Tópicos | entrevista

Projetos governamentais de checagem de informações são iniciativas "viciadas" em sua essência, para a jornalista e advogada Laura Zommer, diretora-geral do portal argentino Chequeado e conselheira da International Fact-Checking Network (IFCN). Na semana passada, o governo Lula lançou a plataforma "Brasil contra Fake", que reúne "respostas sobre fake news envolvendo o governo federal". Segundo Laura, a ideia contraria os princípios da checagem de fatos estabelecidos pela IFCN, entidade que reúne veículos independentes de fact-checking de todo o mundo.

Zommer é criadora da LatamChequea, rede regional que inclui 38 meios de comunicação de 18 países. Ela conta que, além do Brasil, setores governamentais do México, Peru, Argentina, Colômbia, Guatemala e Bolívia já lançaram iniciativas que se autodenominam como fact-checking. "A equidistância supõe que se use a mesma metodologia e a mesma régua para checar o governo e a oposição, o setor público e o setor privado", disse. "Essas 'agências de checagem', na realidade, são agências dependentes de secretarias de comunicação do governo, como ocorre no México e como entendo ser no Brasil. É algo viciado desde o início." A seguir os principais trechos da entrevista ao Estadão.

##RECOMENDA##

O governo apresentou o Brasil Contra Fake como uma plataforma de checagem de informações. Qual sua visão sobre isso?

Não é uma iniciativa original. Na América Latina e no mundo temos antecedentes disso. A posição que a IFCN sempre manteve é de que quando um governo faz algo a que chama de fact-checking, na realidade está fazendo comunicação institucional ou político-estratégica. Uma das características do fact-checking é sua autonomia e equidistância em relação aos distintos atores do debate público. A equidistância supõe que se use a mesma metodologia e a mesma régua para checar o governo e a oposição, o setor público e o setor privado. Essas "agências de checagem", na realidade, são agências dependentes de secretarias de comunicação do governo, como ocorre no México e como entendo ser no Brasil. É algo viciado desde o início.

Como essas iniciativas governamentais contrariam princípios estabelecidos do fact-checking?

Uma das características essenciais do fact-checking é - além da transparência de metodologia, de financiamento, de política de correções e de conflitos de interesse - o apartidarismo e o tratamento igualitário a todos. Nas iniciativas oficiais, há um conflito de interesse que não necessariamente fica transparente ao público. E não há garantias de que o governo vai tratar com a mesma régua os seus e os outros. A própria razão de ser de um governo anula a possibilidade de apartidarismo. Os governos representam a maioria, não a minoria, já que sempre alguém ganha e alguém perde nas eleições.

Na iniciativa governamental mexicana 'Quién es Quién en las Mentiras', muitas vezes opositores e jornalistas são taxados de mentirosos. Quais são as distorções que resultam disso?

Além de estigmatizar jornalistas críticos e ativistas, (a iniciativa de checagem governamental) pode ser usada como estratégia de comunicação política. Em muitos casos, esse tipo de comunicação não tem como priorizar evidências. Nós, checadores, temos de apresentar os melhores dados disponíveis. Esses dados às vezes beneficiam o governo, às vezes beneficiam a oposição. Qualquer iniciativa de um governo só vai publicar dados que contenham a mensagem governista; é difícil pensar que a agência de um governo publicaria dados que perturbassem o governo ou a comunicação oficial.

Governos podem combater de forma responsável a desinformação?

Os governos têm bastante o que fazer. No campo de educação midiática, nossa análise do currículo escolar da Argentina mostra lacunas importantíssimas. Há conversas pendentes sobre exigir por parte das big techs mais transparência e mais investimentos em programas de educação midiática. Não é que governos não podem fazer nada; o problema do ponto de vista da IFCN é que se use essa etiqueta (de checagem de fatos). Da mesma forma, criticamos na Argentina a iniciativa de grupos de bancos que se autodenominavam de fact-checking. Não era fact-checking, e, sim, lobby privado que se utilizava desse formato. Nossa crítica se dirige a grupos de interesse que não transparecem sua condição e seus conflitos de interesse. No caso do setor público, o governo também é regulador, e tem o monopólio do uso da força. Por isso, em qualquer ação desse tipo vinda do setor público soa um alarme.

Que impacto essas iniciativas que se apresentam como fact-checking podem ter no público leitor? Pode gerar confusão?

Pode confundi-los, mas não apenas isso. Pode fazer com que eles suspeitem daqueles que, sim, seguem uma metodologia e um código de princípios. Nos ocupamos disso há muitos anos e levamos a sério. Se concluímos que um dado beneficia Lula, diremos: verdadeiro, Lula. Se amanhã, um dado beneficia Bolsonaro, diremos: verdadeiro, Bolsonaro. Porque o que é mais importante não é se gosto mais de uma ou outra pessoa, um ou outro partido. Em todo caso, são os melhores dados, os fatos que ditam. Isso pode afetar a construção de um ecossistema que por anos vimos fazendo um investimento em fazer as coisas seriamente, profissionalmente.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Era 17 de janeiro de 2005. O promotor Lincoln Gakiya estava em uma farmácia, comprando fraldas, quando recebeu um telefonema que mudou sua vida. "Vá para casa já e aguarde lá, que a polícia vai entrar em contato contigo." Fazia dois dias que seu segundo filho havia nascido. Pouco antes, ele tinha apresentado denúncias contra integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC) e pedido a internação deles em prisão de segurança máxima. A ligação era de um colega, de São Paulo, que interceptou plano para matar Gakiya, em Presidente Venceslau (SP). Desde então, sucederam-se as acusações contra membros da facção - mais de mil denúncias oferecidas.

Em 2018, ele conseguiu mandar para o sistema penitenciário federal Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, líder máximo do grupo. A partir daí, seu cotidiano virou de ponta-cabeça. O PCC até hoje envia drones para vigiar sua casa. Mais de uma dezena de PMs, carros blindados e uma rotina secreta o protegem da maior organização mafiosa da América do Sul, que tem 40 mil membros e movimenta R$ 1,2 bilhão por ano só com o tráfico internacional de drogas. Gakiya, de 56 anos, foi quem descobriu o plano contra o ex-juiz e hoje senador Sérgio Moro (União Brasil-PR).

##RECOMENDA##

Quando o sr. começou a investigar o PCC?

Entrei no Ministério Público em 1991. O PCC não existia. Em 1992, fui para Presidente Bernardes. Tinha 24 anos. Logo peguei uma rebelião no presídio. Participei das negociações e entrei com a tropa de choque. Em 1996, fui para Presidente Venceslau. Em 2006, a cúpula do PCC foi removida para a cidade.

Há 20 anos, pistoleiros do PCC mataram o juiz Antonio Machado Dias. Como esse crime marcou o sr.?

A morte dele foi uma quebra de paradigma. Quando entrei no Ministério Público, diziam que podíamos ficar tranquilos, que ninguém mexia com promotor e juiz, que nunca seríamos atingidos pelo crime organizado. Eu era amigo do Machadinho. Trabalhei com ele e pescávamos juntos. Isso me marcou. Considero esse episódio como um dos que me impulsionaram a atuar contra o PCC.

O País aprendeu alguma coisa com esse crime?

Não temos memória. No início, houve comoção. Mas pouco foi feito. O avanço nas investigações só houve após (os ataques de) 2006. Até então, não tínhamos organograma do PCC ou sabíamos como ele funcionava.

Quando o sr. recebeu a primeira ameaça do PCC?

Fui "decretado" pela primeira vez em 2005. Ofereci uma denúncia contra presos da sintonia do PCC do interior e tive a ousadia de pedir a internação dos que comandavam essa célula no regime disciplinar diferenciado, o que não era comum. A primeira ordem para me matar veio desse pedido. A partir daí, fui escoltado porque havia uma ordem do PCC para me matar. Eu não entendi nada. Às vezes, me coloco na situação das pessoas citadas como alvo nas investigações. Fiquei em casa. E não podia falar nem para minha esposa, que havia acabado de dar à luz. Voltei a trabalhar e passei a investigar quem poderia mandar matar um promotor.

Em 2013, o sr. denunciou 175 membros da facção. Como a Justiça tratou o caso?

Esse caso tem mais um valor de reconhecimento formal do PCC e sobre como funcionava a facção, mas não temos ainda sentença condenatória. Não dei entrevista na época. Acreditava que, para salvaguardar minha segurança, precisava do anonimato. Mas a investigação levou a milhares de prisões e mortes em confrontos com a polícia. Ali, minha situação se agravou.

Ao longo dos anos, o mundo político usou o crime organizado para atingir adversários. Essa exploração, independentemente de quem a faz, prejudica o combate ao crime?

Com certeza isso atrapalha demais e prejudica. O próprio crime organizado assiste de camarote a esses casos. São Paulo não transferia lideranças do PCC para o sistema penitenciário federal para não parecer que o Estado não tinha capacidade de conter os presos. Estes sabiam que nunca seriam mandados para o sistema federal por razões políticas. A distância entre os presídios federais era importante para desarticular a comunicação dos detentos.

Em 2022, o sr. criticou Sérgio Moro por ele tentar explorar, na eleição, a transferência de Marcola para um presídio federal. Agora, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva diz que sua investigação é armação de Moro. Como vê essas situações?

Isso é muito caro para mim e para minha família, porque isso custou minha vida. A minha vida não volta mais. A minha vida normal de ir a uma praia, ao happy hour com meus amigos nas sextas-feiras, jogar futebol e passear com a família, isso não volta, pois 2018 mudou minha vida para sempre. Não sou herói. Sou um servidor público que cumpriu seu papel. Isso é muito caro para mim, pois todos que estão à minha volta estão sofrendo por uma escolha minha. Eu não consultei a minha família para fazer essa escolha. Em 2018, sofri sozinho. Tive muita resistência para fazer esse pedido de remoção (das lideranças do PCC para o sistema prisional federal). Descobrimos o terceiro plano de fuga do Marcola e tínhamos de tomar providências, pois estávamos em uma situação como essa do Moro. Esse resgate ocorreria nas eleições. Imagina um fim de semana de visitas, com morte de pessoas inocentes? Pedi sozinho a remoção de todos. E faria tudo de novo. O governo foi contra a remoção. A partir de então, o PCC disse que sabia da minha rotina, que me viu no trânsito, que eu andava com escolta. Essa carta foi apreendida com a visita de um companheiro de cela de Marcola. Daí para frente, minha vida mudou.

Sua casa foi filmada por drones do PCC?

Sim. Minha esposa me avisou: "Aqui em cima da piscina tem um drone parado". Já tive um me acompanhando e acompanhando minha esposa.

Queria voltar à frase do Lula. Quando um presidente declara que o trabalho do sr. é uma armação, como fica o Estado diante disso?

É a desorganização do Estado. O Ministério Público é uma instituição do Estado. Sua primeira função é a defesa da ordem democrática, da Constituição. A gente não serve ao governador, nem ao procurador-geral. As polícias também. Eu não posso entender, qualquer que seja o presidente, seja (Jair) Bolsonaro ou Lula, utilizarem, às vezes, a "minha" polícia. A polícia é do Estado. Isso me deixa muito constrangido, quando se tenta usar a polícia para fins políticos. Os governantes vão passar e as instituições vão permanecer. Sou crítico quando esses políticos usam a remoção dos líderes do PCC. Essa remoção acabou com minha vida e da minha família. Fiquei com o ônus e os políticos ficaram com o bônus. Agora, falar que a polícia inventou essa operação está ofendendo a mim e ao Ministério Público. Essa operação começou com o Ministério Público de São Paulo. Levamos no dia 30 de janeiro a informação ao Moro e à sua esposa. Prometi que, em três meses, íamos identificar essas pessoas e efetuar as prisões. Aí eu louvo o trabalho da Polícia Federal. O Moro é um crítico do ministro da Justiça e opositor do presidente, mas a PF é republicana. Em apenas 45 dias, ela concluiu seu trabalho.

Moro defende tornar crime a preparação de atentados contra autoridades. O sr. concorda?

Creio que sim.

O sr. acha que o preso faccionado, como na Itália, deve ser submetido a regime carcerário diverso?

Ia chegar nisso. Temos uma facção que começou dentro do sistema. Isso faz com que muitos crimes sejam ainda comandados das unidades prisionais. É preciso rever a Lei de Execuções Penais. Marcola já cumpre 340 anos. O que um novo processo pode acrescentar à situação dele? Nada. Temos uma organização que tem cem indivíduos importantes entre 600 mil presos no País. O integrante de organização não deve ter benefício. Na Itália, há o artigo 41 bis, do Código Penitenciário, usado só para terrorismo e máfia. É preciso uma forma diferenciada de cumprimento de pena para as lideranças de facções.

 

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

A Kilmes Feiras e Eventos, agência de eventos de Ribeirão Preto, município de São Paulo, entrou em uma polêmica após divulgar uma oportunidade de emprego com mais de 100 vagas e exigências físicas muito específicas. 

O anúncio era para trabalhar em estandes no evento Agrishow, feira de tecnologia agrícola que acontece em São Paulo, nos dias 01 a 05 de maio. A vaga exigia perfis de mulheres e homens acima de 18 anos e que vistam de 36 a 42, no caso das mulheres, e de 36 a 44, no caso dos homens. Segundo o anúncio, o motivo seria o tamanho dos uniformes.

##RECOMENDA##

A altura também era um diferencial no anúncio, mulheres deviam ter altura acima de 1,65 centímetros e homens acima de 1,75. No fim da descrição do perfil, a última linha ainda pedia por um estilo ‘de academia, malhada’, que eles chamaram de perfil ‘panicat’.

Os aprovados iriam receber R$ 240 reais por dia, com alimentação já inclusiva, e jornada de 9h30, com um horário de intervalo para o almoço. 

A diretora do Agrishow, Liliane Bortoluci, disse em entrevista à Record que não compactua com tais atitudes. “É triste, né? (...) Restringir altura, tamanho, manequim é ruim. É ruim para quem está contratando, é ruim para empresa que contratou essa empresa para fazer essa triagem”, afirma Liliane.

O anúncio já foi retirado da internet e, em nota ao Globo, o evento comunica que a agência responsável pelo anúncio de emprego, a "Kilmes Feiras e Eventos", já não está mais presente na lista de fornecedores oficiais do Agrishow.

Na última semana, uma policial militar negra, de 41 anos, foi acusada injustamente de furto em um estabelecimento comercial na Zona Oeste do Recife, capital pernambucana. Mesmo apresentando a nota fiscal dos produtos comprados, a vítima, que não foi identificada, precisou se esclarecer mais de uma vez e foi humilhada em público pelo segurança da loja. O caso foi levado a uma Delegacia de Polícia Civil e registrado como calúnia, apesar da suspeita de motivação racial. 

O crime de calúnia consta no artigo 138 do Código Penal e prevê pena de detenção de seis meses a dois anos e multa para quem atribuir falsamente a alguém a responsabilidade por um determinado fato que é definido como crime. Ele também pode contemplar situações de racismo. 

##RECOMENDA##

Nenhuma das situações é um caso isolado: nem o racismo escancarado, nem o registro de situações possivelmente oriundas de racismo como ocorrências que ferem a honra, mas que não têm relação com a raça, etnia ou religião da vítima. No caso da policial acusada de furto, o crime de calúnia não foi atribuído incorretamente, mas faz parte de um padrão de atendimento a ocorrências por possível motivação racial. 

Muitos aspectos contribuem para que o racismo permaneça sendo penalizado de forma mais amena na sociedade, desde a situação de uma representação judicial inexistente para a vítima, ao despreparo nas delegacias e tribunais do país. Considerando esses fatores, como a legislação brasileira lê o racismo na atualidade? Quem responde à pergunta é a advogada Patrícia Oliveira, entrevistada pelo LeiaJá

— Patrícia Oliveira, do Projeto Oxé, uma iniciativa da Rede de Mulheres Negras de Pernambuco, com o apoio da articulação estadual (Anepe) e do Gabinete Assessoria Jurídica Organizações Populares (Gajop)

LJ: Afinal, o racismo é crime previsto na legislação do Brasil? 

Patrícia: O racismo é crime inafiançável e imprescritível. Isso tem que ser "negritado" em todos os cantos do Brasil, porque a prática do racismo está sujeita à pena de reclusão nos termos da lei.  

LJ: O que muda com a lei que equipara injúria racial ao racismo, sancionada pelo presidente Lula em janeiro deste ano? 

Patrícia: Com a nova lei que altera a tipificação do crime de injúria racial, a gente precisa frisar que, ao equiparar injúria racial a racismo, ainda se tem crimes distintos. A injúria racial atinge a subjetividade do indivíduo, já o racismo atinge uma coletividade. Por exemplo, é crime de injúria racial quando a honra específica de uma pessoa é afetada em razão da sua cor, etnia ou religião. Já o crime de racismo ocorre quando o agressor atinge um grupo ou uma coletividade de pessoas, discriminando um grupo ou raça de forma geral. 

Com a sanção da nova lei (Lei do Crime Racial, 14.532/2023), se acrescenta alguns pontos à Lei 7.716/1989, que é justamente a Lei do Racismo e que continua em vigor mesmo com essas mudanças. A maior novidade é que a injúria racial passa a ser equiparada ao crime de racismo e aí sofre um aumento de pena. A pena de reclusão é de dois a cinco anos e multa, assim como nos casos de racismo. 

LJ: Por que muitos casos de racismo são tipificados como injúria? 

Patrícia: Vivemos em um país que é estruturalmente racista, porque foi construído sobre a opressão de uma população. Muitos casos em que a gente verifica todos os indícios de que estamos diante de uma prática de racismo, mas tipificam de outra forma, a depender de quem esteja passando por essa situação e do aparato que ela tem para fazer a instalação do inquérito e investigação. Mesmo com fortes indícios e se concluindo o inquérito na perspectiva de que está acontecendo uma situação de racismo, no Judiciário, ao ser analisado por determinado julgador, se conclui que estamos dentro de uma injúria racial. 

Até porque, o crime de injúria racial, antes da sanção em janeiro de 2023, tinha uma pena menor, e poderia dar a possibilidade de ofertar ao Ministério Público uma transação penal. Era muito mais interessante que se fizesse isso. Mas por que isso acontece na prática, no Estado, no Judiciário que deveria concretizar as ações com base no acervo legislativo? Porque as pessoas ocupando os espaços de justiça são pessoas sem vivência, privilegiadas, que não furaram sua bolha e que nunca passaram por uma situação de racismo. São pessoas despreparadas para julgar casos de racismo e que nunca poderão sentir na pele o que é você sofrer indiferença, ser ignorado, invisibilizado em razão da sua cor. O Estado, que detém o poder de atuar como agente repressivo do racismo e de penalizar os racistas, não o faz, mas é conivente.  

LJ: A tipificação do caso da policial militar, como calúnia, é comum? 

Patrícia: Isso é corriqueiro no dia a dia do operador do direito e também da pessoa que não tem condições de ter um advogado para acompanhá-la à delegacia e gerar um boletim de ocorrência. Esse grupo se depara com agentes do Estado despreparados para receber e efetivar a ocorrência. Na tipificação é comum não ser registrada a definição correta do crime ali. É aí onde entra a realidade do que a gente [pessoas pretas] vive. A mulher acusada é negra. O fato de você não ter a cor que abona a possibilidade de ser alguém que pratique algo ilícito já diz muito. Nossos corpos estão sempre à disposição da sociedade para dizer o que somos e deixamos de ser. 

Como negra, sou colocada na caixinha de uma possível criminosa, de alguém que não é merecedor de estar em determinado espaço ou que possa ser médico ou estar compondo uma mesa de justiça. Isso de não conseguir registrar o crime de racismo é comum e desafiador para nós advogados e precisamos que haja um esforço coletivo dos governantes para que vítimas de racismo possam ser acolhidas em delegacias e tribunais, que nos olham e julgam já como réus. 

LJ: Somando à pergunta anterior, qual a diferença entre injúria e difamação? 

Patrícia: A diferença entre injúria e difamação está no tipo de ofensa feita à honra da vítima. A injúria (artigo 140) ofende a honra subjetiva e a moral da vítima, por exemplo, chamar alguém de ladrão. Já a difamação (artigo 139) é imputar fatos ofensivos à conduta da vítima, para prejudicar sua imagem pública (reputação). Por exemplo, espalhar, publicamente, que determinada pessoa não paga as contas em dia e é devedora.  

LJ: Em que essas lacunas atrapalham a luta no combate ao racismo no país? O que falta na nossa lei? 

Patrícia: Temos uma vasta legislação, um acervo de legislações, mas na prática, elas não são efetivadas, e isso passa por vários vieses. A partir do momento em que você é vitimado com um ato racista e procura uma delegacia para poder registrar e instaurar um inquérito, você enfrenta desafios porque as pessoas que estão ali, representando o Estado, para lhe acolher humanamente, ter empatia com a situação e, de fato, aplicar a lei pertinente, muitas vezes lhe revitimiza e o faz sentir novamente toda aquela dor. 

É revitimizar quando se diz que a denúncia não vai dar certo e se estimula a vítima a não registrar, quando não se tipifica corretamente o crime que a vítima buscou a delegacia para registrar. Mesmo diante da legislação que nós temos, se ela de fato fosse aplicada como deveria, a gente poderia estar fazendo a diferença. Infelizmente, a vítima de racismo sofre duplamente, pois é vitimada no crime e uma segunda vez com a morosidade do Judiciário e a falta de empatia. Temos a necessidade de qualificar pessoas e de delegacias especializadas no combate ao racismo.

Antônio Cara de Sapato, eliminado do BBB 23 após acusação de importunação sexual contra a visitante Dania Mendez, falou sobre o episódio durante entrevista. O lutador comentou sobre o depoimento prestado à polícia e sobre como se sentiu vendo as imagens que o tornaram alvo de uma investigação na Polícia Civil do Rio de Janeiro, além de terem provocado sua eliminação do reality. Segundo o atleta, ele se sente “envergonhado” com a situação. 

Sapato comentou o assunto durante entrevista à revista Quem. Segundo o atleta, não é fácil explicar o ocorrido. “É muito difícil você definir de forma objetiva o que aconteceu ali. No momento que eu estava ali, eu não conseguia perceber um excesso da minha parte, mas quando eu paro para olhar as imagens, me leva a um momento de reflexão e compreendo que a minha atitude não era a atitude certa.”

##RECOMENDA##

O ex-brother disse, também, que ficou “chateado” após o depoimento prestado à polícia, mas garantiu que está “disposto a esclarecer qualquer situação.” Ele também afirmou estar “envergonhado” e que cenas como as que protagonizou “jamais podem ser normalizadas”.

No último dia 17, na Globo, foi ao ar o último capítulo de Mar do Sertão. Escrita por Mário Teixeira, a novela deixou os telespectadores vidrados com histórias que reverberaram ao longo de sua exibição. Reunindo diálogos e interpretações impressionantes, a trama das seis também marcou o público de casa com a perspicácia do elenco. Para a pernambucana Clarissa Pinheiro, que deu vida à doce e sábia Tereza, ter participado da obra foi uma experiência muito especial.

"Vivendo a Tereza, eu via um pouquinho de cada mulher que eu admiro nesse lugar de estar representando essa humildade, gratidão e valorização pelo que se tem, porque mesmo a Tereza ficando rica, ela sempre deu valor ao que tinha, que eram os filhos, o bem-estar das pessoas próximas", declarou a atriz, em entrevista ao LeiaJá.

##RECOMENDA##

Clarissa frisou que a personagem foi uma mulher que nunca deixou de lutar pelos seus desejos pessoais: "Essa é uma das mulheres mais incríveis que eu pude representar na televisão". Natural do Recife, a também diretora de cinema e jornalista vive no Rio de Janeiro há dez anos, cidade que a fez mergulhar com seriedade e satisfação na arte. À reportagem, Clarissa Pinheiro abriu o coração sobre a carreira, representatividade feminina e projetos futuros.

Tereza, sua personagem em Mar do Sertão, trouxe diversas reflexões ao público de casa. Dá para ter uma dimensão do que foi esse seu papel na vida das mulheres?

Olha, pelo feedback que eu tive nas minhas redes sociais e nas ruas, de tantas mulheres que se identificaram com a Tereza, seja por se sentirem iguais ou por conhecerem pessoas tão inspiradora quanto ela, digo que a importância de se sentir representado foi o que mais me chamou atenção. Tereza é sofrida, mas é guerreira. É feminista sem saber e luta com o coração.

A força da mulher sertaneja, sobretudo brasileira, que enfrenta as intempéries sem esmorecer e sem perder a empatia pelo próximo. A generosidade de Tereza é inspiradora. Não acho que foi à toa que tanta gente se apaixonou pelos Timbós. Não importa o pouco ou muito que a gente tenha, mas a empatia pelo outro é que nos aproxima e promove a cura.

A personagem da Tereza é um verdadeiro chamado à todas as Terezas (e as que se inspiram nelas) para olharem para si com carinho, valorização e potência. Sem perder a doçura no coração.

Débora Bloch, Isadora Cruz, Suzy Lopes, Eli Ferreira, Sara Vidal, Heloísa Jorge, Giovana Cordeiro... Essas foram algumas das atrizes com quem você contracenou. O que você leva dessa experiência com elas?

O encontro dessas mulheres diversas, em diferentes fases da carreira, foi muito rico e divertido! Acho que vivemos um momento de muita parceria entre as mulheres, em busca de sororidade, empatia e apoio. Débora é uma pessoa que sempre admirei, seja na comédia ou no drama. Sempre foi uma atriz que me tocou. Já nos encontramos em outros projetos, então reencontrá-la foi o mesmo prazer de sempre! Adoro!

Suzy Lopes é uma figura que não tem igual! A gente se diverte dentro e fora de cena! Isadora e seus encantos! O afeto que Tereza tem por Candoca se assemelha ao que eu tenho por essa criatura! Eli Ferreira, assim que entrou pra primeira leitura do roteiro me chamou atenção com sua voz e imponência! Que mulher! Me identifiquei imediatamente com esse contralto! Já conviver com Heloísa Jorge e a pastora Dagmar foram momentos de diversão e reflexões. Levo pra vida!

Giovana Cordeiro, minha Xaviera praticamente adotada pelos Timbós, carrego num lugar de admiração que nem uma mãe quando vê que seu filho, tão dedicado, colheu os frutos de sua determinação. Admiro demais! Sara Vidal foi uma parceira incrível. Nossa troca de mãe e filha talvez eu não consiga nem saber separar na vida! Eu amo essa menina e quero o bem dela que nem o de uma mãe por sua filha. Sem falar em todas as outras mulheres incríveis que encontrei e reencontrei nessa novela. Todas em suas buscas, encontros, trajetórias e angústias foram parceiras. Nossas trocas levo para a vida.

A sintonia entre você e o Enrique Diaz foi extremamente visceral. Timbó e Tereza promoveram encontros engraçados e emocionantes. Como é trabalhar com ele?

Eu e o Kike [Enrique] já tínhamos feito par romântico na série Justiça, de Manuela Dias, em 2016. Interpretamos a Irene e o Douglas. Guardo com muito carinho esse primeiro encontro, em que desde o princípio teve troca, escuta, parceira e diversão. Quando soube que eu e ele interpretaríamos Timbó e Tereza, senti um lugar familiar e de muito conforto. Fora que ele é um artista, uma pessoa, um ser humano que é impossível não se sentir bem em conviver. Nossas trocas foram incríveis e eu só posso dizer que reencontrá-lo em cena será, sempre, o maior prazer.

Mar do Sertão reuniu um elenco recheado de nordestinos. Como foi para você, uma artista pernambucana, de Recife, representar uma região tão rica em cultura?

A novela reuniu um elenco que veio de vários estados do Nordeste, um encontro da nossa cultura em suas semelhanças e em suas diferenças. Nessa novela, houve espaço para todas as gírias, trejeitos e características típicas de nosso povo. Dessa troca, só fortaleci o meu entendimento e a minha força nordestina porque, assim como o público, me senti representada. Sinto muito orgulho de ter feito parte de um projeto que deu voz ao Nordeste, buscando respeitar sua cultura. Somos diversos e essa é a nossa beleza.

Você coleciona no currículo grandes trabalhos no teatro, cinema e televisão. Em Amor de Mãe, de Manuela Dias, os telespectadores se deliciaram com a tua entrega na interpretação de Penha. Na TV, por exemplo, você tem o costume de colocar improvisos ou é de seguir à risca o que vem no roteiro?

Sou bem cartesiana com relação aos textos que recebo. Parto do princípio que o autor daquelas palavras também fez a sua própria imersão para trazer aqueles pensamentos à tona. No entanto, em meus estudos, procuro buscar expressões, cacos e formas de colocar aquela determinada frase dentro de um contexto que faça sentido para minha personagem.

Existem autores mais fiéis às palavras escritas. Procuro me adaptar a cada um deles. Se o desafio é reproduzir cada uma daquelas palavras, sem qualquer modificação, eu encaro como uma oportunidade de experimentar nossas possibilidades. E quando é possível acrescentar algo, eu jogo junto. Gosto mesmo é de mergulhar naquela psiquê da personagem e pensar suas formas de agir diante dos milhares de embates emocionais a que somos submetidos.

Com o fim de Mar do Sertão, o que está reservado de projeto para você? Já tem algo que você possa revelar?

Esse ano, provavelmente, serão lançados três filmes que participei, coincidentemente os três foram dirigidos por mulheres. Em Sereias, com nome provisório, interpreto Marli, mãe de uma adolescente. É um filme da Valentina Homem e Fernanda Bonde que trata do universo feminino e as batalhas cotidianas das mulheres. O segundo filme é o Senhoritas, que  retrata aemancipação feminina. Já em Pedágio, interpreto Joelta, uma 'perua' que interage com a protagonista interpretada peor Maevis Jinkings.

Também estou com uma boa expectativa em retomar a peça Isso Que Você Chama de Lugar, com direção do Daniel Herz. Além disso, estou fazendo lendo um novo roteiro e estou com mais algumas outras possibilidades, mas por enquanto não posso revelar!

O que posso dizer é que 2023, se der tudo certo, será de diversas expressões artísticas. Teatro, cinema, TV, séries e tantas outras formas de comunicar estarão, sempre, na minha manifestação existencial. E o público pode acompanhar ainda alguns dos meus trabalhos que estão no GloboPlay.

Qual o recado que você deixa para as meninas, mulheres, que querem seguir a mesma profissão que te projetou nacionalmente?

Diria que ser artista é um chamado, mas não é fácil. E como qualquer outra profissão, exige disciplina, estudo, entrega, resiliência, entre outros tantos atributos para que possamos seguir entregando o nosso melhor.

A arte, no entanto, exige um entrega para além do material. É uma entrega de alma. E quando falo de arte é inerente à fama. Estou falando de arte visceral. De expressar suas emoções genuínas e transformar os próprios sentimentos em vetores que conectam as pessoas. Se colocar à disposição da arte, das emoções e dos sentimentos que estão naquela história.

Se você encontrasse com Clarissa Pinheiro de dez anos atrás, que conselho você daria para ela?

Menina, eu te entendo profundamente e sei que as inseguranças e medos são, muitas vezes, paralisantes. Mas siga fazendo, como você sempre fez, mesmo com medo e sem ter uma certeza das coisas, porque a construção é diária e o resultado acontece. Você é capaz e o tempo vai te dizer isso. Não deixe de se cobrar para entregar sempre o melhor, mas se liberte um pouco da autocobrança. Tenha calma, paciência e amor por você mesma.

[@#galeria#@]

O Plurarte continua festejando as mulheres neste mês de março e a convidada da vez é a paraense multi-instrumentista Melina Fôro. Tudo começou na infância: pais e irmã são da dança. Assim, ela cresceu dentro de um teatro, sendo que de olho nos instrumentos musicais.

O pai foi o primeiro professor de Melina e a ensinou a tocar flauta bem cedo, com 5 anos. Ela seguiu. Estudou música no Conservatório Carlos Gomes e, antes mesmo de se formar, foi convidada para ser diretora musical de um grupo folclórico em Carajás.

##RECOMENDA##

Aos 18 anos, começou a construir sua carreira musical. Depois de cinco anos de muita vivência e aprendizado, voltou para Belém e começou a cursar faculdade de música na Universidade Federal do Pará (UFPA). Recomeçou sua carreira musical fazendo apresentações de voz e violão com Lorena Monteiro, fez parte do grupo Pagode das Meninas e continuou.

Hoje, totalmente engrenada na vida cultural de Belém, Milena disse que reconhece e se identifica com a cidade. Continua lutando pelo espaço da mulher e usa a música para dar voz a ela própria e a outras mulheres. Milena também ensina e participa do importante coletivo Tem Mulher na Roda de Samba.

Apresentado por Sandra Duailibe, o Plurarte está no ar sempre às sextas-feiras, na Rádio Unama FM (105.5), às 13h20, com reapresentação aos sábados, às 10 horas, e publicação no portal LeiaJá. Acesse o canal do Plurarte no Youtube aqui.

Da Redação do LeiaJá Pará.

A volta por cima do Paysandu, com a vitória no clássico contra a Tuna, e o Remo 100% estão na pauta do UNAMA no Parazão desta terça-feira (21). Também rolam um papo sobre a campanha do Águia e a análise da rodada do fim de semana. O jornalista Bruno Amâncio, da TV Liberal, G1 e GE Pará, é o convidado. A apresentação está com os estudantes de Jornalismo Rodrigo Sauma, Melbya Rolim e Beatriz Cobel.

UNAMA no Parazão é um projeto do curso de Comunicação Social da Universidade da Amazônia, sob comando do mestre e professor Antonio Carlos Pimentel. O episódio  vai ao ar na UNAMA FM, às 12h30, com publicação no LeiaJá (leiaja.com/pa). Clique no ícone abaixo e ouça.

##RECOMENDA##

[@#podcast#@]

Da Redação do LeiaJá Pará.

 

 

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), disse nessa segunda-feira (20), que o governo federal não tem "excelência técnica", afirmou que o PT não possui maioria política no plano nacional e "está desestruturado". Para o chefe do Executivo paulista, que é afilhado político do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), a "lua de mel" do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vai acabar.

Questionado em entrevista à Rádio Jovem Pan, sobre o que o apresentador chamou de "inexistência de uma excelência técnica no governo do PT", Tarcísio defendeu que "além de não ter excelência técnica", Lula não tem maioria política.

##RECOMENDA##

"Porque você fez uma grande distribuição de cargos, distribuiu um monte de ministério, tem 37 ministérios criados e você não tem maioria, não aprova uma PEC (Proposta de Emenda à Constituição). Está confuso, está desestruturado. Eu vejo um cenário de dificuldade para aprovar reformas importantes, para mediar conflitos com o Congresso, e entregar resultados que vão ser importantes", justificou.

"A gente obviamente vê um cenário de um presidente (Lula) muito mais preso a essa ala radical, que de certa forma não é um presidente que teve lá atrás uma postura de mais pragmatismo. Eu vejo um presidente mais ideológico, mais impaciente", disse. "O governo vai ficar cada vez mais ansioso. Essa lua de mel tem dia e hora para acabar", completou.

Apesar das críticas, Tarcísio argumentou que quer manter uma boa relação com o governo federal, de modo a conquistar cooperação nas áreas da habitação, saúde e segurança pública.

No caso da defesa pela privatização do Porto de Santos, em que diverge da posição do Planalto, o governador disse que Lula se mostrou disponível a ouvir os argumentos pela desestatização da autoridade portuária.

Sobre o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, Tarcísio disse que seu ex-adversário ao governo de São Paulo "está tentando fazer o correto" na pasta. "Há de se ver com o tempo até que ponto ele vai ter autonomia e caneta para fazer o que é correto. Está tentando acertar. Eu faço votos para que acerte mesmo", afirmou.

Ainda defendeu que os ministros do Supremo Tribunal Federal são sensíveis a ouvir argumentos em votação caras ao cenário de investimentos no País. "Tenho relação muito boa (com ministros do STF), sempre que precisei recorrer ao Supremo fui bem atendido. Eu vejo razoabilidade dos ministros ao argumento."

Tarcísio voltou a elogiar Jair Bolsonaro e apostou que o ex-presidente deve retornar ao Brasil. "A paixão que as pessoas nutrem por ele é gigantesca. Isso não morreu. Se engana quem pensa que isso morreu. A grande liderança de direita no Brasil é Jair Bolsonaro. Em breve deve voltar dos Estados Unidos com capital político gigantesco", defendeu.

O governador de São Paulo voltou a defender a privatização do Porto de Santos e disse que o porto se tornou o "maior ponto de exportação de drogas do planeta".

"Quando eu falo de Santos, eu não estou preocupado com a panaceia da privatização. Eu estou preocupado com 60 mil empregos, gerar perspectiva para uma região que está empobrecendo e, pior, está sendo tomada pelo crime organizado", disse.

"O Porto de Santos virou o maior exportador de drogas do planeta. Se a gente não fizer nada, a gente perde a guerra para o crime, jovens vão perder suas vidas para o crime", completou.

O Porto de Santos foi listado em 2022 pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime como um dos pontos de maior trânsito de entorpecentes e substâncias ilícitas da América Latina, ao lado de Buenaventura, Cartagena (Colômbia) e Guaiaquil (Equador). O mesmo relatório também indica que o Brasil é o maior exportador de cocaína do mundo.

O Plurarte foi a São Luís conversar com Areli Potiguara, uma artista versátil. Ela começa a prosa dizendo que a arte está em sua vida desde criança, quer pintando, brincando com massinha, interpretando personagens. Formou-se em Educação Artística na Universidade Federal do Maranhão (UFMA), lecionou durante um ano e logo seguiu outros caminhos. Iniciou nas artes plásticas pintando a óleo e, agora, usa a acrílica no papel e em tela também. Outra novidade são as ecobags pintadas à mão, que podem ser feitas em tecido e em TNT.

Apresentado por Sandra Duailibe, o Plurarte está no ar sempre às sextas-feiras, na Rádio Unama FM (105.5), às 13h20, com reapresentação aos sábados, às 10 horas, e publicação no portal LeiaJá. Acesse o canal do Plurarte no Youtube aqui.

##RECOMENDA##

Da Redação do LeiaJá Pará.

A proposta de reforma tributária deve prever um sistema de pagamento para diminuir a sonegação de impostos e as fraudes no País. O chamado split payment vai possibilitar que o novo Imposto sobre Valor Agregado (IVA), que será criado com a reforma para unificar tributos atuais, seja recolhido automaticamente no momento da compra.

Pelo mecanismo, o banco separa, já na hora do pagamento, o imposto para os cofres dos governos (federal, estadual e municipal) e o valor destinado para quem forneceu o bem ou serviço.

##RECOMENDA##

"Na hora que você paga, o montante do imposto é recolhido automaticamente. E a parte que é do fornecedor vai direto para o fornecedor", antecipou o secretário extraordinário para a reforma tributária do Ministério da Fazenda, Bernard Appy, em entrevista ao Estadão.

No modelo atual, a empresa compradora paga o valor do produto, com o imposto, para o fornecedor, que recolhe o tributo.

"A vantagem é que reduz muito o risco de sonegação, porque o próprio recolhimento do imposto se dá no pagamento. A segunda vantagem é que reduz o risco de 'créditos frios'", disse ele, em referência a créditos feitos por empresas laranjas para fraudar o Fisco.

O secretário afirmou que dispositivos do split payment aparecem tanto na Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 45 quanto na 110 - que estão no Congresso e embasam as discussões de reforma no governo Lula.

"Provavelmente (o split payment) deve passar, sim. Não como uma coisa determinativa; vai passar como uma possibilidade", diz. "Ele exige uma construção técnica que é perfeitamente possível com a tecnologia que temos hoje, mas exige uma série de ajustes de sistemas, como sistema de pagamento. É uma inovação que está sendo discutida."

Adotado por vários países, o IVA permite que cada etapa da cadeia produtiva pague o imposto referente ao valor que adicionou ao produto ou serviço, evitando tributação em cascata.

A seguir, os principais trechos da entrevista.

O governo vai enviar uma proposta nova de reforma tributária ou vai usar as que já estão no Congresso?

O que vamos fazer é apoiar o Congresso na elaboração da emenda constitucional da reforma tributária a partir dos textos que já estão lá. O governo vai apoiar o trabalho do relator (deputado Aguinaldo Ribeiro), discutir alternativas, apresentar sugestões.

A proposta será, então, do Congresso?

É uma proposta do Congresso que conta com apoio do governo.

O presidente Lula não tem falado muito de reforma tributária, como na campanha. Ele vai entrar em campo e defendê-la?

Eu acredito que sim. É o tempo dele na política. Mas, na hora que for preciso entrar em campo, acredito que entrará, sim.

O governo prometeu que a reforma será neutra, sem aumento da carga tributária. Haverá um gatilho para garantir a promessa?

Vai ter. A cada ano, será fixada uma alíquota com base em cálculos que mostram que se estará mantendo a carga tributária. A alíquota de referência (do novo imposto) terá de ser aprovada pelo Senado todo ano, durante a transição.

A transição durará quanto tempo?

A transição dos tributos federais é rápida, imediata. Um ano depois de aprovada de lei complementar, é possível fazer a transição do PIS/Cofins. No caso do ICMS e do ISS, o início demora um pouco, e, a partir daí, ela é feita em quatro ou cinco anos. Suponha que se aprove a emenda constitucional neste ano, e a lei complementar no primeiro semestre do ano que vem: poderia começar a cobrar a CBS (Contribuição Social sobre Bens e Serviços, que deve unir PIS, Cofins e IPI) em meados de julho de 2025, o IBS (Imposto sobre Bens e Serviços, junção de ICMS e ISS) em janeiro de 2027. A transição estaria completa em 2030 ou 2031, quando deixariam de existir os tributos atuais.

Como o governo vai enfrentar resistências setoriais, como serviços e agronegócio?

Embora a discussão tenha começado com o modelo ideal sem nenhuma exceção, sabemos que vão acabar entrando algumas excepcionalidades. O tratamento favorecido poderia ser via diferenciais de alíquota, mudanças nas regras de creditamento ou isenção. E, na PEC 110, se abriu mais uma possibilidade: a devolução do imposto, e não é só para as famílias de baixa renda. Poderia ser, inclusive, para setores específicos, como educação.

O sr. apoia essa medida?

Gosto da ideia. Quem vai decidir quais setores vão ter tratamento diferenciado é o Congresso.

Como seria a devolução?

É um 'cashback' para as pessoas Por exemplo: educação básica para uma família de classe média custa R$ 700 por mês. Se o imposto é 20%, dos R$ 700, são R$ 140 por mês. Devolve-se o imposto incidente na despesa com educação até R$ 140 por mês. Nesse sentido, é desonerada completamente uma família de classe média baixa, que faz um esforço enorme para ter o filho numa escola privada. Mas uma família rica receberia uma parte de volta do imposto que ela pagou. Essa é uma possibilidade.

A reforma poderá incluir uma trava de segurança para que Estados e municípios não tenham perda de arrecadação com medidas aprovadas pelo Congresso?

Está em discussão. A ideia básica é fazer com que qualquer mudança que reduza a arrecadação dos Estados e municípios tenha de ser compensada com um aumento da alíquota de referência do novo imposto. Se for aprovada uma mudança na lei, como a desoneração da gasolina, teria de aumentar a alíquota geral do imposto. É bom do ponto de vista federativo, porque dá segurança de que não haverá medidas tomadas no âmbito federal que afetem a arrecadação.

Os prefeitos das capitais dizem que não participaram da negociação do acordo do governo com os Estados que compensou em R$ 26,9 bilhões as perdas com a desoneração do ICMS - tributo compartilhado com os municípios. Eles acham que foi uma sinalização ruim para a governança de um novo tributo.

Mas o que pegou pior foi a desoneração dos combustíveis com recursos dos Estados e municípios. No modelo em discussão, se tiver alguma mudança que afete a arrecadação dos municípios, vai ter de ter um aumento compensatório.

O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, até mesmo o chamou de 'técnico autoritário'.

Depois mandei uma mensagem para ele. Aí, ele me respondeu. Está tudo em paz com o Paes. Entre nós, está tudo bem.

O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (Progressistas-AL), afirmou, na noite da quarta-feira (15), que se distanciou do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), em meio a divergências sobre a tramitação das medidas provisórias. "Não tenho nada contra o Pacheco, não estou de mal, mas estamos conversando pouco", disse Lira, em entrevista à GloboNews.

O deputado defendeu uma mudança na Constituição para acabar com o modelo de comissões mistas para análise das medidas provisórias. "A comissão mista é antidemocrática. Ela não é inconstitucional, mas antidemocrática. São 12 deputados de 513 que fazem parte da comissão e 12 senadores de 81. Os deputados estão pouco representados", afirmou.

##RECOMENDA##

A Constituição determina que as medidas provisórias editadas pelo presidente da República devem ser analisadas em até 120 dias pelo Congresso Nacional. O processo deve ser iniciado pela comissão mista, mas o esquema foi suspenso devido à pandemia de Covid-19. Atualmente, os textos estão sendo apreciados primeiro pelo plenário da Câmara.

Segundo Lira, as medidas provisórias "demoravam 110 dias para serem apreciadas pela comissão mista e no final restavam apenas dois dias para a Câmara realizar a votação".

O deputado disse que o entendimento no Senado é de que a Câmara ficou com "superpoderes", já que os senadores têm apenas 30 dias para apreciar as medidas provisórias, ante 60 dias dos deputados. Lira defende a criação de um modelo com alternância entre as casas.

Governo de coalizão

O presidente da Câmara dos Deputados afirmou ainda que não discutiu a distribuição de cargos no governo nos encontros que teve com o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva.

"Não me sinto à vontade quando se fala em 'governo de coalizão', quando falo de ocupação de espaços. Do Legislativo ocupando espaços no Executivo. Nunca achei que isso fosse a melhor maneira", afirmou Lira, na entrevista à GloboNews.

Não perdeu a piada! Simone Mendes é cheia das brincadeiras e seus fãs já sabem muito bem disso. Na última segunda-feira, dia 13, não foi nada diferente durante uma entrevista onde a cantora estava divulgando seu novo DVD e a turnê Cintilante.

Acontece que durante o programa de rádio Turma da Massa, Chicão tirou um pequeno cochilo enquanto a irmã de Simaria falava sobre os novos projetos. O momento foi bem rápido e pegou Simone desprevenida:

##RECOMENDA##

- Dormiu, comentou a cantora arrancando risada de todos no estúdio.

[@#video#@]

Vale lembrar que Simone está viajando por todo o Brasil, divulgando a primeira turnê solo desde que terminou a dupla sertaneja com Simaria. Durante o bate-papo, a artista contou que manteve o emprego de toda a equipe que já a acompanhava:

- Esse projeto está sendo todo preparado com muito carinho. Escolhi cada faixa com muito amor. E o que me deixa mais feliz é que todos que escutam amam o repertório.

Rosângela Lula da Silva, a 'Janja’, primeira-dama do Brasil, participou na manhã desta quarta-feira (8) da sessão especial do Senado em homenagem ao Dia Internacional da Mulher. Durante o ato, Janja falou sobre as mensagens de ódio que recebe nas redes sociais e como tem sido alvo de mentiras desde que se tornou uma figura pública associada ao marido, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

"Cada uma das mulheres aqui sabe as dificuldades do dia a dia da política. Tenho sido o principal alvo de mentiras e ataques à honra e ameaças nas redes sociais. Até mais que o presidente. Sei que muitas de vocês também passam por isso. A mesma terrível experiência de ver seu nome, seu corpo e sua vida expostos de maneira mentirosa", declarou.

##RECOMENDA##

Na sessão, Janja, Rosa Weber, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), e outras mulheres na política receberam o Diploma Bertha Lutz. A honraria é um reconhecimento a pessoas que contribuem com a defesa dos direitos das mulheres no Brasil.

Em seu discurso, a primeira-dama lembrou da pouca participação feminina no Congresso. Só 17,3% da Câmara dos Deputados é formada por mulheres, enquanto o montante no Senado é de 18%.

"Um século depois de Bertha Lutz ter organizado a luta pelo direito ao voto, seguimos tendo que repetir que precisamos estar representadas nos espaços de decisão. Temos que comemorar o avanço da representatividade das mulheres no Congresso, mas ainda estamos abaixo da média mundial, que é de 26% dos assentos nos parlamentos", acrescentou.

A ministra Rosa Weber também falou sobre a importância da representatividade nos Três Poderes: "A igualdade continua a se fazer necessária, considerada a sub-representação feminina neste parlamento a partir da perspectiva masculina a respeito da mulher. Igualdade formal na lei, não igualdade substancial. Igualdade efetiva."

 

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) defendeu o pente-fino feito pelo Ministério do Desenvolvimento Social no Bolsa Família. "Eu não gosto de falar quem vai sair. Vai entrar todas as pessoas que tiverem condições e direito de entrar. Quem não tiver, não entra. E quem tiver de forma errada, vai sair", afirmou o petista em entrevista à Rádio BandNews FM gravada nessa quinta-feira (2).

Após uma revisão cadastral, o ministério anunciou que 1,5 milhão de pessoas devem ser excluídas do programa em março por receberem o benefício de forma irregular.

##RECOMENDA##

Hoje, o governo federal fez o lançamento do novo Bolsa Família. O programa pagará pelo menos R$ 600 por família, além de R$ 150 adicionais para cada criança de até 6 anos. A nova formulação do benefício prevê ainda R$ 50 adicionais para crianças com mais de 7 anos e jovens com menos de 18 e R$ 50 adicionais para gestantes.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a defender a criação de uma espécie de "G20 da paz" para mediar o fim da guerra na Ucrânia e afirmou que vai levar a ideia para a reunião do G7, grupo dos sete países mais ricos do mundo, da qual o Brasil participará em maio, no Japão.

"Você tem que encontrar alguma coisa que justifique retomar a paz. A guerra está influenciando muita coisa, a gente no Brasil está sofrendo por causa dessa guerra. Toda guerra tem um fim, e essa guerra tem que ter um fim. Não precisamos ficar destruindo ponte, prédio, a troco de quê?", questionou, em entrevista à Rádio BandNews FM gravada nesta quinta-feira, 2.

##RECOMENDA##

Para Lula, tanto Rússia quanto Ucrânia estão "pedindo a Deus" pelo fim da guerra. O presidente ainda conclamou que as grandes potências participem das negociações para um acordo de paz. Na visão dele, o presidente da China, Xi Jinping, por exemplo, não pode ficar como "olheiro" do conflito.

"Tanto a Rússia quanto a Ucrânia estão pedindo a Deus que apareça alguém para acabar com essa guerra. O problema é a Otan? Vamos discutir com europeus e americanos? É a filiação à União Europeia? Vamos discutir. Xi Jinping não pode ser olheiro, tem que ser ator. Pode influenciar na Ucrânia, na Rússia e no debate dos Estados Unidos", cobrou. Ele ponderou, entretanto, que os "russos não tinham direito de invadir a Ucrânia".

Ainda sobre a agenda internacional, o presidente voltou a dizer que o Brasil vai recuperar protagonismo e investimentos externos. "Eu vou recuperar o prestígio internacional do Brasil, o Brasil vai voltar a ser protagonista internacional outra vez. A gente vai ter mais investimento externo direto no Brasil e a economia vai voltar a crescer."

O juiz Eduardo Appio, de 53 anos, assumiu neste mês a cadeira ocupada pelo agora senador Sérgio Moro (União Brasil-PR) no auge da Operação Lava Jato. Ele é o novo titular da 13ª Vara Federal Criminal de Curitiba, onde ainda tramitam cerca de 240 procedimentos penais derivados das investigações da maior operação de combate à corrupção da história do País.

As ações da Polícia Federal para prender políticos e empresários influentes escassearam. A força-tarefa de procuradores foi extinta em 2021 e o apoio popular massivo se diluiu em meio a acusações de parcialidade dos investigadores.

##RECOMENDA##

Os processos que tramitam hoje em Curitiba correspondem a 40% do acervo original da operação. O restante foi enviado para a Justiça Eleitoral ou para outros Estados, por força de decisões do Supremo Tribunal Federal (STF), o que na prática vem atrasando o desfecho das ações, que precisaram ser retomadas do início.

"Há risco concreto de prescrição. Essa é a razão maior da minha preocupação", disse Appio ao Estadão. "Tem muita gente interessada no arquivamento desses processos e que seja um Caso do Banestado 2."

A equipe do gabinete também está menor: são 11 servidores, incluindo o juiz titular, que vem pedindo reforços ao Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4). Apesar do cenário, Appio tomou como missão fazer a operação 'sobreviver'. "A Lava Jato na minha mão não vai morrer, não vou ser o coveiro oficial da Lava Jato, de forma alguma. Eu não aceito esse papel histórico."

‘POLITIZAÇÃO’

O perfil do novo juiz da Lava Jato contrasta com o do seu antecessor, Sérgio Moro, a quem atribui um "populismo judicial". "Houve, de forma intencional ou não, uma politização da operação", avalia. "Quem fala aqui é uma pessoa que, no início da operação, colocou um adesivo no carro: ‘Eu apoio a Lava Jato’."

Especialista em Direito Constitucional, Eduardo Appio assume o rótulo de "garantista" e é um crítico declarado dos antigos métodos da operação: "Mesmo no auge da Lava Jato, quando havia essa tsunami popular em favor da operação, eu me sentia muito à vontade, como professor, para fazer uma crítica ao que estava acontecendo, porque entendia que havia excessos".

As críticas renderam ataques do deputado federal Deltan Dallagnol (Podemos-PR), ex-coordenador da força-tarefa no Paraná, que acusou o juiz de alinhamento com um programa ideológico de "esquerda".

Ao Estadão, Appio nega vinculação a qualquer partido ou movimento político e rebate o deputado: "Todo político de extrema direita acredita que o mundo é vinculado à esquerda".

Natural do Rio Grande do Sul, o novo juiz da Lava Jato assumiu a vaga de Luiz Antônio Bonat, que sucedeu a Moro e agora foi promovido a desembargador do TRF-4.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Um mês e meio depois dos ataques às sedes dos três Poderes, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, disse que o golpismo no Brasil "sofreu uma derrota, mas não foi extinto". Em entrevista ao Estadão, Dino afirmou que, se o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tiver problemas na economia, os atos antidemocráticos podem voltar à cena.

"A pergunta é: o governo Lula vai melhorar a vida do povo brasileiro? Se a resposta for sim, o golpismo tende a ser uma força declinante. Se o governo enfrentar dificuldades no resultado, aí abre espaço para a emergência do golpismo", argumentou Dino.

##RECOMENDA##

O ministro revelou que um dos presos ainda em dezembro estava recebendo instruções para dar um tiro de fuzil no dia da posse de Lula, em 1º de janeiro, e comparou a extrema direita do Brasil ao movimento nos Estados Unidos. "Assim como eles estão tentando retomar o espírito do Capitólio com (Donald) Trump, vão tentar retomar o espírito de 8 de janeiro com Bolsonaro", disse Dino, numa referência ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que está nos EUA há quase dois meses.

Os grupos extremistas estão voltando a se organizar nas redes sociais. Há receio de que esse movimento cresça quando Bolsonaro retornar ao Brasil?

Esse ethos golpista, terrorista, do vale tudo, continua aí, num estado de latência, eu diria. Ele pode emergir de novo? Em curto prazo, não creio. Mais adiante, acho que a chave está nas nossas mãos. A pergunta é: o governo Lula vai melhorar a vida do povo brasileiro? Se a resposta for sim, o golpismo tende a ser uma força declinante. Se o governo enfrentar dificuldades no resultado, aí abre espaço para a emergência do golpismo.

Como?

Basta você olhar, por simetria, o que acontece nos Estados Unidos. É quase um efeito rebote, um eco. Essa extrema direita brasileira age quase como espelho do que se dá nos Estados Unidos. Assim como eles estão tentando retomar o espírito do Capitólio com Trump, eles vão tentar retomar o espírito de 8 de janeiro com Bolsonaro. Terão espaço social? Hoje, não têm. Mais adiante, depende do desempenho do governo.

Principalmente da economia, não é?

Da economia, do social, da capacidade de distensionar relações, da cultura cívica. De uma forma geral, o governo deu boas respostas aos desafios que foram postos. Estamos atentos.

A investigação vai pegar a cadeia de comando dos atos golpistas de 8 de janeiro? Até agora os presos são os executores.

Não só. Tem algumas pessoas da cadeia de comando. O Anderson Torres (ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal) está preso. Sobre ele pesam acusações de que era um desses elos de comando.

Esse núcleo chega aos militares?

A Polícia Federal fez uma petição ao Supremo Tribunal Federal que pede diligências em relação a militares. Foi ouvido um policial federal que responsabilizou militares da ativa. Estavam no Palácio do Planalto, no dia 8 de janeiro. A PF me consultou e disse: "E agora?" Bom, a gente não vai fingir que isso não existe. O assunto foi submetido ao relator, o ministro Alexandre de Moraes. A priori, a competência sobre militares é da Justiça Militar.

Há no governo uma polêmica sobre isso, com potencial para se transformar em foco de tensão com o ministro do STF Alexandre de Moraes. Quem deve julgar?

A princípio, a Justiça Militar. Mas, se há crimes comuns, é possível separar. Deixa os crimes militares na Justiça Militar e os que não estão previstos no Código Penal Militar no Supremo, por conexão.

O presidente Lula está sob ameaça real?

Claro que hoje os cuidados são sempre maiores. Esse cidadão que está preso, da bomba do aeroporto no dia 24 de dezembro (George Washington de Oliveira Sousa), estava fazendo treino e obtendo instruções de como dar um tiro de fuzil de longa distância. Há um diálogo em que ele procura informações de qual o melhor fuzil, qual a melhor mira para tantos metros de distância.

Não fala o nome de Lula, mas dá a entender...

Mas dias antes ele dá a entender, né? Porque pergunta: "Qual o fuzil que é mais adequado para tal distância?"; "E a tal mira?". Aí o instrutor diz: "Não, essa mira é melhor". Ou seja, havia atos preparatórios para a execução de um tiro, que ia ser um tiro no dia da posse de Lula.

O sr. tem 1 milhão de seguidores no Twitter. Tem pretensão de disputar a eleição presidencial, em 2026?

É muito difícil antecipar esse debate. Seria desrespeitoso com o cargo que ocupo e pretensioso pretender arbitrar o que será o Brasil daqui a quatro anos. É aquela frase do (ex-ministro da Fazenda Pedro) Malan: "Até o passado é imprevisível, imaginem o futuro". Eu não tenho esse planejamento e acho que, nas condições atuais, o nosso candidato em 2026 é o Lula. Aí em 2030 é outra história, antes que você me pergunte (risos).

Deputados do PT vão começar a recolher assinaturas para uma proposta de emenda à Constituição que muda o artigo 142 da Constituição. O sr. é favorável a acabar com a Garantia da Lei e da Ordem (GLO) e a proibir militares de ocupar cargos civis?

O ministro do STF Gilmar Mendes foi consultado certa vez por um jurista da extrema direita que dizia que o artigo 142 autorizava um poder moderador. Ele respondeu: "Só uma hermenêutica de baioneta para dizer isso". Se quiserem mexer para deixar mais claro, têm meu apoio, mas o 142 não admite a hermenêutica da baioneta. Agora, retirar totalmente a GLO me parece um pouco demais. Ela pode ter utilidade em crimes ambientais, por exemplo. Já a ocupação dos cargos civis pelos militares, para mim, é inconstitucional.

O sr. tem defendido a regulação das redes sociais. Acha que essas plataformas podem se tornar ameaça à democracia?

Elas são uma ameaça à democracia pela ausência da regulação. É como energia nuclear: salva vidas e também mata pessoas.

Sua proposta para endurecer a lei contra as mídias sociais pode ser incorporada ao projeto das fake news, que estende a imunidade parlamentar para plataformas online. O sr. Concorda?

Eu sou contra. A imunidade, na Constituição, é restrita a opiniões, palavras e votos. Alguém vai dizer: "Mas hoje os mandatos são exercícios na internet". O problema é que esses mandatos não estão no escopo da proteção constitucional. O projeto (das fake news) vai muito além. Espero que esse conteúdo não seja aprovado. Se for, acho que o Supremo Tribunal Federal vai voltar a uma interpretação mais restritiva, a do abuso da imunidade parlamentar. Uma coisa é imunidade para fiscalizar; outra é para cometer crimes, ameaçar ministros do Supremo, coisas que aconteceram no Brasil.

Quais os próximos passos da PF para evitar que garimpeiros retornem à terra indígena Yanomami?

Se você disser para o cara: "Irmão, essa atividade vai ser legalizada e você vai ganhar um dinheiro de modo legal, lícito, sem risco de ser preso", o cara topa. A abordagem policial não pode ser a única para o problema da Amazônia. Trata-se de região onde há os piores indicadores sociais do Brasil.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Ex-presidente do Banco Central, Affonso Celso Pastore avalia que Jair Bolsonaro (PL) e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva seguem um caminho parecido na condução da política econômica, o do populismo.

"O mesmo erro cometido por um populista de direita, chamado Bolsonaro, que promoveu uma expansão fiscal muito grande, está sendo cometido por um populista de esquerda, chamado Luiz Inácio Lula da Silva", afirmou.

##RECOMENDA##

Em entrevista ao Estadão, Pastore se mostrou pessimista com o futuro da economia brasileira, defendeu que não se alterem as metas de inflação, elogiou a atuação do Banco Central e disse que o governo deveria melhorar as contas públicas para permitir uma queda da taxa básica de juros. A seguir os principais trechos da entrevista.

Como o sr. vê a discussão de mudar a meta de inflação?

O governo está brigando a guerra errada ao pensar em mudar a meta. As taxas de juros não estão altas porque o Banco Central favorece os rentistas, como tem sido afirmado pelo presidente (Lula). Elas estão altas porque existe uma política fiscal expansionista que vem tirando a potência da política monetária e, para reduzir a inflação, o Banco Central é obrigado a manter a taxa de juros mais alta por mais tempo. Esse é o diagnóstico do problema. Para crescer o Brasil, tem de baixar juros. Para baixar juros, o País precisa de disciplina fiscal, mas isso não foi endereçado até agora.

Quais podem ser as consequências de uma alteração da meta de inflação?

Recentemente, nós vimos várias pessoas dizendo que o Brasil tem uma meta muito baixa. Isso não é verdade. A grande maioria dos países tem metas iguais ou menores do que a do Brasil. Não há nada de exagerado em ter esse tipo de meta. Se a meta for aumentada, a desancoragem de expectativas tende a crescer. E, na medida em que cresce a desancorarem das expectativas, você tende a retardar o momento no qual a taxa de juros cai.

No cenário atual, quando os juros podem cair?

A taxa de juros só vai cair na hora que a inflação vier para baixo, na hora que as expectativas de inflação vierem para baixo. Eu acho que isso vai demorar muito tempo. Vamos colocar numa outra dimensão: existe uma política fiscal expansionista, porque o governo acha que crescimento econômico é feito com aumento de gastos. Ele não está disposto a cortar gastos. Até agora, também não enunciou reformas tributárias que aumentem a receita. O déficit público vai continuar. Isso gera uma subida da taxa de juros ao longo de toda a curva, eleva a taxa de juros da dívida pública e piora a dinâmica de dívida, o que traz um novo aumento do prêmio de risco. O que estou querendo colocar é o seguinte: o caminho que o governo está adotando é um que agrava a situação fiscal, gera uma desaceleração da economia maior do que aquela que precisava acontecer, sem que a inflação caia o que poderia cair.

O Brasil está fadado a ter anos de baixo crescimento?

O governo tem de mudar a política econômica. O mesmo erro cometido por um populista de direita, chamado Bolsonaro, que promoveu uma expansão fiscal muito grande, está sendo cometido por um populista de esquerda, chamado Luiz Inácio Lula da Silva, com uma expansão fiscal grande demais para o País. Ele tem de atacar isso. Na hora que fizer isso, a taxa de juros começa a cair, e o País volta a crescer. Ele está com o diagnóstico errado. O problema é muito simples: o governo tem o diagnóstico errado da situação econômica.

O sr. acha que vai ser possível insistir até quando nesse diagnóstico?

Eu esperaria que eles pudessem mudar a cabeça, mas eu acho que não vão mudar. Eu vejo que essa situação econômica vai se agravar, e nós vamos convergir para uma tensão política no final desse ciclo. A minha visão é muito negativa sobre a perspectiva da economia brasileira.

Mas para dimensionar essa visão negativa: será uma crise parecida com a recessão enfrentada em 2015 e 2016?

A política econômica é a mesma do governo Dilma. Não tem diferença, está seguindo o mesmo caminho.

Nesse cenário, não há avanço, não sai uma reforma tributária, por exemplo?

Eu não sei como é a relação do governo com o Congresso. Agora, é mais difícil aprovar uma reforma tributária se a economia estiver frágil economicamente. Os setores que estão sentindo essa fragilidade, como o comércio varejista e o setor de serviços, se opõem a mexidas como essa. Isso dificulta a aprovação da reforma tributária.

Qual posição o presidente do BC tem de adotar no meio desse conflito com o governo?

O que ele (Roberto Campos Neto) está fazendo é o que tem de fazer. Não tem de mudar nada. Não vejo erros técnicos cometidos pelo Banco Central. Eu vejo erros de diagnósticos cometidos pelo governo.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) prometeu nesta quinta-feira, 16, que todas as indicações para o Supremo Tribunal Federal (STF) a que terá direito serão neutras. Nos bastidores do PT, contudo, se diz que o favorito de Lula para a primeira vaga a ser aberta neste ano é Cristiano Zanin, seu advogado nas causas da Lava Jato.

"Vou indicar ministro do Supremo vendo o currículo", afirmou Lula em entrevista à CNN Brasil. "Nunca pedi favor a ministro do STF e nem vou pedir", acrescentou. O petista voltou a dizer que, na sua avaliação, a Justiça brasileira foi política nas suas condenações, posteriormente anuladas. Ainda assim, diz que o assunto ficou no passado. "Não posso voltar a governar o País magoado com o que me prejudicou".

##RECOMENDA##

Lula também evitou avaliar o futuro do senador Sergio Moro (União Brasil-PR) e do deputado federal Deltan Dallagnol (Podemos-PR), seus algozes na Operação Lava Jato enquanto juiz e procurador, respectivamente. "Vamos ver como serão na política", limitou-se a dizer.

Páginas

Leianas redes sociaisAcompanhe-nos!

Facebook

Carregando