Segundo levantamento do Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos de Crédito no Estado de Pernambuco, até esta segunda-feira (8), 219 bancários testaram positivo para o Covid-19 no Estado, outros 147 casos estão sendo mantidos como suspeitos para o novo coronavírus. Só a Caixa Econômica Federal é responsável por maior parte desses números, sendo 60 de seus bancários confirmados e outros 60 ainda na espera dos resultados do Covid-19.
##RECOMENDA##
Isso pode ser um reflexo da situação que os bancários da Caixa estão enfrentando diariamente desde o início do pagamento da primeira parcela do Auxílio Emergencial no dia 9 de abril. Com poucas informações, aplicativo disponibilizado pela estatal apresentando falhas e o desespero das pessoas que se viam sem renda, o que boa parte desses beneficiários acreditaram é que só na agência conseguiriam tirar dúvidas e sacar o dinheiro.
Foram milhões de pessoas enfrentando filas e aumentando a demanda de quem trabalhava 6h ou 8h por dia e que foi obrigada a se “adequar” e passar a trabalhar até 14h por dia (segundo tem constatado o sindicato) - nesse caso os que atuam na CAIXA de todo o Brasil. Tamanha situação enfrentada pelos bancários só fez aumentar as dificuldades de quem trabalha na estatal e de quem precisa dos recursos disponibilizados. Nesses últimos dois meses, de acordo com a CAIXA, mais de 107 milhões de brasileiros pediram o auxílio.
Com familiares idosos em casa e com doenças que podem agravar a situação do Covid-19, os bancários temem a contaminação. O estresse por conta da carga de trabalho e o cotidiano na empresa também são as questões mais apontadas pelo sindicato dos bancários que recebe - em muitos casos - as informações anonimamente, já que esses bancários também temem pela sua estabilidade na empresa.
Saque da 2ª parcela só foi permitido a partir do dia 30 de maio. Foto: Júlio Gomes/LeiaJá Imagens
O LeiaJá entrou em contato com alguns bancários para saber mais detalhes sobre a situação vivida diariamente nas agências nesse momento de pandemia. No entanto, segundo apontado por uma dessas fontes, a Caixa proibiu que os seus funcionários falassem qualquer coisa relacionada a estatal e que toda a comunicação deveria ser feita com o setor específico, que está subordinado a tratar dessas questões com os veículos de comunicação.
Suzineide Rodrigues, presidente licenciada do Sindicato dos Bancários em Pernambuco, aponta que a Caixa só está liberando os seus funcionários com exames clínicos. O exame através da telemedicina e testes para os bancários, sem custo para tais, só foram possibilitados depois que o Comando Nacional dos Bancários, em reunião com a Federação Nacional dos Bancários (Fenaban), realizada no dia 12 de maio, conquistou o compromisso de que os bancos do Brasil, Bradesco, Itaú, Santander e Caixa iriam se responsabilizar por isso.
Os testes de Covid-19 nos bancários só são realizados se, após o atendimento via telemedicina, a avaliação médica indique a necessidade. Do contrário, mesmo com alguns sintomas, a confirmação não é realizada por meio do exame. “Os testes podem dar segurança para toda a equipe, porém os bancários não devem descuidar das medidas de distanciamento e sanitárias”, observou a presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Juvandia Moreira.
Não há registro de mortes de bancários devido ao Covid-19 em PE. Foto: Júlio Gomes/LeiaJá Imagens
Mesmo diante desse compromisso, Suzineide reforça que "a CAIXA está orientando através da telemedicina que se a pessoa tiver sintomas leves, pode continuar trabalhando. Você não pode trabalhar com sintomas leves e continuar o contato com as pessoas porque vai estar colocando em risco a própria vida, da família e das outras pessoas. Nós defendemos que todos os profissionais precisam ter as condições de vigilância para que possam desempenhar bem as suas atividades e não adoecerem", ressalta a presidente licenciada Suzineide.
O bancário Raul Campêlo, 41 anos, atua na linha de frente do atendimento ao público como caixa e no dia 8 de maio, quatro dias depois de voltar de férias, onde estava isolado com a família, foi diagnosticado com o novo coronavírus. Ele aponta que a categoria tem convivido diariamente com o medo e com o receio do que pode acontecer de pior. "Mas mesmo assim, consciente dessa missão que nós têmos, que é fazer chegar os recursos nas mãos de quem mais precisa, nós temos caminhado em frente. Mas eu sou a prova viva que um bancário adoecido não consegue cumprir com a sua missão", revela.
Raul aponta ainda que a categoria precisa ser protegida para que consiga continuar cumprindo o seu papel e os recursos liberados pelo governo federal continuem chegando nas mãos dessas pessoas que tanto precisam e estão em meio às incertezas propiciadas pela pandemia desde março deste ano.
[@#video#@]
"Todos os bancários estão desempenhando um papel de risco nas suas vidas, mas continuam porque sabem a importância de atender bem aqueles que estão desempregados e precisam do Auxílio Emergencial para ter, minimamente, as suas condições de vida", avalia Suzineide.
A Fenaban afirma que alguns bancos estão utilizando os mesmos procedimentos de sanitização de hospitais e outros serviços que precisam manter o funcionamento simultaneamente aos procedimentos de desinfecção do ambiente.
A Contraf-CUT assevera que "o banco tem que aplicar o protocolo, que é encaminhar os trabalhadores para o médico, fazer o teste e afastar quem precisa ser afastado. Em caso de dúvida, afasta. Em caso de sanitização preventiva, o bancário precisa ser informado para não gerar apreensão entre os trabalhadores”.
Desenvolvimento de doenças psicológicas é uma característica da categoria
Por estarmos diante de uma situação pandêmica recente, ainda não existem dados oficiais de como essa situação está atingindo as questões psicológicas do bancários, categoria que tem como característica o desenvolvimento de doenças psicológicas. Para se ter noção, uma última pesquisa divulgada pela Central Única dos Trabalhadores (CUT) mostra que o total de bancários afastados por doença cresceu 30% entre 2009 e 2017.
Pelo menos metade desses casos foram decorrentes de transtornos mentais e comportamentais, que cresceram 61,5% no período. As informações são baseadas nos dados do Instituto Nacional de Seguro Social (INSS). Suzineide Rodrigues confirma que tem recebido relatos de bancários desenvolvendo ansiedade, depressão, tudo isso por conta do volume de trabalho. "Tem bancários que ligam chorando e preocupados com a saúde da família", pontua.
Nossa equipe de reportagem entrou em contato com a CAIXA para saber o posicionamento da estatal sobre os casos apontados, no entanto, até a liberação da matéria a CAIXA não retornou nossas demandas
LeiaJá também
-> Quarta parcela do Auxílio Emergencial é aprovada
-> Auxílio Emergencial negado pode ser solicitado novamente