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O Conselho de Ética da Assembleia Legislativa de São Paulo abriu processo de cassação contra o deputado Arthur do Val (sem partido) por suas declarações sexistas sobre mulheres ucranianas.

Em reunião nesta sexta, 18, os parlamentares que compõem o grupo rejeitaram alegações da defesa e acataram por unanimidade as 21 representações que pedem a cassação de seu mandato por quebra de decoro. Agora o deputado tem o prazo de cinco sessões legislativas para argumentar contra o mérito das acusações.

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Com exceção do deputado Delegado Olim (PP), que não estava presente, oito parlamentares que ocupam cadeiras efetivas no Conselho decidiram pelo encaminhamento do processo. Também foi favorável o corregedor da Alesp, Estevam Galvão (União Brasil).

Próximos passos do processo contra Arthur do Val

Após a nova defesa de Arthur, Olim será nomeado relator do processo pela presidente do Conselho, deputada Maria Amary (PSDB), e terá até 15 dias para apresentar seu parecer sugerindo uma das quatro punições possíveis: advertência, censura verbal ou escrita, suspensão do mandato ou cassação.

Na sequência, o Conselho vota o parecer e, se aprovado, leva a questão a plenário.

Para aprovar as punições, é necessário o apoio de 48 deputados. Conforme o Estadão mostrou, ao menos 40 parlamentares já pediram a cassação de Arthur do Val por meio de representações.

Em defesa inicial, o advogado de Arthur do Val, Paulo Bueno, defendeu que as representações contra ele são "juridicamente impossíveis". Alegou, por exemplo, que os áudios foram "vazados" sem o seu consentimento, eram privados, o que constituiria obtenção ilícita de provas.

Também defendeu a "extraterritorialidade do ato". Segundo ele, as gravações foram feitas fora do país e, por isso, só seriam passíveis de julgamento no Brasil se tivesse cometido um delito listado no rol de crimes passíveis de extradição.

A defesa do deputado afirmou ainda, em documento entregue ao Conselho, que Arthur estava em licença e, portanto, não pode ser acusado no âmbito da Alesp pelo que teria feito.

Ao Estadão, a presidente do Conselho afirmou que Arthur do Val é um "homem público" e que não é possível separar esta condição dele. "Pode estar em qualquer lugar, ele continua deputado. Deve ter postura como representante do legislativo apesar de não estar em missão pela Assembleia", disse.

Procurada, a assessoria de Arthur do Val não respondeu até a conclusão da reportagem. Em carta enviada aos parlamentares, o deputado pediu para não ser cassado. Ele também afirmou que este é seu "último ano" na Casa, e que não vai se candidatar a deputado estadual neste ano.

O relator da CPI da Violência Contra a Mulher na Assembleia Legislativa de São Paulo, Thiago Auricchio (PL), pediu no relatório final das investigações a cassação do mandato do deputado Arthur do Val (sem partido). O parlamentar se desfiliou do Podemos e saiu do MBL depois da divulgação de áudios sexistas em que ele faz ofensas a mulheres ucranianas.

O relator da CPI afirma que Arthur do Val "violou a dignidade da pessoa humana, extrapolando o seu direito de expressão como Deputado Estadual e, desta forma, excedendo o manto da sua imunidade parlamentar". Auricchio acrescenta que "a liberdade de fala não se deve constituir em liberdade de ofensas à honra das mulheres".

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Recomendações

O relatório também lista uma série de recomendações ao governo estadual. Entre as principais, estão o aumento do número de delegacias de defesa da Mulher. Atualmente, há 138 unidades em todo o Estado, e apenas 11 funcionam 24 horas por dia.

O relator ainda propõe que medidas as medidas de proteção a mulheres não sejam condicionadas à apresentação de um boletim de ocorrência. O documento recomenda ao Judiciário que essas medidas não dependam da duração do processo ou da investigação contra o agressor.

Entre as propostas legislativas, está a promoção de cotas para vítimas de violência em programas habitacionais. "Não temos dúvidas de que a habitação deve ser usada como estratégia de enfrentamento à situação de violência, afastando a vítima da convivência com seu agressor", conclui.

No mesmo relatório, não há referência a outro caso que marcou o Legislativo paulista: o assédio sexual cometido pelo deputado Fernando Cury (sem partido), que recebeu uma pena de seis meses de suspensão após apalpar a deputada Isa Penna (PSOL).

O documento foi protocolado na última sexta-feira. O presidente da CPI, Delegado Olim (Progressistas), vai pautar o relatório para votação hoje. Com a desistência de duas deputadas, Isa Penna (PSOL) e Professora Bebel (PT), o colegiado ficou com cinco homens e duas mulheres entre seus membros efetivos.

A maior parte dos integrantes é aliada de Cury, o que inclui o presidente da CPI. Olim foi defensor de uma pena mais branda para o colega, de suspensão de quatro meses. Além dele, integram a CPI Milton Leite Filho (Democratas), Delegado Bruno Lima (PSL), Marcio Nakashima (PDT), Analice Fernandes (PSDB), Marina Helou (Rede), e o relator, Thiago Auricchio (PL). 

O Conselho de Ética da Assembleia Legislativa de São Paulo unificou em um documento, nessa quarta-feira (9), as 21 representações que pedem a cassação do deputado estadual Arthur do Val (sem partido) por comentários que fez sobre as mulheres ucranianas, que considerou "fáceis por serem pobres". A presidente do colegiado, Maria Lucia Amary (PSDB), notificou o parlamentar, que deve apresentar defesa prévia no prazo de cinco dias úteis.

Em entrevista ao Estadão, Maria Lucia se disse chocada e constrangida pelas declarações do colega. Uma nova reunião do Conselho está prevista para a semana que vem, quando seus integrantes julgarão a admissibilidade das representações. Ao todo, existem quatro possibilidades de punição: advertência, censura verbal ou escrita, suspensão do mandato ou cassação.

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"Há uma consciência coletiva. Todos nós estamos conscientes da urgência de uma decisão. Os fatos são muito claros e evidentes. Não há muita coisa a ser questionada", disse ao Estadão o vice-presidente do órgão, Barros Muniz (PSB) nesta segunda-feira (7).

Caso seja admitida a abertura de processo contra o deputado, Maria Lucia deverá nomear um relator. O parecer desse ou dessa parlamentar vai propor uma das opções de punição, que será votada pelo Conselho. Em caso de empate, a presidente tem o voto de Minerva. O passo seguinte é a votação em plenário, onde são necessários 48 votos para aprovação.

Os parlamentares podem alterar o resultado proposto pelo parecer. Foi o que ocorreu no caso do deputado estadual Fernando Cury, que assediou a colega Isa Penna (PSOL). Naquela ocasião, o Conselho havia aprovado a suspensão de três meses. Mas o plenário da Casa optou por dobrar o período de exclusão.

O deputado estadual Arthur do Val (Podemos-SP) afirmou, nessa segunda-feira (7), que irá se afastar do Movimento Brasil Livre (MBL). A informação ainda não havia sido comunicada aos dirigentes da organização política até então.

Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, Arthur repercutiu a saída e as demais consequências em sua carreira política desde o vazamento de áudios do parlamentar, nos quais ele afirma que as mulheres ucranianas “são fáceis, porque são pobres”.

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“Não é justo que essas pessoas sofram a consequência de um erro só meu”, afirmou Arthur sobre deixar o MBL. “O que o [deputado federal] Kim Kataguiri tem a ver com isso? O que a Adelaide Oliveira tem a ver com isso? Fui eu. Eu. Sozinho”, disse o deputado.

Após a repercussão dos áudios, Arthur retirou a sua pré-candidatura ao governo de São Paulo. “Eu retirei a candidatura porque eu não tenho direito de atrapalhar ninguém”, disse à Folha.

O deputado também afirmou que ficou chateado com as declarações do ex-juiz Sérgio Moro, que repudiou os áudios.

“A minha sensação é de frustração, de tristeza da parte dele. Outra coisa são os fatos. E o fato é que nós ainda temos um país que está aí na beira de ter Lula ou Bolsonaro. Se eu estou atrapalhando a missão [de Moro], será que eu não faria o mesmo [que ele fez]? Será que faria diferente? Eu hoje te falaria diferente”, afirmou Arthur do Val.

Deputado vê cassação como exagero

O Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) já recebeu cerca de 12 representações pedindo a cassação do mandato do deputado. Após o recebimento de todas as representações, os representantes do Conselho serão comunicados, e Arthur do Val será notificado.

“Se eu estou atrapalhando a missão e eu sair, me cassarem, eu só vou ficar com o questionamento: que país é esse? Porque Lula falou coisas muito piores e está aí líder das pesquisas. Bolsonaro também. Meu mandato é irretocável. O que eu errei fui eu pessoalmente. Se isso for suficiente para me cassar e me tirar os direitos políticos por 8 anos, aí também não quero mais nada”, disse.

E continuou: “O PSOL está querendo me cassar em três dias. Tem um deputado que tentou me bater no plenário, não deu nada. Tem deputado que passou a mão no seio de uma deputada e deu seis meses [de suspensão]. E um áudio meu vai dar cassação em três dias? É desproporcional”.

Além da saída do MBL e de um provável processo de cassação, Arthur do Val deve deixar, também, o Podemos. A sigla atualmente trabalha na candidatura de Sergio Moro à Presidência. A desfiliação já foi adiada duas vezes desde o último fim de semana.

A Seccional Paulista da Ordem dos Advogados do Brasil realiza na tarde desta segunda-feira, 7, a 'Marcha contra a Misoginia', em frente ao Monumento às Bandeiras, próximo à Assembleia Legislativa de São Paulo, em um protesto contra as declarações do deputado Arthur do Val, conhecido como Mamãe Falei, sobre mulheres ucranianas.

Após o ato, que está ma entidade vai protocolar uma representação contra o parlamentar, com mais um pedido de cassação de seu mandato. A solicitação da OAB-SP conta com o apoio de todas as deputadas paulistas, que vão subscrever o documento que será apresentado à Alesp, segundo a entidade.

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A presidente da seccional paulista da OAB, Patrícia Vanzolini, explicou que a entidade considerou as declarações de Arthur do Val 'afrontosas ao Estado de Direito e à democracia'. "Consideramos que são falas muito ofensivas não só às mulheres, mas à cidadania, com um induzimento, ainda que implícito, ao turismo sexual, com a legitimação do abuso sexual contra pessoas em situação de vulnerabilidade econômica", afirmou ao Estadão.

Vanzolini defende uma atuação 'contundente' da OAB-SP no processo, para mostrar que a "sociedade civil como um todo está indignada, exige providências, reclama uma ação firme da Assembleia". Segundo a criminalista, a representação elaborada pela ordem, enquanto instituição, junto da assinatura conjunta das deputadas da casa legislativa, visa 'dar o recado' de que trata-se de uma pauta suprapartidária, da dignidade da pessoa humana.

"Acho que a OAB pode contribuir para estabelecer o mínimo civilizatório, o mínimo que deve ser comum do cidadão. Independentemente do partido político ou a qual ele com o qual ele simpatize. Eu acho que isso falta um pouco nesse momento. A gente estabelecer que há um piso mínimo de dignidade, de respeito", afirma.

Nessa linha, a advogada considera que a 'Marcha contra a Misoginia', que será realizada antes da entrega da representação, visa mostrar a posição do eleitorado, dando um peso ainda maior para o documento.

A presidente da seccional paulista da entidade máxima da advocacia afirma ainda que são examinados outros caminhos jurídicos para tratar do caso, mas ressalta que o 'importante é que fique claro que uma pessoa portadora de um mandato eletivo não pode impunemente expressar posições como essa, misóginas, preconceituosas e de grande crueldade, falta de empatia, falta de compreensão daquele momento'.

Entenda o caso

Em áudios que acabaram viralizando, Arthur do Val diz que mulheres ucranianas são "fáceis porque são pobres". O parlamentar viajou à Ucrânia, acompanhado do dirigente do Movimento Brasil Livre (MBL), Renan dos Santos, para relatar o conflito no leste europeu.

"Vou te dizer, são fáceis, porque elas são pobres. E aqui minha carta do Instagram, cheia de inscritos, funciona demais. Não peguei ninguém, mas eu colei em duas 'minas', em dois grupos de 'mina', e é inacreditável a facilidade", disse o integrante do Movimento Brasil Livre (MBL).

Como mostrou a Coluna do Estadão, os deputados estaduais Paulo Fiorilo, Emídio de Souza e José Américo, do PT, e a deputada Isa Penna, do PSOL, já acionaram o Conselho de Ética da Assembleia Legislativa de São Paulo contra o 'Mamãe Falei', por quebra de decoro parlamentar.

Neste domingo, 6, o Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral Estadual São Paulo(MCCE) também apresentou à Alesp pedido de cassação de Arthur do Val.

O Podemos instaurou processo disciplinar para apurar o caso e há a preocupação de como o episódio pode respingar sobre a pré-candidatura de Sérgio Moro. O presidenciável considerou as declarações 'incompatíveis com qualquer homem público'.

Após a repercussão sobre o episódio, Arthur do Val decidiu retirar sua pré-candidatura ao governo de São Paulo. Em vídeo publicado no Youtube, ele disse que suas falas foram 'escrotas' e 'machistas', atribuindo o áudio a um 'momento de empolgação'. "Eu estou sendo moleque. Essa não é a postura que as pessoas esperam de mim".

O deputado estadual Arthur do Val, o Mamãe Falei, prometeu se desfiliar do Podemos ainda nesta segunda-feira (7), de acordo com dirigentes do partido. O anúncio, de acordo com o senador Alvaro Dias (PR), líder da sigla no Senado, deve acontecer durante um discurso de Mamãe Falei na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp). A informação é do colunista Igor Gadelha, do Metrópoles.

A decisão estava prevista para o fim de semana, mas não aconteceu. O recuo do deputado vem após a repercussão de áudios sexistas gravados por ele, nos quais ofende mulheres ucranianas em situação de vulnerabilidade durante a guerra.

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Em mensagens enviadas aos colegas do Movimento Brasil Livre (MBL), Mamãe Falei disse que as ucranianas “são fáceis porque são pobres”. O parlamentar esteve na Eslováquia, que faz fronteira com a Ucrânia, para auxiliar os refugiados e retratar o conflito no leste europeu. “E aqui minha carta do Instagram, cheia de inscritos, funciona demais. Não peguei ninguém, mas eu colei em duas ‘minas’, em dois grupos de ‘mina’, e é inacreditável a facilidade.”

“Só vou falar uma coisa para vocês: acabei de cruzar a fronteira a pé aqui, da Ucrânia com a Eslováquia. Eu juro, nunca na minha vida vi nada parecido em termos de ‘mina’ bonita. A fila das refugiadas… Imagina uma fila sei lá, de 200 metros, só deusa. Sem noção, inacreditável, fora de série. Se pegar a fila da melhor balada do Brasil, na melhor época do ano, não chega aos pés da fila de refugiados aqui”, completou.

Arthur do Val assumiu a autoria dos áudios e tem entrado em uma rotina de redenção desde que a polêmica surgiu. No último sábado (5), Mamãe Falei pediu a retirada de sua pré-candidatura ao governo de São Paulo. O pedido foi feito à presidente nacional do Podemos, a deputada federal Renata Abreu (SP).

“Não tenho compromisso com o erro, por isso, entrei em contato com a presidente do Podemos, Renata Abreu, para retirar minha pré-candidatura ao governo de São Paulo”, declarou. A decisão foi divulgada nos perfis do deputado nas redes sociais.

Deputados representam contra Arthur do Val

No domingo (6), 15 deputados estaduais de diferentes partidos assinaram uma representação contra o também deputado Arthur do Val, recém protocolada na Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo) e endereçada ao Conselho de Ética da Casa. Na representação, parlamentares pedem que seja apurado o cometimento de ato de quebra de decoro parlamentar "com pedido sanção de cassação de mandato em decorrência de suas falas sexistas e misóginas contra as mulheres ucranianas, com especial ênfase a situação de vulnerabilidade em que se encontram devido ao conflito armado que ali ocorre".

A Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp) divulgou o edital do concurso público, na última sexta-feira (25), que visa o preenchimento de 118 vagas para nível médio e superior. As inscrições iniciam na próxima quinta-feira (3) e seguem até 14 de março. No ato de candidatura, realizada no site da Fundação para o Vestibular da Unespe (Vunesp), deve efetuar pagamento da taxa que varia entre R$ 62,40 até R$ 79,80. 

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O certame conta com prova objetiva e discursiva (redação) para todos os níveis de escolaridade, que está prevista para 1 de maio. Entre os cargos ofertados no processo seletivo estão técnico legislativo (edificações, telecomunicações, áudio e painel, entre outras), com vencimento de R$ 6.970,17, auditor interno, cujo salário é de R$ 11.421,92 e analista legislativo, com remuneração de R$ 11.421,92.

A investigação sobre a máfia das Organizações Sociais da Saúde encontrou anotações sobre supostos pagamentos ao advogado Devair José da Silva Junior, o Raposão, funcionário da prefeitura de Barueri, na Grande São Paulo. Em papéis apreendidos com integrantes da organização criminosa que teria desviado cerca de R$ 500 milhões da saúde foram achadas descrições de pagamentos de R$ 70 mil, R$ 50 mil e R$ 15 mil ao lado do nome Raposão.

Na época dos fatos, em 2019, Raposão trabalhava com o então secretário de Governo da cidade, Geraldo Vinholi, um ex-deputado estadual do PSDB, o que despertou a atenção dos investigadores da Operação Raio X. Vinholi foi flagrado mantendo contato com um suspeito de pertencer à organização criminosa liderada pelo médico Cleudson Garcia Montali. Vinholi pede ao alvo que entre em contato com o "advogado". Em outro telefonema, a secretária de Vinholi conversa com Cleudson. Ela diz que está ligando a pedido de Vinholi. Cleudson pergunta se ela tem WhatsApp e afirma que vai telefonar por meio do aplicativo.

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O grupo de Cleudson pretendia obter a ajuda de Vinholi para desqualificar um concorrente e obter a administração do Hospital Estadual Professor Carlos da Silva Lacaz, em Francisco Morato, na Grande São Paulo. Durante as interceptações telefônicas da Operação Raio X, Cleudson foi flagrado dezenas de outras vezes mantendo contatos com três deputados estaduais, dois deputados federais, prefeitos, vereadores e com o médico Cláudio Luís França Gomes, irmão do ex-governador de São Paulo Márcio França (PSB).

Os promotores apuram a suposta ligação do ex-governador com a organização liderada por Cleudson, condenado a penas que, somadas, chegam a 200 anos de prisão. Em outra frente da investigação, ela forneceu indícios para a busca feita no gabinete do governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), em razão de fraudes nos hospitais durante o combate à covid-19. Ao todo, o grupo criminoso manteria contratos fraudulentos com 27 municípios em quatro Estados - São Paulo, Pará, Paraíba e Paraná.

O Estadão procurou Geraldo Vinholi. Ele confirmou que trabalhava com Raposão, mas negou ter prestado qualquer auxílio à organização criminosa. Disse que nenhuma das entidades relacionadas ao grupo do médico Cleudson venceu o chamamento público para administrar o hospital estadual. Também afirmou desconhecer o teor das conversas mantidas por Raposão com suspeitos de integrar a quadrilha.

Inquérito

As citações a Raposão e a Vinholi fazem parte do evento 242 da investigação feita pela polícia, que resultou na Operação Raio X. Após a operação ter sido deflagrada, a apuração envolvendo Barueri - cidade administrada pelo PSDB - foi repassada à Delegacia Seccional de Carapicuíba, na Grande São Paulo. O Estadão apurou com a Polícia Civil e com o Ministério Público Estadual que o caso de Barueri é alvo de inquérito.

Em uma das ligações interceptadas pela Delegacia Seccional de Araçatuba, onde toda a operação se originou, Devair José da Silva Junior teria recebido uma mensagem na qual o grupo combinaria o pagamento de "350/mês" para a "primeira assinatura". A polícia quer verificar se a movimentação bancária de Raposão registra os supostos pagamentos identificados pela organização criminosa. A reportagem procurou Silva Junior na prefeitura de Barueri, mas não conseguiu localizá-lo.

A deputada estadual Isa Penna (PSOL-SP) revelou que, em um ataque direcionado a ela, sua família teve o endereço residencial vazado na internet, como forma de intimidação. A parlamentar é alvo de ameaças de morte e de estupro há alguns meses e vive uma rotina de medo, acompanhada por autoridades policiais. Em novo boletim de ocorrência, feito no último dia 1º, registrou ameaças recebidas na semana passada. Para sua segurança, a agenda pública da deputada será suspensa, com algumas atividades realizadas sob sigilo. A informação é da Folha de S. Paulo. 

As ameaças foram comunicadas ao Conselho Nacional de Direitos Humanos. O gabinete de Isa Penna ainda entrou com um pedido de proteção parlamentar na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) e tem adotado medidas de segurança recomendadas pela ONG Terra de Direitos, especializada em atendimento e assistência a defensores de direitos humanos.  

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Esses ataques têm como origem fóruns on-line que sobrevivem de conteúdo misógino e criminoso, além de estarem associados à extrema direita. Penna, além de socialista, é ativista por causas de minorias que geralmente se chocam com os interesses do espectro político oposto. 

"Evidências indicam que, possivelmente, o agressor tem contato com grupos extremistas que participam de fóruns misóginos criminosos na internet", afirma, em nota, o mandato de Penna. Segundo a defesa de Penna, o remetente é o mesmo usado para fazer ameaças racistas contra o ator e atual participante do Big Brother Brasil, Douglas Silva. Desde então, os advogados de Penna e Silva estão em contato para apurar se há outras evidências em comum. 

Nas redes sociais, Isa Penna relatou que está se acostumando com a situação e que já encara as ameaças com frieza. "A gente vai até se desumanizando um pouco. Mas sempre deixo muito claro que não tem nenhuma menina inocente aqui e que não saiba fazer política", afirmou na semana passada. 

"Ser mulher no Brasil é perigoso. Inclusive, eu me preparo para esse tipo de momento. Fica uma sensação ruim, e me concentro nos protocolos de segurança para não ser pega desprevenida", completou. 

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Após insultar a comunidade católica no Brasil e até o Papa Francisco no plenário da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), o deputado Frederico d'Avila (PSL) pediu desculpas. Em comunicado, o parlamentar escreveu que cometeu um "excesso" quando xingou os religiosos de 'pedófilos', 'vagabundos' e 'safados'.

Na carta divulgada na segunda (18), Frederico justificou que seu ataque foi "inflamado por problemas havidos nos dias anteriores". O integrante da base bolsonarista ainda pediu perdão "a todos os católicos do Brasil e do mundo" por ofender diretamente o Papa Francisco.

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"Não tive a intenção de desrespeitar o Papa Francisco, líder sacrossanto e chefe de Estado, minha fala foi no sentido de divergir sobre ideias e posicionamento, tão só", defendeu-se.

LeiaJá também: CNBB cobra reparação após ataques de deputado bolsonarista 

Apesar do tom conciliador, o parlamentar não poupou críticas ao arcebispo do Santuário de Nossa Senhora Aparecida, Dom Orlando Brandes. "Meu pronunciamento, que admito ter sido inapropriado e exagerado pelo calor do momento, se deu em resposta a alguns líderes religiosos que ultrapassam os limites da propagação da fé e da espiritualidade para fazer proselitismo político. Reitero que desculpo-me pelas palavras e exagero", pontuou ao condenar a fala do religioso na celebração do último dia 12, quando afirmou que "pátria amada, não pode ser pátria armada".

Em virtude do pronunciamento revoltoso do deputado, o colega de casa Raul Marcelo de Souza (Psol) pediu a instauração de sindicância ao conselho de Ética da Alesp por quebra de decoro parlamentar.

Em sua solicitação, o denunciante cobra a cassação do mandato de Frederico e indica que ele 'merece, e precisa, sofrer a devida punição, inclusive para que esta Casa continue sendo referência de civilidade e democracia".

A Assembleia Legislativa de São Paulo deu, nessa segunda-feira (4), mais um passo para abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito que vai investigar supostos crimes da Prevent Senior em meio à pandemia da Covid-19. Em uma reunião fechada, líderes dos partidos decidiram marcar para esta quarta (6) a votação do regime de urgência na tramitação do pedido de abertura da CPI, que pode acelerar o andamento da pauta. Por sua vez, a Câmara Municipal definiu integrantes de sua comissão deve instalar a sua CPI da Prevent Senior na quinta.

Assim como na CPI da Covid no Senado, na Alesp parlamentares bolsonaristas se articulam para obstruir a criação do colegiado, mas, como estão em minoria, a estratégia não deve surtir efeito. Usualmente, a abertura de CPI dependeria da análise de duas comissões da Casa, além da votação em plenário. Com a aprovação do regime de urgência, a análise das comissões será unificada em uma única sessão.

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Comissão

Após a aprovação, caberá aos líderes das legendas a indicação, em até 15 dias, dos integrantes da comissão. Como mostrou o Estadão, PT e PSDB se uniram em torno da criação do colegiado. Autor do projeto de criação da CPI, o deputado petista Paulo Fiorilo deve assumir a presidência ou a relatoria do colegiado.

Na reunião ontem, bolsonaristas anteciparam que vão tentar obstruir a votação. No entanto, parlamentares do governo e da oposição acreditam que a estratégia não deve prosperar. "Eles têm uma tese que a gente discorda, de apoio a procedimentos que não foram reconhecidos pela ciência e que para a gente não faz sentido, e que foram adotados por esse hospital que pode ter colocado em risco muita gente", disse ao Estadão o líder do governo na Casa, Vinícius Camarinha, do PSB.

O presidente da Alesp, Carlão Pignatari (PSDB), disse nas redes sociais que não vai "permitir que a CPI seja usada como palco político por nenhum partido".

Vereadores

Na Câmara Municipal, a CPI deve ser instalada amanhã. Presidido pelo vereador Antonio Donato (PT), autor do requerimento de abertura, o colegiado já teve os cinco membros titulares definidos. Segundo Donato, os trabalhos, que devem ter o roteiro definido na quinta, partirão de questões municipais, como a regularidade de prédios da operadora e informações da Secretaria Municipal de Saúde sobre a notificação de óbitos de pacientes por Covid-19 pela rede. 

Em campos distintos na política nacional e paulista, o PSDB e o PT se uniram em apoio à criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar a operadora de planos de saúde Prevent Senior na Assembleia Legislativa de São Paulo. O deputado Paulo Fiorilo (PT) reuniu, nessa segunda-feira (27), 40 assinaturas de parlamentar favoráveis - oito a mais do que o mínimo necessário. Na bancada tucana, base do governador João Doria, quatro dos nove integrantes declararam apoio à instalação da comissão.

A operadora paulista já é alvo da CPI da Covid, no Senado, sob suspeita de submeter pacientes a experiências com o "kit covid" - composto por medicamentos comprovadamente ineficazes contra a doença -, sem conhecimento de familiares. Um dossiê elaborado por ex-funcionário da Prevent Senior, entregue à CPI, apontou inclusive atestados de óbitos fraudados de forma a omitir mortes pela doença. O estudo teria sido fraudado, para induzir à ideia de que o tratamento, defendido pelo presidente Jair Bolsonaro, funciona. A empresa nega as acusações e se diz alvo de difamação.

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A avaliação reservada entre os deputados estaduais é que, a exemplo da comissão no Senado, a CPI na Alesp tem potencial para desgastar Bolsonaro, adversário tanto de Doria quanto dos petistas. Os dez parlamentares bolsonaristas na casa estão isolados e sem força para barrar a iniciativa.

Com as assinaturas necessárias, a instalação da CPI da Assembleia precisa ainda ser aprovada em plenário por meio de um projeto de resolução para mudar o regimento, já que existem cinco CPIs em andamento, o número máximo previsto.

"Eu vejo clima para a aprovação em plenário. Acredito que a CPI tem apoio na esquerda e na direita, na base do governo paulista e também na oposição", disse ao Estadão o deputado Carlos Pignatari (PSDB), presidente da Assembleia. Ele acrescentou considerar as denúncias contra a operadora de saúde "muito graves".

Pignatari afirmou que determinaria a publicação do pedido de CPI no Diário Oficial de hoje. Segundo ele, o requerimento vai tramitar na Casa com a urgência que o tema exige.

A denúncia levada pelos médicos à CPI do Senado afirma que, no ano passado, após críticas do ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta a subnotificações de mortes de pacientes e ao atendimento da Prevent Senior a idosos, a diretoria da operadora "fez um pacto com o gabinete paralelo para livrar a empresa das críticas". O próprio Bolsonaro chegou a fazer postagens citando o suposto estudo da Prevent como comprovação de que o chamado "tratamento precoce" era eficaz.

Apesar de a denúncia citar Bolsonaro, o autor da proposta de CPI na Alesp nega que o presidente seja o foco da comissão estadual. "Não foi o Bolsonaro que uniu os dois lados para essa comissão, mas o crime grave que pode ter sido cometido", afirmou Fiorilo.

Na justificativa registrada no pedido, o deputado do PT afirma que a Prevent Senior tem atendimento no Estado e na cidade de São Paulo e alegou que a empresa teria submetido pacientes a tratamentos experimentais contra covid-19 sem o consentimento deles e sem autorização dos órgãos competentes. "Além disso, existem fortes indícios que a empresa teria fraudado os resultados de um estudo sobre uso da hidroxicloroquina no tratamento da doença, além de omitir mortes de pacientes ao longo desse experimento", diz Fiorilo.

Apoio

Com nove deputados, a bancada do PSDB foi orientada pela liderança do governo a assinar o pedido. "A bancada do PSDB está extremamente sensibilizada com as revelações da CPI do Senado em relação à Prevent Senior. E os parlamentares têm o dever de buscar a verdade sobre as condutas da empresa em São Paulo, onde está o maior número de vítimas da pandemia. Por isso, o apoio à instalação da Comissão", afirmou a deputada Carla Morando (PSDB).

Em mais um gesto ao eleitorado bolsonarista, a deputada Janaína Paschoal (PSL) se disse contra a CPI. "Não vejo motivo para CPI sobre esse tema, na Alesp. Já há uma CPI, acompanhada por todos, abordando a questão e o MP já disse que vai apurar. Nem as CPIs já aprovadas foram instaladas, como as da Dersa e a da isenção fiscal", disse a parlamentar.

Na noite deste domingo (26) o deputado estadual Paulo Fiorilo (PT-SP) usou as redes sociais para anunciar ter colhido 33 assinaturas de colegas parlamentares no intuito de protocolar um pedido de abertura de CPI da operadora de saúde Prevent Senior, que tem unidades em São Paulo.

As assinaturas serão encaminhadas para a Assembleia Legislativa do Estado (Alesp). “Alcançamos 33 assinaturas para a CPI da Prevent Senior. Agora vamos protocolar o pedido e aguardar a mesa da Alesp se manifestar. É preciso apurar as irregularidades e punir os culpados”, postou Fiorilo, no Twitter.

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Para que a comissão seja instaurada, é preciso que o presidente da Alesp, o deputado Carlos Pignatari (PSDB-SP), crie um ato para investigar o fato solicitado. Caso aberta, a apuração da CPI pode ser feita em até 120 dias, com possibilidade de prorrogação por mais 60, desde que seja consenso entre os membros da comissão.

A Prevent já foi denunciada à CPI da Covid-19 no Senado na semana passada, após um dossiê elaborado por funcionários e ex-funcionários da empresa apontar o suposto uso de remédios sem eficácia científica comprovada contra a doença em hospitais da rede. Além disso, também há suspeitas de que a operadora usou pacientes como cobaias em estudos e fraudou dados de mortes pelo novo coronavírus.

O diretor-executivo da empresa, Pedro Benedito Batista Júnior, disse, durante sua oitiva à CPI, que as acusações feitas no dossiê são “inconsistentes”. No entanto, admitiu procedimentos na empresa que reforçam a veracidade das denúncias, a exemplo de alterações nos prontuários dos pacientes. Prevent Senior e o governo Jair Bolsonaro

De acordo com os documentos elaborados por médicos e ex-médicos da operadora de saúde, a Prevent Senior iniciou, em 25 de março de 2020, um estudo para avaliar a eficácia da hidroxicloroquina e da azitromicina contra a Covid-19. Nesta mesma data, o então ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, chegou a anunciar a distribuição da cloroquina como um tipo de terapia auxiliar para pacientes hospitalizados em estado grave.

Os resultados do estudo foram divulgados em um site de pré-prints - estudos não revisados por outros cientistas - em 20 de abril. E, embora o conteúdo publicado tenha apontado apenas duas mortes entre os que receberam o “kit covid”, uma planilha entregue aos senadores da CPI da Covid aponta nove óbitos. Em entrevista ao jornal Folha de São Paulo, o presidente-executivo da Prevent, Fernando Parrillo, negou que os dados compilados tratavam-se de um estudo científico, mas sim "um acompanhamento observacional de pacientes”.

“Não foi usado placebo nem duplo cego, não foi randomizado, como se deve fazer em trabalhos desse tipo. Não faria sentido fazer uma pesquisa no meio da pandemia. Somos uma empresa privada, paga para salvar vidas”, disse.

Apesar disso, os dados foram usados politicamente pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), e por seus filhos também, no dia 18 de abril de 2020, para defender o uso dos remédios. Segundo o dossiê, o suposto estudo foi parte de um acordo da empresa com o chefe do Executivo para disseminar as substâncias ineficazes. A empresa nega qualquer ligação com o mandatário.

O governador João Doria (PSDB) deve receber nesta semana o Projeto de Lei 624/2020, que cria o Código Paulista de Defesa da Mulher. A Assembleia Legislativa de São Paulo aprovou o projeto no último dia 17. O texto, de autoria do deputado estadual Thiago Auricchio (PL), sistematiza em um único documento 65 leis relacionadas ao tema produzidas em mais de 50 anos.

A iniciativa é inédita no País e a aprovação do projeto na Assembleia paulista ocorre em um contexto de crescimento da violência contra as mulheres. Estudo divulgado neste mês pela Confederação Nacional dos Municípios (CNM) mostra que em 20,3% das cidades brasileiras houve aumento de casos de agressão e abusos desde o início da pandemia de Covid-19.

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"O código chega em uma época difícil da nossa história por conta da pandemia, quando os casos de violência contra a mulher aumentaram muito por causa do convívio em casa", afirma Auricchio ao jornal O Estado de S. Paulo.

No plenário da Assembleia, o texto original recebeu quatro emendas e teve de voltar à Comissão de Constituição, Justiça e Redação da Casa, onde foi aprovado. A versão final ficou com 165 artigos. Nesta semana, o projeto de lei será enviado para sanção ou veto de Doria.

Apenas dois parlamentares foram contra a criação do código: Janaina Paschoal (PSL) e Gil Diniz (sem partido). Segundo a deputada, o posicionamento contrário veio pelo entendimento de que não se pode fazer uma lei a partir da união de outras.

Na avaliação de Auricchio, a proposta não deve enfrentar resistências no Palácio dos Bandeirantes. "Pela relevância do tema e por ser um compilado, sem nada novo no ordenamento jurídico do Estado, acredito que não haverá veto."

Além do combate à violência, o código reúne leis que tratam de políticas públicas e de promoção à saúde da mulher e de regras que visam combater a discriminação de gênero. Entre os destaques, estão normas que dão à mulher a prioridade na titularidade de imóveis de programas habitacionais do Estado e que asseguram o atendimento prioritário às grávidas em serviços públicos, por exemplo.

O texto reúne também 18 datas comemorativas, como o Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, celebrado em 25 de julho, e o Dia da Prevenção ao Feminicídio, em 25 de novembro.

Direitos

De acordo com Auricchio, assim como foi com a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), o código deve facilitar o acesso das mulheres aos seus direitos e a aplicação das regras. "Acredito que a aplicação da legislação vai ficar muito mais fácil e garantidora."

Para a delegada Rosmary Corrêa, vice-presidente do Conselho Estadual da Condição Feminina, o código tende a aumentar a eficácia na aplicação das leis de proteção às mulheres. "O efeito imediato que ele pode trazer, é que se reforce a aplicação das leis antigas, muitas esquecidas. A divulgação fará com que a legislação seja recordada e as leis aplicadas na sua integralidade", afirmou.

Na avaliação da promotora Fabíola Sucasas Negrão Covas, que é integrante da Comissão de Defesa dos Direitos Fundamentais, do Ministério Público, a proposta de sistematização das regras no Código Paulista de Defesa da Mulher é "bem-vinda", uma vez que leis como a Maria da Penha sofrem mudanças ao longo do tempo e acabam se tornando, segundo ela, uma "colcha de retalhos".

"Isso prejudica que tenhamos uma visão mais uniforme sobre os direitos garantidos, com uma interpretação que não se perca nos vários dispositivos previstos", disse Fabíola.

No entanto, observou, para ter maior relevância "na ponta", o projeto de lei poderia ir além, e "criar uma política estadual de igualdade de gênero e a garantia de orçamento para sua execução".

Vítima de importunação sexual no plenário da Assembleia pelo colega Fernando Cury (Cidadania), em dezembro do ano passado, a deputada Isa Penna (PSOL) afirmou que a iniciativa faz parte de um movimento da Casa para tentar recuperar sua imagem.

"Mais importante do que aquilo que se aprova no papel, é quando a instituição é colocada à prova na prática e precisa mostrar a sua coerência", disse Isa, que criticou a punição aplicada a Cury (suspensão por 180). Para Auricchio, as duas questões são independentes, já que a pauta é anterior ao caso de assédio sofrido pela parlamentar. 

A Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) aprovou nesta quarta-feira, 23, uma autorização para que o governo João Doria (PSDB) contrate empréstimos no total de R$ 8,8 bilhões com instituições financeiras nacionais e internacionais. O mesmo projeto também cria a Loteria Estadual e permite a venda de imóveis do governo. O placar teve 53 votos a favor 20 contra, e agora segue para a sanção do governador.

O valor aprovado é equivalente a cerca de 3,5% do orçamento estadual, o que significa um dos maiores impactos em investimento aprovados na Assembleia desde o início do governo Doria. O valor será destinado a diversas obras de infraestrutura, à Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) e ao programa São Paulo Mais Digital. Aprovado em regime de urgência, o projeto tramitou no Legislativo estadual por duas semanas.

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O projeto teve apoio da bancada do PT, que faz oposição a Doria, após um acordo para aprovar emendas da deputada Professora Bebel, que trazem mais transparência aos gastos com os empréstimos. A manobra gerou protestos de parlamentares contrários ao projeto, especialmente aqueles que fazem oposição ao governador pela direita.

"A nossa oposição é ao governo Doria, mas o projeto trata de investimento em projetos sociais", justificou a deputada Bebel, que rebateu críticas da deputada Janaína Paschoal (PSL) contra o partido. Janaína, assim como outros deputados do PSL e do Novo, tentaram obstruir a sessão para que a base do governo não tivesse quórum suficiente para aprovar a medida, mas não conseguiram. "O PT lamentavelmente é alvo de deputados que deveriam cuidar de seus próprios partidos."

A maior fatia dos empréstimos, no valor de R$ 5 bilhões, seria destinada a projetos de mobilidade urbana, infraestrutura em saúde, educação, segurança pública, obras de drenagem para enchentes, habitação e sustentabilidade. Há ainda R$ 2,5 bilhões para viabilizar dois programas da Sabesp - inclusive o plano de investimentos da companhia - e outro R$ 1,3 bilhão destinado ao programa São Paulo Mais Digital, que visa reformar plataformas online do governo.

Emendas

A oposição acusava o projeto de falta de transparência, especialmente na parte dedicada às obras de infraestrutura, que devem receber R$ 5 bilhões. As emendas aprovadas obrigam o governo estadual a apresentar relatórios à Alesp a cada semestre com uma prestação detalhada de contas de toda dívida externa contraída pelo governo estadual. Além disso, o governo fica obrigado a publicar no Diário Oficial cada operação de crédito feita com os empréstimos.

O relator do projeto, deputado Alex de Madureira (PSD), disse que o momento de preocupação com os efeitos da pandemia nas contas públicas passou, e que agora o governo têm fôlego para reiniciar investimentos.

"Mudou o momento, tanto é que a intenção desse projeto agora é girar a economia porque, de forma geral, estamos com a situação econômica controlada", disse Madureira. "Entendemos ser importante a geração de emprego e renda aqui no Estado, que se injete esse dinheiro na economia, na realização de obras."

Já uma parte da oposição se declarou contra o projeto por causa da falta de detalhamento. O governo enviou um documento com alguns planos para a aplicação do dinheiro, mas alguns parlamentares acharam insuficiente. "Já votei muitos empréstimos como parlamentar, sempre debatendo, mas nenhum empréstimo tinha esse tipo de teor, sem projeto, sem conteúdo, é a primeira vez que isso acontece", disse o deputado Carlos Giannazi (PSOL). "Me parece que o governo se aproveita da situação da pandemia, estamos aqui no sistema online, a Assembleia trabalhando de forma muito precária, e vão passando os projetos."

Além de defender duas emendas apresentadas pela oposição, líder do governo na Alesp, deputado Vinícius Camarinha (PSB), leu durante a sessão uma lista com as áreas em que o governo pretende os R$ 5 bilhões destinados à infraestrutura. A lista não foi incluída no projeto, portanto não tem caráter oficial.

Confira as áreas em que o governo pretende investir com os empréstimos:

- R$ 800 milhões: Rodovia dos Tamoios

- R$ 1 bilhão: programa de recuperação de estradas vicinais

- R$ 940 milhões: recuperação e melhoria de rodovias

- R$ 1,2 bilhões: Linha 6 do Metrô

- R$ 500 milhões: construção de casas populares

- R$ 200 milhões: reservatórios de contenção contra enchentes

- R$ 500 milhões: barragens

- R$ 60 milhões: obras de apoio a Unidades Báscias de Saúde

- R$ 100 milhões: reforma de delegacias

- R$ 150 milhões: infraestrutura de escolas

A Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) pode votar, nesta quarta-feira (28), um projeto de lei que proíbe propagandas que tenham alusão a orientações sexuais e a movimentos pela diversidade sexual relacionados a crianças e adolescentes. A proposta é combatida pela oposição, com apoio de parte da base governista, e gerou reações negativas de empresas, movimentos sociais e entidades da sociedade civil.

Grandes marcas como Coca-Cola, Avon, Natura, Uber, Mercado Livre e O Boticário, entre outras, divulgaram posicionamentos em prol da diversidade e contra o projeto, defendido por parlamentares ligados a pautas religiosas. Os opositores manobram para aprovar uma emenda que pode tirar a proposta do plenário.

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De autoria da deputada Marta Costa (PSD), o texto em discussão proíbe "a publicidade, por intermédio de qualquer veículo de comunicação e mídia, que contenha alusão a gênero e orientação sexual, ou a movimentos sobre diversidade sexual relacionados a crianças e adolescentes".

A justificativa apresentada pela deputada é "limitar a veiculação da publicidade que incentive o consumidor" a "práticas danosas". As punições previstas são multa e o fechamento da empresa que violar a regra. Protocolado no ano passado, o projeto entrou em regime de urgência há duas semanas.

Desde o início desta legislatura, há dois anos, as pautas de costumes têm marcado os debates mais acalorados na Casa. O mais recente foi sobre importunação sexual, após a deputada Isa Penna (PSOL) ter o seio tocado pelo colega Fernando Cury (Cidadania) no plenário, durante sessão. Cury teve o mandato suspenso por seis meses, em decisão inédita na Alesp.

Na análise pela instância que reúne várias comissões da Casa - o Congresso de Comissões -, a proposta de Marta Costa foi aprovada pela maioria com apoio de deputados que não integram a bancada religiosa. Parlamentares de PSDB, PSL, PP, Republicanos e Podemos deram o aval para o texto avançar para a discussão no plenário.

A oposição deve protocolar hoje emenda para alterar o teor do projeto. Em vez de proibir propaganda com alusão à diversidade sexual, o texto alternativo propõe vetar "material que contenha alusão a drogas, sexo e violências explícitas relacionada a crianças". A emenda será apresentada pela deputada Érica Malunguinho (PSOL), que diz já ter mais do que as 19 assinaturas necessárias. Se tiver sucesso, o projeto volta à fase de análise nas comissões.

A oposição considera o texto inconstitucional, pois discriminaria a comunidade LGBTQI+, colocando-a como "mau exemplo". "Esse projeto é um estímulo ao preconceito", disse o deputado Emídio de Souza (PT), que foi voto vencido no Congresso de Comissões.

A liderança do governo decidiu deixar cada bancada debater internamente sua posição. Há duas semanas no cargo de líder, Vinícius Camarinha (PSB) afirmou que o governo só vai se pronunciar caso o projeto seja aprovado. Procurada, Marta Costa não se manifestou.

Embora a pauta de respeito aos direitos LGBT+ tenha finalmente entrado em debate, e passado por um processo de conscientização e empoderamento, os deputados de São Paulo podem proibir a participação deste público em publicidades do governo por achar que a representação é inadequada. A proibição está prevista no polêmico Projeto de Lei (PL) 504/2020, que será votado na Assembleia Legislativa do estado (Alesp) nesta terça-feira (20).

De autoria da deputada estadual Marta Costa (PSD), o PL pretende proibir que qualquer veículo ou mídia relacionada ao Governo de São Paulo contenha alusão a preferências sexuais e movimentos sobre diversidade sexual relacionados a crianças. Tal proposta reforça a cultura discriminatória e supõe que o contato com os menores causaria práticas danosas.

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Contra a votação e o entendimento retrógrado que a proposta carrega, representantes do campo considerado progressista criticaram duramente o PL 504/20 e fizeram campanha nas redes sociais com a hashtag #AbaixoPL504 para pressionar a Casa.

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Em março, o Conselho de Ética da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) sugeriu uma punição atenuada ao deputado Fernando Cury (Cidadania) pela importunação sexual contra a colega Isa Penna (PSOL). A decisão do colegiado, formado por oito homens e só uma mulher, acabou revertida em plenário - que aprovou um prazo maior, de seis meses, para o afastamento de Cury.

A reportagem conversou com a deputada Isa Penna logo após a votação no Conselho de Ética. Na ocasião, a deputada disse 'não ter dúvidas' de que a composição da comissão, majoritariamente masculina, influenciou a deliberação.

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Desde então, a própria Isa, ao lado da deputada federal Talíria Petrone (PSOL-RJ), lidera uma campanha nacional do PSOL pela paridade de gênero em Conselhos de Ética do Poder Legislativo. Os órgãos são responsáveis por cuidar do procedimento disciplinar que vai definir a aplicação de penalidades em casos de descumprimento das normas relativas ao decoro parlamentar.

Nesta sexta-feira, 9, as duas apresentam projetos de resolução para estabelecer a obrigatoriedade da paridade de gênero na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo e no Congresso Nacional. Em paralelo, articulam com outros parlamentares do PSOL para que também apresentem propostas semelhantes em suas respectivas Casas Legislativas.

Até aqui, a campanha teve adesão nas Assembleia do Rio de Janeiro, Bahia, Ceará e Distrito Federal e nas Câmaras de Salvador (BA), Rio de Janeiro (RJ), Niterói (RJ), São Paulo (SP), Santo André (SP), São Carlos (SP), Mogi das Cruzes (SP), Guarulhos (SP), Recife (PE), Natal (RN) e Aracaju (SE).

Na justificativa do projeto, Isa Penna explica que a ideia é reforçar a participação das mulheres nos espaços políticos institucionais e, ao mesmo tempo, melhor o desempenho das Casas Legislativas no acolhimento e tratamento de denúncias especialmente relacionadas à quebra de decoro parlamentar em decorrência de violência de gênero.

"No Brasil, apesar do artigo 5o, inciso I, do Texto Constitucional estabelecer a igualdade entre homens e mulheres, a realidade da vida pública e política passa ao largo disso. Há uma enorme dificuldade das mulheres acessarem os espaços políticos dos Poderes e quando o acessam enfrentam barreiras de exclusão e de violência de gênero constante - como perseguições, desacreditamento, assédio moral e sexual", escreve a deputada.

O padre José Afonso Lobato (PV), de 61 anos, deixou a sua paróquia em Pindamonhangaba, no interior paulista, nesta sexta-feira (9), e foi dirigindo até a capital para tomar posse na Assembleia Legislativa de São Paulo. Ele é o suplente do deputado estadual Fernando Cury (Cidadania), afastado do cargo por 180 como punição por ter apalpado o seio da colega Isa Penna (PSOL) no plenário em dezembro do ano passado. Resultado brando, segundo Lobato.

"Ficou barato para ele o afastamento de 180 dias. Tenho cuidado ao dizer isso porque sou parte interessada, mas a pena deveria ser maior", afirmou. O padre disse ainda que Cury foi extremamente infeliz ao cometer o que considerou "um crime" contra a deputada do PSOL.

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O caso segue em investigação na Justiça. O procurador-geral de São Paulo, Mario Luiz Sarrubbo já ofereceu denúncia contra Cury. Segundo Sarrubbo, o deputado "agiu com clara intenção de satisfazer sua lascívia, praticando atos que transcenderam o mero carinho ou gentileza, até porque não tinha nenhuma amizade, proximidade ou intimidade com a vítima, violando assim, também, o seu dever funcional de exercer o mandato com dignidade", diz um trecho da denúncia, por ato libidinoso sem consentimento, cuja pena é de até cinco anos de reclusão.

Para Lobato, a Casa errou na avaliação do caso. "Houve um acordão no Conselho de Ética, mas depois voltaram ao parecer do Emídio (Souza, PT, relator do caso). Tanta discussão e desgaste para voltarem aonde começou. Se tivessem acolhido o parecer do relator, teriam matado essa questão no conselho. Ele (Cury) expôs a Assembleia", afirmou.

Afonso Lobato disse ainda que não sabe se vai manter parte da equipe do antecessor. "Preciso de gente que saiba o trâmite da Casa nesse mandato curto." Com a pena ampliada para 180 dias, o deputado do Cidadania perde direito a salário e manutenção das atividades do gabinete no período da suspensão.

Prioridades

Aliado e amigo do ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB), que começou a carreira como vereador na mesma cidade, Lobato mora na vizinha Taubaté, onde disputou duas vezes, sem sucesso, o cargo de prefeito. Na Alesp, no entanto, o religioso já cumpriu quatro mandatos consecutivos e, atualmente, é suplente de Cury.

Filiado ao PV, Lobato volta ao Parlamento com um discurso moderado em relação ao Palácio dos Bandeirantes e decidido a usar cada segundo do "mandato-tampão" para atender demandas do Vale do Paraíba. Entre elas está a abertura de um laboratório médico de especialidades em Taubaté , que, segundo ele, "está pronto, mas não inauguram", além da ampliação de leitos na região.

"O Vale do Paraíba tem pouca representatividade. Estou levando uma demanda. Se encontrar acolhida no governo, vamos trabalhar juntos. Se não, vou batendo até ser acolhida. Não vou com rótulo de situação nem oposição. Vou representar minha região". Em 2018, Lobato apoiou a candidatura de Márcio França (PSB) contra João Doria (PSDB), que venceu a eleição.

Após quase quatro meses de tensão, a deputada Isa Penna (PSOL) conta que teve sua primeira noite de sono tranquilo, ontem, depois da aprovação unânime da suspensão de 180 dias de seu colega Fernando Cury (Cidadania) por importunação sexual. Mais do que a vitória no plenário da Assembleia Legislativa de São Paulo - a punição original, definida pelo Conselho de Ética da Casa, era inferior a quatro meses - Isa comemorou a decisão como um marco, capaz de "abrir um precedente" para outras mulheres vítimas de assédio.

Desde o momento em que ela foi tocada na lateral dos seios por Cury, em dezembro, durante sessão transmitida ao vivo pela TV da Alesp, Isa cobrou a cassação do parlamentar. Mesmo sem alcançar esse objetivo, ela já mira adiante e quer aproveitar a grande repercussão do caso. Na próxima segunda-feira, por meio bancada do PSOL na Câmara, a parlamentar participa da apresentação de um projeto de lei para garantir a paridade de gênero e raça nos Conselhos de Ética das casas legislativas do País.

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Não é por acaso. Foi no conselho da Alesp que Isa enfrentou as maiores resistências ao longo do processo. O passo seguinte (e ela não esconde a ambição de alçar voos mais altos na política) é lutar pela aprovação de uma lei que tipifique o crime de assédio. O projeto que ela menciona é, a seu ver, a primeira medida "de um pacote contra a cultura do estupro" no Brasil. "Já há elementos para construir uma lei que criminalize o assédio. Essa é a minha próxima missão." O Estadão procurou Cury, mas ele preferiu não se manifestar. A seguir, os principais trechos da conversa com Isa Penna:

A sra. disse, na sessão de anteontem, sentir-se exaurida. Como foram esses 113 dias desde o episódio de 16 de dezembro?

 

Acho que esses meses foram os piores da minha vida. Porque era uma sensação de sobressalto. Em todas as reuniões eles tentaram obstar o nosso avanço. Eu tive que me impor. A força que busquei foi muito nas mulheres que me cercam. Aí entram as mulheres do 342 Artes, as do Vote Nelas (entidades que organizaram uma campanha pública pela cassação de Cury). Mas a sensação foi de humilhação recorrente, de exposição absoluta, de tentativa de me fazer assinar embaixo, no papel da feminista histérica que queria destruir a vida do Fernando Cury. É difícil. Sou uma mulher que estudou muito a luta feminista, conheci a Marielle Franco. Nada para as mulheres veio sem luta. Muitas morreram sem ter nem essa vitória.

Em mais de uma ocasião nesses quatro meses a senhora disse que foi "revitimizada". Pode dar exemplos?

 

Eu já fui procurada por algumas instâncias que querem levar esse caso como demonstrativo da violência política institucional de gênero. A diferença é que é um processo político, então tudo está sempre em disputa. Essa violência toda não foi uma tentativa contra a Isa. Foi uma violência contra a presença das mulheres na política e nos espaços de poder. Não acho que fui revitimizada, acho que fui vítima de uma sequência de episódios de assédio. Me refiro especificamente aos deputados no Conselho de Ética, em especial o Wellington Moura (do Republicanos, que elaborou a proposta de punição de 119 dias).

A sra. disse, desde o início, que queria a cassação de Cury. Vai manter essa luta?

 

A bola, nesse caso, não está mais na minha mão. Os próximos passos são aguardar o Ministério Público, a conclusão da expulsão dele de seu partido, o Cidadania, aguardar o mandado de segurança. Acima de tudo, a minha luta é contra esse sistema.

Esse resultado pode ter um significado na política brasileira?

 

A vitória de ontem (anteontem) é, em primeiro lugar, um marco para as mulheres como um todo, que em seus ambientes de trabalho vão poder usar esse caso como precedente. Dois, é um marco para a democracia. É o Estado, parte dele, na maior casa legislativa da América Latina, reconhecendo que existe uma violência política que é de gênero - e isso, por si só, é uma validação do nosso discurso pelo Estado brasileiro. Um marco para dentro do Parlamento e para os assediadores. Eu não quero o mal da família do Cury nem compactuo com práticas de violência ou linchamento contra a família dele. Acho que ele tem que pagar pelo que ele fez e se rever como homem.

Do ponto de vista legal e jurídico, o que acha que deveria mudar no País?

 

Tem duas dimensões importantes. A primeira, do ponto de vista interno das casas legislativas: nesta segunda-feira a gente já vai protocolar no Congresso Nacional e em todos os parlamentos do Brasil uma proposta, a primeira medida de um pacote contra a cultura do estupro. Essa primeira medida é pela paridade nos conselhos de ética. Isso é muito importante, a gente tem que almejar a paridade entre pessoas não brancas e brancas, entre pessoas não cis e cis.

E a segunda dimensão?

 

É a respeito do texto criminal. Sempre pensei em sair para deputada estadual, mas o quanto que eu não tenho que estar em âmbito nacional, porque a gente precisa mudar. Assim como tem a lei do feminicídio, a gente precisa também ter uma lei que tipifique o assédio. Já temos padrões de comportamento sobre como o assédio se desenvolve no Brasil, sobre como a encoxada acontece no transporte público. Vamos tipificar a encoxada, ela é crime. O que quero dizer é que já há elementos para construir uma lei que criminalize o assédio no Brasil. Nesse momento, essa é a minha próxima missão. Mas não sozinha. O meu caso é só a ponta do iceberg. Porque a gente está falando da violência que vem dos espaços de poder. Isso, no Brasil é absolutamente recorrente.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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