Bagdá respondeu oficialmente, nesta quarta-feira (30), à ameaça de Washington de fechar sua embaixada em razão da multiplicação de ataques contra os interesses americanos no Iraque, denunciando uma medida "perigosa" e tentando tranquilizar outros países ocidentais.
O secretário de Estado dos Estados Unidos, Mike Pompeo, deu um ultimato ao Iraque na semana passada: ou os ataques param - especialmente o lançamento de foguetes contra sua embaixada em Bagdá -, ou Washington fechará sua embaixada e repatriará seus 3.000 soldados e seus diplomatas.
A retirada americana poderia significar o fim da coalizão antijihadista, enquanto o grupo do Estado Islâmico (EI) permanece uma ameaça, segundo temem diplomatas em Bagdá.
O ministro das Relações Exteriores do Iraque, Fuad Hussein, enfatizou que teme que "uma retirada dos EUA possa levar à de outros países" também engajados na luta contra o EI.
Isso seria "perigoso, já que o EI ameaça o Iraque, mas também toda a região", completa o chanceler iraquiano.
Além disso, uma retirada americana pode desferir um sério golpe ao primeiro-ministro Mustafa al-Kazimi, que foi recebido na Casa Branca há apenas dois meses.
Desde que chegou ao poder em maio passado, porém, este ex-chefe de Inteligência com muitos laços internacionais está envolvido em um confronto com os pró-Irã, maioria no Parlamento e armados o suficiente para representar, de acordo com militares ocidentais, uma ameaça maior do que o EI no Iraque.
Após a visita de Al-Kazimi a Washington em agosto, a frequência dos ataques aumentou.
De outubro de 2019 a julho de 2020, cerca de 40 ataques com foguetes visaram à embaixada americana e a bases iraquianas que hospedavam soldados americanos.
- Uma família dizimada -
"Atacar embaixadas é atacar o governo, porque ele é responsável por sua proteção", acrescentou o ministro Fuad Hussein.
Os ataques contra alvos americanos são reivindicados há meses por grupos que afirmam ter como objetivo expulsar o "ocupante americano" do Iraque, por organizações que são espécies de "fantoches de partidos e facções armadas pró-iranianas", presentes na vida política iraquiana desde a queda de Saddam Hussein, em 2003.
Na segunda-feira à noite, um foguete atingiu a casa de uma família que vivia perto do aeroporto de Bagdá, onde os soldados americanos estão posicionados. Como consequência, cinco crianças e duas mulheres morreram.
Embora essa tragédia tenha chocado profundamente a opinião pública iraquiana, a ameaça aos americanos neste país não é proporcional a outras enfrentadas no exterior, observou Hussein.
"Alguns em Washington evocam Benghazi, mas essa análise está errada, assim como a decisão" de uma possível retirada do Iraque, acrescentou, referindo-se à morte de quatro americanos, incluindo o próprio embaixador, em um ataque à representação americana em Benghazi, na Líbia, em 2012.
"Esperamos que os Estados Unidos reconsiderem sua decisão", que por enquanto "não é definitiva", insistiu o chefe da diplomacia iraquiana.
Nenhuma autoridade dos EUA confirmou oficialmente que se decidiu fechar a embaixada, e muitos especialistas estimam que Washington está blefando em plena campanha eleitoral.