Candidato à Presidência da República pelo PRTB, Levy Fidelix, concorre ao cargo pela terceira vez. Entre as propostas para o país, estão a desoneração de impostos para itens da cesta básica e o uso de outros mecanismos para controlar a inflação no país além das taxas de juros. Contra o passe livre e a reeleição, o candidato acredita que o Brasil precisa melhorar a logística e ampliar os investimentos em vários setores.
Confira trechos da entrevista concedida à Agência Brasil:
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Agência Brasil: As estimativas de inflação oficial pelo IPCA para o próximo ano estão em torno de 6,2%, próximo do teto da meta. Como pretende atuar para conter o aumento de preços?
Levy Fidelix: Eu penso que se nós continuarmos dentro dessa ótica de somente controlar os preços via juros altos, não vamos chegar a lugar nenhum. Não pretendo, naturalmente, limitar a atuação do Banco Central, mas eu pretendo que o ministro da Economia tenha muito mais poder e controle a inflação com outros instrumentos que não seja apenas o monetário. Ou seja, estimular a produção industrial, a produção agropecuária e os setores de serviço, turismo e a exportação. Se nós produzirmos mais, vamos ter mais acesso a produtos.
Agência Brasil: Apesar de todo o seu potencial energético, o Brasil continua com uma tarifa alta. O que fazer para evitar mais aumentos?
Levy Fidelix: Primeiramente,temos uma belíssima capacidade hidrelétrica, porém, pelos projetos estarem muito defasados, levou-se muito tempo para construir. Eu não sei se vamos ter que fazer ou não uma espécie de desoneração de impostos também nessa área, dado que essa questão também é crucial, espacialmente para a construção com rapidez dessas hidrelétricas, porque elas levam muito tempo de maturação. Precisamos também ampliar a capacidade também das nossas alternativas em matéria de energia eólica, energia solar. Também acho que temos que voltar ao antigo pensamento de termos energia nuclear. Não podemos ficar só pensando no petróleo. O Brasil precisa de energia barata para poder se desenvolver.
Agência Brasil: Quais os planos do seu governo para resolver gargalos de infraestrutura?
Levy Fidelix: A manutenção de rodovias é fundamental. Para tal, nós já temos a Contribuição de Intervenção do Domínio Econômico (Cide), mas não é aplicada. Esse imposto que deveria ser direcionado para as rodovias do Brasil, ferrovias, é exatamente colocado no Tesouro Nacional e desaparece. Também é preciso construir ferrovias. Nossos portos têm muita necessidade de ampliação de guindastes, silos de armazenagem. É necessário investir pesado. Os portos passariam por uma ampla reforma de ampliação e eu entregaria à iniciativa privada tudo que puder. Eu creio que é por aí que passa a eficiência. Quanto à questão dos aeroportos, acho fundamental darmos seguimento na privatização. Mostrou-se que com os aeroportos de Brasília, de Viracopos e do Galeão, vários aeroportos que a atual administração federal fez, foi uma medida certa, correta e eu vou prosseguir exatamente com o que esse governo fez.
Agência Brasil: Qual é a sua posição sobre a minirreforma política atual e como o chefe do Executivo pode contribuir para que essa discussão efetivamente avance, respeitando a prerrogativa de independência entre os Poderes?
Levy Fidelix: Questões como o voto facultativo, eu sou a favor. Não tem que ser nada de obrigatório, não estamos mais vivendo na época do escravagismo. A reeleição, eu sou contra. Eu acho que um mandato só, de quatro ou cinco anos, seria o ideal para qualquer mandatário. E a questão de financiamento de campanha é outra coisa. Hoje em dia a verba do Fundo Partidário é residual, principalmente para os partidos pequenos, que têm menos deputados. Nesse aspecto todo é fundamental que haja um entendimento, e não apenas no Congresso. Tem outro ator que é sempre esquecido, que são os partidos políticos. A estrutura organizacional partidária nunca é convocada. O partido político tem o privilégio de ser o dono do mandato de um senador, governador, de um deputado federal.
Agência Brasil: O Brasil é apontado como um dos países com a maior carga tributária do mundo. Quais os planos do seu governo para equacionar essa questão e minimizar o desgaste político que isso pode gerar?
Levy Fidelix: A carga tributária vem subindo paulatinamente desde o governo FHC [de Fernando Henrique Cardoso], que estava 33%, chegou no Lula a 36%, subimos mais 2 pontos, está na faixa de 38%. Também não quero que haja uma reforma tributária que fique nesse ponto de imposto único. Isso não é justo, não é correto, mesmo porque tem certos segmentos que podem contribuir mais e outros menos, mas temos que estruturar uma reforma financeira e tributária. A carga tributária fica elevada porque gastamos mal e não sabemos aplicar nossa eventual sobra de caixa que as nossas exportações permitem, que são reservas em dólar. E aí eu quero colocar, como ministro da Economia, alguém que realmente entenda não apenas de mercado financeiro, mas que também entenda o mundo da agricultura, da indústria, do comércio.
Agência Brasil: O Plano Nacional de Educação (PNE) é considerado uma grande conquista para o setor. Como pretende, em quatro anos, avançar nas pautas indicadas na lei? Como pretende resolver a questão do financiamento?
Levy Fidelix: Todo mundo fala e eu sempre apregoei que nós queremos ter educação integral no ensino básico. Também temos que melhorar a questão salarial do corpo de professores. Não apenas os que estão na área de pós-graduação. Eu, por exemplo, quando criança, os professores tinham o melhor nível cultural do que temos hoje. Temos hoje professores a nível básico que nem falam um bom português. É lamentável. As nossas crianças saem de lá semianalfabetas. Então, a questão de investimento é fundamental, crucial. Temos que dobrar os investimentos e proporcionar qualidade em todos os níveis.
Agência Brasil: A Constituição Federal de 1988 estabeleceu um prazo de cinco anos para que todas as terras indígenas fossem identificadas e demarcadas. Passados 21 anos do fim desse prazo, pouco mais de 44% foram homologados. Como o senhor pretende resolver a questão da demarcação de terras indígenas?
Levy Fidelix: Não é que eu relegue os indígenas a segundo plano não, porque tudo é prioridade no Brasil. Mas eu não concordo com essa questão que se trata hoje como nações indígenas. Daqui a pouco, nós estamos entregando novamente a Amazônia colonizada já pelos brasileiros, que são todos, para que os indígenas passem a ter o domínio de uma terra, e lá temos os minerais, temos a nossa biodiversidade. Eu acho que nós temos até tido bons avanços e, aliás, alguns retrocessos. Eu acho que limitar-se ao que já tem, já é muito. Não há a necessidade de ampliarmos mais não. Não vamos apenas entrar nessa linha de sustentabilidade e deixar que a nossa agricultura não se expanda. Não podemos deixar que o Brasil passe a ficar travado porque os índios querem mais terras, porque por detrás desse interesse dos índios estão as ONGs internacionais e capitais de muitas empresas que estão financiando esse conceito preservacionista para eles, para continuarem a produzir nas terras deles os minerais. Nós aqui no Brasil deixarmos as nossas riquezas dormindo debaixo da terra.
Agência Brasil: É possível tornar o passe livre uma realidade? Como? Como o governo federal pode atuar para garantir melhorias na mobilidade urbana nos grandes centros?
Levy Fidelix: A mobilidade urbana tem várias maneiras de ser solucionada. Primeiramente, dando condições para que as empresas possam investir, modernizar-se. Temos que voltar com o sistema de transporte ferroviário. Temos que fazer o aerotrem como modalidade, que é o monotrilho que está sendo implantado em duas linhas em São Paulo, de 40 quilômetros. É um meio colateral ao próprio metrô. Investir mais no metrô, no BRT, VLT, que é o bonde moderno de hoje, ou seja, em todos os modais que possam facilitar. Agora, a questão do passe livre eu sou totalmente contra. Por que passe livre? Isso não tem em lugar nenhum do mundo e se tem, é muito pouco. Isso é uma utopia.
Agência Brasil: Como garantir a manutenção de um sistema de saúde público, universal e gratuito e enfrentar os gargalos? Como suprir a falta de médicos nas regiões mais isoladas?
Levy Fidelix: Eu tenho dito no meu programa de governo que pretendo criar o Plano Nacional de Saúde do Brasileiro. Com ele, nós vamos suprir e ampliar o SUS. Eu quero que no futuro nós possamos, inclusive, atender as pessoas através da rede privada. Não apenas a pública. Mas nós teríamos que dobrar esse investimento. Para tal, falo uma vez mais, temos que ampliar a arrecadação e reduzir os juros pagos. Nós temos que ter também a eficiência da área privada funcionando também para atender a ampla população brasileira. Teríamos outros instrumentos relativamente pouco conhecidos, mas tão eficiente para atendimento rápido que seria usarmos os motomédicos, ou seja, levarmos em casa o médico. Os motorremédios entregando remédio em casa, tudo é questão de logística. E ampliar a nossa frota de ambulâncias no Brasil com mais macas. Outra coisa: isentar remédios de impostos. Reduzir impostos de remédio, colocar o remédio mais acessível à população. Sendo mais acessível, teremos uma população mais sadia, mais medicada. Acima de tudo valorizarmos o jovem que está se formando. Dar a ele dois anos de residência mínima no interior. Não vai para as capitais, vai para o interior.
Com informações da Agência Brasil.