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Depois de semanas de expectativas, o governo publicou nesta segunda-feira, 13, uma medida provisória que abre espaço para um novo socorro ao setor elétrico a fim de evitar um "tarifaço" nas contas de luz em 2022, ano de eleições presidenciais. O empréstimo será usado para bancar as medidas emergenciais para evitar falhas no fornecimento de energia devido à grave escassez nos reservatórios de usinas hidrelétricas.

A MP foi publicada em edição extra do Diário Oficial e tem força de lei. Para se tornar definitiva, no entanto, será necessário aprovação da Câmara e Senado em um prazo de até 120 dias.

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Os recursos serão usados, por exemplo, para bancar o custo das térmicas que foram acionadas nos últimos meses para garantir o fornecimento de energia. Essas usinas geram uma energia bem mais cara que as hidrelétricas. Também vão bancar os custos da importação de energia de países vizinhos e até mesmo o desconto prometido aos consumidores que estão economizando energia - o "bônus" será pago via desconto nas contas de luz de janeiro do próximo ano.

A medida abre espaço para o governo estabelecer condições e requisitos para a estruturação das operações financeiras. Não foram detalhados os valores exatos do empréstimo, nem o prazo de pagamento, mas a previsão é que a operação fique em torno de R$ 15 bilhões.

De acordo com o documento, os montantes a serem captados pelas operações financeiras deverão observar "os custos adicionais decorrentes da situação de escassez hídrica e dos diferimentos aplicados no processo tarifários anterior à liberação dos recursos, condicionada a captação à prévia aprovação pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica)". Caso haja um empréstimo maior do que os custos, a distribuidora deverá ressarcir os consumidores.

O objetivo do socorro financeiro é amenizar o aumento projetado nas tarifas no próximo ano e evitar um reajuste que poderia chegar a 21%, como mostrou o Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado. A exemplo do empréstimo concedido às empresas no auge da pandemia da covid-19, também viabilizado por MP, o financiamento será diluído nas contas de luz dos consumidores. Apesar da similaridade, o cenário econômico do País mudou, com uma taxa básica de juro em um patamar muito mais elevado.

O novo socorro financeiro tem como pano de fundo a decisão do governo de estabelecer um valor de bandeira tarifária insuficiente para suportar os custos das medidas decorrentes da escassez hídrica.

De acordo com dados da Aneel, a conta Bandeiras registra rombo acumulado de R$ 9,86 bilhões até setembro. Mesmo com o início das chuvas em alguns locais do País, o que aliviou parcialmente os problemas que o setor elétrico enfrenta nos últimos meses, a avaliação é que a operação ainda está longe da normalidade e ainda não garante "conforto" para a situação.

O Senado aprovou na tarde desta quinta-feira, 4, o texto-base da Medida Provisória (MP) 998, que trata do setor elétrico. A proposta traz dispositivos que reduzem as tarifas de energia de consumidores que são atendidos por distribuidoras da região Norte, freia o crescimento de subsídios para fontes renováveis, como solar e eólica, e facilita a retomada das obras da usina nuclear de Angra 3. Os senadores ainda precisam votar os destaques - que podem mudar o teor do texto.

Em seu parecer, o relator da matéria no Senado, Marcos Rogério (DEM-RO), recusou uma série de sugestões que foram apresentadas ao longo do dia e fez apenas emendas de redação. No jargão do Congresso isso significa mudanças que não exigem que o texto volte para análise da Câmara, que já aprovou a MP. Durante a votação, o relator e outros parlamentares criticaram o prazo apertado para analisar a medida provisória, que perde validade na próxima terça-feira, 9.

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A aprovação da matéria sem alterações é uma vitória do ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, que fez questão de acompanhar a votação pessoalmente, no plenário do Senado. No setor elétrico, a expectativa também era pela aprovação da matéria sem mudanças, uma vez que qualquer alteração condenaria o texto à perda da validade, já que não haveria tempo hábil para que ele fosse votado novamente pelos deputados.

O texto destina recursos não utilizados que as empresas de energia devem aplicar anualmente em projetos de pesquisa e desenvolvimento (P&D) e eficiência energética (EE) para a Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), que é bancada por todos os consumidores brasileiros e usada para financiar diversos incentivos e políticas públicas, como os descontos para clientes de baixa renda. A medida vai permitir reajustes tarifários menores até 2025.

A MP também permite a exploração da usina nuclear de Angra 3 sob regime de autorização. Caberá ao Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) conceder a outorga de autorização, por até 50 anos prorrogáveis, por mais 20 anos.

Com obras paradas desde 2015 devido a denúncias de corrupção, o governo federal tem grande interesse em retomar a construção do empreendimento o mais rapidamente possível. Em junho, o Conselho Nacional do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI) recomendou a conclusão das obras da usina por meio da contratação de uma construtora, deixando para trás a alternativa do sócio privado.

O contrato atual de energia da usina será extinto, e o novo vai estabelecer um preço - a ser calculado pelo BNDES, um dos financiadores da obra, a partir de estudos contratados pela dona, a Eletronuclear - e um reajuste nos termos da inflação e do preço do combustível nuclear, com possibilidade de revisão extraordinária do preço da energia elétrica, de forma a preservar o equilíbrio econômico-financeiro do contrato.

Durante a análise da Câmara, o texto da medida foi alterado para restabelecer os subsídios para pequenas centrais hidrelétricas (PCHs). O texto mantém em 50% os descontos nas taxas de transmissão e distribuição para novos empreendimentos por mais cinco anos e garante 25% para os cinco anos seguintes. A proposta inicial do governo era acabar com esse subsídios para todas as fontes incentivadas em 12 meses.

O texto garante uma compensação para usinas leiloadas entre 2015 e 2017 e que tiveram impacto na geração de energia por conta do chamado risco hidrológico. A proposta atende reivindicações da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig). A compensação será feita por meio da extensão do prazo das concessões dos empreendimentos. Marcos Rogério chegou a sinalizar uma eventual alteração neste trecho, mas recuou.

A MP também estende prazo para que algumas distribuidoras do Norte - que pertenciam à Eletrobras e foram privatizadas em 2018 - possam atender parâmetros de eficiência e gestão econômica e financeira. O prazo passa a ser de cinco anos a partir da conversão em lei da medida provisória. Senadores tentaram ampliar a medida para incluir, também, a distribuidora Equatorial Pará, mas as sugestões foram recusadas pelo relator da matéria.

O governo federal publicou no Diário Oficial da União (DOU), desta quarta-feira (2), uma nova medida provisória para o setor elétrico, a MP 998/2020. O texto é mais amplo que a MP 950, que isentou famílias de baixa renda do pagamento da conta de luz durante a pandemia de Covid-19 e perdeu a validade no início do mês passado.

Entre as principais propostas, a MP beneficia consumidores de alguns Estados do Norte e Nordeste, que terão tarifas mais baixas, trata de plano de valorização de atributos ambientais para substituir subsídios de fontes alternativas e direciona uma parte dos recursos que bancariam programas de Pesquisa e Desenvolvimento e Eficiência Energética para abater tarifas de energia do consumidor.

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A MP também traz regras específicas para a Eletrobras alienar bens e instalações não utilizados na produção, transmissão e distribuição de energia elétrica. Esse trecho dispõe sobre bens encampados e desapropriados com recursos da Reserva Global de Reversão (RGR) e sobre ressarcimento à Eletrobras, nos casos que couber.

Outro ponto da medida transfere para a União as ações de titularidade da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) representativas do capital social das Indústrias Nucleares do Brasil (INB) e da Nuclebrás Equipamentos Pesados (Nuclep). Além disso, o texto estabelece que INB e Nuclep, ambas sociedades anônimas, "deverão ser transformadas em empresas públicas, vinculadas ao Ministério de Minas e Energia, por meio do resgate, pelas referidas empresas, da totalidade das ações de titularidade de acionistas privados, com base no valor de patrimônio líquido constante do balanço de 2019 aprovado pela assembleia-geral".

Em evento de comemoração pelos 300 dias de governo, o presidente Jair Bolsonaro assinou nesta terça-feira, 7, projeto de lei que prevê a privatização da Eletrobrás. Pelo texto, que tem de passar agora pelo Congresso, a União ficaria com uma participação de cerca de 40% do capital - perdendo o controle da operação - depois de um processo de capitalização da empresa.

A Eletrobrás é a maior companhia do setor elétrico da América Latina, de capital aberto, e tem hoje como acionista majoritário o governo federal. O governo Temer chegou a enviar uma proposta de privatização da companhia no ano passado, mas o PL não deslanchou.

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Segundo o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, depois da privatização, o governo não terá também poder de veto na empresa - por meio da chamada golden share (classe especial de ação com poder de veto em decisões estratégicas da companhia. "(Será) sem golden share", disse Albuquerque.

Albuquerque espera que a capitalização aconteça no segundo semestre de 2020. O ministro afirmou, no entanto, que as datas dependem do andamento do PL no Congresso. "O Congresso tem autonomia para conduzir o processo legislativo", disse ele.

Com essa medida, o governo prevê arrecadar pelo menos R$ 16,2 bilhões, que é valor- piso para a mudança de regime da empresa, correspondente ao pagamento da outorga para a União.

Cotas

Com o projeto, a energia das usinas antigas, hoje no regime de cotas, poderá ser vendida a preços de mercado, retirando o risco hidrológico do consumidor. Esse é o chamado processo de "descotização". O regime de cotas foi criado em 2013 e estabeleceu que a energia produzida por uma parte das usinas da estatal seria vendida aos consumidores a valores mais baixos que os de mercado. A partir da descotização, a Eletrobrás poderá voltar a vender a energia a preço de mercado.

"A Eletrobrás vem reduzindo a participação no nosso setor de energia. Hoje, a empresa tem capacidade de investimento de R$ 3,4 bilhões", citou o ministro. "Mas seriam necessários R$ 14 bilhões para que ela mantivesse participação no mercado."

A secretária executiva do Ministério de Minas e Energia, Marisete Pereira, aposta em melhora do resultado operacional da empresa depois da capitalização. "Se o mercado tiver apetite e ela (a empresa) conseguir capitalizar R$ 24 bilhões, ela poderá pagar os R$ 16,2 bilhões para a União e o resto ficaria no caixa para fazer investimentos e reduzir serviço de dívida", disse ela.

O projeto de lei deve prever ainda que os recursos movimentados a partir da mudança de regime terão de ser destinados à revitalização do rio São Francisco e ao pagamento de encargos com a Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), uma espécie de fundo que abriga os recursos para ações e os subsídios no setor de energia.

Casa da Moeda

No mesmo evento em comemoração aos 300 dias de governo, Bolsonaro também assinou medida provisória que quebra o monopólio da Casa da Moeda.

Atualmente, a estatal tem monopólio na emissão de papel moeda, moeda metálica, caderneta de passaporte e selos fiscais federais (aqueles que vão em bebidas e cigarros, por exemplo). Com o fim do monopólio, a intenção do governo é que empresas privadas - inclusive estrangeiras - possam participar de concorrência para prestar estes serviços.

"O objetivo é dar mais competitividade e reduzir custos", disse o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Jorge Oliveira.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

As principais associações do setor elétrico organizam um movimento de apelo ao Congresso para a retomada da votação da Medida Provisória 814, que destrava a privatização das distribuidoras da Eletrobrás. Pelo acordo proposto, nem a MP original nem o relatório apresentado pelo deputado Júlio Lopes (PP-RJ), cheio de emendas parlamentares, iriam à votação.

A ideia é que o texto a ser apreciado tenha só um artigo para resolver o problema do risco hidrológico (GSF, na sigla em inglês), que se arrasta desde 2015, travou o mercado de energia e gerou inadimplência de quase R$ 7 bilhões aos geradores. Segundo o presidente do Fórum das Associações do Setor Elétrico (Fase), Mario Menel, o plano tem apoio do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

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Mas ainda é preciso aval do presidente do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE). Menel já enviou ofício ao senador na tentativa de sensibilizá-lo sobre o tema. O Ministério de Minas e Energia (MME) não foi procurado pelas associações.

"Não vejo resistência a essa proposta porque não há impacto tarifário nesse artigo, pois as compensações seriam realizadas por meio de extensão do prazo de outorga dos geradores. O maior risco de não se resolver esse problema é que, com o aumento do preço da energia no mercado, essa inadimplência pode chegar a R$ 30 bilhões até o fim deste ano", diz Menel.

Na terça-feira, Maia e Oliveira avisaram ao presidente Michel Temer que não colocariam a MP em votação, pois ela traria aumento tarifário ao consumidor. A MP 814 caduca no dia 1º de junho e não há muita margem de manobra, pois quinta-feira é feriado. Isso significa que, para não perder validade, o texto precisaria ser votado na Câmara na terça-feira (29) e no Senado na quarta-feira (30).

Embora isso seja possível, não é usual, já que o Senado tem uma regra segundo a qual as MPs devem chegar à Casa com uma semana de antecedência. A MP está na pauta da Câmara da próxima semana, mas só porque ainda não perdeu a vigência. Já o Senado prevê votar várias MPs em bloco na terça, mas não há previsão para quarta.

Procurado, Maia não respondeu sobre a proposta. Oliveira manteve o que já falou no início da semana e disse que não votará nenhuma proposta que gere aumento no preço da energia.

A perda da validade da MP se tornou um problema para o governo, que trabalha para enviar novo projeto de lei com os artigos que estavam originalmente na proposta. A decisão fez com que as ações da Eletrobrás despencassem, pois a estatal aceitou assumir dívidas bilionárias das distribuidoras junto a fundos setoriais para facilitar a privatização. Sem a MP, esses rombos não têm mais garantia de cobertura legal. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo./COLABORARAM IGOR GADELHA e RENAN TRUFFI

O setor elétrico é um oásis no Brasil e atrai investidores nacionais e estrangeiros, a despeito das condições macroeconômicas e políticas que ainda afetam o País, avaliou o diretor da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Reive de Barros dos Santos, ao comentar os resultados dos últimos leilões realizados no setor, incluindo o leilão de empreendimentos de transmissão da última sexta-feira (15), o leilão de energia nova A-4, de segunda-feira (18) e o leilão A-6 realizado na manhã desta quarta-feira (20).

Juntos, esses certames viabilizaram R$ 27 bilhões em investimentos que devem ser realizados nos próximos anos e registraram fortes deságios em relação aos preços ofertados pelo governo, garantindo custos menores da energia no futuro. Os descontos refletiram justamente a forte competição entre os empreendedores.

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Barros, no entanto, citou que neste ano o setor está investindo um total de R$ 75 bilhões, dos quais R$ 61 bilhões em geração e transmissão e os demais R$ 14 bilhões em distribuição. "É um montante expressivo se comparado com outros setores da infraestrutura e demonstra que o setor está devidamente estruturado", disse.

Para o diretor da Aneel, o interesse de um grande número de empreendedores em buscar investimentos no setor elétrico brasileiro reflete as politicas do setor, incluindo as medidas regulatórias tomadas para melhorar a atratividade do setor, mas também o planejamento elétrico,

"O ambiente de negócios no setor está melhor e há interesse tanto em geração como transmissão, num setor que é mola propulsora de desenvolvimento, gerando emprego e renda nos diversos Estados do país", reforçou o diretor do Ministério de Minas e Energia, Igor Walter.

O governo vai enviar ao Congresso uma medida provisória (MP) e dois projetos de lei com mudanças no setor elétrico. A meta, segundo o secretário executivo do Ministério de Minas e Energia, Paulo Pedrosa, é concluí-los em dez dias. Os projetos de lei, que vão tramitar em regime de urgência, vão definir regras para a privatização da Eletrobrás e o novo marco regulatório do setor elétrico. A MP trará os termos de um acordo para acabar com a disputa bilionária em torno do risco hidrológico (aumento dos custos na geração em decorrência da seca).

O governo queria que tudo fosse tratado por medidas provisórias - que passam a vigorar imediatamente após publicadas -, mas a União teve de ceder aos apelos da Câmara e do Senado. Para o risco hidrológico, porém, houve acordo com o Legislativo. "Era para ser um projeto de lei, mas, pela urgência do tema, vai ser MP", disse o ministro Fernando Coelho Filho.

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A MP, que já está na Casa Civil, vai permitir que os geradores sejam compensados, de forma retroativa, por medidas adotadas pelo governo que não estavam relacionadas à seca nos últimos dez anos. A estimativa é que o conjunto de geradores tenha sido punido em R$ 16 bilhões, mas, considerando só as usinas que atuam no mercado livre, alvo da MP, o valor varia de R$ 4 bilhões a R$ 5 bilhões.

A principal compensação virá da correção de uma "pedalada" realizada no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que concedeu subsídios às usinas de Santo Antônio, Jirau e Belo Monte. Para obter o menor preço possível no leilão dessas usinas e tentar reduzir as tarifas, o governo permitiu que elas pudessem vender mais energia do que produziam à custa de outras hidrelétricas.

A outra compensação prevista na MP será pelo deslocamento hidráulico, situação que ocorre quando o governo obriga usinas a produzirem menos do que poderiam, o que traz prejuízos para as usinas. A MP terá efeito retroativo e valerá a partir de 2013. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Um ato contra o desmonte, a privatização do setor elétrico e a retirada de direitos foi realizado nesta terça-feira (1°) no Recife. Trabalhadores se reuniram em frente a sede da Companhia Hidroelétrica do São Francisco (Chesf), em San Martin, Zona Oeste, para discutir sobre o assunto.

Uma das motivações para a mobilização, segundo a categoria, foi a aprovação da MP 735/16 – que altera leis do setor elétrico. O ato foi realizado pelo Sindicato dos Urbanitários de Pernambuco (Sindurb/PE) - representante dos trabalhadores da CHESF, a Federação Regional dos Urbanitários do Nordeste (FRUNE) e a Intersindical Nordeste. 

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Os profissionais também chamam atenção para a PEC 241 – que atualmente tramita no Senado como PEC 55 e estabelece um limite de gastos para os próximos 20 anos, a Reforma da Previdência, a terceirização e a flexibilização do contrato de trabalho.

“Estamos organizando uma luta para resistência a essas perdas de direito, a privatização que pode atingir a Chesf, a Eletrosul e as distribuidoras. A mobilização da nossa categoria é para reagir a esses golpes”, afirmou Fernando Neves, secretário de energia da FRUNE.

O governo se prepara para uma batalha: vetar diversos dispositivos da medida provisória do setor elétrico aprovada pelo Senado na semana passada. Uma força-tarefa dos Ministérios da Fazenda, Planejamento, Minas e Energia e Casa Civil vai trabalhar para convencer o presidente Michel Temer a barrar vários "jabutis", como são conhecidos os temas estranhos incluídos em MPs.

O texto original, que limitava o aporte do Tesouro às distribuidoras da Eletrobras a R$ 3,5 bilhões e autorizava a privatização das empresas, tinha apenas 8 artigos, mas a proposta saiu do Congresso com 26.

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Muitos dos dispositivos vão contra o discurso oficial do governo, que tenta se contrapor às políticas intervencionistas defendidas pela ex-presidente Dilma Rousseff. Algumas das emendas ampliam subsídios e repassam o custo dessas medidas para a conta de luz, e algumas chegam a violar a Lei de Falências e a Lei da Responsabilidade Fiscal.

A intenção encontra resistência na área política do governo. A ordem é, sempre que possível, aplicar a política do veto zero. Politicamente, os vetos representam uma afronta ao Congresso. O presidente Michel Temer, que foi deputado de 1994 a 2010, procura evitar entrar em conflito com os parlamentares.

Nesse cenário, a ideia é vetar os piores trechos da MP 735 e deixar passar as emendas consideradas menos prejudiciais. Entre os itens que causam incômodo e devem ser vetados, está o dispositivo que obriga a Petrobrás a pagar às distribuidoras estaduais de gás a mesma taxa de transporte cobrada dos consumidores pelo uso de suas estruturas, regra capaz de gerar um custo de R$ 7,5 bilhões à companhia. O governo vai alegar que não pode interferir em assuntos que devem ser tratados por legislação estadual.

Um dos dispositivos que devem ser vetados é o que viola a Lei de Responsabilidade Fiscal. A emenda obriga a Eletrobrás a manter a garantia dada a um contrato de gás firmado por uma de suas distribuidoras, a Amazonas Energia, mesmo depois que a empresa for privatizada. O contrato envolve a distribuidora Cigás e já foi alvo de críticas da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e do Tribunal de Contas da União (TCU), que apuraram sobrepreço e compras em volume acima da capacidade das usinas.

O governo não quer deixar passar a emenda que libera os geradores com obras atrasadas, que queiram desistir do negócio, do pagamento de multas e execução de garantias. Da forma como foi aprovada, a proposta teria efeito retroativo e poderia beneficiar até o grupo Bertin, que arrematou 13 usinas em leilões realizados em 2008 e nunca entregou os projetos.

Uma emenda que também deve ser vetada envolve as linhas de transmissão da Abengoa, em recuperação judicial. Pela proposta, os empreendimentos poderão ser relicitados, mas o novo operador será obrigado a carregar todos os contratos de fornecedores firmados pela Abengoa, sem qualquer corte na dívida assumida. O dispositivo viola a Lei de Falências.

A medida provisória que foi aprovada nesta semana pelo Senado, com o propósito de abrir o caminho para novas privatizações no setor elétrico, traz entre seus artigos uma verdadeira 'bomba' financeira para a Petrobrás. A nova regra é capaz de gerar uma despesa de pelo menos R$ 7,5 bilhões aos cofres da estatal, além de uma fatura extra de aproximadamente R$ 400 milhões por ano.

Pelo texto incluído na medida provisória 735, todas as empresas que são autoprodutoras de gás e que possuem suas próprias estruturas para transportar a matéria-prima - como é o caso da Petrobrás - terão de pagar às distribuidoras estaduais de gás a mesma taxa de transporte que hoje é cobrada de qualquer consumidor do produto. Na prática, a nova lei deixa de diferenciar seus grandes consumidores de gás e passa a dar o mesmo tratamento a todos, ignorando quem investiu em grandes estruturas, os gasodutos.

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Dona da maior parte da infraestrutura de gás do País, a Petrobrás possui uma grande rede de transportes do insumo para alimentar suas próprias usinas térmicas, além de fábricas de fertilizantes e petroquímicas.

A MP 735, convertida agora no Projeto de Lei de Conversão (PLV) 29/2016, já passou pela Câmara e pelo Senado e agora só depende da sanção do presidente Michel Temer. O jornal O Estado de S. Paulo apurou que a Petrobrás e o Ministério de Minas e Energia têm atuado para tentar vetar o artigo 15, que trata da cobrança de tarifa do gás para os autoprodutores. Já havia uma pressão no Congresso para tentar retirar o trecho da MP, mas a mudança não ocorreu.

Segundo uma fonte do setor, o passivo de R$ 7,5 bilhões que a nova lei pode impor à Petrobrás se deve ao fato de a nova regra ser retroativa. Pelo texto, a empresa teria de pagar a fatura à concessionária estadual "desde o início da utilização do gás". Além disso, a estatal também teria de arcar com mais R$ 400 milhões por ano.

Hoje, um autoprodutor de gás instalado em São Paulo, por exemplo, dono de sua própria estrutura para transporte do insumo, paga à distribuidora paulista, a Comgás, uma taxa de R$ 0,01 por metro cúbico do gás que consome. Caso essa empresa passe a ser tratada como consumidor comum, a tarifa subirá para R$ 0,27 por metro cúbico.

Relator da proposta, o deputado José Carlos Aleluia (DEM-BA) não foi encontrado para comentar o assunto. A Petrobrás não quis se posicionar. O senador Aloysio Nunes (PSDB-SP), líder do governo no Senado, tentou impugnar o artigo sobre o gás da MP 735, sem sucesso. "Essa é uma matéria estranha à proposta original da medida provisória. Por isso, pedi a impugnação do texto, porque não era pertinente ao tema. Mas recuei porque a medida venceria nesta quinta-feira. Agora, nosso desejo é que seja vetado pelo presidente Temer", disse.

A reviravolta da lei ocorre no momento em que o governo costura uma proposta para mudar o marco legal do transporte de gás. O plano é que, com o fim do monopólio da Petrobrás no setor e a venda de seus gasodutos para outras empresas, a legislação esteja pronta para estimular um mercado de concorrência no setor, com livre acesso aos dutos e uma tarifa justa. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O Senado concluiu a votação e aprovou a Medida Provisória 735, que facilita privatizações do setor elétrico. Como a matéria perderia a validade no dia seguinte, os senadores optaram por aprovar o texto como veio da Câmara. Os senadores não conseguiram retirar do texto um incentivo às termelétricas, consideradas fontes "sujas" de energia. A matéria vai à sanção presidencial.

O projeto prevê uma redução da cobrança da Conta de Desenvolvimento Energético (CDE) sobre as contas de luz de Estados do Sul e Sudeste e abre caminho para a Eletrobras privatizar suas distribuidoras, com a renovação dos contratos dessas empresas. O texto também transfere a gestão da CDE da Eletrobras para a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), uma entidade privada, e prevê a redução gradual da conta.

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Pelo texto, será reduzido até 2030 o subsídio dado via CDE a regiões do Nordeste e Norte, com o fim da variação da cobrança conforme a localização do consumidor. A partir de 2017, esse modelo de cobrança vai migrando progressivamente até um novo sistema de cobrança da CDE conforme o volume de consumo. Para evitar uma cobrança excessiva do encargo sobre clientes de baixa renda, há previsão para que os benefícios da Tarifa Social de Energia Elétrica sejam isentos da cobrança da CDE.

A versão final da MP trouxe ainda outras benesses ao setor elétrico, como a possibilidade de distribuidoras venderem seus excedentes de energia.

Termelétricas

Na Câmara, o relator José Carlos Aleluia (DEM-BA) incorporou a criação do Plano Nacional de Modernização das Redes de Energia Elétrica (InovaRede). O programa, costurado junto com o governo, cria um programa de modernização das redes de distribuição de energia, mas o dispositivo foi justamente o que causou desentendimento entre os senadores.

Embora fale de prazos para redução de emissão do CO2, o plano acaba funcionando como um incentivo ao uso de termelétricas. Muitos senadores, inclusive da base do governo, defenderam que o artigo se trata de um jabuti e que as termelétricas movidas a carvão mineral são uma fonte "suja" de energia, ofensivas para o meio ambiente.

A bancada do PT fez um destaque ao projeto, pedindo a retirada deste artigo, mas, mesmo com apoio de senadores da base do governo, não conseguiu alcançar maioria e o dispositivo foi mantido.

A Câmara dos Deputados aprovou nesta terça-feira (11) o texto-base da Medida Provisória (MP) 735, que facilita concessões e privatizações no setor elétrico. O texto foi aprovado em votação simbólica. Neste momento, deputados analisam destaques e emendas à proposta.

A medida provisória aprovada modifica leis do setor e permite que o governo privatize empresas distribuidoras estaduais que foram federalizadas. A proposta ainda precisa passar pelo Senado, onde deve ser votada até 20 de outubro, quando perde a validade.

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A diretora de Infraestrutura do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Marilene Ramos, afirmou que as novas condições de financiamento para o setor elétrico já valerão para os projetos de linhas de transmissão que vão ser leiloados em outubro e também para as usinas de geração do leilão de reserva, marcado para dezembro.

O banco anunciou nesta segunda-feira (3), que vai oferecer crédito a menor custo, TJLP, para usinas de energias renováveis. Em compensação, térmicas a carvão e a óleo combustível não receberão mais o dinheiro do BNDES e vão ter que ir ao mercado para se financiarem.

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A estratégia está alinhada com o projeto do governo para o setor elétrico e foi previamente debatido com o ministério de Minas e Energia. A discussão envolveu também a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) e a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

A proposta é financiar a baixo custo, principalmente, a construção de usinas para que, no período de operação, o financiamento seja repassado a bancos privados, por meio do lançamento de debêntures, porque "o mercado tem mais apetite para debênture quando o projeto está operando", segundo Marilene.

Agentes do setor elétrico se preparam para ir à Justiça contra a exigência de serem incluídos no Cadastro Ambiental Rural (CAR). Na sexta-feira, dia 5, acaba o prazo para que propriedades rurais incluam seus dados por meio de um registro público eletrônico.

Criado a partir do novo código florestal, o CAR será a base de dados do governo para controlar e monitorar o uso da terra e o combate ao desmatamento no Brasil. O produtor que não estiver cadastrado até amanhã sofrerá restrições de acesso a políticas públicas, como crédito rural, linhas de financiamento e isenção de impostos para insumos e equipamentos. Ocorre que o setor elétrico foi incluído na lista daqueles que precisam se cadastrar.

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"Estamos numa cruzada para mostrar que não somos propriedades rurais. É uma situação absurda, que certamente vai resultar em judicialização", diz o presidente do Fórum de Meio Ambiente do Setor Elétrico (Fmase), Enio Fonseca. "O setor elétrico tem condições específicas. O próprio cadastro tem limitações operacionais para lançamento de dados. Demonstramos isso ao governo, mas não fomos ouvidos."

No ano passado, o setor elétrico realizou uma série de reuniões com o governo, na tentativa de demonstrar que não deveriam fazer parte do cadastro. O receio do setor elétrico é que, ao ficar de fora do CAR, sofra impedimentos como tomada de financiamento em bancos públicos. Uma das exigências do cadastro, por exemplo, é estabelecer planos de recuperação ambiental para propriedades em desacordo com o código floresta. "Acontece que nós já temos nossas condicionantes ambientais, é um modelo completamente diferente", argumenta Enio.

Procurado pelo jornal O Estado de S. Paulo, o Ministério do Meio Ambiente informou que não vai se mobilizar para adiar o prazo de cadastro. A eventual mudança de data dependeria da publicação imediata de uma medida provisória pelo Palácio do Planalto, ou de um projeto de lei pelo Congresso.

Nas contas do fórum do setor elétrico, pelo menos 4 mil empreendimentos de geração de energia teriam de serem incluídos no CAR, além de subestações de energia e plantas de transmissão. O preenchimento é feito por meio do Sistema de Cadastro Ambiental Rural (Sicar). "Está havendo uma corrida hoje para preencher isso, ainda que precariamente. Acredito que metade do setor venha a fazer o cadastro, mas uma outra metade, não", disse Enio Fonseca.

A vazão atual, de 800 metros cúbicos por segundo (m³/s) a partir do reservatório de Sobradinho (BA), deverá ser mantido, pelo menos, até o final de março. Esse foi o saldo de mais uma reunião realizada pela Agência Nacional de Águas (ANA) em Brasília (DF) nessa segunda-feira (25) e transmitida por teleconferência para os estados integrantes da bacia.

Durante a reunião, houve a informação, por parte dos técnicos da Companhia Hidroelétrica do São Francisco (Chesf), de que os últimos dias de chuva, registrados na bacia do Rio São Francisco, resultaram em uma precipitação de 120 milímetros (mm) acima da média histórica. Com isso, a previsão é de que o nível do reservatório de Sobradinho atinja o patamar de 4,8% e o de Três Marias (MG) chegue a 21%.

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Conforme o estudo, o nível do reservatório mineiro poderá chegar a 28% enquanto o de Sobradinho deverá atingir até 8% no final de janeiro, ainda com perspectiva de alterações. Apesar dos números positivos, o setor elétrico alega que “não há motivo para alterar a defluência” dos reservatórios. Haverá nova reunião de avaliação dos impactos provocados pelas restrições de vazão na segunda-feira da próxima semana, 1º de fevereiro.

OUTORGAS

A demanda apresentada pelo presidente do CBHSF, Anivaldo Miranda, sobre as outorgas concedidas pela ANA para captação na bacia do São Francisco também foi discutida na reunião. O superintendente de Regulação de Outorgas da ANA, Patrick Thadeu Thomas, explicou que a montante de Três Marias a retirada outorgada é de 58,1 m³/s, sendo a indústria a principal usuária, e a jusante, entre Três Marias e Sobradinho, de 106,2 m³/s, com a predominância de retirada outorgada para atender à irrigação.

Entre Três Marias e Sobradinho, a relação entre disponibilidade e demanda de água por trecho, levando-se em conta uma vazão defluente de 150m³/s e uma demanda de 37m³/s, representa cerca de 25% da disponibilidade. Já a jusante de Sobradinho – segundo o representante da ANA – essa disponibilidade, considerando a vazão defluente de 800m³/s e uma demanda total de 66m³/s, é de apenas 8,3%. Em outras palavras, o representante da agência federal tentou demonstrar que o problema do rio não está na defluência praticada. “Há água suficiente para garantir os usos múltiplos”, garantiu ele. Segundo Patrick Thomas, o problema está na variação de nível do rio.

Anivaldo Miranda, depois de relembrar que o levantamento das outorgas foi demandado tendo em vista que a Chesf e ANA chegaram a falar de hipotéticos cenários dramáticos de vazões de até 500m³/s a jusante de Sobradinho, o que justificava a demanda do Comitê, chamou a atenção para a ausência, no levantamento, de uma avaliação, ainda que aproximada, das vazões não outorgadas e retiradas clandestinas na calha principal e afluentes. Alertou também para a ausência de uma análise que levasse em conta não somente a relação de quantidades de água, mas também a relação entre quantidade e qualidade mínima requerida para as águas da bacia, principalmente em situações críticas extremas. 

No final da reunião, o presidente da ANA, Vicente Andreu, declarou que a hipótese de uma vazão de 500m³/s só foi aventada enquanto parâmetro para a consecução, pelo Ministério da Integração, de obras complementares de captação definitivas para todas as situações críticas. Andreu assegurou não haver ainda nenhum estudo para estabelecer uma vazão nesse patamar, como chegou a ser ventilado em reunião anterior. 

O Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF) é um órgão colegiado, integrado pelo poder público, sociedade civil e empresas usuárias de água, que tem por finalidade realizar a gestão descentralizada e participativa dos recursos hídricos da bacia, na perspectiva de proteger os seus mananciais e contribuir para o seu desenvolvimento sustentável. A diversidade de representações e interesses torna o CBHSF uma das mais importantes experiências de gestão colegiada envolvendo Estado e sociedade no Brasil.

Com informações de assessoria

A escassez e o custo de linhas de financiamento e os problemas de cumprimento de prazos e licitação de novos projetos na área de transmissão são considerados, neste momento, dois entraves ao futuro do sistema elétrico nacional. De acordo com executivos e especialistas do setor elétrico, tais dificuldades podem não apenas barrar o investimento em novos projetos de geração de uma forma geral, como também travar o crescimento das fontes renováveis no País. Justamente em um momento no qual a energia eólica se consolida como importante alternativa às hidrelétricas, e a fonte solar começa a dar os primeiros passos no Brasil.

"Há uma estimativa de necessidade de investimento da ordem de R$ 20 bilhões, montante necessário apenas para que a gente possa correr atrás do atraso que já existe", afirmou o presidente do Instituto Acende Brasil, Claudio Salles. "E o macrofinanciador do mercado brasileiro, o BNDES, está recolhendo os flaps", disse o especialista, que participa nesta segunda-feira (30) de evento realizado no Instituto FHC, em São Paulo.

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O presidente da CPFL Renováveis, Andre Dorf, destaca que neste momento aproximadamente três em cada quatro projetos de transmissão estão com o cronograma atrasado, uma situação que se agrava ainda mais diante da dificuldade de acesso a recursos a custos competitivos. "Hoje o apetite dos bancos está baixo. Falta disponibilidade de recursos e o custo de financiamento está bastante elevado. Fala-se em CDI mais três, quatro ou cinco pontos. Estamos falando de quase 20% ao ano para projetos de infraestrutura, um custo de dívida que em alguns casos chega a passar o custo do equity", afirma.

O executivo destaca que, a despeito dos sinais de desaceleração da economia brasileira, a perspectiva de longo prazo é de aumento de demanda. Em dez anos, a demanda pode crescer aproximadamente 30 GW médios, o que indica uma necessidade de ampliação da potência instalada de 60 GW a 75 GW, ou algo como 60% em relação à atual capacidade do parque gerador nacional.

As dificuldades enfrentadas pelo setor elétrico aumentam a percepção do investidor externo de que o Brasil está "barato" e atrativo para o investimento estrangeiro. Ainda assim, as empresas adotam tom cauteloso ao analisar eventuais aportes no Brasil. "Vemos entre os investidores a interpretação de que o Brasil está em Black Friday, mas é uma Black Friday prorrogada", afirmou a presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica), Élbia Gannoun.

A dicotomia entre a perspectiva de que o Brasil está em liquidação e a cautela antes da aprovação de novos investimentos estrangeiros têm explicação. "O investidor abre o jornal e vê certa estabilidade do setor, mas há uma incerteza enorme quanto à economia", afirma o presidente da CPFL Renováveis. O investimento feito no Brasil sofre influências do ponto de vista cambial e de taxas de juros, por exemplo. "E essa insegurança não conversa com esse tipo de investidor. Nosso investidor é sereno e tem o foco no longo prazo", complementou o executivo, ao se referir a fundos de pensão, fundos soberanos ou assets, entre outros exemplos.

Dorf destaca que, além da dificuldade provocada pela falta de apetite dos bancos, as empresas do setor elétrico também enfrentam a dificuldade em captar recursos via debêntures de infraestrutura, por exemplo. Esses papéis garantem incentivo ao investimento da pessoal física, a partir da isenção do imposto de renda, mas não tem a mesma atratividade ao investidor institucional.

Para piorar, a pessoa física encontra no mercado, neste momento, opções consideradas mais atrativas do que as debêntures de infraestrutura. "Hoje temos carência de instrumentos", afirmou o presidente da CPFL Renováveis.

O governo federal precisará colocar em prática o discurso pró diálogo defendido pela presidente Dilma Rousseff caso pretenda manter o ritmo de investimentos do setor elétrico durante os próximos anos. Diante da atual falta de chuvas, da necessidade de novos projetos e da redução da rentabilidade setorial, empresários decidiram subir o tom contra o governo federal e mostraram que somente a criação de condições mais atrativas tornará possível a elaboração de uma agenda conjunta para o segundo mandato presidencial.

A ameaça de redução da capacidade de investimento das elétricas ficou evidente nas últimas semanas, após o anúncio da reeleição da presidente Dilma. Em diferentes teleconferências realizadas após a divulgação dos resultados do terceiro trimestre, empresários utilizaram a perda da rentabilidade comprovada em números para escancarar as dificuldades enfrentadas pelo setor. Ao mesmo tempo, elencaram diversos temas em discussão com a administração federal sobre os quais o governo poderá comprovar a intenção de dialogar.

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"Algumas medidas têm sido debatidas no setor elétrico e são consideradas pontos importantes para consolidar boas expectativas. São definições fundamentais para que o setor possa, qualquer que seja o cenário futuro, enfrentá-lo com determinação e sustentar o crescimento econômico desejado pelos brasileiros", afirmou o presidente da CPFL Energia, Wilson Ferreira Júnior.

A declaração, dada na sexta-feira (21) passada, foi acompanhada de uma extensa lista de pontos a serem analisados pelo governo federal. Entre eles está, por exemplo, o custo médio ponderado de capital (WACC) a ser considerado no 4º ciclo de revisão tarifária das distribuidoras. O indicador, um dos itens que dimensiona a rentabilidade da atividade de distribuição no País, ficou em 7,5% no 3º ciclo e em um primeiro momento a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) propôs sua redução para 7,16%. Após críticas, a agência reguladora agora cogita revisá-lo.

O governo federal também dá indicações de que deverá rever a proposta apresentada inicialmente a respeito do teto do preço de liquidação das diferenças (PLD). A Aneel anunciou a intenção de reduzir o limite máximo do PLD de R$ 822,83 para R$ 388,04 e ratear entre todos os agentes expostos ao mercado de curto prazo os Encargos de Serviços do Sistema (ESS). Esta segunda proposta foi duramente criticada. "Entendemos que está sendo proposta a criação de um novo encargo, e que é inaceitável fazer isso simplesmente por uma decisão da Aneel", afirmou o presidente da Tractebel, Manoel Zaroni Torres.

Rentabilidade

Os recados dados por executivos do setor ao governo têm explicação no momento particular vivido pelo setor elétrico brasileiro. O anúncio de propostas como a medida provisória 579, convertida na lei 12.783/2013, combinada com a falta de chuvas, ocasionou a chamada "tempestade perfeita" no setor.

O nível dos reservatórios encolheu e o acionamento das térmicas se tornou necessário, resultando assim na elevação dos preços da energia. Para piorar, as distribuidoras ficaram expostas e por isso precisaram ser socorridas com empréstimos de quase R$ 20 bilhões neste ano. As geradoras também foram vítimas do preço mais alto da energia, já que precisaram comprar energia para revenda de forma a compensar a menor operação das hidrelétricas.

Essa combinação de fatores derrubou a lucratividade do setor, que agora coloca em dúvida as condições de manter o atual nível dos investimentos. Levantamento elaborado pelo Broadcast a partir dos resultados trimestrais divulgados por 18 empresas mostra que o lucro conjunto do setor encolheu 22,2% neste ano. De janeiro a setembro, o lucro líquido das 18 empresas somou R$ 5,88 bilhões, contra R$ 7,55 bilhões do ano passado.

Com lucro menor, as empresas tendem a reduzir a distribuição de dividendos - o que pode afetar o próprio governo federal, além de governos estaduais - e também devem se ver obrigadas a reduzir o ritmo de investimentos. Justamente em um momento no qual o setor precisa de mais projetos que aumentem a capacidade e confiabilidade do sistema, e no qual a estatal Eletrobras enfrenta mais dificuldades em se manter como um motor de desenvolvimento de novos projetos.

A estatal federal acumula prejuízo de R$ 1,8 bilhão até setembro e pode ser considerada uma referência dos problemas causados pela "tempestade perfeita". A MP 579, texto elaborado pelo governo federal sem qualquer diálogo com o setor elétrico, de acordo com os empresários, reduziu a receita anual da Eletrobras em mais de R$ 8 bilhões a partir das condições impostas na renovação das concessões. Ao mesmo tempo, criou um cenário no qual a companhia é obrigada a comprar energia no mercado de curto prazo para atender contratos assinados antes da publicação da MP.

A importância da Eletrobras e suas controladas para o setor elétrico pode ser dimensionada pelo leilão de transmissão realizado nesta semana. Apenas quatro dos nove lotes ofertados receberam propostas, sendo que a Eletrobras (via Eletrosul) foi a vencedora de duas. Outras empresas do setor, como a Taesa, anunciaram previamente que adotarão uma postura "prudente" em relação a novos investimentos. "Só iremos participar daqueles projetos que, de forma bastante segura, vão trazer benefícios e continuar a prover os resultados que a Taesa vem apresentando", afirmou o presidente José Aloise Ragone Filho.

Um tema aparentemente técnico, mas que mexe diretamente com a vida dos brasileiros, deve estar presente nos debates do segundo turno da campanha à Presidência da República: a energia elétrica. Se, por um lado, a candidata do PT, Dilma Rousseff, deverá lembrar o racionamento de energia de 2001, durante o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, Aécio Neves, do PSDB, deve focar suas críticas nos problemas atuais do setor, que podem resultar em reajustes na conta de luz.

Para o professor de ciência política da Universidade de Brasília (UnB) David Fleischer, a questão da energia elétrica vai dar um “bate-boca quente” no segundo turno das eleições. Segundo ele, a tentativa do governo de reduzir a tarifa de energia resultou em “desastre total” para as distribuidoras. “Todo esse populismo, o Aécio vai abordar. E, claro, a Dilma vai retrucar com o apagão que houve no governo FHC”, analisa.

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A Medida Provisória 579, de 2012, promoveu a redução dos preços da energia elétrica em 20% em média, mas estabeleceu uma série de condições para as distribuidoras de energia, como a renovação antecipada das concessões que estavam para vencer.

Segundo análise do Tribunal de Contas da União, a medida trouxe desequilíbrio nas contas do setor elétrico, processo agravado pelas chuvas abaixo do normal nos últimos meses. Com isso, o governo teve que adotar medidas para socorrer as distribuidoras, como a alocação de recursos do Tesouro e a autorização para empréstimos no mercado, que deverão ser repassados para os consumidores por meio da conta de luz.

O coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Nivalde de Castro, acredita que o assunto deve ser tratado de forma mais técnica durante a campanha.

“Não creio que a questão da política energética em si receba um grande destaque, porque é algo que tem um embasamento técnico muito grande e possivelmente não se preste a discussões em campanhas eleitorais, onde se busca muito mais destacar emoções do que razões”, avalia.

Mesmo assim, ele acha que tanto o racionamento de 2001 quanto os problemas atuais do setor podem ser abordados pelos dois candidatos. “Cada um tem os seus argumentos, a presidenta Dilma tem razão de trazer à tona a questão do racionamento de 2001, porque ele teve como causa básica a perda da capacidade de planejamento. E o Aécio, certamente, vai trazer a questão da crise financeira, que tem uma correlação direta com a crise hidrológica que o país está passando”, disse.

Em entrevista à Agência Brasil, Aécio Neves disse que a situação do setor elétrico brasileiro é trágica. Segundo ele, os recursos aplicados pelo Tesouro nas distribuidoras de energia poderiam ir para outras áreas, como saúde, educação e segurança pública. “Essa política de usar dinheiro do Tesouro para forçar a queda das tarifas não deu certo e causou instabilidade ao sistema. O que precisa ser feito é ampliar a oferta, com o uso de energia eólica, por exemplo, mas só isso não é suficiente”, disse o candidato.

A candidata Dilma Rousseff lembrou recentemente, em sua conta no Twitter, o racionamento de energia ocorrido em 2001, durante o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que é do mesmo partido de Aécio Neves. “O povo brasileiro não quer de volta aqueles que trouxeram o racionamento de energia”, disse Dilma. O programa de racionamento foi adotado de junho de 2001 a fevereiro de 2002 para evitar um colapso no abastecimento de energia e atingiu as regiões Sudeste, Centro-Oeste, Nordeste e parte da Região Norte.

Em cinco meses, a Caixa aprovou R$ 7,72 bilhões em empréstimos ao setor elétrico. Todos eles tiveram intermediação do Ministério da Fazenda. Além da operação com a Celg, a Caixa participou dos empréstimos à Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) e também à Eletrobrás.

No empréstimo à CCEE, que serviu para socorrer as distribuidoras de energia, sua fatia ficou em R$ 3,32 bilhões. No outro, destinado ao financiamento da Eletrobrás, em R$ 2,5 bilhões.

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Em nota, a Caixa informou que tem linha de crédito para financiar as empresas do setor. "Desde que se enquadrem nas exigências do banco quanto a garantias e retorno, operações deste tipo estão no portfólio", afirmou a instituição.

Fontes da área técnica do Tesouro Nacional informaram ao Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, que a Caixa deve precisar de nova capitalização no próximo ano. O objetivo é dar fôlego financeiro ao banco, pressionado pelos empréstimos bilionários para atender as políticas do governo.

A Caixa também foi usada pelo governo no expediente das "pedaladas fiscais". O banco pediu à Advocacia-Geral da União (AGU) que instaurasse uma Câmara de Conciliação e Arbitragem para encontrar uma solução. Por meio da manobra, o Tesouro vinha atrasando os repasses ao banco para pagamentos de benefícios sociais, como o seguro-desemprego e o Bolsa Família, desde o fim de 2013. O objetivo era melhorar o resultado das contas públicas.

A ingerência do governo sobre a Caixa tem aumentado nos últimos anos. Toda a operação entre o banco e a Celg só foi possível porque o Conselho Monetário Nacional (CMN) elevou, em 28 de agosto, o limite para financiamentos das estatais de energia elétrica de R$ 800 milhões para R$ 1,9 bilhão.

Em 17 de setembro, a Celgpar, controladora da Celg, anunciou a contratação do financiamento com a Caixa, de R$ 1,9 bilhão. E informou que a maior parte do dinheiro serviria para elevar o capital social da empresa.

Sem alternativa

Em assembleia-geral extraordinária, em 26 de setembro, os acionistas da Eletrobrás aprovaram a aquisição de 51% de participação na Celg por R$ 59,5 milhões. Um mês antes, o conselho de administração da companhia já havia aprovado a operação.

A transferência de controle da Celg para a Eletrobrás teve início em 2010. A federalização da companhia foi a única alternativa, já que nenhum banco aceitou financiar a empresa, que acumulava dívidas de R$ 7 bilhões.

O primeiro empréstimo ocorreu em 2011, quando foi realizada uma operação de crédito de R$ 3,7 bilhões com a Caixa, com a mesma modelagem do atual. Um acordo de acionistas assinado entre governo de Goiás e a Eletrobrás previa a aquisição da empresa após o cumprimento de algumas metas acordadas. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico informou nesta quinta-feira (10) que o risco de déficit de energia é zero para as regiões Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste. Após reunião nesta tarde, o grupo, formado por integrantes de órgãos oficiais do setor elétrico, disse que foram observadas chuvas acima da média em junho nas principais bacias de rios do Sudeste, e houve melhoria nas condições de suprimento de energia do Sistema Elétrico Nacional. 

Em nota divulgada no mês passado, o comitê informou que havia risco de déficit de energia em torno de 2,5% para as regiões Sudeste e Centro-Oeste.  Segundo o comitê, a capacidade de geração e transmissão de energia continua sendo ampliada este ano com a entrada em operação de usinas, linhas e subestações em fase de conclusão. “Embora as principais bacias hidrográficas onde se situam os reservatórios das regiões Sudeste e Centro-Oeste e Nordeste tenham enfrentado situação climática desfavorável no período úmido deste ano, o Sistema Interligado Nacional dispõe das condições para o abastecimento do país”, diz a nota.

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O comunicado acrescenta que o aumento de temperatura do Oceano Pacífico e os ventos observados nesse período indicam o estabelecimento do fenômeno El Niño, de intensidade moderada, o que implica continuidade das chuvas da Região Sul com valores normais ou superiores à média histórica.

As análises de desempenho feitas pelo comitê também apontaram para o risco de 4% de déficit de energia no ano que vem nas regiões Sudeste/Centro-Oeste e de 0,4% na Região Nordeste. Os números estão dentro dos índices previstos no setor, que considera déficit de até 5%. 

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