A pandemia não demorou para chegar em Pernambuco: 14 dias após a confirmação do primeiro caso da Covid-19 no Brasil, em 26 de fevereiro de 2020, o Estado também confirmou seus primeiros casos da doença, todos importados por turistas locais vindos de países onde o vírus já estava presente. Há exatos dois anos, em 12 de março de 2020, a Covid se tornava realidade para os pernambucanos e chegava para mudar completamente a rotina da população.
Além do alto número de casos que assustou Pernambuco em diferentes momentos da pandemia, o Estado precisou lidar, simultaneamente, com uma onda de desemprego e fome que se alastrou do Sertão à metrópole, mas definitivamente atingiu a capital, Recife, com mais força. A pandemia também foi palco de escândalos envolvendo suspeitas de corrupção e uma corrida pela vida em hospitais do Estado, que chegaram no limite para lidar com as demandas ocasionadas pelo vírus.
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Com a chegada das vacinas, a emergência sanitária foi mostrando sinais de trégua, mas também teve suas oscilações e novos desafios pela frente. Após estes dois anos, Pernambuco conseguiu recuperar 701,480 casos da Covid-19, de um total de 861.859, a diferença contemplando os óbitos e os casos sob observação. No total, foram 21.195 vidas pernambucanas perdidas para o coronavírus.
Além disso, foram 17.368.595 doses de vacinas contra a Covid-19. Dessas, 7.982.875 foram primeiras doses e 6.634.916 segundas doses. 173.126 pernambucanos tomaram o imunizante de dose única e outros 2.577.678 receberam a dose de reforço.
Relembre os principais momentos destes dois anos da pandemia
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Primeiro lockdown e medidas restritivas
Em 12 de março de 2020, os dois primeiros casos do novo coronavírus foram confirmados em Pernambuco pela Secretaria Estadual de Saúde (SES). Os infectados eram moradores do Recife que estiveram juntos na Itália, país considerado epicentro da doença pelos momentos iniciais da pandemia. Na mesma época, além de Pernambuco, ao menos oito estados e o Distrito Federal também confirmaram casos da infecção.
Nove dias depois, em 21 de março, o Estado decretou calamidade pública e ampliou o quadro de profissionais de saúde em unidades públicas e privadas; pois, sim, hospitais privados fizeram parte do decreto Nº 48.831, com excepcionalidade à pandemia e a crescente de casos. Em abril, Pernambuco já havia definido suas atividades essenciais, em acordo aos demais estados brasileiros, e determinou as primeiras medidas restritivas. Fernando de Noronha também entrou em lockdown no mesmo mês.
No entanto, as medidas mais rígidas vieram no mês seguinte: cinco municípios do Grande Recife precisaram de lockdown intenso, pois concentravam o maior número de casos. Foram eles Recife, Olinda, Jaboatão dos Guararapes, Camaragibe e São Lourenço da Mata.
A medida, que inicialmente durou 15 dias, proibiu a circulação de pessoas nas ruas sem justificativa laboral ou emergencial; além de ter estabelecido rodízio de veículos, uso obrigatório de máscaras e sanitização das ruas. Esse caráter meio apocalíptico que tomou conta das ruas foi o primeiro contato dos pernambucanos que, mesmo acostumados com surtos de gripe e dengue, jamais tinham visto uma mudança de rotina como aquela.
Calamidade permanece e medidas apertam
Ainda em maio, 97% dos 600 leitos de UTI para Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) estavam ocupados. A situação era reconhecida pelo Governo do Estado e deu ponta para um escândalo de nível municipal — no Recife —, que seguiu sem resolução, logo depois. Era comum ouvir relatos de familiares de pessoas infectadas que precisavam esperar até mais de uma semana para conseguir internação.
Em julho, a Polícia Federal deflagrou a terceira fase da “Operação Apneia”, em conjunto com a Controladoria Geral da União. Tratou-se de uma investigação de irregularidades em contratos celebrados por meio de dispensas de licitação pela Prefeitura de Recife, através da Secretaria de Saúde. O objetivo deles era a compra de respiradores pulmonares em caráter emergencial, para combate à Pandemia de Covid-19 no município. O caso afastou o prefeito da época, Geraldo Julio (PSB), mas as investigações não tiveram longevidade.
Sem progresso no quadro hospitalar do estado, o Governo de Pernambuco decretou estado de calamidade pública mais uma vez. A decisão alterou diversos aspectos do Plano de Convivência com a Covid-19 e manteve a descrição de calamidade por 180 dias, na expectativa de melhores resultados na contenção da doença.
Com isso, ficou proibida a realização de shows, festas e similares, com ou sem comercialização de ingressos, em ambientes públicos ou privados, inclusive em clubes sociais e hotéis, independentemente do número de participantes.
A técnica de enfermagem Perpétua Socorro, de 52 anos, durante primeiro dia de vacinação em PE. Foto: Rafael Bandeira/LeiaJá Imagens
Vacinação
Em Pernambuco, a campanha de vacinação contra a Covid-19 foi iniciada em 18 de janeiro de 2021, mesmo dia em que a primeira remessa de doses dos imunizantes foi enviada ao Estado pelo Ministério da Saúde. Ao total, 15 profissionais que atuavam na linha de frente do combate ao vírus foram vacinados no ato simbólico que aconteceu no Hospital Oswaldo Cruz, na área central do Recife, no mesmo dia. A técnica de enfermagem Perpétua Socorro Barbosa dos Santos, 52 anos, foi a primeira pessoa a ser vacinada no Estado.
Apesar da esperança trazida pela vacinação, os meses seguintes reservaram momentos ainda mais difíceis aos pernambucanos, com novos picos da Covid-19 e a chegada de novas variantes. Em março, Pernambuco já registrava mais de mil casos por dia — número que foi sendo superado dia após dia e chegou aos quatro mil em 2021 e também em 2022.
Àquela altura, o carnaval de Pernambuco já havia sido suspenso em razão do aumento de casos de Covid-19. O Governo de Pernambuco anunciou, à época, que a medida valeria para todo o estado e teve como base o momento epidemiológico e os indicadores da doença. A mesma medida se repetiu para as festas juninas, canceladas por três anos seguidos: em 2020, 2021 e, até o momento, também este ano.
Recentes: novo pico, Ômicron e vacinação infantil
Após as festividades do fim de ano, o Brasil passou por uma nova crescente de casos da Covid-19, que chegou a ser considerada, por alguns especialistas, uma nova onda (a terceira ou quarta). Para outros, se tratou de uma continuidade das más escolhas sanitárias e do baixo controle das medidas restritivas.
Em janeiro deste ano, Pernambuco confirmou mais 4.722 casos da Covid-19 em 24h. O número de confirmações foi o terceiro maior registrado em 24 horas em toda a pandemia, atrás apenas de 9 de junho e 29 de maio de 2021, quando houve 6.487 e 5.576 registros, respectivamente. A maioria dos casos era da variante Ômicron, confirmada também em janeiro no estado e desde então, se tornou responsável imediata pelas infecções.
Como nem tudo é notícia ruim, a parte “menos mal” dessa história é que quase 80% da população já estava vacinada ao menos com a primeira dose, enquanto a segunda dose do esquema vacinal apresentava boa adesão e alguns grupos etários e clínicos já estavam prestes a receber a terceira dose ou dose de reforço.
Pernambuco também autorizou o início da imunização contra a Covid-19 em crianças de seis a 11 anos com a vacina da Coronavac/Butantan, liberada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e incorporada pelo Ministério da Saúde (MS) no Plano Nacional de Operacionalização (PNO). A decisão foi aprovada pelo Comitê Técnico Estadual para Acompanhamento da Vacinação.
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