Outubro é conhecido como o mês rosa. Pessoas de todo o mundo procuram chamar atenção para a luta contra o câncer de mama. É a doença que mais mata mulheres no Brasil e, no mundo, é o câncer mais letal contra o sexo feminino. Pensando nisso, o Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife (CESAR) e o Laboratório de Imunopatologia Keizo Asamida Universidade Federal de Pernambuco (LIKA/UFPE) estão juntando forças para criar um novo método de detectar a presença de células cancerígenas e, com sorte, diminuir o índice de fatalidade.
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A ideia surgiu por causa da falta de garantia nos processos de detecção atuais. “Existem várias formas de detectar o câncer de mama", explica o professor José Luiz Lima Filho, diretor do LIKA. "Tem aquelas mais corriqueiras, como a mamografia, que é a mais utilizada no mundo, e existem outras que são feitas de uma forma muito específica e são bem caras, por exemplo, o sequenciamento de DNA, que não indica necessariamente que a pessoa está com câncer, indica que há uma estrutura no DNA que pode virar um câncer, e custa em torno de R$ 12 mil”.
Entretanto, nenhuma delas satisfaz completamente. "A mamografia só consegue identificar algo quando ele já tem 0,5mm, isso se for um bom médico. 0,5mm indica que já é um tumor, ou seja, já um câncer", afirma o professor. "Foi adicionando essas dificuldades que nós decidimos desenvolver uma tecnologia que fosse não resolver como um todo, mas melhorar em várias formas a situação.” Com isso, surgiu a ideia do biossensor.
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“O biossensor é um sensor que tem uma parte com um ‘rastreador biológico’, como uma enzima, no nosso caso é uma parte de DNA, que está presente na maioria dos tumores de mama", diz Eduardo Peixoto, executivo chefe de negócios do CESAR. "Quando você coloca o sangue processado no biossensor, é detectado se a outra parte, a outra metade desta tira de DNA está presente." Basicamente, a funcionalidade é baseada numa condição, "se ele não tiver, passa uma corrente pelo biossensor, se ele tiver, não passa. Ou seja, a medição que fazemos é baseada em corrente, que é a parte eletrônica".
Peixoto também comenta sobre outro fator que os incentivou a perseguir a ideia de melhorar o processo de detecção do câncer, a dificuldade com a qual ela é feita hoje. O processo é longo, dura horas, e está sujeito a erros humanos. "Para você fazer o exame, é necessário trazer o sangue para o biossensor, mas não é simplesmente tirar do braço e pingar. Você tem que processar esse sangue para ele ficar adequado, é ai que a gente entra", conta o executivo. “Atualmente, o processamento desse sangue é manual, há um laboratório isolado com vidro, você coloca suas mãos em buracos e pega a amostra de sangue, pega a pipeta, centrifuga, esquenta, bota um reagente químico. Tudo com o objetivo de separar as fitas de DNA que tem no sangue. Feito desta forma, o processo leva de 4 a 6 horas e há riscos de contaminação e erro na medida do sangue, do reagente. Tudo passível de erros humanos.”
A arma do CESAR contra esse processo é a tecnologia, mais especificamente, a robótica. “O que nós estamos fazendo aqui é identificar essas etapas e automatizá-las. Em vez de ter um ser humano puxando a amostra de sangue, botando em outro lugar, botando reagente, centrifugando, esquentando, e tal, vai ser uma máquina", diz Eduardo. "O robô não é um robô humanóide, e sua função é fazer todas essas etapas." E em quanto tempo o novo processo conseguirá identificar a presença da célula cancerígena? Em torno de 30 a 45 minutos. Além de ser feito em menos tempo, o processo não dependeria de uma identificação visual, pois funciona através de uma relação eletroquímica. Com ele, seria possível detectar a célula cancerígena nos primeiros estados, muito antes do tumor de desenvolver.
O robô ainda está em fases iniciais, e o CESAR tem usado uma impressora 3D para gerar as peças usadas no protótipo. Eduardo conta que a ideia de usar a impressora 3D veio para evitar gastar dinheiro pedindo a fabricação de grandes quantidades de peças. Desta forma, eles conseguem testar, identificar os erros e melhorar o funcionamento da máquina em menos tempo.
“Pretendemos fazer com que esse dispositivo seja de um preço aceitável, ou seja, bem mais barato do que o mamógrafo, e que não tenha que ser utilizado apenas pessoas que são médicas, enfermeiras, PhD, mas que uma pessoa leiga possa usar também. E que ele venha a ser um sistema utilizado pelo mundo todo, afinal câncer de mama é o que mais mata mulheres no mundo", conta o professor José Luiz. Ele afirma que, entre as ideias por trás do projeto, está criar algo que seja portátil e possa ser levado por médicos no seu carro, sem grandes dificuldades. A facilidade na mobilização do aparelho, por exemplo, tornaria possível levar caravanas para o interior, onde não há hospitais capazes de detectar o câncer de mama, e realizar exames na população.
Tudo ainda está muito cedo, a expectativa é que os primeiros robôs só apareçam em hospitais daqui a três ou quatro anos, mas o projeto é promissor. O professor José Luiz também deixa claro que os profissionais da medicina serão essenciais para o sucesso da iniciativa. O Hospital Barão de Lucena já está ajudando, e o Hospital do Câncer também manifestou interesse em participar.