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De acordo com os dados divulgados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), mais da metade dos inscritos não compareceu à prova do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio). Devido à quarentena, a forma de preparação do exame foi adaptada para o ensino remoto. Porém, com a falta de acesso e as complicações impostas pelo contexto, muitos alunos relataram dificuldades com o estudo ou sequer obtiveram uma preparação adequada.
##RECOMENDA##A edição de 2020, realizada em janeiro de 2021, escancarou desigualdades sobre a modalidade de ensino adotada. Para a estudante Kezia Farias, moradora do interior da cidade de Viseu, no Pará, as dificuldades começaram com a falta de suporte para o Enem. A ex-aluna do ensino médio, da rede pública, alegou que o ensino era apenas com intuito de conclusão do ano letivo, uma vez que as atividades realizadas foram repassadas via aplicativos de bate-papo. “Houve muitas dificuldades com os assuntos caídos na prova, já que praticamente não obtivemos nenhuma base”, disse.
A crise gerada pela pandemia evidenciou essas desigualdades existentes no país e, consequentemente, o contraste na preparação dos alunos. A estudante Ágata Abreu afirma que teve uma boa preparação para o exame, porque obteve acesso aos recursos necessários para o seu aprendizado. “Eu tinha equipamentos, e isso é uma das coisas principais, eu tive oportunidades, enquanto tem gente da rede pública que não tem equipamento, não tem aula, não tem internet, então eu tive esse privilégio”, afirmou.
Devido ao cenário de crise, o isolamento social intensificou os problemas para adaptação ao sistema remoto. A vestibulanda comentou que permanecer durante muito tempo em frente à tela durante as aulas gerou um cansaço demasiado. “A principal forma de se adaptar foi a questão de organização, saber as suas limitações e entender que é para um bem maior: a sua saúde”, disse Ágata.
Medidas específicas precisaram ser tomadas para que a prova fosse aplicada com mais segurança. No entanto, alguns procedimentos essenciais foram frágeis durante o processo, principalmente em relação às ações de distanciamento e de higienização. “Foi uma experiência diferente de outras provas que eu já tinha participado. Apesar de algumas coisas terem sido bem diferentes, eu esperava mais em relação a cuidados. Muitas coisas prometidas não foram cumpridas. Os estudantes não foram ouvidos, tanto no adiamento da prova, quanto no momento de fazer a prova, pois foram prometidas salas com a capacitação reduzida e não houve isso”, concluiu a estudante.
Em meio à preparação para o exame, muitos alunos desenvolveram desgastes emocionais, ocasionando a abstenção. De acordo com Marcos Pereira, professor do cursinho alternativo da Universidade Estadual do Pará (Uepa), foi necessário trabalhar no campo da motivação, já que o desânimo e a desconfiança pairavam sobre os alunos. “Tive que buscar uma abordagem mais dinâmica e humanizada para ensinar, pois nem todos os alunos podiam participar, uma vez que nem todos tinham acesso à internet”, explicou.
Para o professor, foi preciso adaptação tanto das questões técnicas em relação às plataformas de vídeo quanto da parte psicológica, devido ao emocional. Ele afirma que o ensino remoto foi um desafio para docentes e discentes. “Tivemos instabilidade, pois um dos impasses das aulas remotas era a instabilidade do áudio, vídeo e algumas intempéries devido ao áudio dos alunos estarem ligados”, concluiu.
Por Vitória Reimão e Gabriel Pires.