa intenção é a celebração, já que criar um espaço de acolhimento e fortalecimento é uma forma de resistir. A maioria dos espaços que sempre estamos é de dominação masculina, de controle e queremos o oposto, ou seja, o espaço trará segurança para que possamos realizar atividades juntas, favorecendo a autonomia e o protagonismo”, disse Ketty Valêncio ao site Geledés.

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Além do espaço físico, há também a possibilidade de comprar as obras através site mantido por ela (http://www.livrariafricanidades.com.br).

 

Livraria Africanidades - Inauguração

Data: 09 de dezembro das 14h às 20h

Endereço: Rua Aimberê, 1.158, Perdizes – São Paulo, SP

Informações: http://www.livrariafricanidades.com.br/

A peça ‘A Receita’, do grupo O Poste Soluções Luminosas, está em cartaz, aos sábados, até o dia 26 de agosto no Espaço O Poste, localizado no bairro da Boa Vista, sempre às 20h. Os ingressos custam R$ 20 e R$ 10 e são vendidos na bilheteria do espaço.

O espetáculo promove uma reflexão sobre a violência doméstica sofrida pelas mulheres negras. Em cena, a atriz Naná Sodré traz a cultura de matriz africana, através das expressões corporais e vocais, para denunciar a condição de uma mulher negra, casada, mãe e que vive uma relação de submissão ao marido.

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“Eu queria trazer à tona temas caros a esse universo, discutir o papel da mulher na sociedade e a violência que tantas de nós sofremos. Em Pernambuco, onde a cada dia cresce o número de mulheres assassinadas por seus companheiros, como em cada canto do Brasil e do mundo”, afirma Naná.

‘A Receita’ teve sua primeira temporada em 2014, resultado do trabalho da atriz em conjunto com Eugênio Barba e Júlia Varley, durante o VI Masters-in-Residence, ocorrido em Brasília no ano anterior.  A peça tem a direção e dramaturgia de Samuel Santos.

Serviço

A Receita

Espaço O Poste (Rua da Aurora, 529, Boa Vista, Recife)

Sábado (19 e 26)| 20 h

R$ 20 R$ 10

Centenas de pessoas acompanharam neste domingo a III Marcha das Mulheres Negras, na Avenida Atlântica, na orla de Copacabana, zona sul do Rio.

A manifestação tinha como objetivo chamar a atenção para a desigualdade e a discriminação vividas diariamente por mulheres negras em todo o País.

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"Queremos mais respeito, mais dignidade. Nossa luta é pela igualdade, pelo respeito às mulheres negras. A cada 24 horas, 13 mulheres negras são assassinadas neste País", disse Eliana Custódio, uma das organizadoras da marcha.

De acordo com dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no ano passado, entre 2005 e 2015, o porcentual de negro e negras universitários saltou de 5,5% para 12,8%. No entanto, esse o crescimento positivo não é igual quando a análise é a ocupação de vagas no mercado formal de trabalho. Mesmo mais graduados, os negros continuam com baixa representatividade nas empresas.

Nas organizações, a desigualdade entre brancos e negros aparece de forma gritante. Segundo dados de uma pesquisa do Instituto Ethos, realizada no último ano, pessoas negras ocupam apenas 6,3% de cargos na gerência e 4,7% no quadro executivo, embora representem mais da metade da população brasileira.

Neste contexto, a presença de mulheres negras, em comparação aos homens, é ainda mais desfavorável: elas preenchem apenas 1,6% das posições na gerência e 0,4% no quadro executivo. A situação só se inverte nas vagas de início de carreira ou com baixa exigência de profissional, como em nível de aprendizes (57,5%) e trainees (58,2%).

Outro desafio da população negra é a disparidade salarial. Ainda que tenha diminuído nos últimos anos, os dados sobre desigualdade de renda continuam a registrar um desequilíbrio considerável entre brancos e negros no Brasil.

A Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do IBGE indica isso. No início de sua série histórica, em 2003, um negro não ganhava nem metade do salário de um branco (48%). Atualmente, pouca coisa melhorou. Fazendo a mesma comparação, em 2015, um negro passou a ganhar pouco mais da metade dos rendimentos de um branco (59%).

A atriz Taís Araújo ajudou a divulgar o evento.

O evento foi convocado pelo Fórum de Mulheres Negras do Estado do Rio de Janeiro. A concentração teve início às 10h, na altura do Posto 4, e deve terminar às 17h na praia do Leme, com a realização de uma feira de mulheres afroempreendedoras e roda de samba do grupo O Samba Brilha.

Pensando em mulheres negras importantes para a história do país, quantos nomes de escritoras, artistas plásticas e acadêmicas surgem facilmente na memória? Certamente poucas. Isso se deve ao escasso e difícil acesso que essas mulheres têm de ascender social e economicamente, em decorrência da estrutura racista que permanece muito viva no Brasil. No entanto, essas mulheres existem, deixaram e continuam deixando importantes legados para a cultura e ciência em nosso país. Confira 5 mulheres negras que superaram as adversidades e tornaram-se importantes nomes em suas áreas de atuação.

Carolina Aria de Jesus

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A incrível história da escritora que catava pedaços de papel no lixo para escrever seus diários, tornou-se livro e ganhou o mundo. Carolina de Jesus é uma mulher negra que viveu na periferia de São Paulo e escreveu sobre as alegrias e agruras de sua condição periférica.

Seu primeiro livro, derivado de seus diários, Quarto de Despejo, fala sobre sua origem humilde e de como é ser mulher e negra no Brasil dos anos 60. Carolina foi traduzida para 13 idiomas e seu livro roda o mundo sendo vendido em mais de 40 países.

Yêdamaria

Artista plástica nascida em Salvador, Yêdamaria estudou na Universidade federal da Bahia - UFBA e utilizava técnicas variadas em suas obras como litografia, gravuras e colagens. Suas obras têm um ar bucólico e delicado em que ela busca retratar cenas cotidianas como mesas de café da manhã ou paisagens marítimas.

No início dos anos 80, conclui seu mestrado na Universidade de Illinois (EUA) e volta com uma perspectiva mais voltada para as questões étnico-raciais em seus trabalhos.

Claudete Alves

Apesar de representarem 25% da população brasileira, o número de mulheres negras nas universidades ainda é tímido. Apesar disso, Claudete Alves venceu as adversidades e conquistou esse espaço tão almejado. Mestra em Ciências Sociais pela PUC - SP, tem como fruto de sua caminhada acadêmica o livro “Virou regra?”.

Na obra, Claudete questiona as relações amorosas inter-raciais e escancara a realidade fria apresentada pelos número do IPEA (2013), que confirmam que a maioria das famílias brasileiras são chefiadas por mulheres negras solteiras, e portanto, sós. A mestra desvela a temática da solidão da mulher negra e as razões pelas quais ocorre o preterimento destas, nas relações amorosas no Brasil.

Goya Lopes

Estilista baiana, Goya formou-se na escola de Belas Artes pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e fez especialização em Design, Expressão e Comunicação Visual pela Universitá Internazionale Dell’ Arte di Firenze, na Itália.

Trabalhando com estamparias africanas, Goya traz em seus trabalhos a ancestralidade negra como eixo norteador. Atualmente tem uma loja no bairro do Rio Vermelho na orla marítima de Salvador - BA.

Conceição Evaristo

Ativista do movimento negro desde os anos 80, Conceição Evaristo, assim como Carolina de Jesus vem de uma realidade de privações e pobreza de uma periferia, mas, assim como Carolina, a leitura foi um refúgio para suas angústias.

Seu interesse pela literatura firmou o caminho que em 2015 a levaria ao Prêmio Jabuti com o livro Olhos D’água.

O '25 de julho' - A data surgiu em 1992 quando o 1º Encontro de Mulheres Afro-latino-americanas e Afro-caribenhas foi realizado na República Domenicana para discutir as condições sociais das mulheres negras nos países latinos e no Caribe. O evento culminou com a criação da Rede de Mulheres Afro-latino-americanas e Afro-caribenhas e o 25 de julho sendo instituído em homenagem às mulheres negras latinas e caribenhas.

No Brasil, a ex-presidenta Dilma Rousseff sancionou a Lei nº 12.987/2014 que instituiu o Dia Nacional de Tereza de Benguela - líder quilombola revolucionária na luta anti-racista e escravagista - como um símbolo da luta das mulheres negras contra a opressão racista.

De férias em Bali, a atriz Isabella Santoni mostrou, na última segunda-feira (17), seu novo visual nas redes sociais. Na foto, Isabella aparece de tranças e escreveu a seguinte legenda: “Ahhhhhhh! Amando meu #hairbranding #bluehair #balifunk#bellaaventureira”

O visual dividiu opiniões entre os seguidores. Muitos acusaram a atriz de apropriação cultural. “Muito fácil ter 'estilo afro' sendo branca e nunca ter que passar por todos os preconceitos sociais que pessoas negras passam por assumir o mesmo estilo”, comentou uma seguidora.

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“Quando vão entender que afro não é uma simples tendência de moda e estilo. E sim cultura e forma de resistência do povo negro?”, escreveu outra internauta.

“Isa, você tá linda tá maravilhosa, ta perfeita o cabelo é seu faz o que quiser com ele, afinal você não é obrigada a nada”, defendeu uma fã.

Até o momento, a atriz não se manifestou sobre o caso. 

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Uma celebração que envolve música, empoderamento feminino e negritude agita o Roof Tebas, área central do Recife, nesta sexta-feira (7), a partir das 22h. O . Em sua edição de estreia, a festa recebe a cantora Larissa Luz, discotecagem de Lala K e Negrita MC.

Oloro da Preta é uma festa que busca dar visibilidade necessária para mulheres que são protagonistas no mercado fonográfico, dando prioridade às mulheres negras e de luta, com trabalhos de combate ao racismo, machismo e a homofobia. "Queremos levar essas questões para o palco e dar acesso às pessoas a esses questionamentos. Larissa Luz é um ótimo exemplo de artista que combina com a proposta do nosso Oloro, realizando um trabalho que reverencia grandes nomes que fizeram diferença no empoderamento das pessoas negras", afirma Cinthia Fernanda, produtora do evento

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Serviço

Oloro da Preta

Sexta (7) | 22h

Roof Tebas (Rua da Concórdia, 934 - Bairro de São José)

 R$ 30 (primeiro lote) R$ 40 (segundo lote) R$ 50 (porta)

Uma apresentação provocante da banda Mulheres Negras abriu 10ª edição do Se Rasgum, terça-feira (17), no Teatro Margarida Schivasappa, em Belém. A programação da noite começou Liége e Natalia Matos, que esquentaram o clima para o grupo paulista. Os primeiros shows foram um convite ao festival alternativo, que se estende até o sábado (21).  

A paraense Liége foi a vencedora das seletivas realizadas pelo Se Rasgum em agosto e setembro deste ano. Com muita simpatia e descontração, a cantora e sua banda conquistaram o público com canções autorais e alguns covers com novos arranjos. A cantora trabalha para lançar seu primeiro EP em breve.

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A programação continuou com a artista convidada Natália Matos, que apresentou músicas do disco homônimo lançado no ano passado. A cantora e sua banda mostraram energia para cativar o público. Meio pop, meio MPB, o trabalho de Natália ganhou elogios no teatro.

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Interação - No show que fechou a primeira noite do Se Rasgum, André Abujamra e Maurício Pereira fizeram uma apresentação diferenciada no comando da banda Mulheres Negras. Os artistas também conversaram com a plateia e contaram histórias engraçadas.

Em certo momento do show, o vocalista André Abujamra caminhou até o público e formou uma fila com treze pessoas escolhidas aleatoriamente. O grupo caminhou pelo Margarida Schivasappa fazendo coreografias e garantiu o fim de uma noite animada. 

Com a proximidade do Dia da Consciência Negra, a ser comemorado no próximo dia 20, muitos pontos sobre a participação dos negros no mercado de trabalho começam a surgir e geram questionamentos sobre a igualdade entre raças em diversos setores de atuação. A Fundação Seade e o DIESSE, em parceria com a Secretaria da Micro e Pequena Empresa, Trabalho e Qualificação de Pernambuco (SEMPETQ-PE) e a Agência CONDEPE/FIDEM, aproveitaram este momento para divulgar uma pesquisa sobre a representatividade dos trabalhadores afro-brasileiros no estado de Pernambuco em 2014. Segundo o estudo, no cenário pernambucano, os negros representam quase 78% da População em Idade Ativa (PIA) e da População Economicamente Ativa (PEA). Porém, apesar dessa maioria apontada nos números, o rendimento financeiro deles é menor que os dos não-negros: R$6,61. Enquanto isso, o valor recebido pelos não negros é de R$ 9,08, uma diferença que corresponde a 72,8%. 

Outro índice destacado corresponde à taxa de desemprego dos negros no Recife. Em 2014, a taxa média geral de desemprego na capital pernambucana foi de 12,4%, ficando abaixo da observada em 2013 (13%). Quando a análise é feita a partir da cor e do sexo, as mulheres negras apresentam taxas mais elevadas de desemprego em relação aos demais grupos. No ano passado, a diferença foi 15,3% para as mulheres afro-brasileiras e em relação aos homens não negros que foi de 8,7%. 

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Outros dados correspondem aos setores em que os negros possuem vínculos empregatícios. De acordo com a pesquisa, os maiores números são para a área de construção, com uma participação de 9,1% dos negros recifenses. 

 

Em um ano, morreram assassinadas 66,7% mais mulheres negras do que brancas no Brasil. Essa é uma das conclusões do Mapa da Violência 2015, que será divulgado nesta segunda-feira (9) pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso), e que, nesta edição, foca na violência de gênero no País.

O estudo foi considerado inovador pela representante da ONU Mulheres Brasil, Nadine Gasman, ao revelar a "combinação cruel" que se estabelece entre racismo e sexismo: em uma década (a pesquisa abarca o período de 2003 a 2013), os feminicídios contra negras aumentaram 54%, ao passo que o índice de mortes violentas de mulheres brancas diminuiu 9,8%.

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No total, em 2013, 4.762 mulheres foram assassinadas no País, posicionando-o no quinto lugar no mundo - só está melhor que El Salvador, Colômbia, Guatemala e Federação Russa. Foram 13 homicídios femininos por dia: uma mulher morta a cada 1h50min. É o equivalente a exterminar todas as mulheres em 12 municípios do porte de Borá (SP) ou Serra da Saudade (MG), que têm menos de 400 habitantes do sexo feminino.

"As mulheres negras estão expostas à violência direta, que lhes vitima fatalmente nas relações afetivas, e indireta, àquela que atinge seus filhos e pessoas próximas. É uma realidade diária, marcada por trajetórias e situações muito duras e que elas enfrentam, na maioria das vezes, sozinhas", diz Nadine.

Os dados, julga ela, denunciam uma "bárbara faceta do racismo", sendo urgente acelerar respostas institucionais concretas em favor das mulheres negras. O Dia da Consciência Negra, celebrado no dia 20, motivou a escolha do mês de lançamento da pesquisa.

O Mapa da Violência conclui que a população negra é vítima prioritária da violência homicida no Brasil, enquanto as taxas de feminicídio contra a população branca tendem, historicamente, a cair. Em uma década, o índice de vitimização das negras - cálculo que resulta da relação entre as taxas de mortalidade de ambas as raças - cresceu 190,9% em todo o País, número que ultrapassa os 300% em alguns Estados, como Amapá, Pará e Pernambuco.

Diferenças entre Estados

Os Estados com maiores taxas de feminicídio de negras são Espírito Santo, Acre e Goiás. O número de mulheres negras assassinadas só diminuiu em Rondônia e em São Paulo. Nem a Lei Maria da Penha, que entrou em vigor em 2006, foi capaz de encolher a estatística. Depois da promulgação da lei, apenas cinco Estados registraram queda nas taxas.

A vitimização das mulheres negras veio em uma escalada íngreme entre 2003 e 2012, mas sofreu queda em 2013. Ainda é cedo para comemorar, no entanto. Conforme os procedimentos metodológicos do Mapa da Violência, esse aspecto só se configura como real tendência se houver três anos consecutivos de diminuição.

Servidora pública e membro do coletivo Pretas Candangas, de Brasília, Daniela Luciana ressalta que há um tipo de violência contra a mulher negra que não pode ser mensurada em números: a simbólica.

"Somos violentadas desde a hora em que acordamos até a hora de dormir, por conta do estereótipo, da invisibilidade e da pouca presença em espaços de poder", afirma Daniela. O grupo organiza para o dia 18, na capital federal, a Marcha das Mulheres Negras, pelo fim da violência contra a mulher.

Ambiente doméstico

O Mapa da Violência revela, ainda, que 55% dos crimes de violência de gênero no Brasil foram cometidos no ambiente doméstico - e que 33,2% dos homicidas eram parceiros ou ex-parceiros das vítimas. Isso significa que, a cada 10 mulheres com mais de 18 anos, quatro foram mortas pelos companheiros ou ex-companheiros, que usaram, com maior prevalência, força física ou objeto cortante. As armas de fogo são mais comuns nos assassinatos de homens.

"A violência contra a mulher é um problema de saúde pública, que ocorre em diversas regiões do País e do mundo. Divulgar dados e estudos sobre esse tema ajuda a compreender a dimensão do problema e pôr fim a esta prática", afirma o representante da Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde (Opas/OMS) no Brasil, Joaquín Molina. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O prêmio Mulheres Negras contam sua História, da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República (SPM-PR), em trabalho conjunto com Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), está com inscrições disponíveis até o dia 25 deste mês. Podem participar do evento apenas mulheres autodeclaradas negras.

As candidatas poderão participar da competição educativa com redações e ensaios, contando a história e a vida das afro-brasileiras na construção social do Brasil. “Redação", com texto de no mínimo 1.500 até o máximo de 3 mil caracteres, e "Ensaio", com textos de 6 mil a 10 mil caracteres, são as duas categorias do prêmio.

Ao todo, cinco concorrentes serão premiadas em cada uma das categorias, e os prêmios podem ser de R$ 5 mil ou R$ 10 mil. O intuito da ação é promover a inclusão social das mulheres negras através do fortalecimento da reflexão sobre as desigualdades sociais vividas por essas mulheres em seu cotidiano, no universo profissional, e em outros grupos sociais.

As candidatas deverão enviar os textos para o contato eletrônico premiomulheresnegras@spmulheres.gov.br. Outra alternativa é enviá-los pelos Correios para o seguinte endereço: Prêmio Mulheres Negras contam sua História - Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República - Praça dos Três Poderes Via N1 Leste, sem número, Pavilhão das Metas, CEP 70150-908, Brasília-DF.

Mais informações sobre o evento podem ser conseguidas pelos telefones (61) 3411-4214 ou 3411-4228. Outros detalhes informativos também podem ser consultados pela chamada pública da ação.

A Prefeitura do Recife, por meio da Secretaria da Mulher, promove, nesta quinta-feira (17), a roda de diálogo “O Racismo e as Mulheres Negras”. O evento, que está dentro da programação do Mês da Consciência Negra, será aberto ao público e acontece das 8h às 13h, no auditório Capiba, no 15º andar do edifício-sede da Prefeitura (Avenida Cais do Apolo, 925, Bairro do Recife). Cerca de 150 mulheres devem participar do encontro.

O objetivo do projeto é fazer com que o público presente fique atento a forma com que as mulheres negras lidam com a questão do racismo. Os debates serão intermediados pelas convidadas Ana Paula Maravalho, representante da ONG Observatório Negro, e pela pesquisadora e ativista Claudilene Rodrigues.

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“A mulher negra faz parte da construção histórica do Recife, na medida em que 56% da população feminina é de afrodescendentes, de acordo com dados do Dieese em 2005. No entanto, essa parcela da população, apesar de numerosa, ainda se encontra em situação de trabalho precarizado, onde o racismo ainda é muito presente na estrutura social. Estamos no Ano Internacional dos Povos Afrodescendentes, então é pertinente colocar a questão do racismo em evidência”, analisa a secretrária da Mulher, Rejane Pereira. 

Ainda dentro da programação, em torno do Mês da Consciência Negra, a Prefeitura promoverá, nos dias 22 e 23 de novembro, uma capacitação para mulheres conselheiras e gestoras em relação ao Plano de Políticas para as Mulheres. O evento será aberto ao público, mas os cursos serão específicos para servidoras da administração municipal. O encontro acontecerá no Centro Educacional Paulo Freire, rua Real da Torre, 299, Madalena, das 9h às 17h.

 

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