Há um ar de preocupação nas ladeiras de Olinda. A pouco mais de um mês para o Carnaval, o sentimento nos aclives e declives do Sítio Histórico é de desgosto e liberdade reprimida. Ao menos para quem frequenta os bares da região, inclusive moradores, a exigência da Prefeitura da cidade de fechar estes estabelecimentos às 22h é um atentado ao pulsar cultural do local.
Além de limitar o funcionamento dos bares, há o pedido de que tais espaços deixem de existir para dar lugares somente a restaurantes, cafés, galerias de arte. Nos Quatro Cantos, na Rua 13 de Maio, a opinião é consensual. “Vai acabar com Olinda. Não tem marginal, ficamos aqui no Bar de Peneira, é tranquilidade”, comentou Cláudio Nigro, conhecido morador de 80 anos, nascido e crescido nas ruas de paralelepípedos do Sítio Histórico.
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Nigro exalta os pintores, poetas, músicos e turistas que fazem o cotidiano de Olinda como um lugar diferenciado. “Dia de sexta-feira, domingo, isso aqui é empestado de gente. Por aqui passa a seresta. A Polícia, quando veio sexta passada (2), dois policiais já chegaram com metralhadoras. Como é que vão proibir isso daqui? Os moradores gostam da cidade por suas características”.
Moradora da Rua da Bica, Bernadete da Luz acredita que tudo não passa de fogo de palha. “Muita gente tá revoltada, até porque já começaram errado, trazendo a Polícia pra cá do jeito que foi. Daqui a pouco tá o povo todo vivendo dentro de casa e os assaltantes pelas ruas. Isso não vai dar em nada, você vai ver”, apostou a moradora de 71 anos.
Proprietários dos bares não são convocados à reunião
Nesta quarta-feira (7), às 14h, o Ministério Público de Pernambuco (MPPE) convocou uma reunião para debater a denúncia que, segundo o órgão, foi encaminhada por moradores do Sítio Histórico. Entre os temas, o prazo do dia 13 de janeiro para todos os estabelecimentos se adequarem às mudanças. De acordo com a assessoria do MPPE, o encontro será privativo à Prefeitura e à Promotoria (representada pela promotora Belize Câmara).
Segundo os proprietários de bares, não houve convocação formal para o encontro no Ministério Público. “Não chegou nada para a gente. O MPPE, por exemplo, jamais nos mostrou uma lista com assinaturas de moradores, nada. Estamos sendo rechaçados por um problema de saúde pública; não é competência do dono do bar se há venda de drogas nas ruas, se há prostituição. Se houvesse um policiamento mais efetivo, já inibiria essas coisas de acontecerem”, afirmou Erick Bandeira, filho de uma proprietária de bar na Rua 13 de Maio.
Para o comerciante Paulo Cavalcanti, frequentador assíduo dos bares locais, se a medida entrar em vigor terá um impacto extremamente negativo para a cidade. “Nós que estamos aqui todos os dias sabemos que a realidade da parte histórica de Olinda é de amizade entre os moradores, só gente boa e sem nenhuma confusão. Seremos penalizados por algo que não tem a ver com o funcionamento ou não dos bares”.