Agosto, mês que simboliza a campanha "Agosto Lilás" de combate à violência contra a mulher, foi mais uma vez marcado por episódios recorrentes de feminicídio em Pernambuco. Nos registros parciais de janeiro a agosto deste ano, consta que 43 mulheres perderam suas vidas nas mãos de ex-companheiros, em crimes que envolveram vingança, comportamento possessivo ou histórico anterior de violência física, psicológica e patrimonial.
39 desses crimes aconteceram apenas entre janeiro e julho, de acordo com a Secretaria de Defesa Social (SDS-PE). O período teve uma queda (13,3%) este ano, em comparação ao ano passado, quando o número de feminicídios foi 45; na prática, são seis casos a menos. Segundo a apuração parcial do LeiaJá, em agosto deste ano, outros quatro casos foram registrados. Como o mês oito segue em aberto, o levantamento não é considerado integral.
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Episódios recentes
Os casos deste mês aconteceram em Recife, Olinda e Goiana. O primeiro aconteceu em 2 de agosto, quando Vilma Simplício da Silva, de 57 anos, saiu de sua casa na Cohab do Cabo de Santo Agostinho, no Grande Recife, e não voltou mais. No dia 4 de agosto, ela foi dada como desaparecida, após denúncias do filho e da irmã.
O corpo da vítima foi encontrado no dia 20, em estado avançado de decomposição, na zona rural de Goiana. O principal suspeito do crime é um homem de 35 anos, não identificado, e com quem Vilma se relacionava há pouco mais de um mês. Ele chegou a confessar o crime, apesar de ter caído em contradição durante depoimento à Polícia Civil.
No dia 7 de agosto, aconteceu o segundo caso, em Campo Grande, Zona Norte do Recife. Renata Alves, de 35 anos, foi morta dentro do próprio apartamento, com um tiro na testa. O principal suspeito é o ex-namorado, que está preso. Os dois casos mais recentes aconteceram em Olinda; um no bairro de Jardim Fragoso, e outro no bairro de Águas Compridas. Jovens de 21 e 18 anos foram mortas a facadas, ambas por seus respectivos companheiros.
Relembre casos anteriores
Mulher assassinada à luz do dia em Olinda, 24 de fevereiro de 2023
Uma jovem de 25 anos, conhecida como “Barbie”, foi assassinada na frente de casa, à luz do dia, no bairro de Salgadinho, em Olinda. De acordo com informações passadas ao LeiaJá, o ex-namorado não aceitava o término do namoro e a ameaçava. Barbie deixou duas filhas pequenas.
Mulher morta a tiros em Olinda, 14 de março de 2023
Dayse Gonçalves da Silva, de 45 anos, foi morta a tiros dentro de sua casa, em Olinda. De acordo com a Polícia Civil, o ex-companheiro da vítima, que não teve seu nome revelado, é o principal suspeito. Ele foi visto por populares fugindo da casa de Dayse momentos após o crime, em uma moto de cor vermelha. Os vizinhos também informaram que o homem, de 43 anos, não aceitava o fim do relacionamento.
Feminicídio em São Lourenço da Mata, 16 de abril de 2023
Uma mulher de 45 anos foi morta a facadas dentro de casa, na localidade de Penedo, em São Lourenço da Mata, na Região Metropolitana do Recife. O crime foi cometido dia 16 de abril e o suspeito é o companheiro da vítima, que foi preso no dia 18.
Mãe e filha mortas em Jaboatão, 6 de julho de 2023
Laura Beatriz Santos Silva, de 23 anos, e Jadete Santos Silva, de 49 anos, foram assassinadas à luz do dia em julho deste ano. O crime aconteceu na entrada de um prédio na Rua Bandeirantes, no Catamarã, trecho do bairro de Candeias, em Jaboatão dos Guararapes. A principal suspeita é de que o caso se trate de dois feminicídios, e o autor seria José Reinaldo Almeida Simões, ex-namorado da jovem morta.
Por que "feminicídio" e não "homicídio"?
Homicídio e feminicídio designam, igualmente, crimes dolosos contra a vida. No entanto, homicídio é o ato de matar uma pessoa independentemente de seu gênero; já o feminicídio é cometido exclusivamente pelo fato de a vítima ser mulher. Assim, mulheres também podem ser vítimas de homicídio, mas a motivação do crime é que vai ditar a linha de investigação.
Nem todo feminicídio será cometido por alguém próximo à vítima, mas é comum que os autores sejam ex-companheiros ou familiares. Para ser classificado como feminicídio, é necessário que o autor do crime tenha cometido o ato em razão de violência doméstica e familiar, menosprezo ou discriminação à condição de mulher. A Lei nº 13.104/2015 prevê penas de 12 a 30 anos para o crime.
Como denunciar
Para fazer denúncias ou obter informações sobre a rede de proteção estadual à mulher, Pernambuco oferece o serviço gratuito da Ouvidoria Estadual da Mulher, por meio do telefone 0800-281-8187. E, em situação de emergência policial, a orientação é ligar para o 190.