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O relógio marcava 0h39 da madrugada desta quinta-feira, 30, e já era feriado em Brasília quando a Câmara dos Deputados aprovou um pacote de projetos que acelera o envio de verbas a redutos eleitorais e diminui o controle sobre licitações de prefeituras. As propostas são criticadas por especialistas, que apontam riscos de desvios, falta de transparência e até formação de cartéis.

Um dos projetos, apresentado pelo deputado Otto Alencar Filho (PSD-BA), permite que prefeituras embarquem em licitações de outros municípios comprando os mesmos produtos dos mesmos fornecedores sem abrir uma nova licitação.

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O modelo é chamado de ata de registro de preços e serve apenas para compras recorrentes de coisas comuns, como copos descartáveis, materiais de limpeza e alimentos, mas já foi adotado em compras com suspeitas de irregularidades, como asfalto do orçamento secreto, kits de robótica com indícios de superfaturamento e bistecas nunca entregues em aldeias indígenas.

No total, foram aprovados quatro projetos apensados em uma única proposta, o que acontece normalmente quando propostas sobre o mesmo tema são apresentadas. O pacote foi aprovado com 307 votos favoráveis, 27 contrários e uma abstenção.

O relator, deputado Elmar Nascimento (União-BA), não estava mais na Câmara e quem leu o parecer foi o deputado Domingos Sávio (PL-MG). O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), também havia deixado o local antes da deliberação. A maioria dos deputados votou remotamente, pelo celular. No momento da aprovação, a quantidade de deputados presentes no plenário não passava de 50.

"Nós não sabemos o que estamos votando. Eu não posso nem ser contra, nem a favor, porque nós não sabemos", disse a deputada Julia Zanatta (PL-SC), que votou contra. O deputado Cabo Gilberto Silva (PL-PB) votou a favor e admitiu que foi "convencido" por líderes partidários que o projeto era bom, mas criticou a votação relâmpago na madrugada. "Precisamos ter previsibilidade e saber o que estamos votando", disse.

O bloco da Maioria, que reúne os partidos com o maior número de parlamentares, não orientou a votação. "Vou seguir a maioria e vou embora. A Maioria foi embora, presidente", disse o deputado Evair Vieira de Melo (PP-ES), provocando risos entre os colegas. Ele votou contra.

Projeto cria repasse antecipado antes da realização de obras em municípios

O pacote deve facilitar o envio de verbas federais, incluindo as emendas parlamentares, para prefeituras em 2024, ano de eleições municipais. Prefeitos pressionam congressistas por envio mais rápido de dinheiro e entregas antes da disputa.

Outro projeto do pacote aprovado, de autoria da senadora Tereza Cristina (PP-MS), cria um regime simplificado para o envio de recursos federais a municípios que assinam convênios para receber a verba e fazer as obras.

Com a proposta, se o projeto custar até R$ 1,5 milhão, o dinheiro vai cair de uma só vez, de forma antecipada, e só depois a prefeitura vai executar o serviço. Antes, o pagamento era feito em parcelas e dependia do andamento da obra, o que gerava um controle maior, mas também reclamações de prefeitos e parlamentares em função da demora.

Além disso, se a obra custar menos do que o repasse enviado pelo governo federal, a prefeitura não terá mais que devolver o restante e poderá usar a sobra para ampliar o projeto. Por exemplo, se planejou pavimentar 20 ruas, poderá asfaltar mais cinco.

O modelo é uma resposta ao uso da Emenda Pix, revelada pelo Estadão, que também envolve o repasse direto de recursos para prefeituras, mas não é fiscalizada e tem provocado críticas de especialistas e órgãos de controle.

O regime simplificado prevê transferência direta e antecipada, mas ainda mantém a fiscalização federal com exigências técnicas como plano de trabalho, licenciamento ambiental e relatórios de acompanhamento, o que não acontece com a Emenda Pix.

A adesão à Emenda Pix cresceu e pode atingir R$ 12 bilhões em 2024, ano de eleição municipal, mas o uso tem incomodado alguns parlamentares, pois os prefeitos podem fazer o que quiser com o dinheiro e muitos não gastam conforme a indicação do congressista.

Proposta autoriza propostas sigilosas em licitações acima de R$ 1,5 milhão

O mesmo projeto abre uma brecha para diminuição da transparência em licitações e até a formação de cartéis. Em licitações com valores acima de R$ 1,5 milhão, empresas vão oferecer propostas de forma sigilosa para obras de engenharia, assistência técnica e serviços de limpeza urbana.

Nesse formato, chamado de modo de disputa fechado, as propostas de quem está interessado em vencer a licitação só são conhecidas no momento da divulgação e da abertura de todos os lances apresentados - o que pode facilitar a formação de conluios entre empreiteiras. O modelo já existe, mas o projeto diz que, nas compras acima de R$ 1,5 milhão, essa vai ser a regra.

Para o procurador de Justiça e presidente do Instituto Não Aceito Corrupção, Roberto Livianu, o pacote traz preocupações no momento em que o valor das emendas parlamentares aumenta e a fiscalização diminui. "Os ingredientes do projeto nos mostram que a situação é gravíssima e, se tiver problema em uma licitação, o vício vai contaminar as licitações que embarcarem na mesma contratação", disse. "Não se elimina a burocracia desrespeitando o patrimônio público. O projeto pode gerar uma concentração de mercado, que é nociva e vai na contração do próprio princípio da licitação."

O relator do pacote, Elmar Nascimento (União-BA), afirmou no parecer que a proposta gera maior rapidez e eficiência nas compras e contratações por parte dos municípios. Agora, o texto dependerá de sanção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Precisamos acabar com esse negócio de obra inacabada no Brasil e de perder dinheiro público porque não se consegue concluir uma licitação adequada", disse o deputado Domingos Sávio (PL-MG).

A Polícia Federal (PF) deflagrou, na manhã desta quinta-feira (1°), a Operação Hefesto para aprofundar a investigação sobre um esquema de fraudes em licitações de 43 municípios de Alagoas. O prejuízo estimado até o momento é de R$ 8,1 milhões, mas os investigadores que o rombo nos cofres públicos pode ser maior.

Os policiais fazem buscas em 27 endereços ligados aos investigados - 16 em Maceió (AL), oito em Brasília (DF), um em Gravatá (PE), um em São Carlos (SP) e um em Goiânia (GO). Duas pessoas também são alvo de mandados de prisão temporária em Brasília. As ordens judiciais foram expedidas pela 2.ª Vara Federal de Alagoas.

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A PF afirma que houve direcionamento e superfaturamento de contratos para a compra de equipamentos de robótica, custeados com recursos do Fundo Nacional do Desenvolvimento da Educação (FNDE), repassado pelo governo federal. As fraudes teriam ocorrido entre 2019 e 2022.

"As citadas contratações teriam sido ilicitamente direcionadas a uma única empresa fornecedora dos equipamentos de robótica, através da inserção de especificações técnicas restritivas nos editais dos certames e de cerceamento à participação plena de outros licitantes", informa a Polícia Federal. A investigação é tocada em conjunto com a Controladoria Geral da União (CGU).

A Justiça Federal também determinou o sequestro de bens dos investigados e a suspensão de processos licitatórios e contratos administrativos celebrados entre a empresa fornecedora investigada e os municípios alagoanos que receberam recursos do FNDE para aquisições de equipamentos de robótica.

Lavagem de dinheiro

A PF investiga ainda uma segunda fase do esquema, envolvendo a lavagem do dinheiro. Os policiais identificaram transações fracionadas, abaixo de R$ 50 mil, para burlar o sistema de alertas do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf).

"A investigação identificou ainda que foram realizadas, pelos sócios da empresa fornecedora e por outros investigados, movimentações financeiras para pessoas físicas e jurídicas sem capacidade econômica e sem pertinência com o ramo de atividade de fornecimento de equipamentos de robótica, o que pode indicar a ocultação e dissimulação de bens, direitos e valores provenientes das atividades ilícitas", explica a PF.

O nome da operação, Hefesto, é uma referência ao deus da tecnologia, do fogo, dos metais e da metalurgia na mitologia grega.

O candidato do Novo a presidente da República, Luiz Felipe D'Avila, defendeu a revisão da Lei de Licitações porque, segundo ele, "engessa brutalmente o investimento", além de impulsionar a "judicialização dos contratos". O candidato propôs que Estados e municípios participem mais dos processos de concessões públicas, reduzindo o maior protagonismo do governo federal.

O principal problema no setor da infraestrutura hoje, segundo ele, é a falta de coordenação entre os setores público e privado e a sociedade civil. "O mais importante é acertar a governança e a coordenação dos projeto s para viabilizar os investimentos."

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D'Avila participou nesta segunda-feira, 29, do evento "Abdib Fórum 2022 - agenda da infraestrutura com presidenciáveis" em um hotel na capital paulista.

A Polícia Federal (PF) faz hoje (24) operação contra organização criminosa suspeita de fraudar licitações na área de saúde e lavar dinheiro. De acordo com as investigações, o esquema envolvia empresas e servidores públicos de municípios fluminenses, em especial da Baixada.

A Operação Fármaco cumpre 14 mandados de busca e apreensão em órgãos públicos, residências e empresas localizadas na Baixada Fluminense e na Região dos Lagos.

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De acordo com a PF, a investigação começou em 2020, depois da identificação de um empresário que usava empresas constituídas em nomes de “laranjas” para fazer contratos na área de saúde com gestores municipais.

Essas empresas fraudavam o caráter competitivo das licitações, pagavam vantagens indevidas a servidores públicos e superfaturavam valores dos contratos. A PF identificou ainda várias doações em dinheiro para candidatos a cargos públicos.

Os investigados poderão responder por lavagem de dinheiro, organização criminosa e frustração de caráter competitivo de licitação.

A Polícia Federal deflagrou hoje (20) nas cidades de São Luís, Dom Pedro, Codó, Santo Antônio dos Lopes e Barreirinhas, no Maranhão, uma operação para desarticular uma associação criminosa que promove fraudes, desvios de recursos públicos e lavagem de dinheiro, envolvendo verbas federais da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf).

Batizada de Odoacro, a investigação constatou a existência de um esquema de lavagem de dinheiro a partir do desvio de dinheiro de licitações fraudadas. Estão sendo cumpridos um mandado de prisão e 16 de busca e apreensão.

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O esquema funcionava com a criação de empresas de fachada ligadas aos integrantes da associação criminosa que simulavam disputar entre si licitações da Codevasf. Ao final do procedimento, a empresa principal do grupo ganhava a licitação e fechava os contratos com a Codevasf.

Verbas federais

“As diligências apontaram para a utilização do mesmo modus operandi [modo de operação], inclusive com as mesmas pessoas interpostas e empresas de fachada, de condutas realizadas em 2015, quando a Polícia Civil conseguiu identificar uma associação criminosa instituída para desviar recursos públicos do município de Dom Pedro/MA”, informou a Polícia Federal.

Acrescentou que o esquema criminoso veio crescendo nos anos seguintes, passando a desviar verbas federais.

“O líder desse grupo criminoso, além de colocar as suas empresas e bens em nome de terceiros, ainda possui contas bancárias vinculadas a CPFs [Cadastro de Pessoas  Físicas] falsos, utilizando-se desse instrumento para perpetrar fraudes e dificultar a atuação dos órgãos de controle”, disse a PF.

Ela não informou o nome do líder do grupo. Ao todo, participam da operação 80 policiais federais. Se confirmadas as suspeitas, os investigados poderão responder por fraude à licitação, lavagem de capitais e associação criminosa. Somadas, as penas podem chegar a 16 anos de prisão.

Como a associação criminosa é liderada por um investigado apelidado de Imperador, a operação foi chamada de  Odoacro, em referência ao sobrenome do soldado italiano que capitaneou uma revolta que colocou fim ao Império Romano.

O ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin reagiu nesta quarta-feira, 16, ao acordo de colaboração premiada do ex-CEO do grupo Ecovias, Marcelino Rafart de Seras, que o acusa de ter recebido mais R$ 3 milhões da concessionária via caixa 2 de campanha.

Cotado para disputar a vice-presidência na chapa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Alckmin disse que não teve acesso aos termos da colaboração, mas 'sabe que a versão divulgada não é verdadeira'.

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Em nota, o ex-governador negou ter recebido doações ilegais ou não declaradas e afirmou que todas as suas contas de campanha foram fiscalizadas pela Justiça Eleitoral e pelo Ministério Público.

O ex-tucano, que se desfiliou do PSDB em dezembro do ano passado após mais de três décadas no partido, afirmou ainda que ordenou 'diversas ações contra os interesses de concessionárias', inclusive da Ecovias (antiga Primavi), durante seu governo.

As declarações do executivo foram prestadas em abril de 2020, quando ele fechou o acordo com o Ministério Público de São Paulo e se comprometeu a pagar R$ 12 milhões a título de indenização ao Tesouro.

Com a homologação feita pelo Conselho Superior do MP nesta terça-feira, 15, os integrantes da Promotoria de Defesa do Patrimônio Público começam a ouvir investigados. Em depoimento já prestado anteriormente aos promotores, o executivo chegou a afirmar que 'todas as licitações de concessões de rodovias no Estado de São Paulo entre 1998 e 1999 foram fraudadas'.

LEIA A ÍNTEGRA DA NOTA DIVULGADA PELO EX-GOVERNADOR:

O ex-governador Geraldo Alckmin informa que:

- Não conhece os termos da colaboração, mas sabe que a versão divulgada não é verdadeira;

- As suas campanhas eleitorais jamais receberam doações ilegais ou não declaradas;

- Todas as contas foram efetuadas sob fiscalização da Justiça Eleitoral e do próprio MP;

- No seu governo, inclusive, ordenou diversas ações contra os interesses de concessionárias, inclusive contra a suposta doadora;

- Lamenta que, depois de tantos anos, mas em novo ano eleitoral, o noticiário seja ocupado por versões irresponsáveis e acusações injustas;

- Seguirá prestando contas para a sociedade e para a Justiça, como é dever de todos.

Em acordo de colaboração fechado com o Ministério Público de São Paulo, o ex-CEO do grupo Ecovias Marcelino Rafart de Seras declarou que a empresa fez repasses de mais R$ 3 milhões, via caixa 2, para campanhas do ex-governador Geraldo Alckmin. O ex-tucano é o provável candidato a vice em uma chapa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na eleição ao Palácio do Planalto em outubro. O colaborador disse que isso ocorreu em razão de "uma política de boa vizinhança" com Alckmin.

Na esfera criminal, a Polícia Federal em São Paulo concluiu a investigação em fevereiro e enviou o inquérito ao juízo da 1.ª Zona Eleitoral. O relatório apontou falta de provas contra o ex-governador e, por isso, ele deixou de ser indiciado. Segundo a PF, não haveria outros elementos de prova que corroborassem a palavra do delator.

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O Ministério Público Estadual mantém, no entanto, investigação que apura suspeita de atos dolosos de improbidade administrativa. Nesta frente, a promotoria pode pedir o pagamento de multa e a cassação dos direitos políticos. A pena de ressarcimento aos cofres públicos não prescreve, ao contrário de crimes eleitorais.

As declarações foram feitas na época em que Seras fechou o acordo com o MP, em abril de 2020. Com a homologação feita pelo Conselho Superior do Ministério Público de São Paulo, anteontem, os integrantes da Promotoria de Defesa do Patrimônio Público começarão a ouvir investigados. O Estadão apurou que pelo menos 30 citados vão ser ouvidos.

A decisão do conselho foi tomada por unanimidade. O ex-presidente da Ecovias vai pagar R$ 12 milhões, segundo prevê o acordo, a título de indenização ao Tesouro. Em depoimento já prestado aos promotores, o executivo chegou a afirmar que "todas as licitações de concessões de rodovias no Estado de São Paulo, entre 1998 e 1999, foram fraudadas".

Cartel

As informações já reveladas pelo colaborador da Ecovias - que na época tinha o nome de Primavi - vão permitir aos promotores traçarem o mapa da investigação. Segundo Seras, na época das licitações, os grupos econômicos "combinaram valores para pegar as concessões". Participaram do cartel 80 empresas, divididas em 12 grupos, relatou.

Os 12 grupos - inclusive a própria Ecovias - fatiaram o mercado das rodovias, de acordo com Seras. Ele apontou dezenas de políticos que abasteceram campanhas com recursos de caixa 2 e autoridades de diversos escalões que teriam recebido propina, entre eles nove deputados estaduais que integravam a CPI dos Pedágios, na Assembleia Legislativa de São Paulo.

Os promotores vão submeter, agora, os dados da delação às Varas da Fazenda Pública de São Paulo, para que ela seja homologada na Justiça. A partir dela, os promotores avaliam pedir indenizações bilionárias em favor do Tesouro. Estima-se que apenas uma outra concessionária do cartel deverá ter de pagar pelo menos R$ 7 bilhões por sequência de prejuízos aos cofres públicos.

Pelo acordo com a promotoria, a Ecovias concordou em pagar indenização ao Estado de R$ 638 milhões, dos quais R$ 450 milhões em obras e o restante depositado em dinheiro no caixa da Fazenda, parceladamente, em até oito anos.

Omissões

O colegiado da cúpula do MP estadual já havia homologado o acordo da Ecovias, mas restaram "omissões". Na sessão de anteontem, os conselheiros ajustaram esses pontos que haviam sido "excluídos", como a obrigação da concessionária de construção do boulevard Anchieta, na altura do Sacomã, ponto histórico de estrangulamento da rodovia, na entrada de São Paulo. Os valores a serem pagos pela Ecovias e por seu ex-CEO serão corrigidos desde abril de 2020, quando os acordos foram firmados.

Agora, Ecovias e Seras ficam livres do inquérito civil instaurado pela promotoria que mira os outros grupos econômicos que fizeram "divisão de mercado" e quem se beneficiou do cartel. No âmbito criminal, parte da investigação não deve ter desdobramento porque os beneficiários da fraude foram alcançados pela prescrição - caso dos deputados da CPI dos Pedágios.

Defesas

Alckmin afirmou que suas campanhas "jamais receberam doações ilegais ou não declaradas". Em manifestação no Twitter, o ex-governador declarou ainda que não conhece os termos da colaboração, "mas sabe que a versão divulgada não é verdadeira". E disse lamentar que, "em ano eleitoral, o noticiário seja ocupado por versões irresponsáveis e acusações injustas".

As defesas de Marcelino Seras e da Ecovias não foram localizadas. PF e MP estadual não quiseram se manifestar. COLABORARAM LUIZ VASSALLO E MARCELO GODOY

Em novo revés para o governo, o Tribunal de Contas da União (TCU) mandou suspender oito licitações da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba (Codevasf) para a compra de máquinas e equipamentos pesados com recursos de emenda de relator-geral do Orçamento, o mecanismo do "orçamento secreto". A medida cautelar, assinada pelo ministro-substituto Weder de Oliveira, foi determinada após a área técnica do tribunal identificar sobrepreços de R$ 11,1 milhões em pregões da estatal, que totalizam R$ 121,5 milhões.

A investigação da corte de contas foi aberta após o Estadão revelar que o governo de Jair Bolsonaro criou o mecanismo de "toma lá, dá cá" para aumentar sua base de apoio no Congresso. Bilhões de reais foram distribuídos para um grupo de deputados e senadores indicarem o que fazer com o dinheiro sem qualquer critério técnico ou transparência.

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A decisão do TCU atinge os processos de compra de mais de cem equipamentos pesados, dos tipos motoniveladoras, tratores de esteira e escavadeiras hidráulicas. A área técnica do TCU encontrou indícios de sobrepreços de até 63% nas compras da Codevasf, estatal vinculada ao Ministério do Desenvolvimento Regional entregue por Bolsonaro ao Centrão. A decisão de suspender as contratações já está valendo, mas será submetida a referendo em sessão do plenário do tribunal amanhã.

É a primeira vez que o TCU aponta sobrepreço nas licitações envolvendo o orçamento secreto, caso que ficou conhecido como "tratoraço" por envolver a compra de tratores. Até agora, o TCU só havia abordado as emendas de relator-geral sob o viés da falta de transparência, tema que motivou uma recomendação ao governo federal no acórdão que tratou das contas da Presidência no ano de 2020.

Antes, a Controladoria-Geral da União (CGU) já havia apontado sobrepreço de R$ 142 milhões em mais de uma centena de convênios e em uma licitação bilionária da pasta do Desenvolvimento, chefiada pelo ministro Rogério Marinho. A análise do TCU, porém, focou na Codevasf, e não analisou os contratos e licitações realizados diretamente pelo ministério.

As licitações suspensas pelo TCU já foram finalizadas e estão em processo de execução, quando é feito o pagamento às empresas fornecedoras. O tribunal pediu que a Codevasf informe quais equipamentos já foram entregues. Ao mandar parar as compras, o ministro Weder de Oliveira disse haver "risco de graves prejuízos aos cofres públicos".

Microempresa

Entre a vencedoras dos pregões em que o TCU identificou sobrepreço estão a JND Representações LTDA. Como o Estadão mostrou em maio, trata-se de uma microempresa com capital social de R$ 50 mil, aberta em 2018, sediada em um apartamento residencial, que faturou R$ 11 milhões em licitações da Codevasf.

Outra empresa é a XCMG Brasil Indústria, que, como mostrou o jornal em agosto, vendeu máquinas com sobrepreço também à administração direta do Ministério do Desenvolvimento Regional, e depois aceitou reduzir em R$ 100 milhões os valores para fornecimentos de máquinas.

As licitações foram feitas pela sede da Codevasf, em Brasília, e por três Superintendências Regionais, localizadas em Petrolina-PE, Penedo-AL e Bom Jesus da Lapa-BA, que são chefiadas por apadrinhados políticos, respectivamente, do líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (Progressistas-AL), e do deputado Arthur Maia (DEM-BA), relator da PEC da reforma administrativa em tramitação na Câmara.

Procurada, a assessoria de imprensa da Codevasf disse que a estatal não havia sido notificada da decisão do TCU até a noite desta segunda-feira. A reportagem também enviou e-mails para as empresas JND e XCMG, que não responderam. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Na manhã desta quinta-feira (15), a Polícia Civil cumpriu dois mandados de busca e apreensão no Recife. A segunda fase da Operação RIP STOP apura lavagem de dinheiro por meio de fraudes em licitações nas prefeituras de três cidades da Mata Norte, que causaram um prejuízo de R$ 265.00.

Iniciada em outubro de 2020, a investigação identificou integrantes de uma organização criminosa, que selecionou empresas de fachada do mesmo grupo familiar para criar uma ‘falsa concorrência’ em três licitações nas prefeituras de Nazaré da Mata, Vicência e Timbaúba, entre 2015 e 2016.  

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“Fomos em uma gráfica, bem como na residência dos sócios, justamente para verificar se essa empresa seria de fachada e os sócios ‘laranja’ de um empresário do ramo de gráficas, que teria participação em fraudes verificadas na RIP STOP I, feita na Prefeitura de Petrolina”, destacou o delegado Diego Pinheiro.

O delegado acrescenta que o relatório do Tribunal de Contas do Estado (TCE) referente à RIP STOP I aponta que a organização é suspeita de fraudar 131 licitações, envolvendo um montante de mais de R$ 132 milhões. Servidores e ex-servidores ligados às comissões de licitação são investigados.

Além dos mandados de busca e a proibição dos envolvidos em futuras licitações, a Vara da Comarca de Nazaré da Mata expediu o sequestro de valores que podem volta para os cofres públicos.

Cinco meses após a sanção do novo Marco Legal do Saneamento Básico, o presidente Jair Bolsonaro editou, nesta quarta-feira (24), decreto para regulamentar os repasses a governos locais para apoiar licitações.

O decreto define as regras para que a União envie recursos e ofereça apoio técnico para que estados e municípios se adaptem às novas regras do setor de saneamento. O texto também estabelece uma série de atividades a serem executadas pelo governo federal para facilitar a transição dos governos locais ao novo modelo.

O novo Marco Legal do Saneamento Básico torna regra a realização de licitações para contratação de companhias de água e esgoto. Pelo novo modelo, a iniciativa privada passará a disputar as concorrências em igualdade de condições com as estatais locais.

Como no Brasil, a responsabilidade pelo saneamento cabe aos municípios ou a consórcios de municípios, o novo modelo prevê que a União forneça apoio técnico e financeiro aos governos locais para a formulação dos processos de licitação.

Segundo o decreto, os governos locais precisam cumprir critérios para receber a ajuda técnica e os repasses da União, como a obediência a normas da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) e o comprometimento com a regionalização do serviço de saneamento.

O Tribunal de Contas de Pernambuco (TCE-PE) abriu, nesta segunda (31) um processo de auditoria especial para investigar possíveis irregularidades cometidas pela Prefeitura de Olinda  na dispensa de licitação para compra de  de máscaras e materiais para higienização de prédios públicos, durante o período da pandemia covid-19. O procedimento é a resposta do órgão à denúncia formulada pelo vereador Jorge Salustiano, no dia 17 junho.

A investigações envolvem as dispensas de licitação de número 7 e 15/2020, relacionadas à aquisição emergencial de 100 mil máscaras descartáveis e de mais de 50 mil pares de luvas, além das dispensas 16 e 19/2020, que visavam a aquisição de 200 mil máscaras descartáveis pelo valor unitário de R$ 3, com custo total de R$ 600 mil, pagos à empresa AJS Comércio e Representação LTDA, além do serviço de desinfecção de ambientes públicos, pelo valor de R$ 191, 4 mil. Em consulta à Receita Federal, o LeiaJá observou que a empresa não possui atividade econômica relacionada ao comércio de insumos médicos.

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Cerca de 60 policiais federais estão cumprindo, desde as primeiras horas da manhã desta terça-feira (25), a 15 mandados judiciais de busca e apreensão expedidos contra suspeitos de integrar um suposto esquema de fraude de licitações realizadas pela Petrobras.

Os mandados estão sendo cumpridos em Brasília, João Pessoa, Cabedelo (PB) e Campina Grande (PB), com a cooperação do Ministério Público Federal (MPF). Em nota, a PF informou que, entre os alvos da ação, há executivos de grandes empreiteiras, mas nem as identidades pessoais, nem os nomes das empresas investigadas foram revelados.

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Ainda segundo a PF, os supostos crimes foram denunciados por executivos de uma empreiteira que assinaram acordos de colaboração premiada com o MPF, no âmbito da Operação Lava Jato, e continuam sendo investigados.

Segundo os colaboradores, diretores da estatal petrolífera cujos nomes também não foram divulgados recebiam “pagamento sistemático de propinas” em troca de fraudar licitações para favorecer determinadas empresas.

A PF afirma que a propina era paga ao destinatário por meio de doações a um partido político que, posteriormente, o repassava a empresas paraibanas. Há indícios de que o principal investigado, um executivo da Petrobras, solicitou e recebeu ao menos R$ 4 milhões para “blindar” os executivos das empreiteiras alvos desta 73ª fase da Operação Lava Jato, denominada Ombro a Ombro.

O Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ) e a Polícia Civil cumpriram, nesta quarta-feira (29), sete mandados de busca e apreensão em uma operação contra fraudes em licitações no município de Arraial do Cabo, na Região dos Lagos. Um dos alvos da ação de hoje é o prefeito Renato Martins Vianna.

Também estão sendo investigados o vereador Ayron Pinto Freixo e dois servidores municipais. Foram cumpridos mandados na prefeitura, na Câmara de Vereadores e na casa do prefeito, entre outros locais.

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De acordo com o MPRJ, foram apreendidos documentos e aparelhos eletrônicos, como computadores, laptops e telefones celulares.

O ex-deputado e ex-assessor do prefeito Geraldo Julio (PSB), Beto Accioly (PP), é um dos alvos da operação Casa de Papel, deflagrada pela Polícia Federal, nesta terça-feira (16). Alocado na Assembeia Legislativa de Pernambuco (Alepe) até o fim do seu mandato, em 2019, o parlamentar teria - trabalhando em seu gabinete - dois funcionários da AJS Comércio e Representação LTDA, empresa alvo de investigações envolvendo materiais de saúde que deveriam ter sido adquiridos para o enfrentamento da Covid-19. Os contratos somam quase R$ 9 milhões.

Em parceria com a Controladoria-Geral da União, a PF investiga a contratação, sem licitação, da empresa por algumas prefeituras pernambucanas para a produção de materiais de saúde. Accioly seria um dos elos com ligação direta com o suposto líder de uma organização criminosa, Sebastião Figueroa de Siqueira, que usava um conglomerado de gráficas de fachada para o desvio das verbas. Entre 2018 e 2019, o ex-deputado teria trabalhando em seu gabinete os dois únicos funcionários registrados na empresa de fachada AJS.

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De acordo com a delegada de Combate a Corrupção, Andréia Pinho. “Os funcionários da AJS, que é uma empresa que pertence de fato a ele [Sebastião], exerceram cargos comissionados no gabinete do ex-deputado Beto Accioly. Além disso nós detectamos também uma transferência que foi feita por este senhor, Sebastião, para uma outra funcionária do Beto Accioly”.  Segundo a delegada, “a princípio, ele é o vínculo em todas as empresas”.

A Polícia Federal cumpriu um mandado de busca e apreensão na casa do ex-deputado nesta terça-feira. As investigações apontam o envolvimento de prefeituras de seis municípios estaduais, em compras envolvendo empresas em nome de laranjas, sendo eles Recife, Olinda, Jaboatão dos Guararapes, Cabo de Santo Agostinho, Paulista e Primavera.

Respostas:

O ex-deputado comentou a operação por meio de nota oficial. Confira:

Venho a público esclarecer que a ação realizada pela Polícia Federal na manhã desta terça-feira na minha residência não possui qualquer relação com atos praticados por mim. O que existe é uma investigação em curso que apura suspeita de contratações superfaturas realizadas pelas prefeituras do Recife, Olinda, Paulista e Cabo de Santo Agostinho.

Cabe destacar que não possuo qualquer relação com a empresa nem com as prefeituras investigadas. Em 14 anos de vida pública, meu trabalho sempre se pautou pela responsabilidade e respeito ao erário público.

Manifesto total respeito e confiança no trabalho das autoridades competentes para esclarecimento dos fatos, que é de total interesse meu e de toda a população.

Lamento que adversários políticos explorem o fato inventando mentiras descabidas, distorcendo a realidade para me atingir com o único propósito de afetar minha reputação às vésperas da eleição e prejudicar a pré-candidatura a prefeito de Camaragibe.

Beto Accioly, ex-deputado estadual

A prefeitura de Jaboatão também esclareceu, por meio de nota, não ter sido alvo da operação. Confira:

Nota de Informação

A Prefeitura do Jaboatão dos Guararapes informa que não foi alvo de qualquer ação da Polícia Federal relacionada à Operação Casa de Papel. Em 23 de março, a Secretaria de Educação adquiriu máscaras de proteção para os servidores que trabalham na distribuição de kits de alimentos para os alunos. A compra para pronta-entrega foi realizada por cotação em virtude do pequeno valor de R$ 15 mil. Todas as informações constam no Portal da Transparência.

Assessoria de Imprensa da Prefeitura do Jaboatão dos Guararapes

 

O presidente Jair Bolsonaro editou a Medida Provisória 961/2020, que autoriza pagamentos antecipados nas licitações e nos contratos, faz adequações dos limites de dispensa de licitação e amplia o uso do Regime Diferenciado de Contratações Públicas (RDC) durante o estado de calamidade pública decorrente do novo coronavírus. O texto está publicado no Diário Oficial da União (DOU) desta quinta-feira (7).

A MP autoriza a realização de pagamentos antecipados nas licitações e contratos durante o estado de calamidade pública, desde que seja indispensável para obter o bem ou assegurar a prestação de serviço. A antecipação do pagamento também poderá ser utilizada quando o adiantamento gerar economia significativa aos cofres públicos. Segundo dados do Ministério da Economia, as compras realizadas pelo governo federal movimentam cerca de R$ 48 bilhões por ano.

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"O objetivo é assegurar mais instrumentos de negociação aos gestores da administração pública nas aquisições", afirmou em nota o secretário de Gestão do Ministério da Economia, Cristiano Heckert. "Durante a pandemia do novo coronavírus, alguns fornecedores estão exigindo o pagamento antecipado. Assim, elaboramos regras que podem ser seguidas por servidores que gerenciam contratações", completou.

A MP estabelece que o pagamento antecipado deve estar previsto no edital da contratação e que a Administração Pública deve exigir a devolução integral do valor antecipado na hipótese de inexecução do objeto.

Entre outros pontos, a medida amplia o uso do Regime Diferenciado de Contratações Públicas nos processos de compras. O RDC foi criado por lei em 2011, podendo ser usado em alguns tipos de obras e serviços de engenharia. Com a MP publicada hoje, o regime simplificado poderá ser aplicado para licitações e contratações de quaisquer obras, serviços, compras, alienações e locações.

A Medida Provisória autoriza ainda a administração pública de todos os entes federativos, de todos os Poderes e órgãos constitucionalmente autônomos a dispensa de licitação no caso de compra direta para obra ou serviço de engenharia até o valor teto é de R$ 100 mil, e para os demais serviços e compras, até o limite de R$ 50 mil.

As disposições da MP aplicam-se aos atos realizados durante o estado de calamidade reconhecido pelo Decreto Legislativo nº 6, de 20 de março de 2020, que se encerra em 31 de dezembro deste ano, e aos contratos firmados nesse período "independentemente do seu prazo ou do prazo de suas prorrogações".

O Ministério da Cidadania ignorou alertas e aceitou um certificado de serviço que nunca foi prestado, segundo a Polícia Federal (PF), para firmar contrato milionário com uma empresa de tecnologia da informação. Segundo documentos obtidos pelo jornal O Estado de S. Paulo, a Business to Technology (B2T) atestou à pasta sua capacidade técnica usando como base ações que teria desempenhado anos antes no Ministério do Trabalho. Esses serviços, porém, nunca foram realizados, de acordo com a PF, que mirou a B2T na última quinta-feira, durante a Operação Gaveteiro.

O Estado revelou no sábado (8) que a empresa contratada pela pasta do ministro Osmar Terra é suspeita de ter sido usada como fachada para desviar R$ 50 milhões dos cofres públicos entre 2016 e 2018, durante a gestão de Michel Temer. A B2T foi contratada pelo Ministério da Cidadania para prestar os mesmos serviços dos contratos em que a PF diz ter havido desvios de dinheiro público.

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O certificado de capacidade técnica apresentado pela B2T chegou a ser contestado por duas empresas concorrentes durante o pregão. No documento, o extinto Ministério do Trabalho informa que, nos anos de 2016 e 2017, adquiriu solução de apoio a tomada de decisão Business Inteligence (BI) da B2T. Apesar dos alertas, o responsável pela contratação, assinada no primeiro ano do governo Bolsonaro, decidiu considerar o documento válido e decretou a B2T vencedora do edital em julho do ano passado.

Em 2017, um relatório de auditoria da Controladoria-Geral da União (CGU) havia apontado fraudes no contrato fechado com o Ministério do Trabalho. Na ocasião, o órgão orientou que o governo federal cessasse as contratações com a empresa. No mesmo ano, a Advocacia-Geral da União (AGU) também emitiu parecer em que aponta suspeitas de irregularidades. Os alertas dos órgãos de controle também foram ignorados.

A B2T foi procurada nesta terça-feira, 11, por meio do número de telefone publicado em seu site. A atendente disse que não havia ninguém disponível para falar com a reportagem.

Contestação

O primeiro alerta foi feito pela Citis Tecnologia. A empresa apresentou recurso para afirmar que o atestado emitido pelo Ministério do Trabalho é referente a contratos sob investigação pela CGU e pela AGU, "em virtude de séria suspeita de fraude, face à provável direcionamento da licitação, superdimensionamento do quantitativo de licenças e superfaturamento".

Outra empresa que participou da licitação, a Datainfo Soluções também questionou a idoneidade dos atestados apresentados pela B2T. "Considerar o atestado emitido pelo Ministério do Trabalho vai de encontro com os princípios de Direito mais basilares como o da moralidade e da probidade, ligada à confiança e legitimidade das informações", dizia trecho do recurso.

A área jurídica do Ministério da Cidadania, no entanto, disse que seria preciso aguardar desdobramentos das investigações promovidas pela CGU e AGU. A proposta da pasta foi de se fazer uma diligência para certificar a real validade e legitimidade do atestado apresentado pela B2T.

O ministério chegou a citar, em relatório interno do pregão, trecho da investigação da CGU feita na contratação anterior com o Ministério do Trabalho. No documento, o órgão de controle aponta, entre outras irregularidades, direcionamento de licitação e superdimensionamento do serviço que seria prestado, com "consequente superfaturamento nas Ordens de Serviço dos contratos".

A área jurídica decidiu ignorar os recursos e dar prosseguimento à licitação, declarando a B2T vencedora. Na avaliação do Ministério da Cidadania, "em que pese o citado relatório (da CGU) apontar graves falhas no planejamento da contratação, merece atenção que o documento se trata de um relatório e não um decisão condenatória transitada e julgada o qual não pode ser usado para desqualificar os atestados apresentados".

Empenho

Além de ignorar os alertas de irregularidades, o Ministério da Cidadania autorizou, um dia antes da vigência oficial do contrato, o empenho das duas primeiras parcelas do pagamento à B2T. O empenho é o primeiro passo para a liberação dos recursos. Um dos pagamentos, no valor de R$ 3,9 milhões, foi pela prestação de 14.339 serviços de manutenção corretiva e sustentação de software. O empenho do valor foi feito em 16 de julho de 2019. O contrato com a B2T só passaria a vigorar no dia seguinte.

Procurado pelo jornal, o Ministério da Cidadania não respondeu se o serviço chegou a ser prestado. Também não informou em quais repartições ou computadores teriam sido instaladas as soluções inteligentes que custaram quase R$ 7 milhões, nem deu explicação para a autorização do empenho do contrato um dia antes dele começar a vigorar.

Os contratos de TI fechados na gestão Osmar Terra somam um montante de R$ 35 milhões, dos quais 25 milhões foram firmados num período de seis meses sem licitação. O ministério diz que "avalia" todos os contratos da atual gestão, mas não explica se os pagamentos foram suspensos. No mês passado, toda a equipe que chefiava o setor de TI do ministério foi exonerada, depois que começaram a surgir suspeitas sobre os contratos. A pasta não informou se os cinco funcionários são alvo de sindicância.

Disfunção burocrática

Para debater o tema, o Estado falou com Carlos Ari Sundfeld, professor de Direito Público da FGV. Veja os principais trechos da entrevista:

Como o senhor enxerga esse problema no Ministério da Cidadania?

Esse é um problema que a disfunção burocrática gera. O que acontece é que não existe um sistema unificado de atestação de execução de contratos no governo federal. Assim, quando ocorrer uma suspeita grave de que o contrato não foi executado, o atestado pode ser suspenso.

O ministério pode ignorar um alerta da CGU sobre uma empresa?

Seria preciso que existisse uma autorização, como um decreto. Se um alerta da CGU for considerado suficiente por um decreto do presidente para suspender o atestado, o ministério poderia desconsiderá-lo, mas não existe essa regra hoje. É um problema que hoje existe na organização da administração federal que não foi solucionado. Portanto, isso tem solução na esfera burocrática, mas o Ministério da Cidadania não teria competência para resolver o problema.

Qual seria a solução?

A solução seria o presidente editar um decreto dizendo que fica atribuída à CGU a competência para fazer o registro centralizado de todos os atestados de desempenho e para suspender a eficácia dos atestados que sejam objetos de investigações com indícios de irregularidades graves.

A Polícia Federal (PF), o Ministério Público Federal (MPF) e a Controladoria Geral da União (CGU) desencadearam na manhã desta quinta-feira, 30, a Operação Epagoge para desarticular uma organização criminosa suspeita de fraudar licitações. Entre 2010 e 2019, as empresas que formam o grupo firmaram contratos com o Poder Público que somam R$ 60 milhões, indica a CGU.

Um efetivo de 75 policiais federais e seis auditores da Controladoria cumpre 22 mandados de busca e apreensão em Curitiba, Piraquara e Guaratuba (PR), Balneário Camboriú (SC), e em São Paulo.

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De acordo com a PF, a investigação teve início em 2015 a partir da suspeita de que empresas de um mesmo grupo estariam atuando mediante ajuste, prejudicando a concorrência em licitações, principalmente para a compra de eletrônicos.

O inquérito identificou que algumas das empresas funcionavam no mesmo endereço e pertenciam aos mesmos proprietários, o que, segundo a PF, indica que empresas fictícias se candidatavam simultaneamente na mesma licitação, "a fim de viabilizar que uma delas se sagrasse vencedora, com possibilidade de manipular os preços".

A Polícia Federal apontou que o nome da Operação, Epagoge, significa indução em grego. "Induzir o pensamento de alguém", registrou a corporação.

O conselheiro do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo Dimas Ramalho determinou que o governo João Doria (PSDB) suspenda, por prazo indeterminado, a licitação para a escolha de novos gestores para os postos do Poupatempo, contratos estimados em R$ 960 milhões. Ele argumentou que a suspensão é necessária para evitar "possíveis impropriedades" no processo, que já vinha sofrendo questionamentos que apontavam para a possibilidade de ação de cartel.

Ramalho acolheu dois pedidos, que questionavam a forma como foram exigidos atestados às empresas interessadas em participar do processo, que provariam experiência no ramo. O processo está sendo tocado pela Companhia de Processamento de Dados do Estado de São Paulo (Prodesp).

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A Prodesp afirma que responderá os pontos levantados pelo TCE dentro do prazo determinado pelo órgão, cinco dias.

Com o adiamento imposto pelo TCE, há risco de algumas unidades ficarem agora sem contratos de gestão, o que vai obrigar o Estado a fazer contratos de emergência - sem licitação. Parte dos contratos atuais vencem ainda em janeiro. Todos vencem até março.

Licitação

O Estado dividiu a gestão de 75 unidades do Poupatempo em sete lotes, em um processo que deveria ter sido finalizado no dia 6 e que custava, originalmente, R$ 850 milhões.

O primeiro adiamento foi decidido pelo próprio governo, após a Prodesp receber mais de 60 questionamentos sobre as regra da licitação. Uma impugnação afirmou que, da forma como foi montado, o edital dava espaço para a ação de um cartel, que poderia fraudar o processo, uma vez que havia poucos lotes e exigência de atestados de capacidade técnica que, segundo o documento, só poderiam ser obtidos por quem já prestava o serviço no Poupatempo.

O documento também considerava que a licitação estava sendo lançada em um período que incluía os feriados de fim de ano (Natal e réveillon), o que atrapalharia a formulação das propostas.

No dia 3, mesma data em que o Estado pediu informações sobre o assunto à Prodesp, o governo remarcou a licitação para o dia 20. Entre as duas datas, a empresa publicou uma correção no edital, alterando o valor total de R$ 850 milhões para R$ 960 milhões, argumentando que havia "erro" na cálculo das horas de trabalho dos prestadores de serviço.

A Prodesp diz, agora, que os atestados exigidos para esta licitação, que motivaram a suspensão, são idênticos aos de outras licitações do Poupatempo. "A Prodesp avalia o conteúdo do atestado e não o formato", diz o texto, dizendo que nas outras licitações nenhuma empresa foi inabilitada por não aceitação desses atestados

A empresa afasta a possibilidade de cartel, argumentando que há competição. "Até terça-feira, 21, foram entregues mais de 20 propostas para cada lote", informa a companhia.

O Poupatempo é um programa que congrega serviços como a emissão de documentos, e é um dos mais bem avaliados pelo público. Doria tem promessa de campanha de entregar 30 unidades durante sua gestão. Também prometeu criar o primeiro Poupatempo Rural, ainda a ser detalhado. Dar "padrão Poupatempo" é uma expressão usada pelos gestores públicos quando prometem melhorar algum serviço. No caso de Doria, a promessa é fazer isso com as delegacias de polícia. 

A gestão João Doria (PSDB) adiou uma licitação estimada em R$ 850 milhões para a escolha de sete empresas que iriam gerenciar as 75 unidades do Poupatempo do Estado. O adiamento foi decidido depois de a proposta receber impugnações que apontavam para facilidades de ação de cartéis no processo, destaca o jornal O Estado de S. Paulo.

A licitação é tocada pela Companhia de Processamento de Dados do Estado de São Paulo (Prodesp), estatal que nega a possibilidade de ação de cartel. Segundo a empresa, o adiamento se deu "para evitar questionamentos sobre lisura e a idoneidade" do processo. Em duas semanas, foram nove impugnações apresentadas pelo mercado à licitação e mais de 60 questionamentos sobre pontos específicos do edital, que até esta segunda-feira (6), não haviam sido respondidos.

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O Poupatempo, que agrega serviços de emissão de documentos, recursos de multas e uma série de outra atividades, é "vitrine" das gestões paulistas, liderando pesquisas de satisfação com serviço público. "Padrão Poupatempo" é um slogan usado quando gestores públicos querem dizer que determinado serviço é eficiente - na campanha eleitoral, Doria usou esse termo para falar sobre mudanças no atendimento das delegacias de polícia.

A nova licitação se fez necessária porque os contratos de gestão atuais vencem no fim deste mês. As empresas vencedoras cuidariam das estruturas dos prédios, limpeza e manutenção.

O principal questionamento era de uma impugnação apresentada pela Datasist Informática, empresa de São Caetano do Sul responsável pela gestão duas unidades do Poupatempo.

O documento apresentado pela empresa argumenta que as regras do edital favoreceriam grandes construtoras que, no passado, fizeram contratos com o governo para a construção de novas unidades do Poupatempo e, após a entrega, a gestão delas. Segundo a impugnação, empresas menores, que administram unidades já construídas, poderiam ser prejudicadas por não obter atestados de gestão exigidos no edital.

O documento afirma ainda que a decisão de agrupar as gestões do Poupatempo em apenas sete grupos (sete lotes com mais de dez unidades cada), estaria "criando condições favoráveis" ao surgimento de um cartel. Atualmente, nenhuma empresa gerencia tantas unidades de uma vez só, segundo o texto.

Outro argumento foi o prazo: a licitação havia sido lançada em 16 de dezembro, e empresas interessadas na disputa teriam de fazer orçamentos e preparar suas propostas durante os feriados de fim de ano, e apresentá-las até esta segunda.

Adiamento

Embora informe, por meio de nota, que discorda dos argumentos, a Prodesp decidiu dar mais prazo para empresas elaborarem suas propostas.

"A sugestão de uma das proponentes de que o processo licitatório permite a criação de cartel não tem base lógica, uma vez que no modelo proposto haverá, ao contrário do que alega a empresa, aumento da concorrência", afirmou a Prodesp.

A decisão de adiar a licitação foi tomada na sexta-feira passada. O novo prazo vence dia 20. As regras da licitação, entretanto, não foram alteradas.

A reportagem não conseguiu localizar representantes da Datasist esta segunda para comentar a representação. "O tempo previsto entre a publicação do edital para as empresas formularem as propostas e a seleção por meio do pregão cumpre a exigência legal de prazo", afirmou a estatal paulista, ao comunicar o adiamento. "A legislação impede a renovação automática sem processo licitatório, o que acarretaria interrupção de serviços aos usuários. O governo de São Paulo com essa licitação, portanto, cumpre a lei" informou o órgão.

A Prodesp destacou que a licitação vai ocorrer por meio de pregão eletrônico, modalidade em que todos os lances e registros são públicos e feitos pela internet. O modelo "garante mais transparência, isenção e é reconhecido pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE) como ferramenta que aumenta a competitividade do processo com a consequente redução de seu custo", afirmou em nota. A Prodesp destaca ainda que "a licitação, bem como a execução dos contratos, passará pelo crivo fiscalizatório dos órgãos de controle".

O órgão afirma que o novo certame gera economia de R$ 65 milhões. "A otimização de recursos vai possibilitar a ampliação de novos serviços ao cidadão como da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU), guichês da Sabesp e a criação de até 30 novos postos do Poupatempo em todo o Estado." A implantação de 30 novas unidades do Poupatempo é uma promessa de campanha de Doria - na época o então candidato afirmou ainda que criaria um novo ramo do programa, o Poupatempo Rural, que não saiu do papel. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Nove suspeitos foram presos por fraude em licitações e organização criminosa, nesta quarta-feira (7). De acordo com a Polícia Civil, o grupo chegou a utilizar uma empresa fantasma e atuava em municípios da Região Metropolitana do Recife e em Amaraji, cidade da Zona da Mata de Pernambuco.

As investigações apontaram que Geraldo Gonçalves de Melo Júnior era o articulador das fraudes. Através da empresa Asmplamul, ele conseguia contratos com as prefeituras. Na galeria onde consta o endereço do estabelecimento funciona uma ótica, um consultório de dentista e uma pousada. Computadores, celulares, relógios, um drone e até um faqueiro foram apreendidos nas buscas.

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Durante a Operação Sequência Real, o advogado José Taveira de Souza, ele levantou suspeitas por sempre vencer os processos licitatórios, sobretudo na modalidade carta-convite. Os outros integrantes da organização que foi desmontada são Andreia Lúcia de Freitas Peixoto, Daniel Fernandes Soathman, Jânio Gouveia da Silva e Glória Maria de Andrade Gouveia.

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