Os líderes europeus decidiram adiar para junho a decisão sobre quem vai presidir o Bloco nos próximos cinco anos, e sem se limitar aos candidatos propostos pelas famílias políticas, o que deve provocar uma queda de braço dentro da União Europeia (UE).
"Encontraremos a melhor maneira de negociar (...) entre os líderes e também com a Eurocâmara. Não interessa a ninguém um conflito entre instituições", advertiu o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, ao final de três horas da cúpula em Bruxelas.
O sistema conhecido como 'Spitzenkandidat', que reserva a presidência da Comissão Europeia a um dos candidatos principais das famílias políticas na Eurocâmara, não é visto com bons olhos pelos mandatários do Bloco, que alegam uma limitação de suas prerrogativas.
Mas a Eurocâmara, que deve validar por maioria o candidato proposto pelos dirigentes, reafirmou sua proposta de que o sucessor de Jean-Claude Juncker na Comissão precisa ter participado "da campanha em escala europeia".
Com 177 eurodeputados de 751, o Partido Popular Europeu (PPE) venceu novamente as eleições, apesar de ter obtido 39 cadeiras a menos do que na legislatura atual. Reclamou o posto de presidente da Comissão para Manfred Weber, mas nada será fácil. As eleições para a Eurocâmara confirmaram o fim do bipartidarismo e um avanço moderado das forças eurocéticas.
Para conseguir uma maioria pró-europeia, o PPE deve se entender com seus tradicionais aliados nas instituições da UE, os socialdemocratas (149 cadeiras), mas também com um terceiro sócio. Aqui podem entrar em jogo os 69 eurodeputados dos Verdes, ou os 107 dos liberais.
Liderados pelo presidente francês, Emmanuel Macron, estes últimos já abriram a primeira divisão, porém, ao não apoiarem a declaração da Eurocâmara que defende o 'Spitzenkandidat'.
Macron defendeu que deverão escolher para ficar à frente da UE "mulheres e homens que têm a experiência e a credibilidade que lhes permitam assumir estas missões e que (...) as apoiem plenamente".
Ainda que reticentes ao atual sistema, porque os cidadãos europeus podem votar apenas nos candidatos de seu país, os dirigentes liberais também têm sua candidata, a comissária dinamarquesa Margrethe Vestager, à qual manifestaram seu apoio nesta terça.
- 'Posição muito clara'
"O Parlamento Europeu tem uma posição muito clara", disse seu presidente, Antonio Tajani, em entrevista coletiva, após informar os chefes de Estado e de governo.
"Quem se apresentou diante dos eleitores (...), se recebeu seu apoio, deve estar presente neste posto", completou.
Em 2014, Merkel e seus então colegas britânico, David Cameron, e sueco, Fredrik Reinfeldt, tentaram compor uma minoria de bloqueio no Conselho contra Juncker - embora, sob pressão, a alemã tenha enfim recuado, um exemplo citado nesta terça.
"Assim foi da última vez e um dos candidatos principais se tornou presidente da Comissão. E assim será esta vez", garantiu Junker.
A correlação de forças no Conselho Europeu será chave. O candidato contemplado pelos líderes deverá contar com o apoio de pelo menos 21 dos 28 chefes de Estado e de Governo, cujos países representem pelo menos 65% da população. A designação formal está prevista para acontecer na reunião de cúpula em 21 e 22 de junho.
Maior força do Conselho, o PPE entra na discussão enfraquecido. O chanceler austríaco, Sebastian Kurz, um de seus nove governantes à mesa, acaba de ser derrubado pelo Parlamento. O primeiro-ministro húngaro, o populista Viktor Orban, não apoia Manfred Weber.
Os liberais (oito governantes) e os socialistas (cinco) também precisam coordenar suas posições antes da reunião, mas um grupo representativo das duas tendências deve participar de um almoço de trabalho prévio, a convite do liberal Charles Michel, primeiro-ministro da Bélgica.
O presidente do governo espanhol, Pedro Sánchez, que participou da reunião, defendeu o candidato socialdemocrata, o holandês Frans Timmermans, ao estimar que pode angariar "consensos" com "liberais, verdes e, por que não, com o PPE".
Socialdemocratas e liberais aumentam a pressão sobre o PPE, que atualmente preside as três principais instituições: Comissão, Conselho e Parlamento.
"Os outros têm que dizer o que querem. Nós queremos a presidência da Comissão", disse seu presidente, Joseph Daul, à AFP.
Fontes europeias garantem, porém, que, se o alemão Weber não conseguir dirigir a Comissão, "pode se tornar presidente do Parlamento".
Sem a principal formação pró-europeia, os socialdemocratas, liberais e Verdes - grande surpresa das eleições europeias ao avançar até 69 cadeiras - tampouco reúnem maioria, o que anuncia uma complexa negociação.