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Pelo menos 16 famílias precisaram deixar as suas casas após o desmoronamento de um prédio abandonado no bairro da Iputinga, na Zona Oeste do Recife. O edifício, de acordo com os vizinhos, estava desabitado há cerca de 20 anos. Segundo informações apuradas pelo LeiaJá no local, quatro imóveis nas imediações foram interditados, por risco de dano à estrutura e destruição parcial ou total, no caso de um novo desmoronamento. No total, duas casas e dois prédios, com seis e oito apartamentos ocupados, cada.
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O edifício, que foi construído pela Nunes Construtora e é administrado pela Caixa Econômica Federal, está localizado na rua Alcides Codeceira, atrás do Hospital Santa Teresinha. A parte interior dele, que dá para os fundos da rua seguinte, desmoronou na noite dessa quinta-feira (9) e assustou os moradores. Por perigo de novos desabamentos, a Defesa Civil deu ordem imediata de retirada das famílias vizinhas, que passaram o resto da noite e a manhã desta sexta-feira (10) retirando os pertences que conseguiram.
“O barulho foi ficando mais forte e, por precaução, fechamos as portas e as cortinas, e minha mãe ligou para a polícia, falando que podiam estar invadindo o prédio. Quando fechei as cortinas, depois de muito tempo, vi uma luz branca e acho que foi justamente na hora que o prédio começou a desabar, acho que do momento da poeira. Um clarão”, informou a administradora Ângela Marques, de 40 anos, ao LeiaJá.
Há cinco anos, Ângela mora em um edifício da rua Quipapá, que agora está em área considerada de risco, por causa do desmoronamento. O que separa os dois terrenos é apenas um muro, que também corre risco de cair por conta própria. Segundo a ex-moradora, por volta das 22h30, a vizinhança passou a ouvir barulhos altos, similares aos de estilhaços de vidro caindo no chão.
Pouco tempo depois, enquanto a administradora ainda era orientada pelos policiais, por telefone, a estrutura começou a cair e a ocorrência foi encaminhada ao Corpo de Bombeiros e à Defesa Civil do Recife. A estrutura foi condenada de imediato.
“A Caixa, que era responsável, de vez em quando mandava uma equipe, fazia a limpeza. Isso foi o que me disseram, mas nunca disseram que existia a possibilidade de demolir o edifício”, continuou Ângela. “Por enquanto, estou na casa da minha irmã, com a minha mãe que é idosa e tem problemas de saúde. Pelo visto, não há previsão de volta. A Defesa Civil informou que, assim que o prédio fosse demolido, poderíamos retornar”, disse.
Em nota, a Defesa Civil do Recife informou que a demolição é dever da administradora. “A Secretaria de Política Urbana e Licenciamento da Prefeitura do Recife informa que, devido ao colapso estrutural, o imóvel em questão está sob a tutela da Caixa Econômica Federal desde 2002. Desde então, por decisão judicial, a edificação está desocupada, ficando a instituição proprietária responsável por tomar as devidas providências com relação ao imóvel”, informou o órgão.
“Está tudo incerto. Vim hoje, pois na correria ontem, só deu para tirar o máximo que pudemos. Vim retirar o máximo de coisas, mas estou com medo de ir. A gente precisa pegar algumas roupas, documentos e móveis que estão lá no fundo, que é justamente considerada a área mais comprometida”, concluiu a moradora.
Um outro morador afetado pela interdição foi o caminhoneiro Wallace Alves, de 50 anos, que mora na casa ao lado do prédio abandonado há mais de 20 anos. Ele acompanhou o processo de desocupação, à época, o que relembra ter sido já por problemas na estrutura, com rachaduras graves nas paredes do edifício. “As pessoas viviam normalmente com as famílias aí. Era a nossa alegria, porque depois que ficou abandonado [ficou perigoso], ainda bem que colocaram um segurança aí”, declarou o proprietário. “Antes disso, fizeram um serviço para reforçar as paredes, mas não adiantou”.
Diferente de Ângela, o morador relatou que as manutenções no prédio quase não aconteciam e que os vizinhos tiveram muitos problemas com o surgimento de infestações: de cupins, baratas, ratos, até mesmo aparições de cobras. “A gente precisou mandar isolar, fizemos um trabalho de dedetização e gastamos muito. Era pra ser feito só uma vez por ano, porque é um serviço muito caro. Eu não vejo solução para esse prédio [além da demolição]. Pessoas aqui do bairro falaram que já foram à prefeitura fazer reclamações”, desabafou.
E concluiu: “Me disseram que a minha casa está em risco de desmoronar e ser atingida, caso aconteça um novo desmoronamento no prédio. Eles só nos deram tempo para tirarmos nossos móveis para poder isolar a área. Eu tenho, ao lado, a casa da minha sogra, e vou para lá porque é o único lugar que tenho pra ir, mas nós somos cinco pessoas. A gente vai dar um jeito de fazer todo mundo caber”.
Além da Defesa Civil, o LeiaJá buscou a Caixa Econômica Federal para obter informações sobre a interdição do prédio e o prazo para a demolição e remoção dos escombros. Até a publicação desta matéria, não houve retorno. O espaço segue aberto.