Biólogos anunciaram nesta terça-feira (10) ter desenvolvido uma nova arma contra a malária, ao criarem mosquitos geneticamente manipulados para produzir principalmente descendentes machos, levando, eventualmente, ao desaparecimento de uma população inteira de insetos.
A técnica de seleção sexual produz uma geração de mosquitos em que 95% são do sexo masculino, enquanto nas populações normais este percentual corresponde a 50%, reportaram os cientistas em artigo publicado na revista Nature Communications.
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Restam tão poucas fêmeas que a população de mosquitos eventualmente desaba, reduzindo o risco de que os humanos entrem em contato com o parasita da malária, transmitido pelas fêmeas que se alimentam de sangue.
"A malária é uma doença debilitante, com frequência fatal, e nós precisamos encontrar novas formas de combatê-la", afirmou o chefe do estudo, Andrea Crisanti, professor do Imperial College de Londres.
"Achamos que nossa abordagem inovadora representa um enorme avanço. Pela primeira vez, fomos capazes de inibir a produção de descendentes fêmeas em laboratório e isto nos dá novas formas de eliminar a doença", continuou.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a malária mata mais de 600.000 pessoas ao ano, sendo as principais vítimas as crianças pequenas da África subsaariana.
Resultado de seis anos de trabalho, o método se concentra nos mosquitos "Anopheles gambiae", os transmissores mais perigosos do parasita da malária.
'Um trabalho muito legal'
Os cientistas injetaram uma parte de enzima de DNA no código genético dos embriões de mosquitos machos. Basicamente, a modificação parte em pedaços o cromossomo X durante a produção de espermatozoides na idade adulta.
Como resultado, quase nenhum espermatozoide funcional continha o cromossomo X, que determina descendentes fêmeas. Ao contrário, a maior parte dos espermatozoides carregava o cromossomo Y, que produz machos.
Os mosquitos modificados foram testados em cinco jaulas, cada uma contendo 50 machos geneticamente modificados e 50 fêmeas silvestres normais. Em quatro das cinco jaulas, toda a população desapareceu em seis gerações devido à falta cada vez maior de fêmeas.
Os mosquitos machos modificados produziram apenas herdeiros machos modificados, que tiveram o mesmo tipo de descendentes até que não sobraram mais fêmeas. "A pesquisa ainda está no começo, mas estou muito esperançoso de que esta nova abordagem possa, enfim, levar a uma forma barata e eficaz de eliminar a malária de regiões inteiras", declarou um colega de Crisanti, Roberto Galizi.
Em um comentário independente, o especialista Michael Bonsall, da Universidade de Oxford, referiu-se à pesquisa como um "trabalho muito legal". "Isto tem implicações importantes para limitar a disseminação da malária", declarou à Science Media Centre britânica. "Será muito empolgante ver o avanço desta tecnologia específica", continuou.
Os cientistas já estão fazendo experimentos na natureza com mosquitos "Aedes aegypti", que transmitem a dengue, e que foram modificados para gerar descendentes que não chegam à idade adulta.
Eles sobrevivem durante apenas uma semana, enquanto mosquitos normais vivem um mês. O Brasil e a Malásia já soltaram nuvens desses insetos, e em janeiro o Panamá anunciou que também fará o mesmo.
No entanto, estes programas despertam a preocupação de ambientalistas, que chamam atenção para o impacto desconhecido de animais geneticamente modificados no equilíbrio da biodiversidade. Eles argumentam que se uma espécie de mosquito for eliminada de uma região, isto abriria a oportunidade para uma espécie concorrente - e potencialmente perigosa - vir à tona.