Atualmente, a cidade de Guarulhos acolhe 7% dos refugiados do Brasil. No município, imigrantes e refugiados podem regularizar sua situação no país obtendo documentos em postos oficiais, como o Poupa Tempo, ou no Posto Avançado de Atendimento Humanizado aos Migrantes, localizado no Aeroporto Internacional de Guarulhos. Entretanto, a dificuldade de se comunicar em português aumenta o tempo de espera para a retirada da documentação. Ahmad Alkhatib, fundador da Associação Livro Aberto e professor de português, é solicitado em ambos os postos para auxiliar nos trâmites administrativos, exercendo função de intérprete e representante dos estrangeiros.
A Associação Livro Aberto, localizada no bairro Vila Rio de Janeiro, em Guarulhos, ensina a língua portuguesa a imigrantes e refugiados do Oriente Médio, para ajudar essas pessoas a entrar no mercado de trabalho brasileiro.
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Para conseguir a permanência legal no Brasil, Alkhatib explica que o visitante estrangeiro deve preencher o Formulário de Pedido de Visto, disponível em português, espanhol, francês e inglês no site da Polícia Federal. Depois de coletar as informações biométricas do indivíduo, a Polícia Federal encaminha o pedido ao Comitê Nacional para os Refugiados (Conare). Segundo Alkhatib, a Resolução Normativa 23, que entrou em vigor no início deste ano, facilitou os trâmites da documentação para quem solicita asilo no país.
Se por um lado o Brasil acolhe os imigrantes de forma mais simples que outros países, por outro lado os estrangeiros enfrentam aqui dificuldades para conseguir trabalho, além de não receber nenhum tipo de ajuda do governo. Assim, os refugiados sobrevivem de doações e de “bicos”, o que os tem levado a migrar para países como a Guiana Francesa, onde conseguem um suporte mais completo, como emprego, moradia e auxílio governamental.
O palestino Amer Youssef, que viveu a maior parte de sua vida na Síria, está há três anos no Brasil como refugiado e em menos de um ano conseguiu regularizar sua permanência no país. Já o marroquino Soifian Fadilli é considerado imigrante. Vive há dois anos no país e ainda não conseguiu a permanência, somente o protocolo temporário. Ambos desejam ir para a Guiana Francesa.
“Não existe um número fixo de famílias atendidas pela Associação justamente por esta razão. Todos estão indo, aos poucos, para a Guiana Francesa, em busca de condições melhores”, diz Ahmad Alkhatib.
Há três anos no Brasil, a família Ahmed espera que a situação econômica brasileira melhore e que a situação na Síria se estabilize. O desemprego, a falta de auxílio financeiro e a crise que o país enfrenta fazem a família reviver os momentos difíceis que passaram em sua terra natal.
Bieoll Ahmed e sua esposa Razan viviam na cidade de Daraa, uma das primeiras cidades afetadas pela guerra em território sírio. Razan conta que o bombardeio chegou a 30 metros da casa onde moravam. No Brasil, o Posto Humanizado localizado no Aeroporto de Guarulhos contatou Ahmad Alkhatib para que a Associação Livro Aberto ajudasse o casal a se estabelecer. Após dois anos de estudo, Bieoll já consegue se comunicar em português mas sua esposa, que afirma ser muito tímida, ainda tem muita dificuldade com o idioma.
Durante esse período de adaptação, o casal teve um filho, chamado Zaid. O fato de a criança ter nascido no Brasil ajudou a família a conseguir o visto de permanência no país. Bieoll conta que tem aproveitado cada oportunidade de trabalho temporário que Alkhatib consegue para ele, mas que não tem sido suficiente para cobrir as despesas da família.
Atualmente, eles vivem em uma casa alugada por R$ 600. O filho ainda usa fraldas e toma leite em pó, o que contabiliza cerca de R$ 250 por mês. As despesas pessoais do casal são de aproximadamente R$ 940 mensais. Razan recebe do Programa Bolsa Família apenas R$ 39.
Apesar da situação financeira difícil, ambos afirmam que são gratos ao Brasil, por tê-los acolhido em um momento de muita dificuldade. “Ainda é difícil lidar com os costumes daqui, mas somos agradecidos ao Brasil. Nada é mais difícil do que a guerra e saber sobre a família e nosso país só pela televisão. Agora, amamos o Brasil, mas esperamos que a guerra acabe para podermos voltar para casa”, diz Bieoll.
Marcados pela guerra
A guerra da Síria, que começou como um levante pacífico contra o presidente Bashar al-Assad, se tornou um conflito brutal que não afeta apenas a população local, mas arrasta potências regionais e internacionais.
Antes do conflito, a Síria já enfrentava problemas, como desemprego, corrupção, falta de liberdade política e repressão pelo governo Bashar al-Assad. Em março de 2011, adolescentes que haviam pintado mensagens revolucionárias no muro de uma escola foram presos e torturados pelas forças de segurança na cidade de Daraa, no sul do país. O ato provocou protestos por mais liberdade, inspirados no movimento Primavera Árabe. Quando as forças de segurança sírias abriram fogo contra os ativistas, matando vários deles, mais gente saiu às ruas. Os manifestantes pediam a saída de Assad. A resposta do governo foi sufocar os atos de protesto, o que reforçou a determinação dos manifestantes. No fim de julho de 2011, milhares saíram às ruas em todo o país exigindo a saída de Assad.
Por Caroline Nunes