Neste domingo (25), é comemorado o Dia Nacional da Adoção. Para lembrar a data, o Portal LeiaJá traz histórias de homens e mulheres que decidiram formar uma nova família.
Somente no Recife, são 211 pessoas nessa espera. O número representa mais que o triplo de crianças cadastradas esperando uma família, que é de 70. Porém existe um entrave nesse processo. A maioria dessas pessoas querem meninos com menos de três anos. E os que estão aguardando por um novo lar já têm acima de oito. “Pelos dados, podemos ver que não é a justiça que é lenta, é que esse perfil de criança desejado pela maioria nem sempre existe no CNA. Uma criança com menos de um ano nem chega a entrar direito no cadastro. Ela entra e sai muito rápido”, explica o Juiz Hélio Braz, titular da 2° Vara da Infância e Juventude de Pernambuco.
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No Estado, existe o programa família solidária que tem o objetivo de promover a adoção de irmãos para a mesma família ou duas famílias que possam ficar sempre próximas. “Pernambuco tem se destacado nesse tipo de adoção. Por exemplo, quando temos quatro irmãos biológicos, procuramos no CNA duas famílias que desejam o perfil das crianças e cada uma fica com dois irmãos, com a proposta das famílias manterem os vínculos e o histórico deles”, detalha o magistrado.
Guilherme Moura, Presidente do Grupo de Estudos e Apoio a Adoção no Recife (Gead), explica que ainda existem muitos mitos sobre a adoção. “As pessoas pensam que o filho precisa ser recém-nascido para ser adotado, outros tem medo de contar que eles são adotivos e tem gente preocupada com a genética. Tudo isso é mito”, conta. De acordo com ele, o perfil que os pretendentes querem muitas vezes é fantasiado demais. “Foi criado um tipo de criança perfeita que não existe. Os futuros pais tem que saber que independente da idade, as crianças tem muito a ensinar. Já sobre o medo de contar aos filhos que eles foram adotados por medo de perdê-los, não existe. Querer conhecer os pais biológicos não significa que o filho vá embora, ele só quer conhecer sua história e tem esse direito”, completou.
Guilherme (foto à direita) também esclarece que adoção não é um favor. “Tem muita gente que pensa que adoção é caridade, mas ninguém salva uma criança através de adoção. Adoção significa uma forma legítima de fazer uma família. O sangue serve apenas para a vivência, mas a adoção é uma relação de amor, afeto e cuidado. Tem muitos órfãos de pais vivos, abandonados nos lares, tem muita gente adotada, que não sabe, por uma avó, por um tio, um padrasto”, ressalta.
Confira algumas dessas histórias de lutas das famílias que fizeram uma escolha por amor e as regras adotadas no Brasil:
“Vimos a adoção como a forma de realizar nossos sonhos de ter um filho”
A história de Renata Vitorino, funcionária pública, de 44 anos, se confunde com a de muitos recifenses e faz parte de mais um ganho para as estatísticas de adoção em Pernambuco. Há nove meses, ela conseguiu na justiça adotar dois irmãos biológicos. Luíza, 6 anos, e Márcio, 3, passaram 10 meses num abrigo, no bairro da Madalena, esperando por uma nova família. Renata e o marido, Luiz Cláudio, 45, já tinham um filho adotivo, Marcone, de 9 anos.
“Nunca tive nenhum problema diagnosticado pelos médicos, mas desde que casei, há mais de 10 anos, não consegui engravidar. Vimos a adoção como a forma de realizar nossos sonhos de ter um filho". Marcone chegou em 2006. Na época não existia o Cadastro Nacional de Adoção (CNA), que é o sistema no qual estão cadastradas as informações de todas as crianças e pretendentes habilitados a adoção. O casal procurou o Juizado da Infância e Juventude, e com menos de cinco meses receberam um telefonema. "Disseram que tinha um menino de um ano esperando. A criança da vez era ele, a família da vez éramos nós. Meu marido se encantou e adotamos ele”, completou Renata.
“Estamos criando um afeto muito bonito”
Luíza e Márcio, outro casal pernambucano, sentiram a necessidade de ter mais filhos. O perfil pedido por eles era de crianças, irmãs, de até seis anos. Dessa vez, a adoção demorou cerca de um ano, mas logo apareceram os dois. “Luíza se lembra de situações que passou com a família biológica, por ela ser mais velha, mas isso não é nenhum problema. Ela nos ensina muito, é uma filha meiga e carinhosa. Márcio é um bebezão. Os dois tem o poder de se superar muito rápido. Estamos criando um afeto muito bonito. Ter três filhos é ter tudo triplo, inclusive o amor”, contou Renata.
“Eu sou filha adotiva e, por essa experiência, sempre quis adotar um filho”
Já na Zona Sul do Recife, no bairro de Boa Viagem, a jornalista e gerente de projetos sociais, Ana Maria Bianch, 33, (foto acima ao lado do marido) vai ver sua história se repetir com a chegada do filho. Ela, filha adotiva, e o marido, o engenheiro eletrônico Tiago Simões, 33, estão há 10 meses inscritos no CNA a espera de uma criança. O perfil desejado é o mais difícil, até três anos.
“Eu sou filha adotiva e, por essa experiência, sempre quis adotar um filho. Aos 21 anos, descobri que tinha uma síndrome e uma gravidez seria arriscada. Isso não me comoveu pelo fato da adoção está inclusa nos meus planos. Quando me casei com Tiago, há pouco mais de três anos, começamos a conversar sobre adoção e há 10 meses estamos habilitados e esperando por uma criança”, contou Ana Maria.
Ao decorrer do tempo, o casal já mudou um pouco o perfil desejado. “Antes pretendíamos adotar uma criança de até 18 meses, mas já mudamos para até três anos", contou a jornalista. O casal, junto com Renata Vitorino, faz parte do Grupo de Estudos e Apoio a Adoção no Recife (Gead). A proposta da instituição é promover encontros entre pais adotivos e pretendentes para troca de experiências sobre adoção, além de capacitar e orientar sobre a temática. Para as famílias, é um aliado. “as reuniões abrem nossas cabeças e nos ajudam nessa espera, o Gead não está só ligado a adoção, mas a educação de pais com filhos, além do compartilhamento de experiências”, comentou Tiago.
Entenda o processo de adoção
No Brasil, existem 5.600 crianças habilitadas para o processo adotivo. No ano passado, 146 crianças e adolescentes foram adotados. Os dados são do Cadastro Nacional de Adoção (CNA), criado há seis anos pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) no Dia Nacional da Adoção, 25 de maio.
"Para adotar, não há restrição financeira, de sexo ou cor, o que a pessoa habilitada deve comprovar é que ela pode garantir educação, vestuário, alimentação e amor para a criança ou adolescente adotado. As pessoas que mais adotam ganham menos de cinco salários", explicou o juiz Hélio Braz (foto à esq.), titular da 2° vara da infância e juventude do Recife.
Conheça o passo a passo do processo
1 - Se morador do Recife, o interessado deve procurar o setor do serviço social no Juizado da Infância e juventude, na Rua João Fernandes Vieira de Melo, n° 405, no bairro da Boa Vista. Nas cidades do interior, é necessário procurar o juiz do município. Neste caso, as exigências continuam sendo as mesmas abaixo.
2 - No local, é entregue uma relação dos documentos que o pretendente deverá apresentar. Os documentos pedidos são: cópias do RG e do CPF, comprovante de rendimentos (holerite ou declaração do empregador em papel timbrado, declaração de Imposto de Renda), comprovante de endereço, atestados de sanidade física e mental, certidões negativas de antecedentes criminais, cópias autenticadas da certidão de casamento ou de nascimento, no caso de pessoas solteiras.
3 - Depois de apresentados os documentos, uma equipe da Vara da Infância faz uma visita domiciliar e o pretendente participa de um curso de capacitação com outros pretendentes.
4 - Em seguida, o pedido de adoção é analisado pela Vara de adoção e, se for aceito, a pessoa já está habilitada no Cadastro Nacional de Adoção (CNA). Dependendo do perfil escolhido, se a criança estiver no CNA, em até dois meses ela já vai está com os pretendentes. Se não, o pretendente fica na lista de espera até surgir uma criança com o perfil desejado. Nessa situação, não é estipulado o tempo.“É importante lembrar que o CNA é nacional, então não são apenas crianças de Pernambuco que podem ser adotadas por pernambucanos, mas crianças de outros estados. É até frequente os recifenses adotarem crianças de Santa Catarina, Paraíba, Tocantis, tendo eles os perfis desejados”, completou o magistrado.