O senador Tasso Jereissati (CE) aguarda o desfecho das negociações no Rio Grande do Sul entre seu partido, o PSDB, e o MDB para selar o acordo com Simone Tebet e ser anunciado como candidato a vice da senadora, pré-candidata à Presidência. Segundo pessoas próximas, o tucano já aceitou o "desafio", mas só vai falar do assunto após formalizado o acordo.
Aos 73 anos, o empresário e parlamentar cearense, um dos últimos representantes da velha guarda tucana em atividade na política nacional, tem o apoio integral do PSDB e se prepara para entrar na campanha presidencial enquanto estreita laços com o clã Ferreira Gomes, de Ciro e Cid Gomes, e mantém pontes com o petista Luiz Inácio Lula da Silva.
##RECOMENDA##Após Simone Tebet registrar 1% na mais recente pesquisa Datafolha, a pressão para a indicação do nome de Tasso cresceu. "Minha ligação com o Tasso é umbilical. Tenho uma história de vida com ele. Começou com meu pai e depois fomos colegas no Senado por sete anos. Mas a escolha é do PSDB", disse Simone em entrevista ao Estadão.
A indicação de Tasso na chapa, segundo tucanos e aliados, sedimenta o apoio do PSDB nos Estados ao palanque de Simone e ainda aproxima a senadora de Ciro Gomes. Além disso, afasta o MDB de vez do bolsonarismo e reforça a hipótese de apoio da terceira via ao expresidente Lula em um eventual 2.º turno. O ex-senador José Aníbal (PSDB-SP) lembrou que, em 1993, Tasso chegou a ser cotado como vice de Lula: "Ele sempre teve um bom diálogo com o PT e Ciro. É aberto e bom de conversa".
Em agosto do ano passado, Tasso recebeu Lula em seu escritório em Fortaleza e eles apareceram juntos em foto divulgada nas redes sociais. O ex-presidente costuma lembrar que se emocionou com uma carta do senador quando estava preso e perdeu o neto.
Não há expectativa de que Ciro ou Simone desistam de suas candidaturas, mas a indicação de Tasso como vice estreita os laços entre os dois projetos, que devem caminhar lado a lado nos debates e eventos da campanha.
"Tasso e Ciro têm a mesma origem política, que foi o enfrentamento às oligarquias do Ceará", disse o cientista político Túlio Velho Barreto, da Fundação Joaquim Nabuco, do Recife.
Ciro foi sucessor de Tasso no governo do Ceará, em 1990, e depois ministro da Fazenda de Fernando Henrique Cardoso por indicação do aliado. Em 2010, eles romperam por causa de divergências locais, mas começaram a se reaproximar após a eleição de Jair Bolsonaro em 2018.
DIÁLOGO. Para a cientista política Raquel Macedo, da Universidade Federal do Ceará, a escolha de Tasso na chapa de Simone potencializa o diálogo da pré-candidata com as forças da terceira via. "Ele é um interlocutor com a terceira via, sim. Ele assumidamente não é de esquerda, nem adota pautas bolsonaristas. É um político preocupado com o equilíbrio financeiro, mas também com pautas humanitárias", afirmou Raquel. "Ele assume a linha que Fernando Henrique já representou. Ele é um liberal moderado."
Apesar da dedicação à política, Tasso é um empresário bem-sucedido dos ramos de bebidas, shopping centers e comunicação. O tucano tem boa interlocução com o mercado financeiro e grandes empresários, e deve ajudar Simone a construir pontes com o setor.