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O Instituto Nacional de Criminalística (INC), da Polícia Federal, trabalha em um modelo 3D da cena do crime que vitimou, no início deste mês, na Amazônia, o indigenista Bruno Pereira e o jornalista Dom Phillips. Elaborado com base em escaneamento do local onde os corpos foram encontrados, o modelo tenta esclarecer a dinâmica dos acontecimentos.

Um exame de antropologia forense, que pode estimar a data das mortes de Bruno e Dom e a que distância os disparos foram feitos, tem previsão de ficar pronto na próxima semana. O laudo do local, que agrega todas as provas submetidas à perícia, no entanto, deve demorar no mínimo 30 dias para ser concluído, em razão de seu nível de detalhamento.

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O documento, que pode contar com vídeos 3D, vai testar as versões relatadas até agora pelos três pescadores presos temporariamente por suspeita de envolvimento no duplo homicídio - Amarildo da Costa Oliveira, conhecido como "Pelado"; Oseney Oliveira, o "Dos Santos"; e Jeferson Lima, o "Pelado da Dinha" -, além das cinco pessoas que teriam ajudado a ocultar os corpos de Bruno e Dom na região do Vale do Javari, no Amazonas. O pescador Pelado entrou em contradição ao prestar informações aos investigadores (mais informações nesta página).

O diretor do INC, Ricardo Guanaes Cosso, disse que o barco usado por Bruno e Dom, encontrado no domingo passado, 19, a 20 metros de profundidade no Rio Itaquaí, também será levado "para dentro" do laudo completo sobre o caso. Peritos de Brasília irão hoje para o Amazonas para realizar trabalho de campo no local do crime, inclusive com o escaneamento da embarcação.

"Tudo, tanto os corpos, o local do crime todo, o local central onde foram encontrados os corpos, e as adjacências, a gente transforma em um modelo 3D", afirmou Cosso. "Então a gente consegue estudar a cena do crime. Praticamente, a gente consegue entrar na cena do crime virtualmente. Com óculos e tudo."

Detalhes

Segundo o diretor do INC, o escaneamento 3D preserva digitalmente o local e permite estudar mais detalhadamente a dinâmica dos acontecimentos. "É tão detalhista que, se você põe um óculos 3D, é como se você estivesse na cena de novo. Inclusive se você quiser medir alguma coisa, olhar alguma coisa que você não tenha visto na hora, visualmente e fisicamente daria para traçar alguma medida, alguma variável que não se tenha observado", disse Cosso.

Com o estudo antropológico forense, que deve ficar pronto na próxima semana, será possível confirmar a distância e a angulação dos tiros. "Levando isso para o modelo 3D, a gente consegue colocar a arma no local dela, com relação ao corpo, com uma precisão boa", disse o diretor do INC.

Em reconstituição, suspeito se contradiz

O pescador Amarildo Oliveira, o "Pelado", entrou em contradição durante a reconstituição dos assassinatos de Bruno Pereira e Dom Phillips, a afirmar que participou apenas da ocultação dos corpos, e acusar Jeferson Lima, o "Pelado da Dinha" de ser o autor dos disparos. Em depoimento à Polícia Federal, ele havia confessado a autoria dos tiros.

Durante a reconstituição, um delegado da PF narra que Bruno e Dom desciam o rio Itaquaí no barco quando foram avistados por Amarildo e Jeferson. Segundo Amarildo, Bruno e Jeferson começaram a discutir. Ao ser questionado se viu a hora em que Jeferson atirou, Amarildo confirma, e diz que Bruno, que tinha porte de arma, teria revidado.

Neste momento, ele entra em nova contradição. No início, diz que viu a discussão a distância. Depois, admite que estava no barco com Jeferson. Bruno foi atingido por três tiros e Dom foi morto por um disparo. O vídeo da reconstituição foi revelado anteontem pelo Jornal Nacional, da TV Globo.

O vice-presidente Hamilton Mourão (Republicanos) afirmou, nesta segunda-feira (20), que o assassinato do jornalista inglês Dom Phillips foi um "dano colateral" pelo fato de estar junto ao indigenista Bruno Pereira na Amazônia, também assassinado. Ele ainda considerou a possibilidade de haver um mandante para os crimes, o que a Polícia Federal nega até o momento.

"Vai aparecer, se há um mandante. Se há um mandante, é comerciante da área que estava se sentindo prejudicado pela ação principalmente do Bruno e não do Dom. Dom entrou de gaiato nessa história, é dano colateral", afirmou o vice-presidente a jornalistas no Palácio do Planalto.

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Mourão ainda chamou o assassinato de Dom e Bruno de "morte estúpida". "Essas pessoas aí que assassinaram covardemente os dois são ribeirinhos", declarou o vice-presidente.

O pescador Amarildo da Costa Oliveira, conhecido como Pelado, já confessou participação nos crimes.

O barco usado pelo indigenista Bruno Pereira e pelo jornalista Dom Phillips quando foram mortos na região do Vale do Javari foi encontrado na noite deste domingo (19).

A embarcação estava a cerca de 20 metros de profundidade no rio Itaquaí, onde os dois foram assassinados no último dia 5. O local foi apontado pelo terceiro suspeito preso por envolvimento no crime.

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Os criminosos colocaram seis sacos de areia dentro do barco para dificultar a localização, segundo a polícia. O motor de 40 cavalos de potência também foi encontrado.

É uma baleeira de ferro de aproximadamente sete metros de comprimento, capaz de transportar cerca de sete pessoas e equipada com o motor de popa. O material será levado para a cidade de Atalaia do Norte (AM), cidade que tem o principal acesso ao Vale do Javari.

O barco é novo, foi incorporado à frota da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) em 2020. Com ele, o indigenista visitava aldeias para treinamentos e orientações.

A última viagem de Bruno pela Amazônia começou pelo Alto Curuçá, no Acre, em 21 de maio, a bordo de um outro barco, o dos marubos da aldeia Maronal. Ele vinha orientando membros dessa etnia, moradores da floresta, sobre como fazer as "picadas" - a "limpeza" dos limites da terra indígena.

O barco no qual morreu foi assumido por Bruno Pereira em Atalaia numa sexta-feira, 3 de junho, no dia seguinte ao fim da primeira perna da viagem. No porto da cidade que dá acesso ao Vale do Javari, localizada às margens do rio de mesmo nome na fronteira com o Peru, Dom Phillips subiu a bordo para uma nova bateria de entrevistas com indígenas para o livro que vinha produzindo e para conhecer a equipe de vigilância indígena criada por Bruno.

Investigação continua

A PF indica que o achado deve servir para ajudar na investigação. "A embarcação será submetida nos próximos dias aos exames periciais necessários, de modo a contribuir com a completa elucidação dos fatos", afirmou a corporação, em nota.

Até o momento, três pescadores já foram presos na investigação. Amarildo da Costa Oliveira, conhecido como Pelado; Oseney da Costa de Oliveira, também chamado de Dos Santos; e Jeferson da Silva Lima, conhecido como Pelado da Dinha. Além disso, na manhã de domingo a PF afirmou ter identificado mais cinco pessoas que teriam participado do assassinato de Bruno e Dom.

A corporação não divulgou a identidade dos novos suspeitos, mas declarou, em comunicado, que "as investigações continuam no sentido de esclarecer todas as circunstâncias, os motivos e os envolvidos no caso". 

O terceiro suspeito de envolvimento no assassinato do indigenista Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips na região do Vale do Javari, no Amazonas, se entregou neste sábado, 18, à Polícia Civil.

Jeferson da Silva Lima, conhecido Pelado da Dinha, é apontado como alguém que participou diretamente do duplo homicídio e ajudou na ocultação dos corpos. Ele se apresentou por volta das 6h na Delegacia de Atalaia do Norte, no extremo oeste do Amazonas, e está sendo interrogado pelos investigadores. Depois de prestar depoimento, será encaminhado para audiência de custódia.

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Pelado da Dinha estava com a prisão decretada pela Justiça e era considerado foragido. Em comunicado publicado na noite de ontem, a Polícia Federal (PF) pediu que a população da região entrasse em contato com as autoridades imediatamente se tivesse informações que pudessem ajudar a localizá-lo.

"Na sexta, montamos uma equipe e fomos até o sítio da mãe dele no município de Benjamin. Ele não se encontrava. Conversamos com os familiares e pedimos pra convencê-lo a se entregar", informou o delegado Alex Perez, da Delegacia de Atalaia.

Estão presos ainda Amarildo da Costa Oliveira, o Pelado, que confessou o crime, e o irmão dele, Oseney da Costa de Oliveira, conhecido como Dos Santos. Ambos tiveram a prisão temporária decretada pela Justiça do Amazonas por 30 dias.

Mandantes

Os policiais federais informaram na sexta-feira, 17, que os assassinos agiram sozinhos e que o crime não teve um mandante. O envolvimento de facções criminosas também foi descartado.

As linhas de investigação foram consideradas inicialmente tanto por causa do trabalho desenvolvido por Bruno, que orientava moradores a denunciar irregularidades nas reservas indígenas, quanto pela presença de traficantes de drogas e armas, caçadores ilegais, madeireiros e garimpeiros na região.

A Univaja, entidade para a qual o indigenista prestava serviços ao ser assassinado na Amazônia, criticou que a PF tenha descartado crime de mando na investigação.

"Com esse posicionamento, a PF desconsidera as informações qualificadas, oferecidas pela Univaja em inúmeros ofícios, desde o segundo semestre de 2021", diz um trecho do comunicado divulgado pela entidade.

Perícia

A PF aguarda ainda o resultado da perícia nos restos mortais apontados por Pelado como sendo de Bruno e Dom. Ele guiou as equipes de busca na última quarta-feira, 15, até o local onde teria enterrado os corpos, a cerca de três quilômetros da margem do rio Itaguaí. O Instituto Nacional de Criminalística de Brasília, responsável pelos exames, confirmou a identidade do repórter. Os testes, no entanto, ainda não foram concluídos. Falta a identificação de Bruno e outros exames que devem ajudar a esclarecer a dinâmica do crime.

A Polícia Federal (PF) confirmou nesta sexta-feira, 17, que os restos mortais encontrados na região do Vale do Javari, no Amazonas, são do jornalista britânico Dom Phillips.

A análise feita pelo Instituto Nacional de Criminalística de Brasília confirmou a identidade do repórter. Os peritos fizeram exames na arcada dentária e usaram técnicas de antropologia forense, que analisa características físicas, como estrutura óssea.

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"Encontram-se em curso os trabalhos para completa identificação dos remanescentes, para a compreensão das causas das mortes, assim como para indicação da dinâmica do crime e ocultação dos corpos", diz um trecho do comunicado divulgado pela PF.

Os restos mortais foram localizados pela equipe na última quarta-feira, 15, a cerca de três quilômetros do rio Itaguaí. Os policiais levaram o pescador Amarildo da Costa Oliveira, conhecido como Pelado, até a região e ele apontou onde teria enterrado os corpos do jornalista e do indigenista Bruno Pereira. Os restos mortais foram então transportados para Brasília, onde estão sendo feitos os exames.

Os peritos trabalham agora na identificação de Bruno. O Estadão apurou que o trabalho deve envolver a análise de DNA.

Mandante

Mais cedo, os investigadores informaram que os assassinos agiram sozinhos e que o crime não teve um mandante. O envolvimento de facções criminosas também foi descartado.

As linhas de investigação foram consideradas inicialmente tanto por causa do trabalho desenvolvido por Bruno, que orientava moradores a denunciar irregularidades nas reservas indígenas, quanto pela presença de traficantes de drogas e armas, caçadores ilegais, madeireiros e garimpeiros na região.

Os policiais federais desconfiam, no entanto, que mais pessoas tenham participado do assassinato. Até o momento, estão presos Pelado e o irmão dele, Oseney da Costa de Oliveira, conhecido como Dos Santos. A corporação avalia novas prisões nos próximos dias.

A Univaja, entidade para a qual o indigenista Bruno Pereira prestava serviços ao ser assassinado na Amazônia, criticou que a PF tenha descartado crime de mando na investigação.

"Com esse posicionamento, a PF desconsidera as informações qualificadas, oferecidas pela Univaja em inúmeros ofícios, desde o segundo semestre de 2021", diz um trecho do comunicado divulgado pela entidade.

A manifestação diz ainda que Bruno se tornou alvo de um grupo criminoso responsável pela invasão de terras indígenas na região. Segundo a Univaja, Pelado e dos Santos fazem parte dessa quadrilha. A nota relata ainda que outros integrantes da Univaja receberam ameaças de morte.

O presidente da República, Jair Bolsonaro, se manifestou nesta quinta-feira, 16, no Twitter, pela primeira vez, sobre a confirmação dos assassinatos do jornalista inglês Dom Phillips e do indigenista Bruno Pereira na Amazônia. "Nossos sentimentos aos familiares e que Deus conforte o coração de todos!", escreveu o presidente.

A postagem, no entanto, foi feita em resposta à nota de pesar emitida pela Funai sobre as mortes - não se trata, portanto, de uma publicação à parte na rede social.

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Mais cedo, já com o crime confirmado, Bolsonaro chegou a anunciar no Twitter redução de imposto de importação de vídeo game.

Na quarta-feira, antes de a Polícia Federal dizer que o até então principal suspeito pelos assassinatos confessou o ato, o presidente declarou em entrevista que, se os dois tivessem sido mortos, estariam embaixo da água.

"Peixe come. Não sei se tem piranha", afirmou Bolsonaro em entrevista a um canal no YouTube.

A confirmação das mortes do indigenista Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips gerou repercussão entre os pré-candidatos à Presidência da República entre a noite de quarta-feira, 15, e a manhã desta quinta-feira, 16, após a Superintendência da Polícia Federal no Amazonas confirmar que o pescador Amarildo Oliveira, conhecido como "Pelado", confessou ter matado os dois.

O desaparecimento de Bruno e Dom no entorno da Terra Indígena do Vale do Javari, no dia 5 de junho, ganhou destaque internacional, reforçando a pressão para intensificar as buscas. A Polícia Federal também prendeu o irmão de Pelado, Osney da Costa Oliveira, por suposta participação no crime, e ainda analisa a participação de outras pessoas.

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O ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT) divulgou uma nota conjunta com o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSB) afirmando que a confirmação das mortes de Bruno e Dom causa dor e indignação. Eles prestaram solidariedade aos amigos e familiares da dupla. "Bruno e Dom dedicaram a vida a fazer o bem. Por isso percorreram o interior do Brasil, ajudando, protegendo e contando a vida, os valores e o sofrimento dos povos indígenas."

Na nota, Lula e Alckmin também afirmam que o crime está relacionado com o "desmonte das políticas públicas de proteção aos povos indígenas" e ao "incentivo à violência por parte do governo atual do país", cobrando uma investigação rigorosa do caso. "O mundo sabe que este crime está diretamente relacionado ao desmonte das políticas públicas de proteção aos povos indígenas. Está diretamente relacionado também ao incentivo à violência por parte do atual governo do país. O que se exige agora é uma rigorosa investigação do crime; que seus autores e mandantes sejam julgados. A democracia e o Brasil não toleram nem podem mais conviver com a violência, o ódio e o desprezo pelos valores da civilização."

O ex-ministro da Fazenda Ciro Gomes (PDT) publicou uma série de tuítes na qual afirma que a omissão do governo na Amazônia criou "uma versão cabocla do Estado Islâmico" no Brasil.

Ciro também questionou o general Augusto Heleno, chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, a quem chamou de "vice rei da Amazônia".

A senadora Simone Tebet (MDB) chamou Bruno e Dom de "defensores dos direitos humanos e do meio ambiente" e pediu que a coragem de ambos inspirasse todos a lutar. Tebet também cobrou uma investigação severa do que chamou de "crime bárbaro".

"É preciso dar um basta à impunidade. Meus sentimentos às famílias do jornalista Dom Phillips e do indigenista Bruno Pereira neste momento inconsolável", escreveu Tebet.

E completou: "Que a coragem desses dois defensores dos direitos humanos e do meio ambiente nos inspire a lutar. O Brasil precisa voltar a ter paz e clama por justiça para Bruno e Dom."

O presidente Jair Bolsonaro, pré-candidato do PL às eleições de outubro, manifestou-se na quarta-feira sobre o desaparecimento de Bruno e Dom, afirmando que o colaborador do britânico The Guardian era "malvisto" na região. O presidente não havia se pronunciado sobre as mortes de Bruno e Dom após o anúncio oficial da polícia federal até o fechamento deste texto.

"Esse inglês era malvisto na região, fazia muita matéria contra garimpeiros, questão ambiental. Então, naquela região bastante isolada, muita gente não gostava dele. Deveria ter segurança mais que redobrada consigo próprio", afirmou o presidente, em entrevista ao canal da jornalista Leda Nagle no YouTube.

Bolsonaro, que anteriormente já havia definido a expedição do jornalista e do indigenista como "aventura", referiu-se ao último trabalho de Dom como uma "excursão".

Em reação às declarações de Bolsonaro, o presidenciável André Janones (Avante) disse considerar esperado que o governo federal fale "barbaridades". "O governo vai falar barbaridades que nós seres humanos teremos nojo ao escutar sobre a morte de Dom e Bruno. E fará isso pra esconder a tragédia que é a inflação hoje e mais um reajuste nos combustíveis. A cortina de fumaça da vez são vidas e ele com nada se importa", afirmou.

O presidenciável Luciano Bivar (União Brasil) lamentou as mortes e afirmou que "a Amazônia está tomada por invasores criminosos", que "não podem ficar impunes".

"Lamentamos as mortes violentas do indigenista Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Philips. O Brasil inteiro acompanhou as buscas e descobriu que a Amazônia está tomada por invasores criminosos. Esses crimes não podem ficar impunes", publicou Bivar.

O Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH) emitiu nota de pesar pelo assassinato do indigenista Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips, informado ontem pela Polícia Federal. Breve, o texto ignora a trajetória dos dois profissionais em defesa da Amazônia e, ainda, o papel considerado decisivo dos povos indígenas para as investigações. Só há enaltecimento ao trabalho da Polícia Federal e das Forças Armadas.

Bruno e Dom foram mortos na região do Vale do Javari, no Amazonas, por Amarildo da Costa Oliveira, conhecido como Pelado. Ele confessou o crime. O indigenista e o jornalista tinham reconhecimento internacional na atuação em defesa dos povos indígenas e por denúncias contra o garimpo ilegal na região.

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"O Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH) manifesta pesar pelo assassinato do indigenista Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips, que estavam desaparecidos desde domingo (5), na região do Vale do Javari, no Amazonas. O MMFDH enaltece o trabalho realizado pela Polícia Federal e pelas Forças Armadas, que rapidamente elucidaram o caso", diz a pasta.

A nota veio uma hora depois de o presidente Jair Bolsonaro (PL) manifestar condolências aos familiares das vítimas. "Nossos sentimentos aos familiares e que Deus conforte o coração de todos!", escreveu o presidente. A postagem, no entanto, foi feita em resposta à nota de pesar emitida pela Funai sobre as mortes - não se tratou, portanto, de uma publicação à parte na rede social.

A esposa do jornalista inglês Dom Phillips, Alessandra Sampaio, divulgou uma nota, na quinta-feira (15), em que afirma que uma "jornada em busca por justiça" começa agora, após a Polícia Federal informar a morte de seu marido e do indigenista Bruno Pereira, desaparecidos na Amazônia desde o dia 5 de maio. Segundo os investigadores, o pescador Amarildo Oliveira, conhecido como "Pelado", confessou ter envolvimento no desaparecimento da dupla.

"Espero que as investigações esgotem todas as possibilidades e tragam respostas definitivas, com todos os desdobramentos pertinentes, o mais rapidamente possível", disse ela em publicação.

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Alessandra também classificou o anúncio como um "desfecho trágico". "Embora ainda estejamos aguardando as confirmações definitivas, este desfecho trágico põe um fim à angústia de não saber o paradeiro de Dom e Bruno", disse.

Na quinta-feira, o superintendente regional da PF, Eduardo Alexandre Fontes, afirmou em coletiva de imprensa que os investigadores levaram Pelado e Oseney da Costa de Oliveira, também suspeito de envolvimento no crime, para a área de buscas no rio Itaquaí, onde foram encontrados partes de corpos, classificados pela investigação como "remanescentes humanos".

Confira na íntegra a nota de Alessandra Sampaio:

"Embora ainda estejamos aguardando as confirmações definitivas, este desfecho trágico põe um fim à angústia de não saber o paradeiro de Dom e Bruno. Agora podemos levá-los para casa e nos despedir com amor.

Hoje, se inicia também nossa jornada em busca por justiça. Espero que as investigações esgotem todas as possibilidades e tragam respostas definitivas, com todos os desdobramentos pertinentes, o mais rapidamente possível.

Agradeço o empenho de todos que se envolveram diretamente nas buscas, especialmente os indígenas e a Univaja. Agradeço também a todos aqueles que se mobilizaram mundo afora para cobrar respostas rápidas.

Só teremos paz quando as medidas necessárias forem tomadas para que tragédias como esta não se repitam jamais. Presto minha absoluta solidariedade com a Beatriz e toda a família do Bruno.

Abraços,

Alessandra Sampaio"

A Polícia Federal afirmou nesta quarta-feira (15) que o jornalista inglês Dom Phillips e o indigenista Bruno Pereira foram assassinados no Vale do Javari no domingo (5). A confirmação veio após Amarildo Oliveira, conhecido como "Pelado", preso por suspeita de participação no desaparecimento, confessar envolvimento no crime.

"Ontem a noite nós conseguimos que o primeiro preso neste caso, conhecido por Pelado, voluntariamente resolveu confessar a pratica criminosa. Durante a confissão ele narra com detalhes o crime realizado e aponta o local onde havia enterrado os corpos", afirmou Eduardo Alexandre Fontes, superintende regional da PF em coletiva de imprensa.

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Na manhã dessa quarta-feira (15), a PF levou Oseney para a área de buscas no rio Itaquaí, onde foram encontrados remanescentes humanos. Ele admitiu que a dupla foi abordada e morta no trajeto de barco entre a comunidade de São Rafael. Ainda estão sendo feitas escavações no local, que fica 3,1 km do rio. Também se espera encontrar no local o barco usado por Bruno Pereira e Dom Phillips no trajeto.

"Nós não descartamos a hipótese de outras pessoas estarem envolvidas. Temos muito o que fazer no inquérito para coletar seguramente provas de autoria e materialidade", afirmou o Delegado da Polícia Civil, Guilherme Torres.

Os novos materiais descobertos e vestígios humanos coletados próximos ao local na sexta-feira, 10, estão sendo periciados. A análise é feita a partir de materiais genéticos fornecidos pelas famílias de Pereira e Phillips. Uma mochila com pertences do jornalista também foi identificada na mesma área.

Nesta terça-feira, 14, a PF também prendeu Oseney da Costa de Oliveira, que vive perto do local onde a mochila do repórter foi encontrada. Os investigadores já tratavam o caso como suposto homicídio. O pescador foi o segundo preso de envolvimento no desaparecimento da dupla detido temporariamente. Ele é irmão do também pescador Amarildo da Costa Oliveira, o primeiro preso pela PF na investigação. Testemunhas relataram aos policiais federais que os dois saíram de barco em alta velocidade atrás de Bruno e Dom no dia do desaparecimento.

Pereira e Phillips percorriam a região do Vale do Javari. Pereira orientava moradores da região a denunciar irregularidades cometidas em reserva indígena e o jornalista estrangeiro acompanhava o trabalho para registrar em livro que pretendia escrever.

Para lembrar

No domingo, 5 de junho, o indigenista Bruno Araújo Pereira, da União das Organizações Indígenas do Vale do Javari (Univaja), e o jornalista inglês Dom Phillips, do britânico The Guardian, partiram da comunidade ribeirinha de São Rafael em direção à cidade de Atalaia do Norte, ambas no estado do Amazonas. A viagem costuma durar apenas duas horas, mas Bruno e Dom nunca chegaram. Após horas sem contato, uma equipe da Univaja formada por indígenas conhecedores da região que trabalhavam com Bruno partiu em busca dos dois, mas sem sucesso.

Na segunda-feira, 6, a União dos Povos Indígenas comunicou o desaparecimento. No entanto, a entidade denunciou, em nota, que apenas seis policiais e uma equipe da Funai juntaram-se às buscas nesse dia. A Univaja, a Defensoria Pública da União (DPU) e o Ministério Público Federal (MPF), ajuizaram uma Ação Civil Pública contra a União para que a Polícia Federal, Forças de Segurança ou das Forças Armadas (Comando Militar da Amazônia) disponibilizassem pessoal e equipamentos para reforçar a busca pelos desaparecidos.

O Comando Militar da Amazônia (CMA), por sua vez, afirmou que ainda não havia iniciado as buscas por não ter recebido ordem do Escalão Superior, conforme divulgou o jornalista e colunista do Estadão, Pedro Doria.

O presidente Jair Bolsonaro (PL) criticou o que chamou de "aventura" do jornalista e do indigenista. A declaração foi dada na terça-feira, 7. O presidente afirmou que a dupla pode ter sido executada e que na região, que segundo ele é "selvagem", "tudo pode acontecer". O que o presidente chamou de "aventura" fazia parte do trabalho de Bruno, que atuava na Amazônia há anos desafiando poder de narcotraficantes, garimpeiros e outros exploradores com projeto de vigilância no Vale do Javari.

Ainda na noite da terça-feira, a Polícia Militar prendeu um homem suspeito de participar do desaparecimento de Bruno Pereira. Amarildo, conhecido pelo apelido de "Pelado", foi preso em flagrante portando munição de calibre 762, de origem peruana, o que sugere envolvimento com o crime internacional.

Na quarta-feira, 8, a Justiça Federal da 1ª Região respondeu à Ação Cívil apontando omissão do governo federal e exigindo reforços às buscas no Vale do Javari. No mesmo dia, autoridades anunciaram a criação de um gabinete integrado, com participação do Exército, Marinha, Polícia Militar, Polícia Civil e Corpo de Bombeiros para coordenar as buscas a partir de Manaus, a 1.136 km de distância de Atalaia do Norte. Na ocasião, as forças de segurança disseram não haver "indícios fortes de crime".

Na quinta-feira, 9, a Polícia Federal informou ter encontrado vestígios de sangue na lancha do pescador Amarildo, que teve sua prisão temporária decretada na sequência. O material foi enviado para análise em Manaus, onde existe estrutura necessária para a perícia.

Na sexta, 10, a ONU afirmou que o governo brasileiro foi muito lento para iniciar as buscas e elogiou organizações civis, como a Unijava, que se mobilizaram antes mesmo das forças nacionais. O ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou que o governo federal adotasse imediatamente "todas as providências necessárias", usando "todos os meios e forças cabíveis" para as buscas.

No mesmo dia, reportagem do Estadão revelou que o governo federal não havia deslocado soldados da Força Nacional de Segurança de outros Estados para atuar nas buscas. Tampouco havia decretado Garantia da Lei e da Ordem (GLO), que é procedimento costumeiro em casos que envolvem regiões com pouca estrutura de segurança. Isso contraria as declarações de Bolsonaro na Cúpulas das Américas, onde afirmou que as autoridades trabalharam "desde o primeiro momento" em uma "busca incansável" pelos dois.

Também na sexta, a Polícia Federal no Amazonas informou ter localizado "material orgânico aparentemente humano" próximo ao porto de Atalaia do Norte. O material também foi enviado a Manaus.

No sábado, 11, reportagem do Estadão revelou que líderes indígenas recorreram a escoltas para se deslocarem pela região do desaparecimento, por temerem o crime organizado. Os repórteres especiais também mostraram um pouco da rotina de medo que acompanhava as buscas a Bruno e Dom.

Quando completou-se uma semana do desaparecimento, no domingo, 12, atos reuniram familiares, amigos e apoiadores de Bruno e Dom em Copacabana, no Rio de Janeiro, além de Belém, Salvador e outras capitais. As manifestações homenagearam os dois e cobraram agilidade das autoridades nas buscas.

No mesmo dia, o Corpo de Bombeiros encontrou mochila e objetos pessoais de Dom e Bruno presa a uma árvore numa região alagada dos rios que dividem o Brasil e o Peru.

Ameaças

Um mês antes de seu desaparecimento, Bruno Pereira havia recebido ameaças por causa de seu trabalho junto aos indígenas no combate a invasões na Amazônia. "Sei quem são vocês e vamos achar para acertar as contas", dizia o bilhete enviado à advogado da Unijava. Como demonstrado pelo Estadão, projeto do indigenista desafiava poder de narcotraficantes e garimpeiros na região do Vale do Javari.

Bruno foi exonerado da Fundação Nacional do Índio (Funai) em 2019, por ordem do presidente da entidade, Marcelo Augusto Xavier da Silva, mas sem nenhuma argumentação técnica. À época, ele já era considerado um dos principais especialistas em indígenas isolados. Indigenistas e servidores repudiaram a exoneração. Em nota, afirmaram que ela "representa mais um passo para um retrocesso histórico da política pública para proteção dos povos indígenas isolados".

O Dossiê Mortes e Violências contra LGBTI+ no Brasil apontou a capital de São Paulo como o lugar que mais mata lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e pessoas intersexo no Brasil. O estudo foi divulgado nesta quarta-feira (11).

No ano de 2021, foram registradas 42 mortes no estado de São Paulo, um aumento de 44% em relação ao ano anterior, com o total de 29. A capital paulista também é a metrópole que mais mata a população em minorias no país. Em 2021 foram registradas 13 mortes. Salvador está em seguida, com 11 mortes, Rio de Janeiro e Manaus aparecem após na lista, com oito mortes.O número de mortes cresceu através de todo o país. No ano de 2021 foram registrados 316 assassinatos em comparação a 237 no ano anterior.

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Alexandre Borgas, coordenador do Dossiê Mortes e Violências contra LGBTI+ no Brasil, acredita que a principal forma para a resolução deste problema social é a educação. Segundo ele: "Quando a gente puder discutir com tranquilidade todas as questões de diversidade sexual de gênero, direitos sexuais e reprodutivos, com liberdade de ouvir, escutar as pessoas do jeito que elas são, eu tenho certeza que essa é a principal fonte para a gente se educar, respeitar e educar os outros".

A SSP disse que não comentará o dossiê pois não reconhece as metodologias utilizadas na pesquisa.

Por Matheus de Maio

 

O índice de assassinatos em Pernambuco subiu 8,47% em janeiro deste ano. Só no primeiro mês de 2022, a Secretaria de Defesa Social (SDS) registrou 320 Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLIs), enquanto 295 casos ocorreram no mesmo período do ano passado.

A Região Metropolitana do Recife (RMR) foi a que mais teve mortes violentas nos primeiros 31 dias de 2022. Ao todo, foram computados 101 homicídios, o que representa o acréscimo de 18,82% em comparação a janeiro do ano passado, quando a SDS computou 85 casos.

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O Agreste foi a região que sofreu o maior aumento percentual no comparativo. Em 2022 foram 83 CVLIs, um aumento de 48,21% em relação aos 56 casos de janeiro do ano passado.

Com 64 mortes, a Zona da Mata apresentou a queda de 8,7% no indicativo. Em 2021, 70 assassinatos foram computados pela pasta.

O Sertão também diminuiu a taxa para 33 homicídios neste ano. O dado mostrou a queda de 8,3% já que 36 mortes ocorreram em janeiro do ano passado.

Os pais do adolescente Ethan Crumbley foram presos no início do sábado, 4, horas após um promotor apresentar acusações de homicídio culposo contra eles, conforme o gabinete do xerife. O jovem é acusado de matar quatro estudantes ao promover um tiroteio em uma escola de ensino médio de Michigan, EUA.

James e Jennifer Crumbley foram capturados em Detroit, segundo o subdiretor do condado de Oakland, Michael McCabe. Um veículo ligado ao casal foi localizado por um empresário na cidade na última sexta-feira, 3. As autoridades estavam procurando o casal.

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O advogado dos Crumbley, Shannon Smith, informou que eles não estavam fugindo e haviam deixado a cidade no início da semana "para sua própria segurança". "Eles estão voltando à área para serem processados", disse Smith à Associated Press.

O ataque a tiros ocorreu em Oxford, pequeno povoado 65 km ao norte de Detroit. A polícia informou ter recebido mais de cem telefonemas ao serviço de emergência 911 pouco após o meio-dia, e que o atirador fez entre 15 e 20 disparos durante cinco minutos com uma pistola semiautomática, com mais de um carregador.

Os pais do adolescente foram acusados de facilitar que o menino tivesse fácil acesso à arma e não contribuíram posteriormente com as investigações. James comprou a pistola semiautomática usada pelo seu filho, uma Sig Sauer de nove milímetros, quatro dias antes da tragédia, no dia de Black Friday depois do feriado de Ação de Graças.

No dia do tiroteio, os Crumbleys foram chamados à escola devido a um bilhete preocupante de Ethan, em que havia o desenho de uma arma semiautomática. Os pais compareceram á escola, mas se recusaram a retirar Ethan das aulas aquele dia. A promotora destacou que os pais não olharam a mochila do menino para verificar se havia arma.

Duas pessoas foram baleadas e mortas na região da Brasilândia, na zona norte da capital paulista, na madrugada desta quinta-feira, 2. O crime aconteceu por volta das 2h48. Em outra ocorrência, a Guarda Civil Municipal constatou o óbito de uma pessoa baleada na Freguesia do Ó, bairro vizinho, por volta da 1h da manhã. Ambos os crimes estão em investigação pelo 72º Distrito Policial de São Paulo, mas não se sabe se eles têm relação entre si.

Na Brasilândia, os assassinatos aconteceram na Rua João Maurício da Costa Jubim. A polícia foi acionada e, ao chegar ao local, encontrou dois corpos. Os óbitos foram confirmados por uma Unidade de Suporte Avançado (USA). Já na Freguesia do Ó, a ocorrência foi na Rua João Paulo I. Questionada sobre a proximidade de horários e local das ocorrências, a Polícia Militar (PM) nega que tenha havido uma chacina.

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Pernambuco registrou 297 homicídios apenas no mês de janeiro de 2021. A Região Metropolitana do Recife, principalmente a capital pernambucana, foi o local onde mais assassinatos foram registrados pela Secretaria de Defesa Social (SDS), totalizando 82 homicídios - só no Recife foram 48.

No entanto, a SDS aponta que o número de homicídios registrados neste ano foi menor do que em 2020, quando 336 vidas foram perdidas. O recuo de 39 mortes no comparativo corresponde a uma diminuição percentual de 11,6%. A SDS sinaliza que na série histórica do Pacto pela Vida, esse foi o janeiro com mais baixa incidência de assassinatos desde 2014, com 256 óbitos.

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Entre as regiões, o Agreste fechou janeiro com a retração mais expressiva: -29,76%, tendo caído de 84 vítimas de CVLI em janeiro de 2020 para 59 no mesmo mês em 2021.

Um monitoramento do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC) registrou pelo menos seis ocorrências de agressões ou tentativas de homicídio contra candidatos foram registradas em todo o país. Considerando todo o ano eleitoral, foram 82 militantes e candidatos assassinados e 170 agressões de janeiro a outubro, de acordo com o levantamento do pesquisador Pablo Nunes, que coordena o CESeC.

“Não deixa de ser dramático o grau de violência contra pessoas que são mortas por defender suas bandeiras. A proximidade das eleições fez com que o número de casos aumentasse desde julho, mas os primeiros meses de 2020 já tinham sido muito violentos”, disse o cientista político ao jornal El País.

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Para traçar uma comparação, na última eleição municipal do Brasil, em 2016, durante todo o período eleitoral (1º e 2º turnos) foram registrados 100 assassinatos políticos no país. Com 82 até o momento em 2020, ainda não chegamos ao dia da eleição do 1º turno. A primeira execução registrada foi do prefeito de Imbuia, no interior de Santa Catarina, João Schwambach (MDB), no dia 9 de janeiro, morto com dois tiros nas imediações da Prefeitura. Os disparos saíram da arma do motorista José Cardoso, que teria se suicidado depois do crime. Até o momento o mês de setembro, que marcou o início da campanha eleitoral, foi o mais violento de todos com 13 homicídios catalogados. 

Pernambuco teve 13 assassinatos ligados à política desde o mês de janeiro e o município de Gameleira, com 30 mil habitantes, teve dois dos seus 11 vereadores assassinados em crimes que seguem sob investigação. 

Em Itambé, na divisa com a Paraíba, que tem o apelido de “Fronteira do Medo”, o empresário Adson Mattos foi assassinado no mês de agosto por fazer denúncias e críticas a políticos, 10 anos após a execução de seu primo Manoel Mattos (PT), que era vereador e ativista dos direitos humanos. 

“É um estado que há muito tempo figura como um dos lugares onde há mais atentados contra políticos. Nas cidades do interior, rivalidades políticas passam de pai pra filho, e a violência se reproduz de geração para geração”, diz Pablo Nunes.

O Rio de Janeiro registra 8 assassinatos e outro grande problema: a presença de milicianos no jogo eleitoral. Em 2016, nove políticos foram assassinados em regiões controladas por milícias, especialmente na Baixada Fluminense. Nos casos recentes, a polícia investiga se há relação dos crimes com grupos armados paramilitares. 

Para tentar coibir a influência violenta de milicianos nas eleições municipais de 2020, a Polícia Civil criou uma força-tarefa para combater o crime organizado na Baixada. A primeira operação, em outubro, levou à morte de 12 suspeitos de integrar milícias. Os trabalhos são coordenados pelo delegado Giniton Lages, responsável por prender os supostos executores da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes, crime que está há mais de dois anos sem identificação dos mandantes. 

A operação, no entanto, não bastou para impedir o assassinato de  Renata Castro, cabo eleitoral ligada a um tradicional clã político da cidade, a família Cozzolino (PP), e que fazia campanha para o policial Pablo Vasconcelos (PSL), candidato a vereador. Na semana de sua morte, Renata denunciou nas redes sociais e à Polícia Federal que estava sendo ameaçada por pelos vereadores Clevinho Vidal (PCdoB) e Felipe da Gráfica (PTB), que negam as acusações.  Em agosto, a pré-candidata a vereadora Tia Sandra (PSB) foi morta por traficantes. 

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Pré-candidato a vereador, o mototaxista e pequeno empresário Leandro Xavier, de 34 anos, escreveu no Facebook que pretendia renovar a política em Ituiutaba, no Triângulo Mineiro. Xavier prometeu combater a corrupção e, caso eleito, dar "visibilidade total" ao mandato, nas redes sociais. Mais tarde, uma seguidora registrou que o filiado do PSC, dono de uma distribuidora de gás na cidade, acabava de ser morto a tiros no estabelecimento. Quase cinco meses depois do crime, ocorrido em junho, a Polícia Civil divulgou que o mandante foi Francisco Thomaz, do PTB, presidente da Câmara Municipal. Ele negou a acusação.

As disputas municipais têm sido marcadas por transmissões ao vivo nas mídias digitais, restrições impostas pela pandemia da Covid-19 e por uma velha tradição brasileira. De janeiro até agora, 76 brasileiros foram assassinados por motivações políticas. Há sete anos, o Estadão monitora casos de assassinatos de agentes políticos ocorridos desde a Lei de Anistia, em 1979. São homicídios para garantir espaço na máquina pública, vingar a morte de um aliado ou tirar do jogo uma testemunha.

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O levantamento não inclui casos passionais e latrocínios envolvendo políticos. O trabalho pioneiro na área acompanha informações de tribunais de Justiça, cartórios, organizações de direitos humanos e canais de partidos e entidades comunitárias. Das 76 pessoas assassinadas por motivações políticas neste ano, pelo menos 16 eram pré-candidatos e candidatos a vereador e dois disputavam o cargo de prefeito. O número ultrapassa a média de 52 mortes nos dez processos de eleições municipais do atual período democrático - em 1985 ocorreram disputas para apenas 201 prefeituras, incluindo as capitais.

O gráfico dos assassinatos políticos em anos de campanhas para prefeito e vereador tem uma curva ascendente. Mas, desde a Lei da Anistia, em 28 de agosto de 1979, 1.569 pessoas foram mortas por motivações políticas no País. É uma morte a cada 9,5 dias. Em 2013, quando o Estadão divulgou o levantamento pela primeira vez, um assassinato ocorria a cada 11 dias. Numa análise histórica, a violência encurtou a trégua nessa batalha em 36 horas.

Em 2016, 100 pessoas foram assassinadas em conflitos de poder no País, número superior aos registrados em 2012 (94), 2008 (82) e 2004 (31). Trata-se de um quadro eleitoral composto por milícias nas periferias das cidades, grupos de matadores no interior e a ausência do poder público no combate à violência política. O Tribunal Superior Eleitoral e o Ministério Público não apresentam estatísticas de mortes próximas da realidade nem acompanham esses processos.

Tendência

Antes mesmo do avanço do coronavírus já havia uma tendência de elevado número de mortes políticas neste ano. Em 2019, numa prévia do drama do ano eleitoral, 44 pessoas foram assassinadas em decorrência das discussões de poder. O número ultrapassou os 37 registros de 2015, período anterior ao processo de maior índice de homicídios políticos.

Uma "live" transmitida numa rua do centro de Patrocínio, também em Minas, resultou em outra tragédia. Em setembro, o candidato a vereador pelo PSDB Cássio Remis, de 37 anos, foi morto a tiros por Jorge Marra, secretário de Obras e irmão do prefeito Deiró Marra (DEM). A família era acusada pelo tucano de usar máquinas da prefeitura em fazenda particular. O prefeito disse que manteria a campanha à reeleição porque não poderia ser responsabilizado pelo ato de Jorge, que está preso. "Isso aqui não tem nada a ver com a campanha. Foi uma tragédia", afirmou ele.

As mortes não ocorrem apenas pelo calor das discussões nas redes e nos grupos de WhatsApp. Na tarde do último domingo, o estudante Samuel Souza Leal, 19 anos, foi esfaqueado após uma carreata de candidatos do PTB em Ribeiro Gonçalves, no Piauí. A principal linha de investigação da Polícia Civil indica que Samuel morreu durante discussão política com um tio. Em nota, o petebista João Antunes, candidato a prefeito, disse que o crime não tem relação com a carreata.

Agiotas

No dia 15, em Gurupi, Tocantins, Lucas Alves Araújo, de 21 anos, estava num bar próximo ao comício de candidatos do PSB quando um homem se aproximou e o metralhou. Antes, no dia 3, o agricultor José dos Prazeres Marques, de Olho D'água das Flores, sertão de Alagoas, foi morto por um segurança da prefeitura durante um comício.

O fechamento das urnas e o anúncio dos vencedores estão longe de representar o fim da matança. Uma segunda onda de violência costuma ocorrer no ano posterior ao das disputas. É quando agiotas começam a cobrar o dinheiro emprestado a candidatos, com juros extorsivos. Muitas vezes morrem o eleito, que se recusa a dar cargos e destinar verbas para saldar a dívida, e o perdedor endividado. Em 2017, 58 pessoas foram assassinadas nos municípios por razões políticas.

Os Estados com mais casos de morte em disputas assim são Rio (26), Pará (8), São Paulo (6) e Alagoas (5). A atuação das milícias cariocas contribuiu para o número elevado de homicídios. Neste mês, Domingos Barbosa Cabral (DEM) e Mauro Miranda da Rocha (PTC), candidatos a vereador em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, foram assassinados. A polícia concluiu que os crimes estão ligados a uma disputa de milicianos por território. Duas operações da Polícia Civil e da Polícia Rodoviária Federal resultaram na morte de quase duas dezenas de milicianos, que entraram em combate com a tropa legal. 

O 14º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgado nesse domingo (18) pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública aponta que 4.928 menores foram assassinados de forma violenta só no ano passado. A soma envolvendo crianças e jovens de até 19 anos representa 10% das mortes violentas no país em 2019, quando foram registrados 47.773 homicídios.

"[...] se episódios isolados impressionam, deveria causar choque que em 2019 foram quase 5 mil crianças e adolescentes mortos de forma violenta e intencional e quase 26 mil que sofreram estupro”, alertou o documento. Cerca de 91% das vítimas são meninos.

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Para pesquisadora associada Sofia Reinach os dados ainda são frágeis e precisam de uma coleta mais eficaz. Apenas 20 estados participaram do estudo, o que equivale a 83,56% da população brasileira.

Acre, Amazonas, Amapá, Bahia, Goiás, Piauí, Rio Grande do Norte não repassaram as informações necessárias. Esta é a primeira vez que a temática foi abordada pelo Fórum, em parceria com o Fundo das Nações unidas para a Infância (Unicef).

Pernambuco é o segundo com mais casos

Os estados com maior índice de mortes violentas de crianças e adolescentes são Espírito Santo, com 6,79 homicídios a cada 100 mil habitantes, seguido por Pernambuco (6,22) e Sergipe (6,09). Jovens entre 15 e 19 representam 90% do total.

O Anuário também informa que os principais crimes envolvendo vítimas com até 9 anos, são assassinatos e lesão corporal seguida de morte. "Existe um pico de negligência e abandono na faixa etária dos bebês. Depois, com 5 e 6 anos, dá uma estabilizada", comenta Sofia.

A maioria das vítimas é negra

A criança negra é a principal vítima da violência e da criminalidade no Brasil. Casos como o de João Pedro Mattos, de 14 anos, Ágatha Vitória Félix, de 8, expõem a vulnerabilidade dos menores da periferia em ações da polícia. Cerca de 75% dos menores assassinados são negros, enquanto 22% são brancos e 3% foram considerados como ‘outros’.

Até o final de agosto, antes mesmo da confirmação dos nomes em disputa nas eleições municipais, o Brasil registrou ao menos 27 casos de assassinatos e atentados contra políticos eleitos, candidatos e pré-candidatos em 2020. O dado aparece em estudo da organização de direitos humanos Terra de Direitos e Justiça Global, divulgado nesta semana.

Desde 2016, foram 68 assassinatos e 57 atentados contra a vida, segundo o levantamento. O Rio de Janeiro foi o Estado que registrou o maior número de assassinatos e atentados, 18 no total, enquanto o Nordeste lidera entre as regiões, com 55. A violência política no Rio mobiliza a polícia, Ministério Público e Tribunal Regional Eleitoral (TRE), como mostrou recentemente o Estadão.

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A pesquisa mapeou casos desde 2016 até 1º de setembro deste ano, por meio de denúncias públicas e notícias. Ficaram de fora outros casos recentes, como o assassinato a tiros do candidato a vereador Cássio Remis (PSDB), em Patrocínio (MG). Nesta quinta-feira, 1° de outubro, o candidato a vereador de Nova Iguaçu (RJ) Mauro da Rocha também morreu após ser baleado em uma padaria.

Para a coordenadora da Terra de Direitos, Élida Lauris, os atos contra a vida ocorrem de forma sistemática no cenário de disputas políticas, econômicas e conflitos de interesse, diferenciando pouco entre anos eleitorais e comuns. "Os assassinatos e atentados são uma ferramenta eleitoral e de gestão cotidiana da política, sobretudo nos municípios", afirma. Em todo o ano de 2019, foram mapeados 32 casos, contra 17 em 2018, 19 em 2017 e 30 em 2016.

A análise indica que as investigações não foram capazes de chegar a algum suspeito em 63% dos crimes, o que sugere "alta impunidade e baixa responsabilização" dos autores. Os dados permitem afirmar ainda que o grupo político de maior risco são os vereadores, seguido pelos prefeitos. A incidência também é maior entre homens (93%).

Ofensas e ameaças

A pesquisa também contabilizou 85 ameaças, 33 agressões, 59 ofensas com conteúdo discriminatório, 21 invasões e 4 tentativas de criminalização entre 2016 e setembro de 2020.

Élida Lauris observa uma tendência de aumento nos casos de ameaças e ofensas nesse período, a que credita ao cenário de polarização e à reconfiguração política. Foram 57 ameaças em 2019, contra 18 nos três anos anteriores somados, enquanto as ofensas passaram de 19, em três anos, para 35 na mesma comparação. As ofensas foram praticadas 93% das vezes por homens, e em 76% das ocasiões as vítimas são mulheres.

Os dois indicadores caíram em 2020, mas a especialista alerta para a influência da pandemia e do distanciamento sobre os casos registrados. A crise de saúde, por outro lado, potencializou os casos de invasões contra locais públicos, como hospitais de tratamento contra a covid-19, ação incentivada pelo próprio presidente Jair Bolsonaro. Outro método de violência registrado foram os ataques a eventos virtuais, como uma live da candidata do PSOL à Prefeitura do Rio de Janeiro, Renata Souza, no final de agosto.

Para a pesquisadora, os representantes de minorias se tornaram mais visados após as eleições de 2018. "A agressão substituiu o diálogo, como uma mensagem sobre quem deve pertencer à política. Os grupos dominantes usam a violência para excluir aqueles que eles entendem que não deveriam fazer parte dela", afirma.

Nos oito primeiros meses de 2020, 129 pessoas trans foram mortas no Brasil. Esse número, segundo a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) representa um aumento de 70% em relação ao mesmo período do ano passado. Esse número chega a ser maior do que as mortes de transexuais mortas durante todo o ano de 2019, quando foram registrados 124 assassinatos.

A Antra aponta que até o dia 31 de agosto, todas as 129 pessoas trans assassinadas expressavam o gênero feminino, sejam travestis ou mulheres trans. Além disso, a associação revela que os assassinatos das pessoas transexuais apresentam o quarto aumento consecutivo em 2020.

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No primeiro bimestre, o aumento foi de 90%, no segundo 48% e no terceiro 39%, chegando a 70% no número de casos em relação ao período de julho e agosto de 2019.

Os cinco estados com mais mortes de pessoas trans, entre um de janeiro e 31 de agosto de 2020 são: São Paulo (19 casos), Bahia (16), Minas Gerais (16), Ceará (15) e Rio de Janeiro (7). Esses mesmos estados, segundo acompanhamento da Associação Nacional de Travestis e Transexuais, são os que figuram entre os que mais assassinam pessoas trans desde 2017, quando os levantamentos foram iniciados.

Uma das razões para isso, segundo a Antra, é a falta de ações do Estado, "que segue ignorando esses índices e não implementou nenhuma medida de proteção junto a população LGBTI+, mesmo depois da decisão do Supremo Tribunal Federal que reconheceu a LGBTIfobia como uma forma do crime de racismo".

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