Pré-candidato do Republicanos ao governo paulista, o ex-ministro da Infraestrutura Tarcísio de Freitas, de 46 anos, representa o presidente Jair Bolsonaro (PL) na disputa, mas rejeita a narrativa radical, uma marca da militância bolsonarista.
Engenheiro civil, Tarcísio chegou ao Departamento Nacional de Infraestrutura e Transportes (Dnit) em 2011 como diretor executivo. Em 2014, assumiu a direção-geral da autarquia no governo Dilma Rousseff. Foi só em setembro do ano passado que o carioca alugou um apartamento em São José do Campos, no interior paulista, e se mudou para o Estado que pretende governar. A seguir, trechos da entrevista, concedida ao Estadão no recém-inaugurado comitê, na Vila Mariana, zona sul da capital.
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Até que ponto o bolsonarismo sustenta ou limita seu crescimento nas pesquisas?
O presidente (Jair) Bolsonaro ajuda. É um governo que teve muita entrega, mas que pecou na narrativa em algumas questões. A narrativa muitas vezes se dissocia do que aconteceu na realidade. Tenho um estoque de realizações para mostrar. Vou mostrar os avanços do ponto de vista fiscal, de reformas pró-mercado e de entrega de políticas públicas. Por outro lado, vou também estabelecer as diferenças que existem entre o presidente e eu.
E quais são?
Somos pessoas diferentes, com perfis diferentes. Eu tenho uma cultura muito voltada para o resultado. Não mantive uma postura ideológica na condução do Ministério da Infraestrutura. Sempre tive uma postura muito pragmática. Convivia com o mercado o tempo todo.
À frente do Dnit, o senhor foi um quadro importante do governo Dilma Rousseff. Como foi trabalhar em um governo do PT?
Fui para lá em uma situação muito sui generis, como interventor. Eu era funcionário de carreira da Controladoria-Geral da União (CGU) e estava coordenando as auditorias na área de transporte. Houve o afastamento de toda cúpula do Ministério dos Transportes e da diretoria do Dnit por questões relacionadas a sobrepreço. Naquela época, o Dnit vinha de seis operações de Polícia Federal na sequência. Naquela situação de crise me chamaram para ser uma espécie de interventor para restabelecer a governança e afastar o Dnit das páginas policiais.
Onde o senhor se coloca no espectro político?
Sou de centro-direita, conservador nos costumes e liberal no pensamento econômico.
O que significa ser conservador nos costumes?
Defendo a família, sou contra o aborto, contra descriminalização das drogas. Sou bastante conservador, principalmente na defesa da infância, dos costumes e na defesa dos valores da família.
Como um liberal na economia, como enxerga a avaliação de que o atual governo está gastando demais e adotou uma linha populista com as finanças?
Vamos aos dados. Todo mundo previa que o Brasil teria R$ 250 bilhões de déficit no ano passado, mas teve R$ 65 bilhões de superávit. Tivemos o melhor resultado de Estados e municípios desde 1991 por ajuda e apoio do governo federal. Tivemos a primeira redução de despesas administrativas desde a Constituição de 1988. Não é correto afirmar que houve descompromisso com a situação fiscal.
Na sua opinião, o PSDB deixou legado positivo para São Paulo?
Deixou, claro. Sem dúvida. São Paulo é um Estado que está estruturado e que tem uma burocracia bastante arrumada. Fizeram ajustes importantes no passado. Eu cito o ajuste feito pelo Mário Covas, que foi um grande governador (1995-2001). Mas a partir daí o Estado andou pela inércia. Mário Covas foi um grande governador porque fez reformas estruturais.
O senhor é contra ao uso de câmeras no uniforme dos policiais?
O monitoramento do bandido é muito mais eficaz e mais barato que o do policial. Uma tornozeleira eletrônica custa quase um terço do valor de uma câmera. O questionamento que eu faço logo na largada é porque não monitorar mais bandidos do que policiais. Além disso, vejo uma inibição da atividade policial com a câmera. Isso tem sido relatado pelo policial que está na ponta da linha.
O que acha da proposta de cobrança de mensalidade nas universidades públicas?
Sou contra. É possível aumentar a oferta de vagas gerando recursos dentro da própria universidade a partir das parcerias.
Na sua avaliação, São Paulo é hoje um Estado mais antipetista ou antibolsonarista?
Pela sua natureza empreendedora e o foco liberal, São Paulo por essência tem que ser antipetista e antiesquerda. O pensamento de esquerda não cabe em São Paulo.
Por quê?
Porque é um Estado empreendedor e do capital.
Como explica então o fato de Fernando Haddad (PT) se manter na liderança das pesquisas de intenção de voto em um Estado considerado conservador?
Ele tem muito recall. A última eleição que ele disputou foi de presidente da República. Mas observe que ele não tem muito para onde crescer agora. Já tem um nível de conhecimento alto do eleitorado, uma rejeição alta e um voto consolidado. Haddad não tem muito mais mobilidade.
Sua campanha será casada com a do presidente, com materiais e programas eleitorais conjuntos?
Vou defender o legado desse governo, que combateu a corrupção e entregou obras importantes.
O orçamento secreto e a relação com o Centrão serão legados do atual governo federal?
Observe, você precisa de governabilidade. O orçamento secreto é uma questão do Congresso. Foi o Parlamento que definiu as emendas de relator, e não o governo. O Parlamento tem governança sobre o Orçamento e decidiu a natureza das emendas.
O governador Rodrigo Garcia (PSDB) é o seu principal adversário no 1.° turno?
Vejo muita dificuldade para ele chegar ao 2.° turno devido ao desgaste do PSDB em São Paulo. Há um cansaço do eleitor paulista com o PSDB. A gestão dos últimos quatro anos deixou muito a desejar. E falta (ao Rodrigo Garcia) estar colado em um candidato presidencial forte.
Representantes do PSDB dizem que São Paulo sofreu retaliação da sua pasta na gestão Bolsonaro. Citam um dado: queda de 36,5% dos investimentos em relação ao governo Michel Temer.
Eles mesmo sabem que isso não é correto. É uma narrativa eleitoral. É preciso avaliar a ajuda que o governo federal deu no combate à pandemia. O governo postergou o pagamento dos serviços da dívida, que representou um estoque de caixa estrondoso para São Paulo.
Mas no caso das obras da Rodovia Rio-Santos, por exemplo, o trecho paulista não foi contemplado...
Isso é dor de cotovelo porque a gente fez um leilão muito bem sucedido da Nova Dutra. Isso dá uma certa inveja e eu até entendo. A gente conseguiu trazer R$ 15 bilhões de investimento reduzindo tarifa. O governo de São Paulo tinha que se preocupar com o trecho paulista da Rio-Santos.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.