O Papa Francisco chegou na tarde de quinta-feira a Nova York para cumprir uma agenda frenética de 36 horas, após seu discurso histórico no Congresso americano, em Washington, onde pediu mais ação pelos imigrantes, o combate às mudanças climáticas e a abolição da pena de morte.
Sorridente, o sumo pontífice de 78 anos foi recebido pelo bispo do Brooklyn (sudeste de Nova York), Nicholas DiMarzio, sendo ovacionado por dezenas de pessoas no aeroporto JFK, antes de embarcar em um helicóptero que o levou a Manhattan para seu primeiro compromisso, na catedral de São Patrício, na Quinta Avenida.
Sob um rígido dispositivo de segurança, Francisco teve uma impressionante ovação na avenida mais célebre de Manhattan.
Milhares de pessoas saudaram a passagem do papamóvel pela Quinta Avenida, rumo à catedral, em uma nova demonstração do fervor popular despertado por sua visita aos Estados Unidos.
"Estou muito feliz, é importante. É o nosso Papa", disse à AFP Dolores Prebo, uma mãe equatoriana que mora no Queens (nordeste) e que chegou de madrugada às proximidades da igreja, levando o filho de um ano e meio.
O governador de Nova York, Andrew Cuomo, o prefeito Bill de Blasio e o arcebispo da cidade, Timothy Dolan, receberam o pontífice argentino na porta da catedral, lotada por 2.500 pessoas, a imensa maioria membros do clero.
Durante a missa vespertina, o papa enviou uma mensagem de solidariedade aos muçulmanos pela "tragédia" provocada por um tumulto durante a peregrinação em Meca, no qual morreram 717 pessoas e outras 863 ficaram feridas.
O pontífice expressou sua "proximidade diante da tragédia que seu povo sofreu hoje em Meca". "Neste momento de oração, me uno e nos unimos em súplica a Deus, nosso pai, todo poderoso e misericordioso", acrescentou em sua homilia.
Esta é a segunda etapa da viagem americana do Papa, carregada de política e emoção, que terminará no fim de semana, na Filadélfia.
Francisco discursará na sexta-feira na Assembleia Geral da ONU, presidirá uma cerimônia ecumênica no Museu do 11 de Setembro, visitará uma escola no Harlem, liderará uma procissão no Central Park e encerrará sua visita com uma missa no Madison Square Garden.
Emoção no Congresso
Primeiro líder da Igreja católica a participar de uma sessão das duas câmaras do Congresso americano em Washington, Francisco fez um discurso de forte tom político para mais de 500 deputados e senadores, magistrados da Suprema Corte e membros do Executivo, entre os quais estava o vice-presidente, Joe Biden.
Diante de "uma crise de refugiados sem precedentes desde os tempos da Segunda Guerra Mundial" e do drama dos latino-americanos que "se veem obrigados a viajar para o norte", este Papa, "filho de imigrantes" pediu uma resposta "justa e fraterna" dos governantes.
"Não devemos nos deixar intimidar pelos números, melhor olhar para as pessoas, seus rostos, ouvir suas histórias, enquanto lutamos para assegurar-lhes nossa melhor resposta à sua situação. Uma resposta que sempre será humana, justa e fraterna", acrescentou em seu discurso de pouco menos de uma hora e proferido em inglês com forte sotaque.
Ao mesmo tempo em que os Estados Unidos discutem o destino de milhões de imigrantes em situação irregular procedentes de México e América Central, o primeiro Papa proveniente do continente americano afirmou: "vamos evitar uma tentação contemporânea: descartar tudo o que incomoda".
Diante de uma maioria de legisladores favoráveis à pena capital, em um país que pratica várias execuções ao ano, o jesuíta argentino exigiu "a abolição mundial da pena de morte".
"Ações corajosas"
O sumo pontífice pediu "ações corajosas" diante das mudanças climáticas, um dos muitos temas com os quais coincidiu na quarta-feira na Casa Branca com o presidente Barack Obama, mas que divide os congressistas.
"Estou convencido de que podemos marcar a diferença e não tenho nenhuma dúvida de que os Estados Unidos e este Congresso são chamados a ter um papel importante", disse Francisco, referindo-se à necessidade de implementar o que denominou de uma "cultura do cuidado".
Os conservadores, maioria no Congresso, o receberam com cortesia e demonstraram em poucas ocasiões seu desacordo, como quando se negaram a aplaudir os comentários do Papa sobre o meio ambiente.
Mas saudaram de forma veemente suas palavras sobre a família, "ameaçada", e sua defesa da vida "em todas as etapas de seu desenvolvimento", uma alusão ao aborto.
"A família está talvez ameaçada como nunca antes", destacou Francisco, ovacionado de pé, uma das muitas vezes durante sua fala, para a qual os congressistas receberam pedidos dos eleitores para obter um cobiçado convite.
Em tom conciliador, Francisco saudou esta "terra dos sonhos", evocando grandes personalidades americanas, como Abraham Lincoln e Martin Luther King, cuja mensagem "continua ressoando nos nossos corações".
O pontífice advertiu os legisladores para o risco do fundamentalismo, religioso ou não, e pediu para que se evite a tentação do "reducionismo simplista" de dividir a realidade entre bons e maus.
Também apoiou "a coragem" de encontrar soluções para tensões internacionais, uma alusão indireta aos diálogos abertos pelos Estados Unidos com Cuba e o Irã. Pediu, ainda, o fim do comércio de "armas letais vendidas àqueles que pretendem infligir um sofrimento indescritível".
"Rezem por mim"
Em seguida, Francisco se dirigiu a uma sacada, onde falou para mais de 50 mil pessoas reunidas desde a madrugada aos pés da colina do Capitólio.
Saudando a multidão com "buenos días" (bom dia, em espanhol), o Papa arrancou vivas dos assistentes, para os quais pediu, também em espanhol: "rezem por mim", "desejem-me coisas boas".
Após a visita ao Congresso, o Papa teve um encontro com pessoas sem-teto em uma igreja de Washington, onde criticou a "injustiça" da falta de alojamento.
"Não encontramos nenhum tipo de justificativa social, moral ou do tipo que fosse para aceitar a falta de alojamento. São situações injustas, mas sabemos que Deus está sofrendo conosco, está vivendo do nosso lado. Ele não nos deixa sós", disse.