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Com mais de um ano de pandemia da covid-19, especialistas alertam para um cenário preocupante: notícias em excesso causam impactos negativos no estado psicológico das pessoas, provocando pânico e medo. Mais alarmante ainda é a divulgação diária e crescente do número de mortes
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Além das perdas e da nova rotina, o isolamento incomoda adultos e crianças. “Meu filho é um recém-nascido e é impactado diretamente pela pandemia. Não pôde conhecer os familiares, não pôde receber visitas em casa nem na maternidade. Meu filho não pode nem passear no carrinho na rua ou ir à praça passear no carrinho. Ele é obrigado a ficar dentro de casa, para a própria segurança, assim como todos nós”, relata a publicitária Lídia de Menezes.
Os telejornais abordam diariamente a covid-19. O número de mortes faz parte das pautas, deixando as pessoas mais cautelosas e ao mesmo tempo mais preocupadas.
Ana Cristina Costa França, psicóloga e professora do curso de Psicologia na UNAMA - Universidade da Amazônia, acredita que esse “novo normal” ainda vai durar bastante tempo e que a crise generalizada que se configurou com a pandemia tem causado impactos nas mais diferentes esferas.
“Em crise, há uma tendência a comportamentos/pensamentos extremos, do tipo 'tudo ou nada'; encontramos desde os 'negacionistas' até os 'paranoicos'. Ambos são prejudiciais, o ideal seria encontrar o 'meio termo', nem minimizar a situação, nem se tornar monotemático em torno do assunto”, observa a psicóloga.
Ana Cristina aponta que os negacionistas e os paranoicos demonstram uma visão egoísta da situação, "esquecendo que somos seres coletivos, sociais e que o bem comum deveria ser a principal preocupação". Ela também afirma que não existe “grupo de risco”, mas “comportamento de risco”.
“Buscar excesso de informações é prejudicial para a saúde emocional, mas ainda pior é quando não se leva em conta a fonte dessas informações: compartilhar 'notícias' através das redes sociais sem verificar a veracidade e espalhar fake news. Assim, saber a origem e veracidade é tão importante quanto evitar viver imerso e obcecado pelo tema”, explica.
Segundo a psicóloga, a quantidade de notícias a respeito de determinado assunto torna-se prejudicial para a saúde das pessoas quando esses pensamentos tomam conta da maior parte do dia delas: “Quando o dia gira em torno do tema, quando você não consegue desenvolver outras atividades, apenas as que estão relacionadas com a obsessão – o pensamento monotemático que invade sua mente a qualquer instante”.
Ana Cristina afirma que é possível controlar esse comportamento antes que a situação se agrave. A psicóloga diz que a medida de todas as coisas é o equilíbrio. “É claro que essa medida é muito subjetiva, e cada um deve procurar e encontrar esse limite. A medida é que não altere sua rotina e não se torne um pensamento 'obsessor'. E claro, cuidado com a fonte dessas informações”, orienta.
Para que não haja uma sobrecarga causada pelo excesso de informações, Ana Cristina diz que é importante desenvolver hábitos que evitem esse excesso. “Fazer os que os jovens tanto falam: 'inspira, respira e não pira'. Ter uma rotina (hora para acordar, dormir, se alimentar, se exercitar), fazer atividades prazerosas e diminuir o acesso às redes sociais; quando buscar informações, o faça em fontes confiáveis. Nosso cérebro só consegue fazer uma coisa de cada vez: substitua hábitos ruins por hábitos saudáveis. Os resultados serão duradouros e manterão sua saúde emocional”, complementa.
A psicóloga afirma que não há dúvidas de que estamos vivendo um novo paradigma de realidade e que coronavírus, covid-19, pandemia, entre outros, são algumas palavras que fazem parte do nosso cotidiano há mais de um ano e que vão continuar por muito tempo.
“As ondas e variações do vírus - e uma onda que considero ainda mais grave, a da saúde mental – fazem e farão parte da nossa rotina por muito tempo. Se mudamos a forma como encaramos o problema, mudamos o problema. Vamos aproveitar que estamos vivos e respirando, exercitar nossa paciência, nossa autoestima e nosso autoconhecimento. Vai passar, afinal tudo na vida passa”, finaliza Ana Cristina.
A perspectiva do jornalista
O olhar do jornalista sobre sua importância no contexto pandêmico é de que o jornalismo se fortalece como principal veículo para garantir o acesso à informação para a população. A jornalista Sheila Faro, ex-presidente do Sindicato dos Jornalistas no Estado do Pará (Sinjor), membro da Academia Paraense de Jornalistas e proprietária da empresa de consultoria Faro Assessoria e Consultoria, destaca que a informação é fundamental para o combate ao vírus. "Então, conhecer as formas mais seguras de proteção e disseminar isso por meio do jornalismo é o que mostra a importância suprema do jornalismo”, comenta.
Sheila também cita a relevância do jornalismo em relação às fake news. Além de informar, alertar e trazer dados reais sobre a pandemia, assinala, deve-se também combater essa desordem de informação. A jornalista também alega que a desinformação tem sido responsável pelo aumento do número de mortes por covid-19, já que as pessoas acabam recebendo informação errada sobre tratamentos, curas.
Para Sheila, o jornalista deve se posicionar, ao noticiar sobre o novo coronavírus, de forma ética, responsável e comprometida com a população, de modo que ela tenha acesso aos dados reais sobre a covid-19. A jornalista também fala sobre empatia. “Nós, antes de sermos jornalistas, somos, em primeiro lugar, pessoas. Então uma das formas de não permitimos esse excesso é a gente se colocar no lugar do outro. O próprio período da pandemia tem nos feito ser mais empáticos”, complementa.
Sheila também pondera a respeito de como divulgar a informação. “Informar-se antes de maneira saudável é como ler uma bula antes de tomar o remédio. Precisamos saber que fonte é aquela, que sensação aquilo vai gerar, filtrar as informações, saber se a fonte é segura ou não. Infelizmente também existem jornalistas que não têm tanto compromisso com a informação, só fazem disseminar notícias falsas, esse desserviço para com a população.”
A jornalista ainda acrescenta: “Acho que esse é o momento da gente exercitar em todas as áreas da nossa vida, um pouquinho mais de 'O que é o amor?', de como podemos mudar esse momento, de como podemos mudar a nossa profissão, de como podemos mudar a nossa vida, em favor do amor, em favor de outrem”, finaliza Sheila.
Por Alessandra Nascimento e Isabella Cordeiro.