O negro que reconhece sua origem comemora o Dia da Consciência Negra no Brasil, nesta sexta-feira (20), e carrega a data como um marco de resistência em busca de respeito e representatividade social. No cenário político, houve o aumento de 2% de vereadores negros eleitos em 2020. Ao todo, 50 quilombolas venceram nas urnas e 44% das cadeiras municipais das capitais serão ocupadas por negros, com destaque para Carol Dartora - primeira vereadora negra de Curitiba, no Paraná - e Dani Portela - a vereadora mais votada do Recife, que integra o índice de 28% dos negros eleitos ao cargo na cidade.
Em caminho expresso para a conquista do protagonismo político, o atual avanço dos negros na administração pública é resultado da prévia articulação diversas personalidades, que consolidaram o espaço e quebraram paradigmas ao longo da atuação pública. O LeiaJá fez um breve resumo de algumas destas figuras, acompanhe:
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1- Abdias do Nascimento
Natural de Franca, Interior de São Paulo, Abdias é considerado o primeiro senador negro, eleito em 1997. Em 1983, ele já havia ocupado o cargo de deputado federal, pelo Rio de Janeiro.
Com status de ativista, ele foi um dos responsáveis por instituir o Dia Nacional da Consciência Negra, no dia 20 de novembro, aniversário da morte de Zumbi dos Palmares, fundou o Teatro Experimental Negro (TEN), o Museu da Arte Negra (MAN), o Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros (IPEAFRO), idealizou o Memorial Zumbi e o Movimento Negro Unificado (MNU), atuou na Frente Negra Brasileira. Chegou a ser indicado ao Prêmio Nobel da Paz de 2010.
Com uma extensa carreira acadêmica no exterior, Abdias é um dos fundadores do PDT no Brasil e também foi um dos principais atores no processo de criação da Fundação Cultural Palmares, órgão do Ministério da Cultura para assuntos afro-brasileiros.
2- Antonieta de Barros
Nascida em Florianópolis, Santa Catarina, Antonieta foi professora e fundou diversos jornais para defender ideais feministas na região. Em 1934, participou da primeira eleição em que mulheres poderiam votar e ser votadas para cargos no Executivo e Legislativo e conseguiu ser eleita deputada estadual em 1935 e em 1947. Sua vitória representa o primeiro acesso de uma candidata negra à Câmara.
Em 1935, ela foi constituinte e ajudou a redigir os capítulos Educação e Cultura e Funcionalismo da nova Constituição. Dois anos mais tarde, a deputada presidiu a Sessão da Assembleia Legislativa e torna-se a primeira mulher a assumir a presidência de uma Assembleia no Brasil.
Antonieta ainda é autoria da lei do Dia dos Professores em Santa Catarina, comemorado no dia 15 de outubro, que mais tarde seria reconhecida no restante do país.
3- Nilo Peçanha
Eleito vice-presidente, após a morte do mandatário nacional Afonso Pena, assumiu o cargo e tornou-se o primeiro presidente negro do Brasil, em 1909. Vale destacar que neste período, o vice também era escolhido pelo povo.
Seu mandato durou cerca de um ano, com destaque para avanços importantes como a criação do Ministério da Agricultura, Comércio e Indústria, do Serviço de Proteção aos índios (SPI), que antecedeu a Fundação Nacional do índio (Funai). O carioca dos Campos dos Goytacazes, também inaugurou a primeira escola técnica do Brasil, o que lhe concedeu a honraria de patrono da Educação Profissional e Tecnologia no país.
O ex-presidente ainda foi governador do Rio de Janeiro por duas ocasiões, também foi senador e ministro das Relações Exteriores.
4- Pedro Augusto Lessa
Lessa é considerado o primeiro negro do Supremo Tribunal Federal, quando foi nomeado em 1907. Ainda em 1891, ele assumiu a chefia da Polícia de São Paulo e chegou a ser eleito deputado ao Congresso Constituinte, sendo um dos principais colaboradores das leias nacionais, assim como Antonieta.
Natural de Serro, em Minas Gerais, como ministro do STF, Lessa conseguiu ampliar o estatuto do Habeas-corpus a casos não previstos na Constituição brasileira de 1891, contribuindo para a criação do mandado de segurança.
Ele ainda colaborou com o ao Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e chegou a ocupar a 11 da Academia Brasileira de Letras.
5- Benedita da Silva
Benedita foi eleita a primeira senadora negra do Brasil, em 1994. Atual deputada federal, antes ela já assumiu a vice governadoria e, posteriormente, foi governadora do Rio de Janeiro entre 1998 e 2002.
A pioneira iniciou na política como vereadora, em 1982, após ser militante da Associação de Favelas do Estado do Rio de Janeiro. Em 86, ela foi eleita deputada federal e conseguiu ser reeleita em 90.
A deputada chegou a presidiu a Conferência Nacional de Combate ao Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerâncias Correlatas, em 2001, e assumiu a Secretaria Especial da Assistência e Promoção Social, com status ministerial.
Durante a pandemia da Covid-19, Benedita foi autora da Lei de Emergência Cultural Aldair Blanc, para mitigar os impactos econômicos à classe artística.
7- Gilberto Gil
O cantor e compositor nascido em Salvador, na Bahia, foi ministro da Cultura em 2003 e reafirmou a luta em defesa da cultura popular do Brasil, mesmo criticado por personalidades do meio artístico.
Em uma carreira musical com mais de 50 álbuns, Gil idealizou o movimento Tropicalista e expandiu a Cultura do negro brasileiro em todo o mundo. O que poucos se lembrar é que o ex-ministro já tinha sido eleito vereador em sua cidade natal, em 1989.
Ele já foi embaixador da ONU para Agricultura e Alimentação e foi nomeado pela UNESCO como "Artista pela Paz", em 1999.
8- Marina Silva
Uma das líderes do movimento ambientalista no Brasil, Marina firmou parceria com Chico Mendes em defesa da Amazônia. Ela largou o sonho de ser freira para ajudar a fundar a Central Única dos Trabalhadores (CUT) no Acre, em 1984, quando mobilizou seringueiros e trabalhadores rurais.
Em 1988 e em 1990, bateu recordes de votação, quando foi eleita vereadora e deputada estadual no Rio Branco. Com apenas 35 anos, em 1994, tornou-se a senadora mais jovem do país, conquistando a reeleição em 2002. No ano seguinte, assumiu o Ministério do Meio ambiente e carrega como conquista o Plano de Ação para Prevenção e o Controle do Desmatamento da Amazônia Legal.
Em 1996, Marina foi premiada com o Goldman, equivalente ao Nobel do Meio Ambiente. Em 2007, o jornal britânico "The Guardian" a incluiu em uma lista com as 50 pessoas que podem ajudar a salvar o planeta. No mesmo ano, conquistou o principal prêmio da ONU na área ambiental.
9- Jean Wyllys
O professor universitário de Alagoinhas, no Interior da Bahia, foi eleito deputado federal do Rio de Janeiro em 2010, 2014 e 2018. Reconhecido nacionalmente após vencer a quinta edição do Big Brother Brasil, em 2015 foi classificado pela revista britânica "The Economist" como uma das 50 personalidades que mais lutam pela diversidade no mundo.
Em 2012 e 2015 foi eleito por internautas como o melhor deputado federal do país. Jean ainda um dos autores dos projetos de lei pelo reconhecimento da união estável e casamento civil entre pessoas do mesmo sexo e a regulação da atividade dos profissionais do sexo.
Embora eleito em 2018, ameaças de opositores o fizeram desistir do terceiro mandato e saiu do Brasil para prosseguir com a carreira acadêmica. No mesmo ano, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA) exigiu proteção à Jean por parte do Governo Federal, diante das constantes ameaças de morte. Antes de deixar o Brasil, ele vivia sob escolta policial.
10- Marielle Franco
Ainda como assessora de Marcelo Freixo, ela assumiu a coordenação da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, onde prestou auxílio jurídico e psicológico a familiares de vítimas de assassinatos ou policiais vitimados. Um dos casos de maior repercussão foi a elucidação de um caso envolvendo a morte de um policial civil por um colega.
Eleita vereadora em 2016, com mais de 46 mil votos, naquele ano, Marielle foi a segunda mulher mais votada ao cargo municipal em todo país. Em sua atuação, presidiu a Comissão de Defesa da Mulher e foi relatora de outra com o objetivo de monitorar a intervenção federal do município. Ela criticava a medida e denunciava constantes abusos e violações aos direitos humanos por parte dos policiais. Em pouco mais de um ano, esteve envolvido em 16 projetos de lei.
Em março de 2018, a vereadora sofreu uma execução e foi morta com três tiros na cabeça e um no pescoço. A motivação para o assassinato segue como mistério, mas os autores foram presos pelas autoridades. Tratam-se do policial reformado Ronnie Lessa - autor dos disparos - e do ex-militar Élcio Vieira de Queiroz - que dirigia o veículo em perseguição. Ambos têm relação com o Presidente Jair Bolsonaro e seus filhos.
A morte de Marielle levantou uma onda mundial de reações, com diversos protestos online e manifestações nas ruas. Na época, sua execução chegou a estremecer a relação econômica entre União Europeia e Mercosul. Em julho, a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro aprovou a lei que consolidou o dia 14 de março como o Dia Marielle Franco, que representa a luta contra o genocídio da Mulher Negra.
Em 2019, foi agraciada 'in memoriam' pelo Congresso Nacional com o Diploma Bertha Lutz, concedido a mulheres que tenham contribuído na defesa dos direitos femininos e questões de gênero no Brasil. Mais diversas homenagens ressaltaram a importância da atuação da ex-vereadora, que batiza ruas no Brasil e um jardim em Paris, na França.