O debate sobra a privatização da Eletrobas e da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf) tem rendido muita discussão e opiniões divergentes entre parlamentares pernambucanos, do Nordeste e até mesmo do país. O LeiaJá escutou a opinião de deputados sobre o delicado tema. Uma das mais categóricas ao falar, a deputada federal Luciana Santos (PCdoB), afirmou que a privatização é um “crime contra o patrimônio brasileiro”.
“É inaceitável que esse governo, se utilizando desse princípio de Estado mínimo para o povo e Estado máximo para o setor financeiro, desmonte o nosso setor energético, que é estratégico para o desenvolvimento nacional e essencial para o povo brasileiro”, argumentou. Luciana também pediu que a população não permita que a iniciativa privada coloque “as mãos” nas águas do Velho Chico. “Do mesmo modo, sou contra a privatização da Chesf, que além de ser uma peça importante do sistema brasileiro, é o principal responsável pela gestão das águas do São Francisco. Não podemos permitir. As águas do Velho Chico, que é do povo do Brasil e, principalmente, do povo nordestino. Nós defendemos a Chesf pública porque queremos manter vivo o São Francisco”.
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Na mesma linha de pensamento, o deputado federal Silvio Costa (PTdoB) falou que é “radicalmente contra”. “Primeiro, pela falta de legitimidade do governo de propor uma privatização. Segundo, que a gente não pode entregar o setor elétrico ao capital financeiro sempre. É importante que o governo tenha algum controle da energia por um motivo simples: porque a energia é o vetor fundamental na vida das pessoas e que em todas as situações, na economia e na casa das pessoas. Isso é um assunto profundamente desinteressante para o país. Não deveriam nem ter feito essa proposta”, disse.
Na opinião de Silvio Costa, os que defendem a privatização da Eletrobras e da Chesf é porque fazem parte do governo Temer. “Os que estão defendendo a privatização não são especialistas no setor elétrico, esse é o primeiro ponto. Eles estão defendendo porque pertencem ao governo. Essa é a primeira questão. Eu acho que privatizar a Eletrobras e privatizar a Chesf é uma coisa, literalmente, equivocada. Eu sou radicalmente contra”, grifou.
“Outra coisa muito clara é que existe aí a questão do Rio São Francisco, que não pode ser colocado no debate de forma transversa como eles estão propondo. Então, esse é o discurso sempre. Uma coisa é você privatizar a telefonia, que a telefonia é importante para as pessoas e para a economia, claro, mas ela não tem a essência da produção de energia, que é uma coisa muito séria. A energia é o motor da vida da economia”, declarou. O parlamentar acredita que se houver “pressão” da sociedade, o governo pode recuar e ainda garantiu que ele fará o seu papel na tentativa de impedir.
Posicionamento contrário
Por sua vez, o parlamentar Daniel Coelho (PSDB) discorda. Primeiro de tudo, o tucano lembrou que não há projeto apresentado e que é, primeiro necessário conhecê-lo para ver qual é o modelo que está sendo proposto. De acordo com ele, a experiência que se tem no país em relação a privatizações é o ganho na qualidade do serviço, além de se combater dois grandes problemas. “O que a gente sabe que ocorre hoje, que é transformar uma empresa pública em um cabide de emprego e fonte de corrupção”, avaliou.
“Então, no ponto de vista teórico, eu achei muito interessante sim se discutir uma administração privada para empresas que não necessariamente precisam ser públicas, mas é preciso conhecer o projeto para ter garantias de que você não vai ter, por exemplo, aumento de tarifa de combustível. Acho que o que a gente tem que garantir o preço, mas eu não tenho dúvidas que na qualidade você tem avanços além de combater os atuais abusos, que terminam gerando todos os casos de corrupção que a gente conhece. Se você observar, nos últimos dez anos, os grandes casos de corrupção, todos eles estão ligadas a indicações políticas em estatais. Então, é preciso conhecer o projeto”, afirmou Daniel.
O deputado falou que é preciso estudar qual é a motivação para privatizar. “A motivação tem que ser a sociedade pernambucana e a brasileira e não o corporativismo e um grupo pequeno que se beneficie da empresa porque é isso que tem que entrar em discussão. O Brasil não aguenta mais corporativismo, então a visão é que a Chesf pertence ao Brasil e a Pernambuco, ao país, e não a um grupo pequeno, que ganha remunerações muito acima que todos no Brasil ganham. Temos que ver o que está em discussão e o que está em jogo. Se é o corporativismo de uma meia dúzia ou se é efetivamente o interesse coletivo. O Brasil não aguenta mais estar pagando a conta de estatais que pagam salários de 40, 60 mil reais, mais altos que do que ministros do Supremo e do presidente da República, às vezes, com a carga horária muito menor do que o trabalhador comum e essas empresas não pertencem a meia dúzia de pessoas, elas pertencem ao país todo. Então, é importante que a gente faça a discussão”.
Para Coelho, a Transposição do Rio São Francisco estar incluída no pacote pode trazer ganhos de forma a dar celeridade à obra que, até hoje, não foi concluída. “Não tem nada mais lento, ineficiente, mais caro, e que tenha havido mais corrupção do que a Transposição. A gente tem ali um exemplo claro de ineficiência e de demora em uma obra que, em sua maior parte, não está concluída, além do superfaturamento, então ali é um exemplo evidente do poder público administrando. A Transposição é um grande exemplo negativo de uma obra que demorou demais e aumentou três vezes maior o valor inicial de orçamento”.
O deputado ainda pediu atenção para os políticos que utilizam o discurso de que “A Chesf é nossa”. Para ele, é evidente o populismo. “O populismo no Brasil tem dominado a nossa política, exatamente, voltado ao corporativismo e não da maioria. Muitas vezes em um discurso de que a Chesf é nossa, você tenta enganar a grande maioria da população para, no fundo, beneficiar 10 ou 50 pessoas que exatamente estão ali sugando do estado. Então, a discussão não pode ser do corporativismo”.
Privatização como o melhor caminho
O deputado federal Marinaldo Rosendo (PSB) tem uma visão parecida com a de Daniel. Segundo o pessebista, privatizar a Eletrobras pode ser um importante passo para que a empresa ganhe eficiência, aumente a capacidade de produção, e gere mais empregos. “Além disso, a empresa tem registrado prejuízos nos últimos anos e hoje está endividada e essa situação nos mostra que o modelo atual já não se adequa mais a realidade do país. Por isso, entendo que a privatização é o melhor caminho a ser trilhado para a Eletrobras”.
Com relação à privatização da Transposição do São Francisco, Marinaldo também se coloca a favor. “Desde que esse processo leve mais água para quem precisa e gere mais emprego e renda para a população sofrida da região que será beneficiada”.
O LeiaJá também escutou a opinião do deputado federal paraibano Luiz Couto (PT), principalmente, porque vê na privatização da Eletrobras o risco de privatizar o uso das águas do rio São Francisco. Ele é integrante de uma frente de parlamentares do Nordeste contra a privatização da Chesf e contou que tem recebido muitas mensagens de pernambucanos pedindo que ele se posicione contra. “Querem privatizar todas as nossas formas de energia e não é para investir em melhorias para o povo. É simplesmente para cobrir o rombo das contas públicas. Energia não dá prejuízo. Se dá, é por incompetência da gestão. A Chesf é um patrimônio do povo nordestino”, disparou.
Na tarde desta sexta-feira (1°), o presidente da Frente Parlamentar em Defesa da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf), o deputado Danilo Cabral (PSB) disse que vai solicitar a suspensão da privatização da Chesf ao Ministério de Minas e Energia, Fernando Filho (PSB). Cabral diz que é preciso de um debate maior com a sociedade, como ocorreu no caso da Amazônia.
“Queremos que o Ministro Fernando Coelho Filho dê a Pernambuco o mesmo tratamento que ele deu à Amazônia. O governo federal recuou no caso da Amazônia para permitir que o Brasil faça um debate mais aprofundado sobre a abertura da exploração da mineração na região. Da mesma forma e também em função da soberania nacional, é importante que o governo dê o mesmo tratamento ao setor energético”, justificou.
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