A empresa agroalimentar francesa Spanghero negou nesta sexta-feira (15) ser responsável pela fraude de pratos pré-cozidos que continham carne de cavalo apesar de serem apresentados como produtos com carne bovina, um caso que envolve 13 países europeus.
A Spanghero negou as acusações do governo francês que a apresentou como principal responsável pela fraude. "Não sei quem" é o causador desse escândalo, "mas, certamente, não somos nós", disse o chefe da empresa, Barthelemy Aguerre, em declarações a uma rádio.
"O governo se apressou" em suas acusações. "Acredito que demonstrarei nossa inocência", acrescentou.
O ministro francês de Consumo, Benoît Hamon, tinha afirmado na quinta-feira que Spanghero cometeu um "erro econômico" e prometeu "sanear a cadeia" da confecção de pratos cozidos.
Esta sociedade "sabia que revendia carne de cavalo como carne bovina que havia chegado até ela com a etiqueta aduaneira correspondente", afirmou Hamon.
Uma equipe de veterinários começou nesta sexta-feira a controlar a empresa, situada em Castelnaudary (sudoeste da França). Seus 300 operários estão parados desde quinta-feira, devido à decisão do governo de retirar suas autorizações sanitárias.
O escândalo, que envolve 750 toneladas de carne que seriam usadas na fabricação de mais de 4,5 milhões de pratos, adquiriu uma nova dimensão sanitária na quinta-feira, com a descoberta na Grã-Bretanha de um medicamento potencialmente nocivo para o homem em várias carcaças.
Nesta sexta-feira, a União Europeia aprovou um plano para combater a fraude. "Os estados membros aprovaram o plano da Comissão Europeia para detectar a fraude na comercialização da comida", anunciou a CE, que especificou que ele será posto em prática "imediatamente".
O plano busca estabelecer a "presença de carne de cavalo não declarada nas etiquetas" dos produtos e detectar "resíduos de fenilbutazona", através de testes de DNA.
Os testes serão realizados durante o mês de março e os resultados devem estar prontos até 15 de abril.
"Os consumidores esperam que a UE, as autoridades nacionais e todos os que participam na cadeia alimentar lhes deem as garantias que necessitam sobre os ingredientes que seu prato tem", disse o comissário europeu de Salud e Consumo, Tonio Borg.
O comissário europeu responsável pela Saúde, Tonio Borg, negou nesta sexta-feira que houvesse um problema de "segurança sanitária", afirmando que se tratava de um problema de "etiquetagem".
Bruxelas esclareceu que, além de se comprometer a encontrar o responsável pela fraude, só atuaria diante de um alerta sanitário, como a epidemia de 2011 da bactéria E. coli, que causou mais de 4.000 contaminações e cerca de 50 mortos. Contudo, se não há risco sanitário a competência recai nos Estados membros.
O escândalo, que começou em janeiro no Reino Unido, onde a carne equina é culturalmente considerada tabu, se internacionalizou na semana passada com a descoberta na Inglaterra de lasanhas da marca sueca Findus fabricadas pela empresa francesa Comigel com carne supostamente romena que transitou pela Holanda e Chipre antes de chegar à fornecedora Spanghero.
Vinte e nove produtos a base de carne bovina em uma mostra de 2.501 analisados pela indústria alimentar no Reino Unido continham mais de 1% de carne de cavalo, anunciou nesta sexta-feira, a Agência de Segurança Alimentar (FSA) britânica.
Entretanto, outros países europeus anunciaram nesta sexta-feira que tinham detectado ou que tinham suspeitas de que pudesse haver carne de cavalo em produtos comercializados em seus territórios.
O grupo norueguês de distribuição NorgesGruppen anunciou que tinha confirmado a presença de carne de cavalo em lasanhas vendidas em seus estabelecimentos antes que fossem retiradas da venda.
Na Áustria, foram encontrados vestígios de carne de cavalo não declarada em massa recheada com "carne bovina" fabricada pela empresa alemã Gusto GmbH, segundo a Agência Austríaca para a Saúde e a Segurança Alimentar.
Na Dinamarca, a televisão pública afirmou que as autoridades sanitárias estavam realizando investigações sobre um matadouro que poderia ter introduzido carne de cavalo em "carne bovina" destinada a fabricantes de pizza.
Na Alemanha, foi informado pela primeira vez na quinta-feira que foi encontrada carne de cavalo em lasanhas baratas de dois grandes supermercados.
Também na quinta-feira, após anunciar que haviam detectado um anti-inflamatório potencialmente daninho para a saúde humana em oito carcaças, as autoridades britânicas realizaram as três primeiras detenções.
A fenilbutazona, um medicamento comumente utilizado em equinos, mas com uso limitado em humanos devido a possíveis efeitos adversos para a saúde, está proibida na cadeia alimentar pela União Europeia (UE).
Contudo, o Ministério da Saúde britânico minimizou os efeitos deste medicamento, que é receitado também a adultos com formas severas de artrite ou ataques agudos de gota.
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