OBS.: MATÉRIA DO ESPECIAL CENTRO
“No dia de sol o Recife acordou com a mesma fedentina do dia anterior”. Esse foi um trecho cantado por Chico Science e Nação Zumbi, na música "A Cidade", isso em 1994. Vinte e quatro anos passados, o Recife parece continuar acordando com o mesmo problema do dia anterior. Lixos amontoados em diversos lugares do centro do Recife, fezes e urina pelo chão, praças públicas em estado de abandono e tomadas por pessoas em situação de rua.
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Trabalhando no Centro do Recife há 32 anos, estando na rua do Imperador há 20 anos, Luzinete Maria da Silva, de 52 anos, diz que é obrigada a conviver com o mau cheiro cotidianamente. “Aqui se mistura a fedentina do esgoto com o xixi”, já que no edifício que fica bem em frente ao seu ponto comercial, muita gente realiza suas necessidades fisiológicas “a céu aberto”. “É tanto mijo que o suporte de ferro que segurava a porta de vidro do prédio foi corroído”, exclama a comerciante.
A sensação de falta de preservação do Recife parece ser compartilhada por muitas pessoas: desde comerciantes a transeuntes - se mostrando evidente um sentimento de desorganização urbana da capital de Pernambuco. Marcelo Queiroz, 61 anos, acredita que muitos dos “descasos” que acontecem com a cidade tem a ver com o poder público. “Eles só pensam neles, não pensam na cidade e como fazer para melhorar as nossas vidas”, destaca. Marcelo, que chegou no Recife aos cinco anos de idade, vindo da Paraíba, é enfático em dizer que a capital, ao seu ver, não era assim. “Nós éramos umas das mais importantes e lindas cidades do país, depois de São Paulo e Rio de Janeiro. Mas agora o poder público sangra a cidade”.
Por sermos rodeados pelas águas, é evidente que muitos desses lixos, fezes e urinas “descartados” nas ruas e becos da capital pernambucana iriam acabar, uma hora ou outra, tendo os rios como seu “ponto fim”. O vento e as chuvas fortes que caem no Recife levam pelos córregos e canais toda e qualquer coisa que encontrem pela sua frente.
O professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e urbanista, Tomás de Albuquerque Lapa, acredita que não só o poder público mas também a população tem que ter noção de suas obrigações com a cidade. “É difícil melhorar as condições ambientais se a própria população não tomar consciência de que esses rios são nossos, que a vegetação é nossa; somos nós que temos que tomar conta (do ambiental)”, aponta Tomás.
Corroborando com o que foi dito pelo urbanista, o lavador de carros Carlos Alberto dos Santos diz: “eu acho que não só o poder público, mas a própria população tem que ter noção de suas obrigações com a cidade. Os próprios recifenses, muitas vezes, são os culpados pelos problemas que a cidade enfrenta”, afirma Carlos, que desde os 10 anos de idade tem a Avenida Guararapes, no centro da capital pernambucana como o seu ponto de trabalho.
Em frente ao mercado de São José, situado no Bairro de São José, por conta do comércio e do grande fluxo de pessoas transitando pelo local, vários pontos de lixo foram encontrados pelas ruas e, mesmo tendo alguns depósitos para recolhimento dos mesmos, parece que não era suficiente para a quantidade de lixos produzidos naquela localidade. "Aqui deveria ter um container para que a gente pudesse colocar todos os nossos lixos, mas não tem. Já ouvi muitos clientes reclamando por conta disso e do mau cheiro que causa", informa um dos comerciantes do tradicional mercado, que não quis se identificar.
Tomás Lapa afirma que o Recife é uma cidade que teve a sua ocupação de espaço de forma espontânea, então a partir daí já se encontra dificuldades para ordenar esse mesmo espaço. “Eu penso que um processo sistemático de educação patrimonial e ambiental na escola, desde cedo, possam contribuir para que em médio e longo prazo as novas gerações tomem consciência para se viver numa cidade ambientalmente sadia”, conclui. “Só levando as crianças para as ruas da cidade e ensinando a elas o que não se deve fazer (com o meio ambiente) é que conseguiremos um melhor resultado em médio e longo prazo, finaliza o professor.
Posicionamentos do poder público
Lixo no Recife
A Emlurb informa que a coleta de lixo domiciliar nas ruas do centro do Recife é realizada diariamente, além das ações de varrição. Porém, parte da população realiza o descarte irregular de resíduos fora dos horários da coleta, gerando a poluição das vias. A Emlurb pede a colaboração das pessoas para evitar o descarte irregular, mantendo a limpeza urbana em ordem.
Urina e fezes pelo centro da capital ocasionando mau cheiro
A Autarquia de Manutenção e Limpeza Urbana do Recife (Emlurb) esclarece que as equipes do órgão realizam diariamente os serviços de lavagem das ruas e calçadas na área central do Recife. O trabalho é feito com auxílio de caminhões pipas, geralmente durante a noite, quando o movimento de carros e pedestres é menor. No último domingo, por conta de um problema no caminhão, o trabalho foi temporariamente interrompido. Mas, o veículo já foi consertado e o trabalho de lavagem está normalizado desde a quarta-feira (18/04).
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Praça do Diário
Nas andanças pelo Recife, a equipe de reportagem do LeiaJá encontrou uma das principais praças de Pernambuco, a Praça da Independência - mais conhecida como Praça do Diário - em estado de abandono. Chafariz sem funcionar, água parada e com lodo, mato alto e lixos tumultuados. A Emlurb, que também é responsável pela limpeza desse local, informou que "o local conta com funcionário fixo responsável pela manutenção e limpeza diária do local", informação essa que foi negada pelas próprias pessoas que dormem no local, segundo elas, já fazia quase um mês desde a última limpeza na praça. Ao que o órgão responsável continua: "periodicamente existe uma equipe volante para a execução dos serviços de capinação, podas, jardinagem, reparos na estrutura, pintura e consertos em equipamentos geral".
Uma semana depois que o LeiaJá entrou em contato com a Emlurb, a equipe de reportagem voltou ao local e verificou que o mato alto que tinha no local foi capinado e a fonte de água foi limpa; restando a retirada do lodo e limpeza geral do chafariz.