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Sintomas de ansiedade e depressão afetam 47,3% dos trabalhadores de serviços essenciais durante a pandemia de Covid-19, no Brasil e na Espanha. Mais da metade deles — e 27,4% do total de entrevistados — sofre de ansiedade e depressão ao mesmo tempo. Além disso, 44,3% têm abusado de bebidas alcoólicas; 42,9% sofreram mudanças nos hábitos de sono; e 30,9% foram diagnosticados ou se trataram de doenças mentais no ano anterior a uma pesquisa coordenada pela Fiocruz, e feita em parceria com outras instituições.

Esses são os principais resultados apresentados no artigo Depressão e Ansiedade entre trabalhadores essenciais do Brasil e da Espanha durante a Pandemia de Covid-19: uma pesquisa pela Web (Depression and Anxiety Among Essential Workers From Brazil And Spain During The Covid-19 Pandemic:a websurvey), aceito na revista cientifica Journal of Medical Internet Research.

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Os resultados referem-se a pesquisa feita pela web no início da pandemia na Espanha (entre 15 de abril e 15 de maio) e no Brasil (entre 20 de abril e 20 de maio), contabilizando 22.876 questionários preenchidos. Da amostra total, pouco mais de 16% (3.745) eram trabalhadores em serviços essenciais (principal foco do estudo), sendo 2.842 (76%) brasileiros e 903 (24%) espanhóis. Esses 3.745 responderam “sim” à pergunta: “Você está atualmente trabalhando como profissional de saúde ou de outros serviços essenciais (transportes, alimentação, limpeza)?”.

Os pesquisadores Raquel De Boni, Francisco Inácio Bastos e Jurema Mota, do Instituto de Comunicação e Informação em Saúde (Icict/Fiocruz), participaram ativamente da condução da pesquisa, que conta também com a participação de pesquisadores da Universidade de Valencia (Espanha) e do Hospital de Clinicas de Porto Alegre(HCPA)/ Universidade Federal do Rio Grande do Sul e da Universidade (UFRGS).

De acordo com os resultados preliminares, os sintomas de depressão e ansiedade são maiores entre os trabalhadores de serviços essenciais do Brasil, atingindo 55% do total, em relação aos mesmos trabalhadores na Espanha (23%). Na época da pesquisa, a Espanha passava por seu pior momento da epidemia. “Esperávamos o contrário”, relembra Raquel. Para Francisco, há algumas hipóteses, entre elas o desemprego: “Vários artigos publicados durante a crise econômica grega mostraram o desemprego e ameaça de desemprego como fatores importantes na geração de estresse e depressão. E o impacto econômico da Covid-19 está sendo muito forte no mercado de trabalho”.

Raquel acredita que determinantes sociais da saúde, como as condições socioeconômicas e as inequidades em saúde, também parecem explicar essa discrepância. “É preciso que se tenha atenção redobrada à saúde mental dos trabalhadores em locais onde se agregam múltiplos problemas sociais e de saúde. Segundo a teoria de sindemias (proposta por Merrill Singer nos anos 90), a presença dessas situações simultaneamente age de forma sinérgica, aumentando o risco de problemas de saúde, tanto física quanto mental”.

Outros resultados da pesquisa apontam que a maior parte dos trabalhadores de serviços essenciais que respondeu à pesquisa no Brasil é de mulheres (72,2%), tem idade média de 39 anos e curso universitário (56,5%) ou mestrado/doutorado (28,5%).

Francisco e Raquel destacam que, em tempos normais, a ciência vem mostrando que um estilo de vida pouco saudável tende a aumentar os problemas de saúde mental. Numa crise como a que estamos vivendo com o coronavírus Sars-CoV-2 (causador da doença Covid-19), mudanças bruscas do estilo de vida vêm acontecendo de várias formas em muitos países a partir do isolamento social em larga escala. Assim, não é difícil pensar que essas mudanças podem piorar a saúde mental – causando problemas como depressão e ansiedade, além de dependência de álcool e outras drogas. Em outras grandes crises, como o ataque às Torres Gêmeas em New York e a epidemia de Sars na Ásia, constatou-se que grandes mudanças no estilo de vida ampliaram as doenças de ordem mental.

“Nossos dados mostraram, por exemplo, que um estilo de vida pouco saudável esteve associado a uma chance oito vezes maior de um profissional de serviços essenciais ter sintomas de depressão e ansiedade durante o início da pandemia na Espanha e no Brasil”, conta Flavio Kapcisnzki, pesquisador do HCPA/UFRGS e da McMaster.

O estilo de vida foi avaliado por uma escala (Smile-C) que abrange 27 questões distribuídas por sete áreas: dieta e nutrição; abuso de substâncias (álcool, drogas, remédios); atividade física; gerenciamento do estresse; sono restaurador; apoio social; e exposição ao ambiente externo. Segundo Francisco, o fator dieta e nutrição recebeu uma atenção especial na pesquisa.

“Em agosto, foi publicado o resultado de uma pesquisa de mudanças alimentares do estudo coorte Nutrinet Brasil que mostrou um dado preocupante. Apesar de ter havido um aumento geral do consumo de alimentos mais saudáveis no Brasil após a epidemia de Covid-19, paralelamente cresceu o consumo de alimentos ultraprocessados nas regiões economicamente menos desenvolvidas e por pessoas com menor escolaridade. Essa mudança na dieta regular induz à obesidade, à hipertensão e à diabetes nesses segmentos, elevando os riscos diante da Covid-19”, explica Francisco.

Flavio ressalta que, nas grandes cidades do mundo, o estilo de vida tem sofrido pelo sedentarismo, má dieta, uso de álcool, tabagismo e solidão. Modificar esses comportamentos representa um grande desafio tanto para os indivíduos quanto para a saúde pública.

Da assessoria da Fiocruz

Os fãs de Adele começaram o mês de outubro com uma notícia esperada há cinco anos. Segundo um radialista americano, a cantora vai lançar seu novo disco em novembro deste ano. A artista não faz lançamentos desde 2015 e, apesar de não se ter certeza da veracidade da história, o público já se colocou ansioso. 

De acordo com  o locutor da rádio The Mix 101.9 FM de Chicago, o novo álbum de Adele será lançado no próximo mês de novembro. A cantora não se pronunciou a respeito bem como nenhuma de suas redes sociais, ou site oficial, trazem alguma informação a respeito. Esse lançamento estava previsto para setembro deste ano, porém foi adiado por conta da pandemia, sem previsão de uma nova data. 

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Sendo verdade ou não, os fãs já ficaram enlouquecidos com a possibilidade. Na internet, muitos rumores e comentários colocaram o nome da cantora entre os assuntos mais comentados desta segunda (5). “Gente como assim álbum da Adele eu tava dormindo”; “Fora de mim que Adele vai lançar álbum”; “Mês que vem a mãe vai tá off trancada no quarto chorando ao som das novas da Adele”; “Adele que história é essa de lançar álbum esse ano mulher ninguém tá com emocional pra isso não”. 

População tem sofrido desgaste emocional diante dos resquícios da pandemia. Cenário é preocupante, mas pode ser combatido. Foto: Nathan Santos/LeiaJáImagens

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Dedos entrelaçados em sinal de oração, mãos aos céus como forma de agradecimento, rezas ante o mar e uma sintonia de esperança celebravam o novo ano. Sob fogos brilhosos e respingos de champanhe, 2020 chegou. Fotografei abraços e presenciei dizeres otimistas para o ciclo que começara. Tomado pela atmosfera comemorativa do réveillon, não imaginaria naquele momento eufórico que, meses depois, vivenciaríamos o início da mais crítica e enlutada crise de saúde dos últimos tempos. Os mesmos amigos e familiares que, com os pés na areia da praia festejavam o ano novo, hoje pedem às suas crenças que o período corrente leve consigo doença, medo, luto, mazelas, intolerâncias, desemprego, corrupção, entre outros males. O novo coronavírus, literalmente, atormentou o ano novo.

Não tão longe do litoral, *José Silva, 35 anos, reflete em seu apartamento - uma espécie de refúgio ante o cenário desolador da pandemia de Covid-19 -. Em isolamento social – séria e correta medida indicada pelos órgãos competentes de saúde para combater a proliferação da doença -, da janela do edifício ele observa as ruas situadas no coração do Recife, uma das capitais fortemente atingidas pelo novo coronavírus. Praticamente não há pessoas no local, antes de intensa movimentação. *José observa. Analisa. Questiona sua própria mente: “por que isso está acontecendo”?. Também rememora momentos em família, ao sentir falta dos abraços, do calor carinhoso característico da mãe idosa. São meses sem vê-la, sem tocá-la; tudo por amor a ela.

*José observa. Reflete. Agitada, sua mente não cansa, não para. Ao direcionar novamente sua atenção às ruas vazias, paralelamente sente um vazio de incertezas quanto ao seu futuro e das pessoas que ama.

*José viu, repentinamente, sua rotina tomar uma proporção antes inimaginável. Obrigatoriamente e de maneira consciente, afastou-se dos amigos, da família e do local de trabalho. Na mídia, alimentou-se de informações a respeito da problemática e complexa Covid-19, cujo rastro de estrago e morte marca países do mundo todo. *José acompanha, diariamente, as contagens de casos e óbitos, além dos efeitos oriundos da pandemia, que reverberam, além da saúde, na educação e economia de um país desigual, socialmente falando, desde os primórdios. Para *José, a pandemia potencializou os diversos problemas sociais e políticos que acometem o povo brasileiro, assim como instaurou desconfortos mentais.

A mente de *José não pausa. Todos os dias, durante a pandemia, é tomada por uma tempestade de pensamentos; seu corpo já sente os efeitos da ansiedade. Coração e mente acelerados, enquanto as noites não mais servem como um momento reparador, uma vez que, em várias ocasiões, o sono não vem. “Fiquei bastante tenso quando a quarentena, no início de março, começou a se estender. Diversos sentimentos de impotência brotaram em mim. Estou há quase seis meses sem ver minha família, e todo o meu pensamento vai para cada um que está distante de mim. Apesar de conversas por chamadas de vídeo, o contato físico faz falta. Não aguento mais ficar isolado por tanto tempo em casa, longe de quem eu gosto. Minha saúde mental está indo embora”, desabafa.

O medo cerca *José. Ele teme, por exemplo, perder pessoas queridas. Teme, ainda, que a crise econômica acarrete demissões. “É no silêncio da noite que a minha mente projeta um turbilhão de dúvidas e medos. Não sei como mudar a rota do meu pensamento para que eu sinta um certo alívio, de fato, de que as coisas irão realmente melhorar. Meus questionamentos estão sempre relacionados ao meu lado financeiro. Acho que, desde o início da pandemia, sinto instabilidade profissional. Não vejo com entusiasmo a capacidade que eu tenho de desenvolver o meu trabalho”, descreve ele.

É perceptível como *José trava uma luta emocional na qual é difícil desenvolver soluções imediatas. Talvez isso se dê pelo fato de que ele, sozinho, não detém o controle do atual cenário, pois, em suas mãos, não estão as soluções que possam, de uma vez por todas, colocar fim aos resquícios da pandemia em seu cotidiano. Nesse contexto, *José não consegue cessar os próprios medos e nem planejar o próprio futuro.

“Só espero que esse caminho de incertezas e de negatividade que estamos trilhando não deixe marcas profundas na alma, ao ponto de lembrarmos futuramente de tudo isso que estamos presenciando com tristeza e amargor. Me preocupa bastante ver que estou desacreditando a cada dia que se passa do meu potencial, da minha entrega, da garra que um dia eu lutei intensamente para conquistar o meu lugar. Ainda não passou pela minha cabeça buscar apoio psicológico para me dar um norte em meio a esse caos instalado pela pandemia. Não faço a mínima ideia se tenho a capacidade de sair desse mar de consternação sozinho”, diz *José.

*José Silva – nome fictício. Personagem preferiu preservar a sua identidade.

Doença pandêmica, mente em perigo

Mais de 23 milhões de casos confirmados no mundo. Quase 816 mil mortes. Assustadores, os dados globais da pandemia do novo coronavírus, informados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em seu mais recente balanço, expõem quão crítico é o cenário. Em 30 de janeiro de 2020, a OMS declarou que o surto da Covid-19 constitui uma Emergência de Saúde Pública Internacional, patamar de alerta mais alto da instituição. Localmente, de acordo com o consórcio de veículos de imprensa baseado nas informações das secretarias estaduais de Saúde, o Brasil registra mais de 3,7 milhões de pessoas diagnosticadas com o vírus e o número de óbitos passa de 117 mil. Além desse panorama, existem comprovações de que a pandemia tem bombardeado suas consequências na condição mental da população.

Em comunicados oficiais, a OMS já alerta que a pandemia da Covid-19 tem, de fato, forte impacto na saúde mental das pessoas. A entidade demonstra preocupação e orienta os países a tomarem medidas necessárias para ajudar suas nações.

À frente da Organização Mundial da Saúde, Tedros Adhanom explica que os efeitos econômicos e sociais da pandemia, da forma acelerada como se expandem e causam estragos, tendem a aumentar casos prejudiciais à saúde mental dos indivíduos. Depressão, ansiedade e transtornos mentais por uso de substâncias são alguns dos problemas citados pelo diretor-geral da OMS.

Tedros Adhanom, diretor-geral da OMS, pede atenção às questões relacionadas à saúde mental. Foto: OMS

Antes mesmo da pandemia, os números de transtornos mentais despertavam preocupação na Organização Mundial da Saúde. De acordo com a entidade, foram registrados 322 milhões de casos de transtorno depressivo em todo o mundo, bem como 264 milhões de pessoas eram acometidas por transtorno de ansiedade. Ainda sobre o período pré-pandemia, o estudo aponta que, no Brasil, 9,3% da população sofria distúrbios relacionados à ansiedade, correspondendo a um quantitativo de 18.657.943 cidadãos.

Se antes da Covid-19 a sociedade já ansiava aportes em relação à saúde mental, agora, mais do que nunca, segundos os especialistas, há a necessidade de cuidarmos com mais afinco de nossas mentes. Os resquícios pandêmicos são, metaforicamente, como uma imensa bola de neve que vai agregando problemas e mazelas, ao ponto de atingir a mente da população. De acordo com a psiquiatra Fátima Vasconcelos, integrante da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), mortes, luto, desemprego, crise econômica, risco de contágio, incertezas sobre a vida são alguns dos fatos pandêmicos que impulsionam dores emocionais. “Todos esses problemas juntos podem criar um quadro de ansiedade e depressão muito grande. Algumas dessas pessoas, tanto pela ansiedade quanto pela depressão, podem aumentar o consumo de substâncias lícitas e ilícitas. A gente tem também, além da depressão, ansiedade e do transtorno do estresse pós-traumático, o aumento do consumo de drogas, tanto álcool, quanto maconha e cocaína. Muitas crises já vinham acontecendo e já comprometiam a qualidade de vida da população”, explica a médica psiquiatra.

Dados e indícios preocupam

De acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), instituição vinculada à OMS, estão sendo levantados dados globais que ratificam os indícios de aumentos de ansiedade, depressão, entre outros males psíquicos, em virtude do novo coronavírus, bem como instituições passaram a traçar estratégias preventivas. Em maio deste ano, por exemplo, o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, lançou um relatório sobre políticas públicas para a saúde mental com uma série de orientações aos governantes. “Luto pela perda de entes queridos. Choque com a perda de empregos. Isolamento e restrições à circulação. Dinâmicas familiares difíceis. Incerteza e medo do futuro. Problemas de saúde mental, incluindo depressão e ansiedade são algumas das maiores causas de miséria no nosso mundo”, alertou Guterres. “À medida que nos recuperamos da pandemia, precisamos transferir mais serviços de saúde mental para a comunidade e garantir que a saúde mental seja incluída na cobertura universal de saúde. Apelo aos governos, à sociedade civil, às autoridades de saúde e a outros que se reúnam com urgência para abordar a dimensão da saúde mental desta pandemia”, acrescentou o secretário-geral da ONU, conforme informações do site da Organização.

O relatório das Nações Unidas destaca, inicialmente, que embora a crise da Covid-19 seja, a priori, de saúde física, ela propagará sementes de uma grande crise de saúde mental, caso ações preventivas não sejam realizadas. O documento aponta que boa saúde mental é “fundamental” para o funcionamento da sociedade, devendo também ser pauta de cada país durante o enfrentamento ao novo coronavírus. Conforme o relatório, pesquisas realizadas em 2020 revelam alta prevalência de sofrimento na população durante a pandemia de Covid-19, como na China, em que 35% da população está angustiada. Nos Estados Unidos esse índice de angústia sobe para 45%, enquanto no Irã o percentual é ainda mais alarmante: 60%.

Ao analisarmos o cenário brasileiro, fica ainda mais evidente a necessidade de o País intensificar, prontamente, um combate dedicado aos problemas oriundos da pandemia que reverberam na saúde mental. Uma pesquisa realizada pelo Instituto Ipsos revelou que quatro em cada dez brasileiros sofrem sintomas de ansiedade como consequência da pandemia. Segundo o estudo, as mulheres são mais afetadas, representando 49% dos casos, enquanto o percentual dos homens é de 33%. O levantamento aponta que o índice de 41% coloca o Brasil na primeira posição entre os países mais ansiosos em decorrência do novo coronavírus. “A gente diz que o Brasil é um país feliz e não é. Na verdade, é um país que tem muita desigualdade, muita gente vivendo em condições grandes de pobreza, o que cria um quadro de ansiedade e depressão muito grande”, acrescenta a psiquiatra Fátima Vasconcelos.

 

Arte: João de Lima/LeiaJáImagens

Aliado fundamental do bem-estar, o sono, antes reparador, perdeu efeito para muitas pessoas. A pesquisa do Instituto Ipsos indica que, de dia, a preocupação é com a utilização segura de máscaras e com a limpeza correta das mãos e objetos, enquanto ao anoitecer, a luta de muitos brasileiros é contra a insônia. Segundo o levantamento, 26% da população nacional relatou dificuldades para dormir na pandemia; as mulheres são as mais afetadas, apontou a pesquisa. De novo, o Brasil aparece nas primeiras posições, quando analisamos os efeitos da falta de sono entre os países: no topo da tabela está o México, com 38% da população afetada, e em segundo lugar está o Brasil, com o percentual de 26%; em terceiro estão a África do Sul e a Espanha, ambos com 25% dos seus povos atingidos pela insônia. Em contraponto, as nações menos afetas foram Japão (6%), Coreia do Sul (10%) e Austrália (12%).

Ainda de acordo com o estudo do Instituto Ipsos, um em cada dez entrevistados no Brasil disse estar enfrentando sintomas depressivos em decorrência da pandemia do novo coronavírus. Fátima Vasconcelos reitera que existe uma relação muito clara com a disseminação dos sintomas e as mazelas pandêmicas. “Na pandemia, nós já temos mais de 100 mil pessoas mortas no Brasil. Claro que tivemos índices de recuperação, mas como ficaram os familiares das pessoas que já faleceram? E mais: há o risco de mais pessoas falecerem. Algumas se internaram para o tratamento da Covid-19 e se recuperaram, mas se recuperaram com um grau de sofrimento muito grande. Existem mães que perderam filhos e mães que tiveram filhos e esperaram um mês para vê-los. Depois da pandemia, todo mundo de alguma forma foi atingido”, comenta a psiquiatra.

Já no recorte das nações em que a população menos sente os sintomas de depressão, a pesquisa mostra que chineses (4%), japoneses e franceses (5%), e por fim os alemães (8%), são os povos menos deprimidos. Ainda segundo o Instituto Ipsos, a pesquisa aponta que, no Brasil, apenas 22% dos entrevistados disseram que não foram impactados por nenhum dos problemas identificados no estudo.

O próprio Ministério da Saúde brasileiro oficializou, publicamente, sua preocupação com a piora dos índices de problemas emocionais atribuídos aos efeitos da pandemia. A pasta realizou a “Pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico COVID-19 (Vigitel)” e apresentou, no fim de maio, seus resultados, entre eles os oriundos da saúde mental da população. Segundo o Ministério da Saúde, mais de 2 mil pessoas foram ouvidas neste estudo. Confira, a seguir, os problemas relacionados à saúde mental que incomodaram os cidadãos entrevistados no levantamento e seus respectivos percentuais das pessoas afetadas:

Após os resultados oriundos da Vigitel, o diretor do Departamento de Análise em Saúde e Vigilância em Doenças Não Transmissíveis do Ministério da Saúde, Eduardo Macário, reforçou a necessidade de o Brasil oferecer atenção especial às questões de ordem mental, segundo ele, em alguns momentos colocadas de “lado”. Para o diretor, “eventos relacionados à saúde mental muitas vezes são colocados de lado numa situação como a que estamos vivendo”. Ele complementa: “Mas é fundamental serem monitorados e acompanhados”.

Cresce o número de atendimentos psiquiátricos durante a pandemia

Pesquisa da Associação Brasileira de Psiquiatria, a ABP, realizada em maio deste ano, identificou que, entre seus médicos associados, 47,9% dos entrevistados notaram aumento em seus atendimentos após o início da propagação do novo coronavírus. Levando em consideração esse grupo, o levantamento revelou um crescimento de até 25% nos atendimentos, quando comparados ao período anterior à pandemia para cerca de um terço dos participantes.

Um dos objetivos do trabalho estatístico da ABP foi identificar os atendimentos a novos pacientes. De acordo com a Associação, quase 68% dos psiquiatras entrevistados receberam pacientes novos após o começo da pandemia; são pessoas que nunca apresentaram sintomas psiquiátricos anteriormente. A apuração do estudo informa também que 69,3% dos médicos disseram que receberam pessoas que já haviam tido alta médica, porém, sofreram o reaparecimento de seus sintomas mentais; esses pacientes voltaram aos consultórios ou realizaram novos contatos para atendimentos. Ao todo, médicos de 23 estados, além do Distrito Federal, participaram da avaliação.

Arte: João de Lima/LeiaJáImagens

O levantamento da ABP, no que diz respeito aos médicos que não notaram aumento nos atendimentos, identificou um cenário contrário ao mencionado anteriormente: queda na quantidade de demandas. Esse decréscimo, no entanto, também pode ser entendido como uma consequência da proliferação do novo coronavírus, uma vez que entre os principais motivos revelados sobre a queda, está a interrupção do tratamento porque o paciente sente medo de sair de casa e ser contaminado pela Covid-19. Diminuíram, claramente, atendimentos às pessoas do grupo de risco, tais como idosos e brasileiros afetados por comorbidades, bem como foram empecilhos para os acolhimentos presenciais as restrições de circulação determinadas pelo poder público em algumas cidades.

"Essa pesquisa identificou dois cenários preocupantes como consequência de uma única possibilidade. O aumento dos atendimentos foi motivado, em sua maioria, pelo agravamento dos transtornos ou desenvolvimento de novas patologias psiquiátricas devido ao medo da Covid-19. Entretanto, a redução dos atendimentos àqueles que assim identificaram também se deve ao medo da contaminação e às estratégias para evitar o contágio", avalia o presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria, Antônio Geraldo da Silva, conforme informações da assessoria de imprensa da entidade.

De acordo com os especialistas, a quebra da rotina também é um fator que pode potenciar desgastes emocionais na sociedade. Adaptar-se à uma nova realidade de trabalho, como nos casos do home office e das restrições impostas pelo isolamento social, é difícil e cria desafios. “Quando saímos de nossa homeostase, ou seja, o nosso modo usual de funcionamento, cognitivo, comportamental e emocional, temos que usar nossos mais nobres recursos para adaptação. É nesse sentido que muitas pessoas, ao não conseguirem fazer esse ajuste, adoecem e necessitam de atendimento especializado. É de se supor que, num momento de grande mudança e necessidade de adaptação, sintomas de ansiedade, depressão e relacionados a trauma aumentem e precisem de uma abordagem imediata", acrescenta o presidente da ABP ao site da instituição.

Sentimentos revelados

Um levantamento do Instituto de Pesquisas UNINASSAU, entidade vinculada ao Centro Universitário Maurício de Nassau, reuniu informações acerca dos efeitos do novo coronavírus na rotina de moradores do Recife. Um dos pontos abordados na capital pernambucana analisou a relação da Covid-19 com a saúde mental dos populares.

Segundo o Instituto, a pesquisa teve como objetivo “investigar a opinião da população residente na área de abrangência em relação à pandemia do novo coronavírus”. O universo do estudo corresponde a eleitores com 18 anos ou mais de idade, cujo grau de instrução vai do ensino fundamental incompleto ao nível superior concluído, entre outras características. No total, foram realizadas 628 entrevistas, no período de 11 a 14 de junho de 2020

Ao questionar os entrevistados sobre questões ligadas à saúde mental em meio à pandemia, a pesquisa reuniu vários sentimentos. As revelações expressaram incertezas quanto ao futuro, medos, angústias, entre outros declínios emocionais demonstrados pelos cidadãos. Acompanhe informações apuradas pela pesquisa no vídeo a seguir. Também registramos o comentário da psiquiatra Catarina Moraes, médica associada à Sociedade Pernambucana de Psiquiatria, acerca dos efeitos pandêmicos nas questões psicológicas.

Indicativos ou transtornos em vítimas da Covid-19

Pesquisadores e profissionais da saúde já admitem que pessoas acometidas pelo novo coronavírus podem desenvolver transtornos mentais e até problemas neurológicos. Um estudo da Universidade Oxford, da Inglaterra, publicado no dia 16 de agosto, revelou que uma em cada 16 vítimas da Covid-19 desenvolveu alguma espécie de transtorno mental no período de três meses após a doença. Segundo a pesquisa, o risco é duas vezes maior para as pessoas que necessitaram de hospitalização por causa dos efeitos do vírus.

A pesquisa da Universidade de Oxford avaliou mais de 60 mil pessoas que apresentaram recuperação após o diagnóstico do vírus pandêmico, bem como o estudo científico identificou que indivíduos que já apresentam doença mental têm um risco maior de serem acometidos pela Covid-19. Nas avalições, foram realizadas comparações com o surgimento de transtornos durante o tratamento de outras enfermidades, entre elas infecções respiratórias e de pele, pedra na vesícula e nos rins, fraturas consideradas graves e influenza.

O estudo da universidade inglesa somou seus resultados aos de outras pesquisas que também provaram relação entre transtornos mentais e o novo coronavírus. Cientistas ainda apontam que, mesmo sendo uma doença nova, cujo vírus acomete pessoas de faixas etárias diferentes, a Covid-19 pode castigar o cérebro e o sistema vascular, além do coração, pulmões, intestino e os rins.

Em outra conclusão científica, pesquisadores da University College London (UCL), de Londres, publicaram um artigo, em julho deste ano, em que mostra uma análise de 43 pessoas vitimadas pelo novo coronavírus. Segundo o artigo, os pacientes apresentaram complicações neurológicas, tais como psicose, delírio, tremores e até danos ao cérebro, ocasionando derrame.

A comunidade científica brasileira também tem desenvolvido importantes estudos acerca da relação da pandemia com a sanidade mental da população. A Universidade de Fortaleza (Unifor), por exemplo, realizou uma pesquisa que tem como principal questionamento “Quais os impactos psicossociais que a pandemia do novo coronavírus tem causado na saúde mental do brasileiro?”. O trabalho foi financiado pela Fundação Edson Queiroz, por meio da Diretoria de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (DPDI).

De acordo com a Unifor, a pesquisa revelou que os piores índices de saúde mental aconteceram com pessoas que já foram diagnosticadas com a Covid-19, além das que integram o grupo de risco, residem com pessoas desse grupo ou concordam com o isolamento social indicado pelos órgãos competentes. O mesmo estudo mostrou também que apresentaram maiores indícios de adoecimento as pessoas em maior nível de adesão aos protocolos de combate à pandemia.

Em entrevista ao LeiaJá, a coordenadora do projeto de pesquisa e professora do Programa de Pós-Graduação em Psicologia (PPGP) da Universidade de Fortaleza, Cynthia Melo, explanou os resultados dos principais pontos do estudo. Uma das constatações indica que quem teve Covid-19 apresentou maior nível de ansiedade. Para a docente, isso se explica pelo fato de que as vítimas vivenciaram um risco alto de óbito. “É uma possibilidade de morte muito maior do que quem não teve a doença. Essa pessoa sabe da gravidade da doença mais de perto do que os outros”, esclarece.

Cynthia Melo é coordenadora do estudo desenvolvido pela Universidade de Fortaleza. Foto: Cortesia

O estudo da Unifor indicou, ainda, que os entrevistados que moram com pessoas do grupo de risco apresentaram mais indícios de adoecimento mental. De acordo com a coordenadora da pesquisa, uma das hipóteses para esse resultado é que os indivíduos temem sair de casa com receio de se contaminar com o novo coronavírus e, se saírem, colocarão em risco todas as pessoas com as quais moram. Há, portanto, um clima de tensão.

Em outro recorte do levantamento, foi identificado que quem concorda com o isolamento social apresenta indicadores de pior saúde mental. No entanto, a professora Cynthia alerta veemente que o isolamento é uma estratégia fundamental no combate à Covid-19, devendo, portanto, ser respeitado e praticado conforme as orientações da Organização Mundial da Saúde.

“O isolamento e o distanciamento social, apesar de necessários - devendo ser respeitados para a contenção da doença -, podem causar estresse. Por esses e outros fatos, a pandemia nos convoca a cuidados com a saúde mental. Além de ser um problema de crise epidemiológica com alto nível de contágio e de mortalidade, ela também é uma crise do ponto de vista psicológico. Tudo que envolve a doença, sensação de vulnerabilidade, risco de morte, incertezas sobre o futuro e isolamento, é adoecedor”, explica a professora.

A docente continua sua fala orientando a população sobre ações que contribuem para o bem-estar social durante o isolamento: “Para a população, existe a necessidade de se cuidar, de se prevenir, organizando os espaços da casa; tem o lugar certo para cada coisa, organizando a rotina, melhorando a ambientação do lar e fazendo uso de espaços verdes. Tenha hábitos que fazem bem, tais como aula de exercício físico ou assistindo uma live de um cantor que você gosta, ou conversando com os amigos em vídeo conferência. Pode estudar, ver um filme. Conseguimos manter essas práticas de forma adaptada. Além disso, algumas cidades abriram os espaços públicos; existem espaços verdes que são muito bons para serem usados, com liberdade e sem colocar os outros em risco, respeitando o distanciamento”.

No total, 2.705 brasileiros participaram da pesquisa da Universidade de Fortaleza. Além de Cynthia Melo, outros professores – doutores - trabalharam no levantamento e na análise das informações reveladas pelos entrevistados, bem como contribuíram para o projeto alunos de mestrado e doutorado do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Unifor. A coordenadora ressalta que o estudo apresenta indicadores de depressão, ansiedade e estresse, mas não crava que, de fato, as pessoas ouvidas sofrem literalmente esses transtornos mentais, porque, para a conclusão dos diagnósticos, devem ser feitas avaliações contínuas com instrumentos psicossociais.

A história e o anseio humano pelo bem-estar mental

Somos movidos a realizações. Buscamos - às vezes desenfreadamente - conquistas pessoais e profissionais, assim como bem-estar físico e mental. Nesse processo, porém, as pessoas podem encarar de diferentes formas êxitos, frustrações e problemas. Historicamente, a humanidade viveu desafios, transformações sociais, conflitos e fatos – acontecimentos históricos com impactos na condição mental dos indivíduos -, ao mesmo tempo em que caminha ao encontro da paz física e emocional.

A Organização Mundial da Saúde define saúde mental como um “estado de bem-estar em que o indivíduo percebe suas próprias habilidades, pode lidar com os estresses normais da vida, pode funcionar de forma produtiva e frutífera e é capaz de dar uma contribuição para sua comunidade”.

“O ser humano sempre está, de certa forma, em busca de uma felicidade, de bem-estar, de ter satisfação na vida. Isso acontece desde a primeira infância, depois na pré-adolescência, adolescência, vida adulta e entre os idosos. O ser humano tem algo dentro de si que vai buscando sentindo na vida, seja na escolha profissional ou mesmo na criança, por exemplo, quando ela faz a escolha de jogos que dão prazer. É a relação com a vida que tenha significado. Quando isso não acontece, os problemas aparecem. Problemas emocionais, sofrimentos, isso faz parte da vida humana, só que quando esses sofrimentos acabam por incapacitar as pessoas de trabalhar, estudar, de conviver em grupo, acabam se tornando transtornos, muitos deles de base genética, com componente hereditário muito forte”, comenta o professor da Universidade de São Paulo (USP) e coordenador do Instituto de Psicologia da instituição de ensino, Andrés Eduardo Aguirre Antúnez, em entrevista ao LeiaJá.

Andrés Eduardo Aguirre Antúnez, coordenador do Instituto de Psicologia da USP, alerta que problemas emocionais fazem parte da vida humana. Porém, quando começam a incapacitar as pessoas, eles podem virar transtornos mentais. Foto: Cortesia

Na corrida pelo bem-estar mental e físico, há pessoas que sentem a necessidade de expor à sociedade essa condição de realização humana. No entanto, isso não quer dizer que, verdadeiramente, elas vivenciam esse bem-estar. “Vários sociólogos falam que a gente vive em uma sociedade acelerada, cansada, ou a sociedade dos espetáculos. A gente tem hoje um ritmo acelerado de cotidiano. Você é acordado por um despertador, pula da cama, se arruma e vai trabalhar. E depois volta, corre, vem e vai. Você não tem tempo para o outro, não tem tempo para pensar no seu dia, no seu cotidiano, na sua vida. Ao mesmo tempo, a gente vive na sociedade dos espetáculos. É essa sociedade em que eu posso até não viver bem, mas eu tenho que mostrar, aparecer que estou bem. No Orkut, Facebook e Instagram. Às vezes, a gente está em um restaurante, e você vê um casal, amigos, cada um com o seu celular e não vivem o momento. Às vezes nem estou curtindo o restaurante, mas já estou ali fazendo uma foto para mostrar que estou no restaurante, mesmo que fisicamente apenas. É a sociedade que mostra que está tudo perfeito e as relações são muito descartáveis. Como dizem os jovens nas relações amorosas, a fila não anda, ela voa. As coisas vão girando. E no meio da Covid-19, essa sociedade se viu obrigada a parar. Pela primeira vez, nós fomos obrigados a parar”, reflete Cynthia Melo, professora do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade de Fortaleza.

O filósofo coreano Byung-chul Han defende a ideia de que a sociedade contemporânea é marcada por um excesso de positividade. Para o estudioso, essa característica pode resultar em patologias psicológicas. “O que causa a depressão do esgotamento não é o imperativo de obedecer apenas a si mesmo, mas a pressão de desempenho. O que torna doente, na realidade, não é o excesso de responsabilidade e iniciativa, mas o imperativo do desempenho como um novo mandato da sociedade pós-moderna do trabalho”, defende o filósofo.

O estudioso continua: “Mas em relação à elevação da produtividade não há qualquer ruptura: há apenas continuidade. Alain Ehrenberg localiza a depressão na passagem da sociedade disciplinar para a sociedade de desempenho: 'A carreira da depressão começa no instante em que o modelo disciplinar de controle comportamental, que, autoritária e proibitivamente, estabeleceu seu papel às classes sociais e aos dois gêneros, foi abolido em favor de uma norma que incita cada um à iniciativa pessoal: em que cada um se comprometa a tornar-se ele mesmo. O depressivo não está cheio, no limite, mas está esgotado pelo esforço de ter de ser ele mesmo”. No áudio a seguir, o professor de filosofia e sociologia João Pedro Holanda traz mais detalhes acerca das ideias de Byung-chul Han. Clique na barra cinza:

Nos registros históricos, existem descrições de como o homem debatia questões sobre saúde mental. “Essa discussão sobre saúde mental é anterior à Segunda Guerra Mundial, porque já no final do século 19, começam a chegar discussões sobre isso. Freud já discutia a questão do homem moderno e as questões relativas ao mundo moderno, que têm muito do impacto da Revolução Industrial. Com os efeitos da Primeira Guerra Mundial, aconteceram os famosos traumas de guerra, resultando no aumento dessas discussões. O próprio Freud tratou alguns soldados. Alguns livros são bem emblemáticos sobre isso, como ‘Nada de novo no front’, escrito por Erich Maria Remarque, ex-soldado que vivenciou os conflitos. É um romance de um autor que lutou na guerra, em que ele fala como era o cotidiano no front e como isso impactava os soldados”, explica a professora de história Thais Almeida. “Essas discussões, porém, ganham os espaços públicos a partir da década de 50, após a Segunda Guerra Mundial. Foucault, por exemplo, publica o livro ‘História da Loucura’ em 1961”, complementa a docente.

Para o médico psiquiatra e historiador da Associação Brasileira de Psiquiatria, Walmor Piccinini, cuja atuação na medicina soma 54 anos de experiência, a Segunda Guerra Mundial marcou de maneira emblemática a psiquiatria. “No meu ponto de vista, embora a gente possa traçar vários aspectos filosóficos, a Segunda Guerra Mundial mudou a maneira de se olhar os problemas emocionais e mentais, porque os psiquiatras aprenderam a lidar com os soldados em estado de choque, em estado de crise, e a lidar de uma forma de recuperá-los para eles voltarem ao combate. Durante a guerra, não se fazia mais internamentos em hospitais, o atendimento era feito na linha de frente, e isso mudou a maneira de se ver o doente, porque, até então, o doente mental era recolhido para o asilo e lá ele era isolado. Depois da Segunda Guerra Mundial, surgiram medicamentos”, explica Piccinini.

De acordo com o historiador da ABP, a partir dos anos 90 a depressão passou a ter um crescimento expressivo. “Também a partir dos anos 90, existe um lado bem concreto disso tudo, que é o aumento das licenças médicas para o trabalho por depressão. Nós tivemos um esvaziamento dos hospitais psiquiátricos, a maioria das pessoas foi tratada nas comunidades com antipsicóticos, antidepressivos e ansiolíticos. Isso aconteceu em todo o mundo”, recorda o médico psiquiatra.

Outras pandemias, ao longo da história, também desencadearam efeitos de ordem mental na sociedade. Há mais de dez anos, a proliferação da H1NI deixou sequelas físicas e, consequentemente, emocionais nos acometidos pela doença, segundo pesquisadores da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos. De acordo com o estudo, metade das pessoas diagnosticadas com o vírus teve ansiedade, 25% apresentou depressão e em 40% dos pacientes foi identificado risco de transtorno pós-traumático. Por outro lado, ao analisarem o período após a epidemia de SARS na Ásia, ocorrida em 2003, os estudiosos documentaram um sentimento positivo: 60% dos pacientes passaram a valorizar mais a família, em uma comprovação de que, o isolamento social também pode aproximar as pessoas e fomentar uma atmosfera de solidariedade e união.

Acolhimentos e estratégias em prol da sanidade mental em meio à Covid-19

Sob o risco de uma crise global de ordem mental, instituições públicas e privadas tentam intensificar acolhimentos psicológicos e psiquiátricos durante a pandemia do novo coronavírus. Muitos profissionais realizam atendimentos de forma remota, uma vez que os serviços estão autorizados nesse formato durante a pandemia, em virtude da necessidade de manter o distanciamento social. A Lei 13.989/2020 regulamenta e autoriza a telemedicina nesse período, assim como os respectivos conselhos regionais de psicologia, orientados pelo Conselho Federal da área, permitiram os acolhimentos por meio de comunicação a distância.

Um dos serviços de acolhimentos remotos é desenvolvido em Campina Grande, na Paraíba, por meio do trabalho da Clínica Escola da UNINASSAU – Centro Universitário Maurício de Nassau. Antes mesmo da pandemia, a instituição de ensino oferecia atendimentos psicológicos presenciais de forma gratuita à comunidade acadêmica e ao público externo, porém, após o agravamento da Covid-19 no Brasil e da necessidade de valorizar o distanciamento social, o projeto passou a disponibilizar escutas de forma on-line, mediante a marcação dos interessados por meio da internet. O serviço se manteve sem custo para os usuários.

A psicóloga do serviço de acolhimento da UNINASSAU, Carla Correia, explica que os atendimentos anteriores à pandemia continuam sendo feitos, mas de maneira remota, somados às novas demandas advindas do período pandêmico. “A gente já oferecida os serviços presencialmente. Com a pandemia e diante da preocupação da universidade com a saúde mental dos alunos, colaboradores e da comunidade, sentimos a necessidade de estender o serviço e dar continuidade às escutas de forma on-line. Como o Conselho Federal de Psicologia permite, os psicólogos puderam atender de forma remota. Para isso, é preciso fazer um cadastro no e-Psi, um site do Conselho. Pessoas da Paraíba, Bahia, Pernambuco, Alagoas, entre outros estados, estão sendo atendidas no nosso projeto. O atendimento é realizado por meio de vídeo chamadas”, explana a psicóloga. De abril deste ano até agosto, mais de 160 pessoas foram acolhidas pela iniciativa, apresentando, principalmente, sintomas relacionados à depressão e ansiedade. “A própria pandemia desencadeou muitos sintomas obsessivos compulsivos, como na questão de aferir a temperatura repetidamente, por várias vezes ao dia. Na ansiedade, por exemplo, uma das características é a falta de ar e, em alguns momentos, nessa falta de ar, as pessoas se confundiam com alguns sintomas da Covid-19. Muitas vezes não tinham relação com o vírus e sim era algo relacionado à ansiedade. Notamos intensificação do medo, da insegurança. Tivemos pacientes de todas as faixas etárias, a partir de 18 anos; foi algo bem misto”, acrescenta Carla Correia.

Na visão da psicóloga, o atendimento remoto, diante do cenário difícil imposto pelo novo coronavírus, surge como uma alternativa importante para os acolhimentos dos pacientes. “Foi algo realmente novo para alguns profissionais, visto que o atendimento on-line só se dava apenas em alguma vezes, quando, por exemplo, um paciente viajava. No atendimento remoto, o lugar do paciente e do psicólogo não se altera, visto que é a fala - o que está sendo dito - que é relevante. Diante desse momento de pandemia, o atendimento on-line veio realmente para somar”, opina.

De acordo com o Conselho Federal de Psicologia (CFP), o Brasil tem registrados 375 mil psicólogos. Diante da proliferação do novo coronavírus e consequentemente da necessidade de realização dos atendimentos psicológicos de maneira remota, o site e-Psi – plataforma de cadastro dos profissionais que almejam atender remotamente – registrou um crescimento superior a 800%.

No âmbito do poder público, a Prefeitura de Olinda, na Região Metropolitana do Recife, por exemplo, é uma das gestões municipais que oferecem acolhimento remoto a pessoas com sofrimento mental durante a pandemia, além de encaminhamentos para aportes presenciais quando necessário. No caso de Olinda, a cidade é integrada à Rede de Atenção Psicossocial preconizada pelo Sistema Único de Saúde (SUS), cujo funcionamento ocorria antes mesmo da Covid-19. A partir da pandemia, em março deste ano, foram necessários ajustes na oferta dos serviços, porque com o isolamento social, as escutas precisaram ser feitas em formato remoto, bem como os profissionais da rede municipal previram que com as mudanças bruscas ocasionadas pela propagação do vírus, havia o risco de aumento nos números de casos relacionados à saúde mental entre a população.

Segundo a coordenadora de saúde mental da Secretaria de Saúde da Prefeitura de Olinda, Cíntia Mota, os teleatendimentos foram oferecidos, desde marco, a pessoas que, antes do contexto pandêmico, não apresentavam sintomas de transtornos emocionais. “Nós deixamos disponíveis dez números telefônicos, dos quais dois foram específicos para profissionais de saúde, porque a gente também percebeu um aumento desses profissionais em sofrimento mental, alguns na linha de frente do combate ao coronavírus”, explica a coordenadora. 

Também houve aumento de demanda nos atendimentos presenciais nos três Centros de Atenção Psicossocial (Caps) do município. “O acolhimento individual presencial começou a aumentar muito. Em um Caps que a gente tinha por dia de cinco a dez acolhimentos de porta aberta, chegamos a ter 25 pessoas e um único dia, para que a equipe pudesse dar conta de fazer o primeiro atendimento, acolhimento e orientação. Na população em geral, sintomas de ansiedade estão muito presentes. Sintomas ligados a depressão também aumentaram, assim como as ideações suicidas, que são outras questões ligadas a sofrimento mental”, detalha Cíntia.

De acordo com a Prefeitura de Olinda, cerca de 2 mil intervenções são realizadas por mês em cada Caps da cidade. No que diz respeito especificamente aos teleatendimentos como suporte psicológico durante a pandemia de Covid-19, mais de 600 acolhimentos foram registrados até o momento. No áudio a seguir, em entrevista ao LeiaJá, a coordenadora de saúde mental detalha como são feitas as escutas telefônicas:

Cíntia ainda alerta que os usuários do SUS não devem ter preconceito contra os atendimentos psicossociais, uma vez que, principalmente no atual cenário, qualquer pessoa corre o risco de sofrer desgaste emocional. “A gente previu que isso aconteceria e criamos estratégias para atender a essa população mesmo de forma isolada. Costumo dizer que produzimos em 2020 mais tecnologias de cuidado do que anos atrás. Em saúde mental, ainda existe muito preconceito no acesso a serviços especializados, porque a gente tem o adoecimento mental distante das nossas vidas, como se a gente não estivesse propenso a isso. E a pandemia aproximou muito a população geral ao sofrimento mental. Ou seja, eu posso adoecer porque não estou preparado para todas as dificuldades da vida. Por mais que tenhamos um repertório de estratégias para lidar com as dificuldades, a pandemia apresentou um cenário muito novo, de muita incerteza, que causou muito sofrimento”, comenta a coordenadora de saúde mental de Olinda.

Os teleatendimentos são gratuitos e estão disponíveis de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h, mesmo horário de funcionamento dos Caps. Confira os endereços dos Centros de Atenção Psicossocial, além dos números para contatos no teleatendimento.

Recife, cidade-irmã de Olinda, também apostou no teleatendimento psicossocial para tentar diminuir as dores emocionais da população. Por meio da Secretaria de Saúde da capital pernambucana, o serviço foi batizado de “teleacolhimento” e, desde março deste ano, oferece escutas gratuitas via vídeos e telefones a pessoas que estão sentindo impactos na saúde mental. Os agendamentos são realizados por meio da ferramenta Atende em Casa, criada pelo poder público com a finalidade de promover atendimentos iniciais em formato digital, direcionando os usuários para profissionais de saúde que dão orientações em casos suspeitos de Covid-19. Após passar por um questionário, o público é perguntado se precisa de apoio emocional; havendo resposta positiva, é feito o direcionamento ao teleacolhimento.

Segundo a coordenadora do serviço, Angélica Oliveira, mais de 2 mil atendimentos relacionados a sofrimento mental foram realizados até o momento. Além do agendamento para o público geral, existe um e-mail exclusivo para profissionais da rede municipal de saúde do Recife, que estão atuando na linha de frente contra o novo coronavírus.

Angélica Oliveira, coordenadora do teleacolhimento oferecido pela Secretaria de Saúde do Recife. Foto: Nathan Santos/LeiaJáImagens

“O que mais aparecem são ansiedade, depressão e, de junho para cá, começou a surgir muito luto, pessoas sofrendo pela perda de parentes. Há muito medo de pegar a Covid e medo de perder o emprego. Por isso que o apoio é psicossocial, porque existem muitos problemas de ordem financeira”, explica a coordenadora.

O projeto conta com um trabalho multiprofissional, envolvendo 80 servidores municipais, como psicólogos, psiquiatras, assistentes sociais, terapeutas ocupacionais, entre outras funções. A coordenadora do teleacolhimento ressalta que o serviço não oferece consultas e nem receita medicamentos, pois, para isso, são necessárias avaliações presenciais e criteriosas com médicos psiquiatras da rede municipal de saúde ou em hospitais privados. “Por isso que nós chamamos de acolhimento psicossocial”, enfatiza Angélica, complementando que, havendo necessidade, os usuários podem ser encaminhados para os serviços presenciais. “É uma escuta qualificada e, quando necessário, fazemos o encaminhamento com qualidade, fazendo o contato com o serviço; a gente diz como a pessoa vai chegar e passa os contatos. Fazemos toda uma regulação desse cuidado para que quando ele – usuário - chegue no lugar do atendimento presencial, o local já esteja sabendo e o atenda de uma forma benéfica. É um trabalho integrado”, acrescenta Angélica.

Ainda de acordo com a coordenadora do teleacolhimento, os atendimentos específicos aos profissionais de saúde devem ocorrer de maneira continuada. “A gente está com uma demanda, desde junho, regular de profissionais que apresentam todos os tipos de sofrimento, tais como medo de pegar a Covid-19 e porque estão na linha de frente. Esse acompanhamento vai durar até o final da pandemia”, finaliza.

O cidadão que necessita do aporte psicológico, dependendo da situação, pode ser acolhido em mais de uma ligação ou vídeo. Caso apresente sofrimento grave, ele deve, ainda, ser encaminhado a um serviço presencial. O teleacolhimento está disponível de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h. Veja endereços dos Caps, indicados a quem precisa de socorro presencial.

No vídeo a seguir, a coordenadora – e psicóloga de formação - do teleacolhimento dá mais detalhes a respeito do serviço, bem como revela dicas sobre como a sociedade pode combater desgastes psicológicos. Também participa da entrevista o assistente social Airles Ribeiro, que divide com Angélica a coordenação do teleatendimento da Prefeitura do Recife. Assista:

Quarta onda – Entre os profissionais de saúde mental, existe um entendimento de que os efeitos da pandemia da Covid-19 desencadearam uma nova “onda”. Miriam Gorender, professora de psiquiatria da Universidade Federal da Bahia (UFBA), detalhada as etapas: “A primeira onda é da doença em si. A segunda seria das complicações trazidas pela doença, como pessoas que ficam com lesões no pulmão, neurológicas e cardiológicas. Você tem ainda uma terceira onda das pessoas que adoecem de enfermidades que vinham sendo tratadas, como diabetes e pressão alta, e que deixam de ser tratadas porque toda a atenção está na Covid-19. Nesse caso, a pessoa fica com medo de ir ao médico, se consultar para continuar o seu tratamento, ou não tem uma UTI. A quarta onda é de doença mental, que deve acompanhar a gente por muitos anos, porque doença mental é crônica”.

Presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria, Antônio Geraldo da Silva reitera o alerta e enfatiza a necessidade de ações imediatas. "A quarta onda, que é a onda das doenças mentais, já chegou e não temos mais tempo a perder. Temos que atuar firmemente para minimizar os prejuízos que todos terão deste momento, monitorando a saúde mental da população e o atendimento psiquiátrico”, defende Antônio.

Durante entrevista ao LeiaJá, a psiquiatra Fátima Vasconcelos – também vinculada à ABP – elencou uma série de atitudes que podem ajudar as pessoas, mesmo em casa, a tentar diminuir os impactos emocionais e o agravamento de casos da quarta onda. A médica alerta, porém, que não se trata de uma receita pronta, uma vez que nem todas as atividades são indicadas a todas as pessoas de maneira generalizada, já que cada indivíduo tem suas preferências cotidianas e particularidades. Acompanhe as dicas:

1 – Crie uma rotina: você irá sentir-se mais calmo e no controle de suas emoções; leia livros, veja televisão, filmes, series, documentários, mas evite ficar o tempo todo vendo notícias. É importante se informar, mas, o excesso de informação gera estresse. Ao invés disso, ligue para seus amigos e sua família. Uma rede de suporte social faz toda a diferença. A solidão pode levar a depressão.

No home office, crie uma rotina. Acorde, vista uma roupa confortável e comece seu o trabalho, mas, estabeleça horários. Para se distrair, jogue com crianças e idosos – desde que preservados os protocolos de saúde -, respeitando suas preferências. Um dos aspectos positivos do “fique em casa” foi a maior aproximação das famílias, que estão em home office e podem conviver mais com seus filhos e pais.

2 – Faça atividades físicas: caso não tenha a orientação de um profissional, a pessoa pode optar por realizar exercícios simples, como pular corda, realizar apoios, abdominais, agachamentos e polichinelos. É indicado variar o tipo de treino a cada dia, evitando a monotonia. Este tipo de atividade pode ser realizado tanto por adultos quanto por idosos que não possuam nenhuma doença cardiovascular, respiratória ou nas articulações.

3 – Mantenha uma boa alimentação: alimentar-se de forma saudável é fundamental para superar essa pandemia. Uma dieta equilibrada evita não apenas o ganho de quilos extras, garante também uma boa imunidade do corpo. Sendo assim, evite refrigerantes, doces e pratos gordurosos. Dê preferência aos alimentos naturais como frutas, verduras, vegetais e cereais e beba bastante água. O ideal mesmo é procurar um nutricionista para montar uma dieta adequada às necessidades do seu corpo. Evite bebidas alcoólicas. Definitivamente, neste momento não abuse de bebidas.

4 – Durma bem: é quase impossível dormir quando se está ansioso ou preocupado. Uma boa ideia para regular o sono é manter-se ativo durante o dia. Quanto mais atividades físicas fizer, mais cansado ficará e melhor será o seu sono e, por consequência, sua saúde.

5 - Tenha uma boa rotina de higiene: se for necessário quebrar o isolamento social, siga estes passos: use máscara quando sair; carregue álcool em gel a 70% para higienizar as mãos na rua; lave bem as mãos quando voltar; retire os sapatos na porta de casa; coloque as roupas usadas para lavar; tome um banho e lave os cabelos. Além disso, higienize tudo que veio do supermercado e mantenha a casa sempre limpa, inclusive maçanetas, puxadores e controles remotos. Lavar as mãos antes de preparar os alimentos sempre foi um hábito básico de higiene, mas é necessário reforçar essa dica em tempos de coronavírus.

Também em entrevista ao LeiaJá, o coordenador do Instituto de Psicologia da USP, Andrés Eduardo Aguirre Antúnez, destacou orientações para a população que corre risco de sofrimento mental. Entre elas está a busca de informações em fontes confiáveis, como as produzidas pelos cientistas das universidades. Para casos graves, o coordenador também exalta o trabalho do CVV - Centro de Valorização da Vida, por meio do telefone 188. Ouças as dicas no áudio a seguir:

O médico psiquiatra Walmor Piccinini compactua da ideia que é importante filtrar informações sobre o novo coronavírus. Receber um fluxo intenso de notícias negativas pode potencializar adoecimento psicológico, segundo o especialista. “As pessoas têm que evitar passar o dia inteiro presas no WhatsApp, na tevê, recebendo informações negativas. É preciso preservar a sanidade. Não se deixar bombardear por informações negativas. Também não adianta imaginar soluções mágicas: a pessoa tem que ter tranquilidade e saber o melhor a fazer no momento. Ficar mais em casa, se for possível, evitar o contato, diminuir essa ansiedade de ir à praia, de ir a um mercado, enfim, a pessoa deve se expor o menos possível tanto psicologicamente e quanto fisicamente. É indicado ouvir uma boa música, brincar com os filhos”, aconselha Piccinini.

A Associação Brasileira de Psiquiatria divulgou, em seu site oficial, uma série de orientações para a população e profissionais de saúde que devem ser compartilhadas durante a pandemia. "Com o intuito de orientar seus associados e a população em geral, a ABP tem publicado informações voltadas aos cuidados em saúde, tanto física quanto mental, direcionadas aos diversos públicos que a acompanham", destaca a ABP. Também no site da instituição, foi publicado um comunicado com o presidente da Associação; confira no vídeo produzido pela entidade:

A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), umas das instituições mais atuantes no combate à pandemia de Covid-19, por meio do seu Centro de Estudos e Pesquisas em Emergências e Desastres em Saúde (CEPEDES), publicou o documento em que traz recomendações à população. Intitulada “Saúde Mental e Atenção Psicossocial na Pandemia COVID-19”, a publicação explica por que estamos sob o risco de uma carga grande de estresse.

“Durante uma pandemia é esperado que estejamos frequentemente em estado de alerta, preocupados, confusos, estressados e com sensação de falta de controle frente às incertezas do momento. Estima-se, que entre um terço e metade da população exposta a uma epidemia pode vir a sofrer alguma manifestação psicopatológica, caso não seja feita nenhuma intervenção de cuidado específico para as reações e sintomas manifestados. Os fatores que influenciam o impacto psicossocial estão relacionados a magnitude da epidemia e o grau de vulnerabilidade em que a pessoa se encontra no momento”, diz um trecho do documento.

Segundo as orientações da Fiocruz, a sociedade deve seguir ações de cuidado psíquico. São elas:

“Retomar estratégias e ferramentas de cuidado que tenham usado em momentos de crise ou sofrimento e ações que trouxeram sensação de maior estabilidade emocional;

Investir em exercícios e ações que auxiliem na redução do nível de estresse agudo (meditação, leitura, exercícios de respiração, entre outros mecanismos que auxiliem a situar o pensamento no momento presente, bem como estimular a retomada de experiências e habilidades usadas em tempos difíceis do passado para gerenciar emoções durante a epidemia);

Se você estiver trabalhando durante a epidemia, fique atento a suas necessidades básicas, garanta pausas sistemáticas durante o trabalho (se possível em um local calmo e relaxante) e entre os turnos. Evite o isolamento junto a sua rede socioafetiva, mantendo contato, mesmo que virtual;

Caso seja estigmatizado por medo de contágio, compreenda que não é pessoal, mas fruto do medo e do estresse causado pela pandemia, busque colegas de trabalho e supervisores que possam compartilhar das mesmas dificuldades, buscando soluções compartilhadas; investir e estimular ações compartilhadas de cuidado, evocando a sensação de pertença social (como as ações solidárias e de cuidado familiar e comunitário);

Reenquadrar os planos e estratégias de vida, de forma a seguir produzindo planos de forma adaptada às condições associadas a pandemia;

Manter ativa a rede socioafetiva, estabelecendo contato, mesmo que virtual, com familiares, amigos e colegas; evitar o uso do tabaco, álcool ou outras drogas para lidar com as emoções;

Buscar um profissional de saúde quando as estratégias utilizadas não estiverem sendo suficientes para sua estabilização emocional;

Buscar fontes confiáveis de informação como o site da Organização Mundial da Saúde; reduzir o tempo que passa assistindo ou ouvindo coberturas midiáticas;

Compartilhar as ações e estratégias de cuidado e solidariedade, a fim de aumentar a sensação de pertença e conforto social; estimular o espírito solidário e incentivar a participação da comunidade”.

Ainda de acordo com a Fiocruz, “caso as estratégias recomendadas não sejam suficientes para o processo de estabilização emocional, busque auxílio de um profissional de Saúde Mental e Atenção Psicossocial (SMAPS) para receber orientações específicas”. Leia o documento na íntegra.

De acordo com a presidente do Conselho Regional de Psicologia de Pernambuco (CRP-02), Alda Roberta Campos, é preciso deixar claro que sofrimento psíquico é algo comum em meio ao cenário conturbado da pandemia. “Sofrimento psíquico todo ser humano tem, uns mais, outros menos. Em um momento de pandemia, todo mundo vai sofrer de algum jeito, pelo medo, dificuldade de sono, aumento de ansiedade, diminuição ou aumento de apetite. Vai ter interferência na vida, ninguém está imune ao sofrimento psíquico. Sofrimento não é doença”, comenta a presidente.

Alda Campos orienta que o autocuidado é um comportamento importante no processo de combate ao sofrimento psíquico, uma vez que caso esse sofrimento comece a impedir que o indivíduo realize suas atividades cotidianas, como trabalho, estudos, projetos, convivência social e higiene pessoal, começarão os indícios de que a pessoa pode, de fato, estar sendo acometida por um adoecimento mental.

“Olhar para si, se autoconhecer para entender qual é a sua demanda e quais são os seus limites. O que você consegue fazer? Qual o reconhecimento do seu sentimento? A partir disso, você faz o seu projeto. Não existe uma receita de autocuidado. Oriento que olhe para você, enxergue o seu contexto. Como você pode acolher e ser acolhido? Com quem você conta? Amigos, amigas, familiares são as pessoas que você pode contar. O que você tem feito em relação à construção da rotina, para ressignificar seu dia e seu tempo? O autocuidado é isso, é olhar para si mesmo, para tornar esse período menos difícil”, explica psicóloga.

Saiba mais - No site da Organização Pan-Americana de Saúde, órgão ligado à OMS, são publicadas informações sobre autocuidados durante da pandemia de Covid-19. Entre eles, está uma série de infográficos que destacam atividades importantes para o nosso dia a dia que nos ajudam a preservar o bem-estar e, por consequência, a nossa saúde mental. Confira, a seguir, um deles:

Folheto produzido pela OMS traz orientações sobre saúde mental em meio à pandemia do novo coronavírus. Imagem: Divulgação - Opas/OMS

Atuação do poder público é necessária. Saúde é um direito de todos os brasileiros

O LeiaJá ouviu especialistas em saúde mental e fontes de entidades que representam a atuação de profissionais da área, para refletirmos a respeito de ações e políticas, por parte do poder público, que possam ajudar a população brasileira a se proteger dos sofrimentos psicológicos e do adoecimento mental. Alda Campos, presidente do Conselho Regional de Psicologia de Pernambuco, compartilhou a sua análise, projetando iniciativas em prol da saúde – física e psíquica - da sociedade.

Para Alda, inicialmente é preciso compreender que o conceito de saúde envolve um bem-estar que possui várias esferas. Questões financeiras, de moradia, perspectivas de vida, acesso à transporte, alimentação saudável, lazer, educação, entre outras, são algumas dessas vertentes. Segundo a presidente do CRP-02, combater desigualdades é um dos primeiros passos para garantir o bem-estar dos cidadãos. “Quando a gente está falando de saúde mental, não estamos falando apenas de ter ou não um diagnóstico. Estamos falando de uma qualidade de vida que precisa ser cumprida diante da nossa Constituição. Na nossa Constituição Federal, saúde é um direito de todos e dever do Estado”, destaca. “A nossa orientação em relação ao poder público é que ele deve oferecer cuidado interdisciplinar e intersetorial para a população, isso quer dizer, condições de vida, acesso à educação e à água, por exemplo. Como vai lavar a mão quem não tem água? É dever do poder público promover condições melhores de moradia, de acesso à educação e à saúde”, complementa.

Na visão da presidente do Conselho Regional de Psicologia de Pernambuco, a pandemia denunciou uma falta de assistência à nossa população e potencializou as diferenças e desigualdades sociais que o povo enfrenta, tais como saúde e educação precárias. Segundo Alda Campos, o Governo Federal precisa pensar um cuidado de reestruturação e reorganização social para a redução dessas desigualdades. “Essas desigualdades têm um impacto imenso na saúde mental das pessoas”, comenta Alda.

De acordo com a gestora do CRP-02, é importante que o Governo Federal, por meio dos Estados e municípios, fortaleça a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), do Sistema Único de Saúde. “Precisamos de cuidados multidisciplinares. São zelos com vários profissionais que vão ofertar cuidados interdisciplinares. O governo precisa aumentar investimentos na saúde coletiva, com acompanhamento médico, psicológico, com terapia ocupacional, assistência social, enfermagem. Cuidado não só através do SUS, mas também com o Sistema Único de Assistência Social (SUAS). Proponho ações do governo que vão ofertar, por exemplo, centros de convivência, locais de apoio onde as pessoas podem pernoitar, como as pessoas em situação de rua, acessando uma alimentação adequada. A gente precisa ter trabalhos que vão fazer a oferta de profissionalização. É um cuidado geral”, complementa.

Sobre o oferecimento de profissionalização, estratégia para o campo social e, inclusive, da saúde, Alda defende que o trabalho é um instrumento essencial na vida do brasileiro. “O trabalho garante a sobrevivência e traz a ideia de perspectiva de projetos. Precisamos resgatar na população o desejo de crescimento, de sonhos, projetos. Quando a gente pensa em um trabalho psicoterápico da psicologia, buscamos tratar o outro com igualdade para ele entenda que precisa cuidar dele próprio. A população precisa mais do que cesta básica, precisa voltar à possibilidade de a pessoa desejar e querer crescer, tendo projetos e geração de renda”, opina.

Outro ponto mencionado pela psicóloga diz respeito ao sofrimento psíquico enfrentado pelos profissionais de saúde que estão na linha de frente de combate à Covid-19. Segundo o Ministério da Saúde, 257 mil profissionais de saúde foram infectados pela doença até então; 226 morreram. Na análise da presidente do CRP-02, o autocuidado é peça fundamental para que esses trabalhadores sigam firmes no acolhimento da população. “Estamos trabalhando o autocuidado, os profissionais precisam se cuidar para puder ter uma oferta de cuidado maior para o outro. A ideia do autocuidado é você poder garantir o cuidado com a sua saúde para cuidar das outas pessoas. É necessário para todas as pessoas, mais ainda para quem está na linha de frente. Terapeutas ocupacionais, enfermeiros, técnicos em enfermagem, assistentes sociais, médicos, todos os profissionais que estão tendo cuidado direto com a população que está buscando saúde. Vigilantes, pessoal da cozinha, copa, pessoal da limpeza, nutricionistas, pessoas na reta guarda e na linha de frente dos hospitais também precisam desse cuidado, porque é um sistema de saúde composto por uma série de profissionais que estão envolvidos. Todo mundo precisa dessa atenção, acolhimento e escuta especializada”, alerta Alda Campos.

Por fim, a presidente do Conselho Regional de Psicologia de Pernambuco destaca a necessidade do zelo pelos psicólogos e psiquiatras. “As pessoas têm uma ideia de que os psicólogos não têm problema. Fazem uma associação do profissional de saúde, de uma forma geral, com heróis e heróis passam a ideia de que têm super poderes, que são imbatíveis. Mas nós temos um índice de mortalidade grande entre profissionais de saúde. Nós somos profissionais que precisamos de equipamento de proteção individual, de acolhimento, de salários dignos, respeito, descanso. São pessoas que estão com medo, preocupadas em contaminar a própria família, que adoecem. Não existem heróis no sentido mágico de super poderes. São pessoas que escolheram uma profissão, que se dedicam à ela e precisam de condições mínimas de trabalho”, reivindica.

A presidente do Conselho Federal de Psicologia (CFP), Ana Sandra Fernandes, reitera que políticas públicas de saúde mental são essenciais para a sociedade brasileira. No entanto, na visão da presidente, o Governo Federal não tem valorizado essas políticas nos últimos anos. “Se a gente não tiver um investimento efetivo nas políticas públicas de saúde e assistência social que garantem à população serviços de qualidade, teremos problemas, principalmente em um país com o nível de desigualdade como o nosso. O que a gente vê no Brasil, infelizmente, é o processo oposto. A Emenda Constitucional 95, que congelou por 20 anos investimentos em políticas públicas, como saúde e educação, a curto, médio e longo prazo, tende a trazer uma desassistência de forma muito marcante para a população em geral”, critica.

Ana Sandra Fernandes, presidente do Conselho Federal de Psicologia. Foto: Comunição CFP

Para a presidente do CFP, o Estado precisa aplicar recursos financeiros em políticas públicas com financiamento adequado. “Deve investir nos sistemas que já existem e facilitar a criação e a promoção de políticas públicas que, efetivamente, garantam o acesso da população a serviços essenciais, garantindo desde as coisas mais simples, como a presença dos insumos necessários para o funcionamento de um serviço, até a presença de profissionais qualificados, enfim, tudo isso é necessário e tudo isso precisa ser garantido. A população tem direito constitucional a esses serviços”, comenta.

Ana Fernandes ainda tece uma crítica aos poderes públicos de uma forma geral. Segundo a presidente do CFP, o País não apresentou, até então, uma política pública de aporte à saúde mental da população durante a pandemia do novo coronavírus. “No Brasil, a gente não tem acesso à política pública, a um projeto explícito, de um programa de saúde mental, posto, principalmente, para o País nesse contexto de pandemia que a gente está vivendo. Nós desconhecemos qual é o projeto, qual é a proposta, qual é o plano dos órgãos governamentais para uma política efetiva de saúde mental. Até hoje, o Conselho Federal de Psicologia nunca foi chamado para a construção de um projeto. Sinto pessoalmente falta de uma política clara, definida, sobre como esse enfrentamento vai ser feito neste momento e no pós-pandemia”, diz a presidente.

Ainda de acordo com a gestora do Conselho Federal de Psicologia, cabe aos governos federal, estaduais e municipais promoverem o funcionamento de suas redes de atenção psicossocial e de todos os seus equipamentos, bem como os gestores públicos devem garantir o acesso da população – principalmente da parcela mais pobre - a elementos básicos, como alimentação, educação e até internet – ferramenta que propicia os atendimentos psicológicos remotos -. “Nós somos um ser integrado, não é possível falar de saúde fazendo recortes. Para que a gente possa ter saúde em uma visão muito mais ampla, que tem a ver com saúde mental, física, entre outras esferas, precisamos estar bem do ponto de vista físico, e precisamos ter as nossas necessidades garantidas socialmente. Acredito que a saúde mental entra em um conjunto de bem-estar, não só importante, mas também fundamental. O Governo Federal precisa trabalhar para que a gente viva de uma forma mais organizada, em uma sociedade mais justa e mais igual, porque isso também contribui de uma forma significativa para o nosso processo de saúde física e de saúde mental por consequência”, finaliza sua análise a presidente do Conselho Federal de Psicologia.

O professor de psiquiatria da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Bruno Monteiro, enxerga um cenário preocupante nos serviços públicos de saúde mental. De acordo com o docente, essa é uma das áreas mais carentes entre os segmentos de saúde direcionados à população. “A assistência em saúde mental já é um problema, uma área muito subvalorizada. Área muito pouca vista, é a última vista entre nas gestões públicas, em sua maioria. Você tem uma carência de serviço, pouco ambulatório, pouca psicoterapia, pouco médico psiquiatra. Os Caps não dão conta. Não estou vendo iniciativa no sentido de incremento do cuidado em saúde mental das populações”, avalia o professor, alertando que já havia, antes do cenário pandêmico, um contexto muito sério em relação à saúde mental da sociedade, potencializado após a Covid-19. “Já está tendo uma explosão de adoecimento mental, a pandemia potencializa e desencadeia um estado de mal-estar que já está presente nas pessoas. Sem pandemia, a situação da saúde mental já era um problema, as pessoas estavam muito ansiosas, deprimidas, tensas”, adverte o educador universitário.

Nascimento indica uma orientação que tem a ver com a forma que os governantes conduzem seus trabalhos sob os efeitos sociais do novo coronavírus. Segundo o professor da UFPE, os discursos dos gestores devem transmitir conforto. “Uma medida de saúde mental nessas horas é um grande sentimento de apaziguamento dado pelas autoridades. A medida terapêutica para aplacar o sofrimento dessas pessoas é tudo o que os políticos não estão fazendo agora. É o cara cuidar bem dessa população, dizer que está tomando as medidas: ‘vocês podem contar com a gente nisso, teremos assistência aqui, vai estar sendo resguardado financeiramente ali’. Claro que as pessoas vão precisar de um psicólogo e eventualmente de uma medicação. Mas, além disso, a forma como é conduzida a catástrofe, por parte do poder público e das autoridades sanitárias, também tem influência sobre a saúde mental das pessoas”, explana.

Ao sugerir possíveis estratégias de combate aos males mentais, o professor da UFPE destaca que são fundamentais o planejamento e a execução de ações emergenciais por parte dos governos. Entretanto, o docente de psiquiatria não acredita na celeridade dos poderes públicos nesse sentido. “O Ministério da Saúde, fundamentado nas instituições consultivas, como a Associação Brasileira de Psiquiatria, que é uma entidade de referência técnica, deveria criar políticas públicas cuja a tradução seja a implantação de algumas medidas específicas em curtíssimo prazo, começando com as medidas para dar uma acalmada na população, propiciando espaços de lazer, de convivência segura presencial ou on-line. No último estágio, deve haver o aumento da assistência à saúde, com maior disponibilidade de mais psicólogos e psiquiatras para a população. É fundamental um aumento da oferta e disponibilidade de profissionais de saúde mental, sobretudo psicólogos e psiquiatras na rede pública. A gente sabe que vai ser muito difícil de ser implementado”, diz o professor da UFPE.

O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde, Tedros Adhanom Ghebreyesus, também reforçou seu alerta em orientação aos chefes de poder de todos os países que enfrentam a problemática pandemia do novo coronavírus. “Devemos aproveitar esta oportunidade para criar serviços de saúde mental adequados para o futuro: inclusivos, baseados em comunidades acessíveis. Porque, em última análise, não há saúde sem saúde mental”, frisa o gestor da OMS.

O que diz o Ministério da Saúde?

O LeiaJá também entrou em contato com o Ministério da Saúde em busca de um representante que pudesse nos responder questionamentos a respeito da postura do Governo Federal no âmbito da saúde mental em meio ao cenário pandêmico. Por meio da sua assessoria de imprensa, a pasta respondeu com informações oriundas de suas equipes técnicas. Confira:

LeiaJá - A partir dos efeitos da pandemia do novo coronavírus, tais como crise econômica, luto, medo da doença, entre outros, profissionais e entidades ligadas à saúde mental alertam que o Brasil pode ter aumento de casos de depressão, ansiedade e transtorno de estresse pós-traumático. O Ministério da Saúde concorda com esses alertas? De que maneira a pasta interpreta e explica o atual cenário de saúde mental da população? 

Ministério da Saúde - A literatura científica sugere que medidas restritivas como quarentena, isolamento e distanciamento social têm um impacto sobre o bem-estar psicológico das pessoas, bem como reações em decorrência do medo da contaminação e/ou do luto pelos óbitos de pessoas próximas. As reações psicológicas às pandemias incluem comportamentos desadaptativos, angústia emocional e respostas defensivas como: ansiedade, medo, frustração, solidão, raiva, tédio, depressão, estresse, comportamentos de esquiva, assim como diversas outras manifestações psíquicas e/ou físicas. Esse é o fenômeno que os especialistas estão chamando de “quarta onda da evolução da pandemia de Covid – 19”. 

LeiaJá - Quais são as ações promovidas pelo Ministério da Saúde, a nível federal, em prol da saúde mental da população? E durante a pandemia, quais ações foram criadas para atender os usuários do SUS? 

Ministério da Saúde - A Política Nacional de Saúde Mental compreende as estratégias e diretrizes adotadas pelo País com o objetivo de organizar a assistência às pessoas com necessidades de tratamento e cuidados específicos em Saúde Mental, visando fortalecer a autonomia, o protagonismo e promover uma maior integração e participação social destas pessoas. A atenção às pessoas com necessidades relacionadas aos transtornos mentais, incluindo aquelas com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas, são assistidas nos pontos de atenção à saúde da Rede de Atenção Psicossocial, no âmbito do Sistema Único de Saúde. A Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) é composta atualmente pelos serviços Atenção Primária à Saúde, os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS)  em suas diversas modalidades, Serviços de Residência Terapêutica (SRT), Unidades de Acolhimento, Unidades de Referência em Saúde Mental em Hospitais Gerais, Leitos em Hospitais Psiquiátricos Especializados e Equipes Multiprofissionais em Saúde Mental. 

No âmbito Nacional, já foram realizadas diversas ações relativas à saúde mental no contexto da pandemia: 

Nota Técnica elaborada pela Coordenação Geral de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas (CGMAD), com as recomendações à Rede de Atenção Psicossocial sobre as estratégias de organização no contexto da infecção de Covid – 19; 

Parceria com a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS) com a oferta de uma campanha para promover a saúde mental no contexto de Covid-19, através de materiais voltados aos profissionais de saúde, familiares, idosos e cuidadores e população em geral, com o objetivo amenizar os efeitos negativos da pandemia da Covid-19 na saúde mental dos brasileiros. 

Projeto Telepsi, realizado em parceria com o Hospital das Clínicas de Porto Alegre, que oferece teleconsulta psicológica e psiquiátrica para manejo de estresse, ansiedade, depressão e irritabilidade em profissionais do SUS que enfrentam a Covid-19 - e mais recentemente ampliada para os trabalhadores dos serviços essenciais. 

Desenvolvimento de um questionário on-line através do FormSUS, com o objetivo avaliar o impacto da pandemia de Covid-19 e do distanciamento social na saúde mental da população brasileira. 

Lançamento de uma série de ações com o objetivo de informar à população sobre questões envolvendo doenças mentais, na expectativa de promover saúde e bem-estar do brasileiro diante da pandemia da Covid-19. A primeira iniciativa consiste em três eventos virtuais do programa “Mentalize: sinal amarelo para atenção à saúde mental” que está marcado para os dias 25, 26 e 27 de agosto, sempre às 19h, no canal do Youtube do Ministério da Saúde. Serão encontros on-lines, abertos ao público em geral, que reunirão especialistas para falar sobre temas que envolvem saúde mental com o foco na saúde da criança e do adolescente, dos trabalhadores e dos idosos. O objetivo é desmistificar e reduzir estigmas sobre doenças mentais. Acompanhe: youtube.com/minsaudeBR.

LeiaJá - De que forma o Ministério da Saúde trabalha, em parceria com os estados e municípios, para oferecer serviços gratuitos de atendimentos psicológicos e psiquiátricos, além dos serviços de acolhimento psicossocial?  

Ministério da Saúde - A gestão do Sistema Único de Saúde (SUS) é tripartite, ou seja, compete à União, aos estados e aos municípios a prestação de ações e serviços de saúde. O Ministério da Saúde atua por meio de repasse de recurso financeiro de incentivo e de custeio para habilitação dos serviços da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS). 

LeiaJá - Psiquiatras alertam que, no pós-pandemia, pode haver um aumento expressivo em casos de ansiedade e de pressão. Quais são os planos do Governo Federal para combater um possível surto de transtornos mentais no pós-pandemia?  

Ministério da Saúde - O Ministério da Saúde tem trabalhado para ampliação dos serviços de atendimento à saúde mental, em 2020 foram incentivadas as aberturas de 18 novos CAPS, 8 Serviços de Residência Terapêutica (SRT) e 29 novos leitos de saúde mental em hospital geral. Está prevista a habilitação de 77 novos CAPS, 100 SRT e 144 leitos em hospitais gerais. 

LeiaJá - Em 2019, quanto foi investido em serviços de saúde mental e quanto já foi investido em 2020? Já há uma projeção de recursos para 2021? 

Ministério da Saúde - Em 2019 foi incorporado no teto dos Fundos Municipais e Estaduais de Saúdeo valor de R$ 85,9 milhões. Foram ainda investidos R$ 12 milhões para estruturação e abertura de novos serviços. 

Em 2020, foi incorporado o valor de R$ 5,4 milhões no teto e pago R$ 814 milhões de incentivo para abertura de 18 CAPS, 8 SRT e 29 leitos em hospital geral. Está em tramitação a habilitação de novos serviços que alcançarão um total de R$ 66,6 milhões/ano. Para 2021, o planejamento orçamentário ainda está em elaboração. 

Para manter o distanciamento social recomendado para evitar a propagação da Covid-19, profissionais de diversas áreas estão tendo que trabalhar em home office. No entanto, esse cenário pode levá-los a uma situação de estresse e cansaço. Segundo especialistas, é importantes que os profissionais mantenham estabilidade emocional e exercitem o hábito de fazer pequenas pausas para relaxar a mente.

Métodos de alívio

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De acordo com a psicóloga do Serviço Social da Indústria (Sesi) em Pernambuco, Kátia Santos, o home office pode afetar o desempenho do trabalhador de diversas formas, que vão desde barulhos alheios a sua atividade até a preocupação em não saber se o seu trabalho está sendo visto da maneira como ele queria. “O trabalho ocupa um papel central na vida das pessoas e é um fator relevante na formação da identidade e na inserção social. Neste contexto, o bem-estar adquirido pelo equilíbrio entre as expectativas em relação à atividade profissional e à concretização das mesmas é um dos fatores que constituem a qualidade de vida. O que pode afetar o desempenho do trabalhador no home office são distrações, como barulhos de obras, televisão e redes sociais, a pressão por mostrar produtividade, o convívio mais intensificado com os familiares e a insegurança de não saber se o trabalho está sendo visto da forma como esse profissional gostaria”, explica. 

Segundo Kátia, as atitudes que devem ser tomadas pela pessoa que está trabalhando no home office para ter o melhor rendimento nessa modalidade de trabalho, são: administração do tempo, ficar longe de tudo que possa desconcentrá-la, ter hábitos saudáveis, entre outras. “A pandemia da Covid-19 nos impôs a necessidade de estar em distanciamento social e fez com que várias empresas adotassem o regime home office. Essa forma de trabalhar remotamente requer alguns cuidados para que o andamento das tarefas não seja afetado e não haja estresse desnecessário", disse a especialista.

Ainda de acordo com a psicóloga, existem atitudes que podem ser tomadas para que a produtividade aumente ao decorrer do expediente de trabalho. São elas:

"Administrar o tempo: organize o tempo, planeje e invista na vida pessoal e profissional de maneira mais eficiente. Por exemplo, use planners, planeje um cronograma semanal, marque compromissos fixos, defina horários livres para cada dia da semana, separe uns momentos para descansar, defina suas atividades por ordem de prioridades, entenda seu período de maior concentração e nunca deixe para se planejar em cima da hora, pois a probabilidade é que você não consiga dar conta e surja a sensação de frustração de incompletude", explica Kátia.

"Evitar distrações e ficar perto de tudo aquilo que tira o foco, como televisão, redes sociais, barulhos externos e até de animais de estimação. É importante abrir mão de algumas coisas para conseguir focar e realizar as atividades satisfatoriamente. Manter hábitos saudáveis, tirar o pijama e usar  roupas confortáveis e adequadas para trabalhar. Ter comprometimento com os prazos de entrega”, completa a psicóloga. 

Além das formas de aumentar a produtividade, também há importância nos intervalos, como também nas ações de dar atenção à saúde emocional, a exemplo da realização de atividades em família. “Fazer pausas, afinal ser produtivo não é trabalhar muitas horas. É essencial respeitar os limites, ter um bom planejamento e tirar intervalos curtos para arejar a mente. 

Investir na saúde emocional. Conversar on-line com parentes e amigos, além de estabelecer atividades para fazer com a família. Quem está bem com os afetos se sente mais motivado para trabalhar, pois é por e pela família que as pessoas buscam se estabilizar da melhor forma no trabalho”, acrescenta. 

Quando a pessoa se sentir cansada e/ou estressada no home office, o que ela deve fazer para reverter esse quadro, de acordo com Kátia, é realizar ajustes na rotina, como também reconsiderar o planejamento de atividades. “Uma boa opção é fazer ajustes na rotina e testar novos horários de trabalho. Por exemplo, em vez de trabalhar das 9h às 18h, é possível começar e terminar o trabalho em um horário diferente. Outra sugestão é rever a organização, o planejamento de atividades, otimizar as fontes de prazer e buscar o equilíbrio entre a vida profissional e pessoal”, recomenda. 

A psicóloga diz que o que pode auxiliar para evitar o cansaço e a irritabilidade é cuidar da saúde física e menciona, ainda, que uma técnica que pode ajudar a reduzir o estresse é a respiração profunda. “Combinação de trabalho em casa e distanciamento social é a receita perfeita para o estresse. O que pode ajudar a evitar o cansaço e a irritabilidade é tentar se manter tranquilo e equilibrado, cuidar da saúde da coluna, ficando atento à má postura, e praticar exercícios físicos. Uma técnica que ajuda a diminuir o estresse é a respiração profunda, que consiste em puxar o ar por cinco segundos e expirá-lo também por 5 segundos, repetindo a ação por 10 vezes”, assegura a profissional. 

De acordo com o consultor em Recursos Humanos e coordenador de treinamentos na Blackbelt It Solutions Home Office, Jessé Barbosa, entre as maiores dificuldades dos trabalhadores no home office está a gestão do tempo e capacidade de concentração. “Antes da pandemia, grande parte dos colaboradores gerenciava o seu tempo com atividades presenciais, reuniões, apresentação de resultados, entre outras atividades. Com a pandemia, o home office se tornou comum, mas a gestão do tempo e capacidade de concentração não é tão fácil em casa, visto que família e outros assuntos aparecem corriqueiramente e que furtam a atenção. Já outros tendem a ficar mais tempo do que o normal à disposição do trabalho, algo que no mundo on-line é bem comum”, conta ele. 

Jessé ressalta que o trabalho em casa pede mais atenção em relação a capacidade de concentração e corrobora o que já foi afirmado pela psicóloga Kátia Santos, sobre a necessidade de realizar pausas durante o expediente. “Entender que o home office exige maior capacidade de concentração, mas que como ser humano é necessário uma pausa, uma das técnicas bem comum a ser aplicada é a cada 30 minutos de atividades sair da frente do computador, se levantar, tomar água e ir no banheiro para que o cérebro possa relaxar e diminuir a atividade cerebral”, explica o consultor. 

Quem vive na pele

A professora de espanhol Flávia Albuquerque, que está trabalhando com aulas remotas, conta que o torna o trabalho mais cansativo é o fato de ter que criar novas estratégias a cada aula para que os estudantes se mantenham interessados no modelo de ensino a distância. “Bem, minha rotina é um pouco puxada, pois estou trabalhando com aulas remotas. Dou aula pela manhã e à tarde. O que torna mais desgastante é ter que criar a cada aula novas estratégias para que o alunado se interesse e participe dessa nova modalidade. Não está sendo fácil.”, desabafa. 

A docente diz que suas maiores dificuldades no home office são a questão estrutural e o fato de estar em casa, onde os diferentes papéis acabam transitando lado a lado. “Além da dificuldade com a parte estrutural (internet, material didático e etc.), tive que montar uma minissala de aula; existe a questão de estar em casa, ou seja, misturar os papéis - mãe, esposa e dona de casa. Uma luta.”, conta. 

Flávia conta, ainda, que o que faz quando se sente cansada e/ou estressada nessa modalidade de trabalho é escutar uma ópera para relaxar e praticar meditação. “Como o tempo de descanso está praticamente se resumindo ao horário noturno, procuro antes de dormir, escutar uma música relaxante (ópera) e pratico um pouco de meditação”, diz a professora de língua espanhola.

Depressão, ansiedade, estresse: a pandemia de COVID-19 causou uma "crise de saúde mental" sem precedentes em todo o continente americano, e gerou um "aumento da violência doméstica", alertou a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), nesta terça-feira (18).

"A pandemia de COVID-19 provocou uma crise de saúde mental em nossa região em uma escala que nunca vimos antes", disse a diretora da Opas, Carissa Etienne.

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De acordo com as pesquisas, nos Estados Unidos, Brasil e México, os três países americanos mais afetados pelo coronavírus, aproximadamente metade dos adultos estão estressados devido à pandemia.

Isso aumentou o consumo de drogas e álcool, o que "pode agravar os problemas de saúde mental", alertou Etienne.

As medidas para conter a pandemia, somadas com os impactos sociais e econômicos do vírus, "estão aumentando os riscos de violência doméstica: a casa não é um local seguro para muitos", acrescentou, ao destacar a multiplicação dos pedidos de ajuda por abusos na Argentina, Colômbia e México.

Por outro lado, devido à interrupção de certos serviços de apoio e ao isolamento das vítimas, "é provável que o alcance real da violência doméstica durante a COVID-19 seja subestimado", disse.

Para a chefe da Opas, as crescentes necessidades de atenção da saúde mental e os recursos reduzidos para abordá-las criam uma "tempestade perfeita" em muitos países.

"É urgente que o apoio à saúde mental seja considerado um componente fundamental da resposta à pandemia", pediu.

Com quase 11,5 milhões de casos e mais de 400.000 mortos, o continente americano continua sendo o mais afetado pela COVID-19 no mundo, com 55% dos novos casos registrados na semana passada, segundo dados da Opas.

"As Américas têm aproximadamente 13% da população mundial, mas somam até agora 64% das mortes mundiais registradas oficialmente", disse Etienne.

Estados Unidos e Brasil são os países mais afetados, mas têm-se observado uma tendência crescente em regiões estáveis há várias semanas, como o Caribe.

Entre os países que registraram novos casos, ela destacou a República Dominicana, Jamaica, Bahamas e Trinidad e Tobago, além do Peru.

Polêmica, a prova do Enem, edição 2020, sofreu discussões antes mesmo da sua aplicação. Cronograma alterado e candidatos em desigualdade na preparação são algumas das sérias questões problemáticas que permeiam o Exame, responsável por levar brasileiros à universidade. Somam-se a isso os efeitos da pandemia do novo coronavírus. O especial "Estudante, você também é herói", do LeiaJá, traz, agora, a rotina de quem enfrenta ansiedade e incertezas em busca da aprovação.

Em meio à pandemia do novo coronavírus, estudantes tiveram que se adaptar, de maneira inesperada, ao formato de ensino remoto, para seguir a determinação de isolamento social imposta com o objetivo de evitar a propagação da Covid-19. No entanto, essa mudança pegou os estudantes despreparados para atividades on-line, o também modificou a forma preparação para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).

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Entre os quase 5,8 milhões de inscritos confirmados no Enem 2020, está a estudante pernambucana terceiranista Avani Maria da Fonseca, de 18 anos. A adolescente é estudante da Escola de Referência em Ensino Médio (EREM) Coronel João Francisco, localizada em São Vicente Ferrer, no Agreste de Pernambuco. Ela já fez a prova duas vezes como treineira e agora tentará uma vaga na universidade no curso de engenharia da computação.

Avani trabalha e estuda, focando na aprovação via Enem. Foto: Cortesia

Natural de Vicência, na Mata Norte, e residente do distrito de Siriji, anexo ao município de São Vicente Férrer, Avani divide o seu tempo, majoritariamente, entre os estudos e o trabalho em uma pizzaria. “De segunda a sexta pela manhã tenho aulas remotas da escola, na parte da tarde ou faço as atividades da escola ou faço massa de pizza (trabalho em uma pequena pizzaria), durante a noite estudo para o vestibular e tenho as aulas da isolada, porém alguns dias estou na pizzaria. No sábado, estudo o que não deu para estudar durante a semana e trabalho, o domingo é meu dia de lazer e de me organizar, mas à noite estou na pizzaria novamente”, conta a jovem.

A jovem teve sua rotina de estudos para o Enem mudada depois da chegada do novo coronavírus. “Antes da pandemia, nas segundas, terças e sextas, eu tinha que estudar três matérias, pois, nas terças e quintas era integral e eu chegava cansada demais para estudar além de uma matéria. Agora posso dividir duas matérias para cada dia”, explica.

Para Avani, as dificuldades em estudar em casa são o barulho e a falta de concentração. Além disso, por não ter o contato direto com professores, a jovem sente dificuldade nas disciplinas de química, história, filosofia e física e convive com a ansiedade e pressão para conseguir tirar uma boa nota do Enem.

A estudante, que tem uma rotina muito corrida, conta que em seu tempo livre gosta de assistir filmes, séries e conversar com sua família, além de tocar violão, que é o seu hobby.

Em relação aos estudos, Avani tem preferências por ambientes em que ela possa se concentrar. Por conta da proximidade com o Enem e do foco nos estudos, a jovem deixou em segundo plano o seu hobby para conseguir se aproveitar melhor o tempo no aprendizado das matérias. “Em um ambiente organizado e silencioso, sem que alguém atrapalhe. Ultimamente, tenho priorizado os estudos e deixado de lado meu hobby”, diz.

No vídeo abaixo, ela conta um pouco do seu dia a dia e as suas expectativas para o Enem e a faculdade. Confira:

Segundo a psicóloga Soraya Matos, o estudo em casa pode contribuir para que o aluno fique ansioso e se sinta pressionado para o Enem por diferentes fatores. No entanto, ter uma rotina com propósito gera uma previsão das atividades, o que pode ajudar a diminuir os fatores negativos que atrapalham o estudo. “Dependendo do perfil de cada estudante, seu histórico de estudos e como enxerga a realidade atual, estudar em casa pode influenciar para que ele fique ansioso e se sinta pressionado para o exame. Sabemos que a ansiedade é um sentimento ligado à preocupação de um futuro que não se controla, medos e um alerta natural do corpo para novos desafios. Sendo assim, havendo uma rotina eleita com sentido de vida, a previsibilidade das atividades contribuirá para minimizar a pressão, por consequência a própria ansiedade”, conta.

Sobre como o estudante que está se preparando para o Enem deve se comportar diante da situação de isolamento social Soraya diz que deve haver um aprendizado para que eles são se tornem reféns da pressão e da ansiedade. “Aprendendo com tudo isso, considerando o estudo a grande oportunidade de treino para desenvolver recursos rumo à aprovação. Outros caminhos são  procurar se desafiar com atividades em família, recompensas pelas metas concluídas, anotar a performance do dia, celebrar as pequenas conquistas, construir o diário da gratidão. Eles servem para preencher o vazio da ordem racional. Perguntas como: ‘o que consigo fazer quando não quero estudar?’, ‘O que me estabiliza?’, ‘O que faço com meu tempo quando não consigo estudar?’ são valorosas na realidade atípica que estamos vivendo”, continua ela.

De acordo com Soraya, se o estudante já estiver sofrendo de ansiedade e se sentindo pressionado, o que ele deve fazer para reverter esse quadro e não prejudicar a sua preparação para o Enem é buscar a ajuda de profissionais requisitados para tratar dessas questões.

Sobre como está sendo a preparação dos feras para o Enem nesse período de pandemia, o professor de redação Diogo Xavier conta que muitos estudantes ainda têm dificuldade devido à questão estrutural, pois os recursos disponíveis a eles acabam sendo falhos e não suprem totalmente as necessidades na hora do estudo. “É um período difícil e de constante adaptação. Muitos jovens ainda têm dificuldade por causa da estrutura: não ter espaço exclusivo para estudar, problema com internet, celular travando… Diante disso, a maioria está fazendo o possível dentro das limitações para dar o seu melhor”, explica o professor.

Segundo Xavier, no atual cenário de isolamento social em que os estudantes têm que estudar em casa, a principal dificuldade, no caso da disciplina de redação, é que os feras não conseguem interagir no modelo de ensino a distância da mesma forma como desenvolveriam presencialmente. “No caso da redação, a dificuldade maior é que muitos não conseguem interagir na aula remota como fariam em sala de aula, deixando dúvidas por tirar, especialmente na análise de textos e discussão de tema. Então é natural uma queda de rendimento, variando de aluno para aluno”, afirma o docente.

Diogo dá, ainda, uma dica valiosa para que os feras tenham o melhor rendimento possível estudando em casa em casa e não deixem a ansiedade e a pressão atrapalhá-los nesse período de preparação para o Exame. “O principal é planejar. Fazer um cronograma de estudos e tentar manter uma rotina é a forma mais eficiente de potencializar o rendimento. Nem todo dia será possível manter o máximo de produtividade, mas equilibrar os momentos de foco e algumas flexibilizações e ‘respiros’ pode ajudar”, informa o professor.

Confira, abaixo, as demais matérias do especial “Estudante, você também é herói”. Nossos repórteres mostram as rotinas de alunos, da educação infantil à pós-graduação, durante a pandemia do novo coronavírus:

--> Pequenos 'grandes' estudantes e o ensino remoto

--> A perseverança de Ana e o carinho pela pedagogia

--> Pós-graduação sofre os efeitos da Covid-19

--> Formatura mais cedo: estudantes trocam aulas por hospitais

--> O que o futuro reserva para os estudantes após a pandemia?

O hábito de roer as unhas sempre se mostrou presente em situações de ansiedade e estresse. Porém, na pandemia do coronavírus (Covid-19), a prática tornou-se ainda mais recorrente e pode trazer sérios prejuízos para a saúde.

As unhas acumulam diversos microorganismos, como bactérias, fungos e vírus, que são ingeridos pelo indivíduo durante a ação de roer, o que pode causar doenças infecciosas gastrointestinais. "Além disso, muitas pessoas roem a pele envolta das unhas, propiciando a entrada de germes na dobra ungueal e favorecendo a infecção e inflamação ao redor das unhas, processo esse chamado de paroniquia", explica a dermatologista Fabiana Seidl.

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Algumas práticas podem ajudar a evitar o vício. As mulheres podem optar por esmaltes com gosto ruim, que ajudam a não roer. Outra dica é sempre manter as unhas cortadas e lixadas. "Se mesmo assim o hábito persistir, sugiro procurar ajuda profissional de um psicólogo para tentar identificar qual é o real motivo que está levando a pessoa a manter esse hábito, que na maior parte dos casos tem um fundo ansioso", orienta a dermatologista.

Durante a quarentena, é aconselhável deixar as unhas sem esmalte ou base e higienizá-las com frequência. "Existem hidratantes específicos para mãos e para as unhas no mercado, mas podemos usar óleo de amêndoas, que cumpre muito bem a função de hidratar mãos e unhas", indica Fabiana.

Pessoas que utilizam muitos produtos de limpeza, lavam muita louça e roem as unhas, devem ficar mais atentas. "Sugiro sempre usar luvas grossas de borracha, isso evita que as unhas fiquem úmidas e propiciem infecção por fungos, além de proteger contra a ação química dos produtos. Não existe tratamento de unhas frágeis sem o uso correto de luvas", conclui a dermatologista.

O Brasil já era considerado um país ansioso mesmo antes do coronavírus, com 18 milhões de brasileiros convivendo com o transtorno, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). Por causa da pandemia, os relatos de pessoas com ansiedade só têm aumentado.

Segundo pesquisa da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), por meio de um questionário on-line durante os dias 20 de março e 20 de abril, que contou com a resposta de 1.460 pessoas de 23 Estados, os casos de ansiedade e estresse tiveram um aumento de 80%. Além disso, a pesquisa revelou que as mulheres são mais propensas do que os homens a sofrer com ansiedade e estresse durante esse período.

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No início da pesquisa (entre 20 e 25 de março), o percentual de pessoas que relataram sintomas de estresse agudo era de 6,9%. O número subiu para 9,7% (entre 15 e 20 de abril). Os casos de crise aguda de ansiedade apresentaram um salto de 8,7% para 14,9%.

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O psicólogo Raimundo Neto, pós-graduado em Neuropsicologia e especialista em Avaliação Psicológica, explica que, por sua natureza, o ser humano está acostumado a sobreviver em grupo. No entanto, com a obrigação do isolamento social, tudo precisou ser modificado, inclusive a rede de apoio social, os familiares e amigos. Reencontros e um simples abraços precisaram ser substituídos por contato virtual.

As transformações de atividades cotidianas repentinamente provocaram uma série de impactos e repercussões emocionais que podem ser interpretadas negativamente e aos quais as pessoas não estavam acostumadas.

De acordo com o psicólogo, os primeiros sinais de uma ansiedade, com episódio depressivo ou estresse acima do normal, são notados em atividades cotidianas como arrumar a casa, ir ao banco e não conseguir produzir no trabalho.  “A capacidade de memorização, de atenção e uma mudança abrupta de humor são alertas para buscar uma avaliação profissional”, observa Raimundo Neto.

“Para driblar os pensamentos negativos é importante primeiramente uma autoanálise sobre aquilo que anda ‘alimentando’ a mente. Consumir o dia inteiro noticiários televisivos, acompanhando o número de óbitos e infectados, pode trazer um impacto negativo para a saúde mental. Uma vez que constantemente se está falando sobre o assunto, ele começa a fazer parte maior do cotidiano. É importante buscar outras fontes de informações, não implicando se alienar do que está acontecendo, mas não permitir que tudo seja assimilado de maneira passiva”, explica o especialista.

As práticas diárias de exercício físico, meditação, tarefas vistas como espirituais, música, leitura, assistir filmes e seriados podem ser consideradas estratégias para a diminuição da ansiedade e a promoção de saúde mental.

A universitária Thainá Ramos confessa que no início da pandemia teve muitas crises de ansiedade. Antes de começar o isolamento social, a jovem já tinha parado de tomar remédios que ajudavam a controlar a angústia, mas teve que voltar porque passava noites em claro com falta de ar. “Pensava no que poderia acontecer daqui a um ou dois meses. Tentava imaginar como iria ficar o mundo, os meus familiares e amigos. Cheguei até imaginar que poderia está com os sintomas”, relata.

Thainá buscou ajuda com uma psicóloga on-line para aprender a lidar melhor com a situação atual.  Deixou de assistir os noticiários, caçar informações na internet e de entrar tanto nas redes sociais, porque sempre tinha algo relacionado à pandemia.

Com auxílio de uma profissional da saúde, a universitária montou uma rotina de exercício físico, começou assistir filmes e seriados, colocou o planejamento de abrir a doceria que desejava e se dedicar mais a si. “Hoje, me sinto bem melhor e não tomo mais remédio. Quando percebo que estou prestes a ter uma crise, procuro ocupar a minha mente e não entrar naquele jogo da ansiedade. Procuro fazer e ver coisas que vão me deixar alegre, danço, ouço música e converso com meu namorado e minha família, eles me ajudam bastante a lidar com tudo isso”, conta Thainá Ramos.

A rotina de trabalho da assistente social Tayane Ramos se modificou durante o período de pandemia. Ela começou a trabalhar um dia sim e o outro não. Com a ajuda de terapia on-line, que mantém há mais de um ano, e de remédios, tem conseguido ficar estável, mas no início da quarentena, afirma, as crises se intensificaram e ela enfrentou noites de insônia e falta de apetite.

Hoje, Tayane tenta perceber quais são os gatilhos que podem despertar as crises de ansiedade. “Tento me acalmar e repetir que vai passar igual das inúmeras vezes. A partir do momento que vou me acalmando e respirando fundo, vai ficando tudo melhor. Eu acho importante sentir e lidar com as crises”, afirma a assistente social.

Além de assistir a seriados, conversar com as amigas e a família, a internet tem sido muito útil para a jovem. Ela conta que compartilhava nas redes sociais o que sentia e percebia que muitas pessoas passavam por isso também, e de alguma forma buscava ajudar e ser ajudada. “Nós precisamos fazer isso, enfrentar a situação e conversar com pessoas que têm ansiedade, ler textos que confortem, mas é fundamental a ajuda de um profissional, saber se deve tomar remédio ou não. É necessário levar a saúde mental como prioridade e buscar ajuda. Apesar da dor que sentimos e dos sintomas, somos fortes e capazes de conseguir vencer”, conclui Tayane Ramos.

Por Amanda Martins

A Cannabis medicinal será estudada como forma de aliviar sintomas de sobrecarga psicológica em médicos e enfermeiros da linha de frente do combate a pandemia do Novo Coronavírus. A ideia é demonstrar como a planta é eficaz no tratamento de problemas gerados pelo momento que vivemos.

O estudo foi aprovado esta semana pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos (CEPSH) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). O título da pesquisa é “Impacto do óleo integral de Cannabis na saúde mental de profissionais da linha de frente no combate a COVID-19”.

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“A cannabis já tem efeito consagrado como ansiolítico. Neste momento de pandemia, estes profissionais estão expostos a uma alta carga de estresse que acaba refletindo fisicamente e mentalmente. No estudo, iremos avaliar como a cannabis atua no controle da ansiedade, depressão e estresse destes profissionais”, explicou o diretor da Associação Brasileira de Apoio Cannabis Esperança (Abrace Esperança), Cassiano Teixeira.

Irão participar 300 profissionais da saúde, entre médicos e enfermeiros. O óleo a ser utilizado no estudo é fabricado pela Abrace e será disponibilizado a todos de forma cega, ou seja, sem que eles saibam se estão utilizando cannabis ou não.

“Eles irão receber um medicamento feito com o extrato integral da planta com 100mg/mL de CBD ou placebo. Estes profissionais serão acompanhados durante seis meses de tratamento, e receberão um questionário para auto-avaliação e consultados por médicos da equipe por telemedicina”, detalhou o diretor da Abrace.

A previsão de resultados é para o mês de março de 2021. Este será o primeiro estudo da espécie no Brasil.

Da assessoria da Abrace Esperança

Medo, ansiedade, notícias ruins, crise política, problemas econômicos, desemprego. A pandemia do novo coronavírus ocasionou uma série de dificuldades que estão castigando a rotina da sociedade. Pesquisa da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), realizada por meio do professor Alberto Figueiras, da Instituto de Psicologia da entidade, apontou que incertezas e as mudanças impostas pelo isolamento social vêm provocando sofrimento psíquico: casos de depressão praticamente dobraram entre os brasileiros entrevistados, enquanto os registros de ansiedade e estresse demonstraram crescimento de 80%.

A partir desse cenário preocupante, o programa “Quando passar... Como será o mundo após a pandemia?” debate, nesta terça-feira (23), o tema “Fé X angústias: como resistir em tempos difíceis e acreditar no futuro?”. A live é exibida no Youtube do LeiaJá, por meio do Instagram @leiaja e no canal no YouTube Vai Cair No Enem. Assista:

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Participam da transmissão a psicóloga Silvia Regina Rodrigues, o sacerdote juremeiro e mestre em ciências da religião Alexandre L’Omi L’Odò, o psicólogo Dino Rangel, além do padre e pároco da Paróquia Nossa Senhora da Luz, Davi Gonçalves. A apresentação fica por conta do jornalista Nathan Santos.

O ‘Quando passar... Como será o mundo após a pandemia?’ é uma idealização do LeiaJá em parceria com o projeto Vai Cair No Enem. O programa é exibido todas as quartas-feiras, às 16h30, no YouTube do LeiaJá, bem como por meio do Instagram.

Proposta - Os convidados do programa não apresentam “verdades absolutas” sobre a futura sociedade do período pós-pandemia, uma vez que há muitas dúvidas acerca de como os países se recuperarão das consequências causadas pela proliferação do vírus em diferentes áreas. Porém, eles revelam projeções, a partir das suas vivências pessoais e principalmente profissionais, que possam nos apresentar possíveis panoramas. As temáticas abordadas nas lives serão diversas, permeando áreas como educação, mercado de trabalho, esportes, política, medicina, ciência, tecnologia, cultura, entre outras.

Medo, ansiedade, notícias ruins, crise política, problemas econômicos, desemprego. A pandemia do novo coronavírus ocasionou uma série de dificuldades que estão castigando a rotina da sociedade. Pesquisa da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), realizada por meio do professor Alberto Figueiras, da Instituto de Psicologia da entidade, apontou que incertezas e as mudanças impostas pelo isolamento social vêm provocando sofrimento psíquico: casos de depressão praticamente dobraram entre os brasileiros entrevistados, enquanto os registros de ansiedade e estresse demonstraram crescimento de 80%.

A partir desse cenário preocupante, o programa “Quando passar... Como será o mundo após a pandemia?” debate, nesta terça-feira (23), às 16h30, o tema “Fé X angústias: como resistir em tempos difíceis e acreditar no futuro?”. A live será exibida no Youtube do LeiaJá, por meio do Instagram @leiaja e no canal no YouTube Vai Cair No Enem.

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Participam da transmissão a psicóloga Silvia Regina Rodrigues, o sacerdote juremeiro e mestre em ciências da religião Alexandre L’Omi L’Odò, o psicólogo Dino Rangel, além do padre e pároco da Paróquia Nossa Senhora da Luz, Davi Gonçalves. A apresentação fica por conta do jornalista Nathan Santos. O programa será exibido excepcionalmente nesta terça-feira em virtude do feriado de São João, celebrado quarta-feira (24) em Pernambuco.

O ‘Quando passar... Como será o mundo após a pandemia?’ é uma idealização do LeiaJá em parceria com o projeto Vai Cair No Enem. O programa é exibido todas as quartas-feiras, às 16h30, no YouTube do LeiaJá, bem como por meio do Instagram.

Proposta - Os convidados do programa não apresentam “verdades absolutas” sobre a futura sociedade do período pós-pandemia, uma vez que há muitas dúvidas acerca de como os países se recuperarão das consequências causadas pela proliferação do vírus em diferentes áreas. Porém, eles revelam projeções, a partir das suas vivências pessoais e principalmente profissionais, que possam nos apresentar possíveis panoramas. As temáticas abordadas nas lives serão diversas, permeando áreas como educação, mercado de trabalho, esportes, política, medicina, ciência, tecnologia, cultura, entre outras.

Serviço

Programa 'Quando passar... Como será o mundo após a pandemia?'

Quando: nesta terça-feira (23)

Horário: 16h30

Tema: Fé X angústias: como resistir em tempos difíceis e acreditar no futuro?

Convidados: Silvia Regina Rodrigues (psicóloga); Alexandre L’Omi L’Odò (sacerdote juremeiro e mestre em ciências da religião); Dino Rangel (psicólogo); e Davi Gonçalves (padre e pároco da Paróquia Nossa Senhora da Luz).

Onde assistir:

youtube.com/leiajaonline

Instagram @leiaja

youtube.com/vaicairnoenem

Os famosos também estão enfrentando dificuldades para lidar com a quarentena em virtude da pandemia do novo coronavírus. Marina Ruy Barbosa usou o Instagram na madrugada desta quarta-feira, dia 10, para falar como tem se sentido em relação a tudo que está acontecendo no Brasil e no mundo. Primeiro, ela publicou uma série de vídeos nos Stories, em que aparece chorando e desabafando sobre o que sente sempre que vai dormir.

"Cá estou eu, pronta pra dormir e dando aquela choradinha básica, porque está difícil né. Acho que está difícil para muita gente. Quando chega a hora de dormir, que a gente pensa em tudo o que está acontecendo no mundo, no país, dá uma agonia, dá uma ansiedade", começou ela.

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Marina explicou que acredita que está mais sensível por causa de seu aniversário que se aproxima (No dia 30 de junho, ela, que é do signo de câncer, irá comemorar 25 anos de idade). No relato, ela ainda falou sobre saúde mental e também sobre se sentir ansiosa e abalada:

"Eu nem sou de me expor assim, mas estou sensível, acho que devo estar no meu inferno astral também, porque meu aniversário está chegando, sei lá, acho que tem muita gente passando por muita coisa difícil e que a saúde mental tá abalada, tá ansiosa, com estresse, e eu queria dizer que vocês não tão sozinhos".

Apesar das dificuldades, Marina demonstrou estar positiva quanto ao futuro do país:

"Acho que o lance é que tá todo mundo tentando ser forte, cada um da sua maneira, cada um enfrentando seus próprios problemas. Espero que depois que isso tudo passar, a gente não esqueça, a gente aprenda, que todo mundo se torne pessoas melhores, que a gente tenha mais empatia, ajude mais das outras pessoas, cuide do planeta que a gente vive e faça pequenas coisas no dia a dia e que podem mudar a vida de tanta gente".

Ela ainda publicou um clique em que aparece com o marido, o piloto Alexandre Negrão, e alguns cachorros. Ela voltou a falar sobre as dificuldades para dormir e refletiu novamente sobre o período em que está de quarentena:

"Cá estou eu, já são 00:35. Jurei pra mim mesma que iria dormir cedo hoje, amanhã acordo às 7 e tenho um monte de coisas pra resolver e fazer. Sim, estamos em quarentena, quase 3 meses (acho! Já? perdi a conta!) e a vida ficou mais devagar olhando daqui de dentro. Ao mesmo tempo parece que tudo está girando tão veloz. O que está acontecendo? Medo. Vazio. Sorrisos. Ansiedade. Gratidão. Pra onde você vai? Pra onde nós vamos? Qual o sentido disso tudo? Tentando ser luz, luz, luz, luz. No meio de tanta sombra. Seguimos... Tentando buscar nossa melhor versão. Mas o que é a melhor versão? Tentando entender como me comunicar da melhor maneira em todos os graus de relações. Tentando entender minha 'existência' em uma rede social com milhões de seguidores. Tentando fazer vocês me conhecerem. Não uma parte tão pequena de fotos. Mas minha alma, meu coracão....Ah, tentando entender o sentido, mostrar o sentir, mas sem sumir. (Aí eu olho essa foto e vejo o quanto a gente deve estar perto de quem ama, como a natureza e os bichos me fazem respirar mais fundo!)",escreveu.

Realidade delicada em diversos países, a pandemia do novo coronavírus acabou despertando dúvidas constantes e conflitos internos mundo afora. Em quarentena, muitos tiveram que mudar radicalmente a rotina para viver uma experiência que jamais havia sido cogitada. Diante de tudo isso, a saúde mental precisa ter um cuidado especial nesse período de fragilidade.

Em um bate-papo com o LeiaJá, o psicólogo Carlos Andrade preparou algumas dicas para que a ansiedade seja controlada durante o isolamento social. "Ansiedade é um estado de excessiva preocupação que, se for recorrente, causa medo de situações rotineiras", explica Andrade.

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Confira o vídeo:

*Edição de Vídeo: Nathan Santos

O Portal Educação Emocional, instituição de inovação social, oferece um minicurso gratuito com dicas, ferramentas e exercícios eficazes para restabelecer o equilíbrio emocional durante esse período de isolamento social causado pela Covid-19. Os interessados podem acessar o conteúdo do curso através da plataforma digital disponibilizada.

Segundo a instituição, entre os dias 28 de março e 3 de abril, foi realizada uma pesquisa com 1.300 pessoas, das quais, mais de 50% afirmaram estar sentindo ansiedade, estresse e/ou tristeza. Devido a esse indicativo, a entidade disponibilizou o minicurso, intitulado ‘Respiração e Ansiedade’, que foi desenvolvido por um grupo de educadores e pesquisadores em educação emocional.

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O curso tem duração de três horas e combina teoria e prática, com uma linguagem simples e objetiva para que possa alcançar o grande público e ajudar o maior número de pessoas neste cenário atípico. A fundadora do Portal Educação Emocional, Mariana Arantes, diz que “o Portal Educação Emocional já atua produzindo e compartilhando conhecimento sobre as emoções e sua influência nos pensamentos e atitudes dentro da comunidade escolar, mas decidimos ampliar o alcance das nossas ações, por perceber que mais pessoas estão precisando ter acesso a este tipo de conteúdo neste momento tão emblemático”, explicou. Para obter mais informações, acesse o site da instituição e confira os cursos disponibilizados.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) o Brasil é o país que lidera o número de pessoas mais ansiosas do mundo e os dados concluídos, através da pesquisa realizada pela organização, mostram que 18,6 milhões de brasileiros sofrem de ansiedade. Portanto separamos quatro dicas de autocuidado para praticar sempre.

Aceite a vulnerabilidade

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Permita-se viver o momento que não te agrada tanto. Aceitar que muitas vezes as coisas não acontecerão como planejado e que isso foge ao seu controle é o caminho para se tornar uma pessoa mais flexível quando as coisas saírem um pouco da linha.

Lembre-se da importância do lazer

O lazer é um extremo aliado na manutenção da saúde mental. Escolha ler um livro, ouvir músicas que agradam, assistir filmes ou sair com os amigos. Os momentos de descontração são pessoais e há inúmeras atividades que podem ser desenvolvidas nesse processo.

Saiba dizer não

Agradar a todos não é o melhor caminho para uma saúde mental estável, explicam as psicólogas Gabriela Lumi e Karine Santos. "Muitas vezes, na tentativa de evitarmos um conflito ou uma longa conversa, acabamos dizendo sim para tudo, seja no trabalho ou em nossa casa. Fale de uma forma assertiva o porquê de não querer fazer algo que lhe é requisitado. Lembre-se de se respeitar e se priorizar, isso não é egoísmo".

Mantenha-se no momento presente

A mente humana tende a vagar em períodos já vividos ou fantasiar coisas que possam acontecer, isso faz com que as pessoas não vivam com qualidade o momento mais importante, que é o presente. "Sempre que ficar angustiado e ansioso e sua mente ficar acelerada, concentre-se em sua respiração, ela é a âncora para estarmos no momento presente. Pergunte-se se esses pensamentos são produtivos e o levam para alguma ação concreta ou se são improdutivos e que não auxiliam na resolução de algo que esteja lhe causando incômodo", comentam Gabriela e Karine.

Praticar o isolamento social tem sido um desafio para inúmeras pessoas. Apesar da necessidade de ficar em casa, a situação psicológica e a saúde mental de quem está acostumado a viver em ritmo acelerado podem estar comprometidas. "É importante saber que a ansiedade é um sentimento natural do ser humano. Ela nos tira do presente e faz nós olharmos para um futuro", explica a psicóloga e sócia-fundadora da Vida Psicologia, Ana Caroline Boian.

 Com essa nova realidade é preciso encontrar caminhos para filtrar "Neste momento atípico é comum que a mente vague pelo futuro incerto e um certo grau de ansiedade é muito comum e normal, pois nos mantém alertas, mais cautelosos, e nos possibilita o planejamento e prevenção de situações não desejadas, ou seja, nos mantém seguros", comenta a especialista.

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Para que a ansiedade permaneça controlada nesse período, a psicóloiga dá algumas dicas que podem ajudare na saúde mental.

Permaneça no presente

Muitas vezes, quando as pessoas se dispõem a fazer algo, o objetivo do ato se perde no caminho. Se isso acontecer, é preciso focar em uma atividade por vez, prestando atenção no momento atual. Uma dica, por exemplo, é fazer suas refeições longe das redes sociais.

Realize atividades físicas

É importante colocar na rotina diária pelo menos 20 minutos de exercícios físicos. Essa prática é responsável por liberar o hormônio da endorfina, que tem como principal característica causar bem-estar.

Crie uma rotina e siga

Neste momento, engana-se quem acha que uma rotina não é necessária. A orientação da psicóloga é ter uma agenda ou um planne, que ajudará a pessoa a manter as atividades organizadas, tanto na teoria quanto no visual da prática.

Estabeleça horários, para dormir principalmente

Contra a ansiedade, é preciro ter, mas sem paranoia, horários para cada ocasião, como TV, alimentação, exercícios, família, etc. A dica é determinar e focar um tempo para realizar coisas que a pessoa sempre quis colocar em prática, mas procrastinava. Este é um bom momento para se dedicar a novos hábitos.

Se conecte com si mesmo

Segundo a psicóloga, este é um ótimo momento para se conectar e praticar o autoconhecimento. "Por isso, veja esse momento como oportunidade de se aprofundar em si. Yoga e meditação são grandes ferramentas para manter a mente no presente e se conectar consigo mesmo. Técnicas de respiração, como o Pranayama, tem efeitos positivos comprovados em quadros de ansiedade", finaliza.

Por Aliny Bueno

Diante da crise instaurada pela pandemia de Covid-19, como se manter emocionalmente saudável? Além dos fatores estressantes já presentes no cotidiano das grandes cidades, agora a preocupação com a pandemia e com seus impactos podem contribuir para desencadear ou agravar transtornos psicológicos como o estresse e a ansiedade. É um momento desafiador para todos. Sair de casa envolve o risco de se infectar. Por outro lado, passar semanas em isolamento e enfrentar uma quarentena também pode causar impactos na saúde mental do indivíduo.

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A psicóloga Alessandra Dinelli explica que a mudança repentina na rotina social e pessoal pode provocar sentimentos como medo, ansiedade e fobia. Ela esclarece que o fenômeno do isolamento social ocorre por diversas situações, podendo ser voluntário ou involuntário. “Trazendo um pouco mais para o contexto que estamos vivendo, por ser uma situação atípica, esse isolamento faz com que a gente fique mais ansioso, ocioso também, e perca um pouco da noção de pertencimento, principalmente porque se vê em um cenário onde toda a sua rotina é mudada de forma repentina e não pode fazer nada”, diz.

Adaptação: difícil porém necessária

Encontrar maneiras de se adaptar à nova rotina e não criar pânico contribui para tornar o período de quarentena menos penoso. O universitário Gustavo Laia, 20 anos, diz que sua rotina mudou completamente, pois sempre teve uma vida muito ativa. “Meus dias vêm sendo um teste. Sou muito ativo e gosto de sair com meus amigos e conviver, como qualquer outro. Estudava antes de a quarentena chegar, não é fácil, porém, necessário”, comenta.

O estudante conta que tem buscado no entretenimento uma forma de evitar pensamentos negativos, sem deixar de lado a preocupação com a atual situação: “Fico imaginando como está o mundo e o que eu poderia fazer para ajudar. Aí penso que o melhor é ficar em casa, sendo distraído pelos filmes”, reflete. Um dos fatores que prejudicam a mente é a incerteza de não saber o que vai acontecer. A adaptação a uma nova forma de viver pode complicada, especialmente para pessoas que já sofriam com algum distúrbio psicológico antes de a pandemia se instalar.

Ansiedade 

A psicóloga alerta que a mudança de rotina repentina e forçada, a que toda a população está exposta, pode provocar diversos sentimentos, principalmente de ansiedade. “As pessoas se sentem presas e, por estarem acostumadas a viver em uma rotina corrida e ativa, pensar e ficar em casa sem nada aparentemente para fazer, sem saber exatamente o que fazer e quando tudo vai acabar, aumenta muito o nível de ansiedade, pensamentos negativos, preocupações e sentimento de tédio. A rotina em casa de repente se torna algo massivo e difícil”, descreve.

Alessandra explica que o período de quarentena pode desencadear um quadro de ansiedade em pessoas que não apresentavam o distúrbio antes da epidemia. “Estamos vendo um número alarmante de pessoas com quadros de ansiedade. Tanto pessoas que já lidavam com isso quanto pessoas que nunca passaram por nada do tipo. A quarentena e toda a situação relacionada à pandemia têm gerado também um sentimento de pânico. Muitas pessoas têm apresentado crises de ansiedade e ataques de pânico também, com sintomas como falta de ar, insônia, tremores, medo constante de que algo ruim está para acontecer”, diz a psicóloga.

"Tortura"

A universitária Juliana Macedo tem 21 anos e sofre de ansiedade há quatro. Com as rotinas profissional e de estudos suspensas, ela agora passa a maior parte do dia sozinha em casa, o que considera quase “uma tortura”. “É complicado porque a ansiedade para ser amenizada exige o contato, o convívio. A ansiedade é não conseguir ficar sozinha e em silêncio”, conta.

Segundo Juliana, a abundância de tempo livre desperta nela uma sensação de desespero. “No meu caso, eu me ocupo até não poder mais, para não ficar em silêncio. Estou sendo obrigada a me ouvir”, relata.

Estratégias

Criar uma rotina com afazeres foi a estratégia adotada pelo auxiliar de escritório Bruno Oliveira, 25 anos. Ele conta que tem buscado praticar atividades que preencham o tempo, como forma de não pensar tanto na pandemia e para manter mente saudável: “O primeiro dia de quarentena foi tranquilo, assistindo ao noticiário e me mantendo informado sobre os casos. Já no segundo e no terceiro dias, a mente já pede convivência com outras pessoas. A leitura e as séries têm sido importantes para manter a mente oxigenada”, afirma.

Para Bruno, limitar a busca por notícias sobre a pandemia ajuda a manter a calma. “Acho que ao mesmo tempo em que é importante, também se torna prejudicial, porque acaba submergindo demais as pessoas no assunto e acho que isso pode causar um ‘parafuso’ na mente”, conta.

Infodemia: um mal contemporâneo

Televisão, sites de notícias, redes sociais e até grupos de Whatsapp trazem constantemente uma avalanche de informações e notícias sobre a pandemia. A abundância de informação, que a princípio poderia ser uma coisa boa, pode acabar se tornando prejudicial à saúde mental das pessoas.

O excesso de informação sobre algum assunto pode deixar as pessoas aflitas, em pânico e confusas sobre as atitudes que devem tomar. Esse fenômeno recebe o nome de infodemia, termo que mistura “informação” e “epidemia”.

Formada em Gestão de Recursos Humanos, Jéssica Dallo, de 24 anos, afirma que o intenso fluxo de informações sobre a nova doença tem prejudicado o seu discernimento quanto ao que acreditar. “As informações me afetam, pois às vezes nem é caso para tanto, mas a quantidade de informações que você absorve acaba te colocando na dúvida. Será que estou me preocupando demais? Será que estou me preocupando pouco? Será que eu já estou com o vírus e estou espalhando? São muitos ‘se’”, desabafa.

Dicas

A psicóloga Alessandra Dinelli dá algumas dicas para se cuidar durante o período de isolamento social. Estabelecer uma rotina, evitar o bombardeio de informações, utilizar a tecnologia para manter contato com as pessoas e fazer terapia online. Ela também recomenda que as pessoas aproveitem a quarentena para se dedicar a alguma atividade que gostem de fazer. “As pessoas podem começar a melhorar a qualidade da rotina durante a própria quarentena e saber a lidar melhor com ansiedade e com o tempo durante o período de quarentena”, aponta.

A incansável e permanente luta de profissionais de saúde contra o novo coronavírus pode levar médicos, enfermeiros e auxiliares de enfermagem a sofrerem transtornos ligados ao estresse e à ansiedade. Mesmo para quem está acostumado a trabalhar na linha de frente e batalhar na fronteira da cura e da morte, a covid-19 impõe desafios inéditos.

“O sentimento de impotência, bem como o aumento intenso da carga de trabalho, gera sensações de perda de sentido e desmotivação em muitos profissionais”, avaliam o psicanalista Igor Banin Bezerra da Silva e o terapeuta Caio Henrique Ferreira da Costa em entrevista por escrito à Agência Brasil.

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Os dois trabalham na Sociedade de Psicólogos, que funciona em São Paulo, e preparam para este fim de semana um curso on-line para colegas de profissão em todo o Brasil, que estão lidando com pessoas impactadas pelas mudanças impostas pela pandemia, como o confinamento ou o isolamento social.

“Por mais que os profissionais [de saúde] sejam ensinados e capacitados a lidar com emergências e desastres, o que estamos vivendo é, a nível prático, algo sem precedentes, seja pela novidade do novo coronavírus, pela grande mobilização internacional ou pela alta e inesperada carga de trabalho”, destacam os especialistas.

Na avaliação deles, os profissionais de saúde ainda têm de lidar com a possibilidade de um colapso no sistema de saúde nacional, com a continuidade de outras doenças além da covid-19 e com preocupações econômicas e trabalhistas relacionadas às recomendações distanciamento social.

Bem-estar mental de profissionais de saúde

Em entrevista à Agência Brasil, os dois expõem as preocupações relacionadas ao bem-estar mental de profissionais de saúde e dão dicas de como lidar com o estresse e reforçar pensamentos e comportamentos positivos.

Agência Brasil: Que desgastes a mais médicos, enfermeiras e auxiliares têm sofrido nesse período de pandemia?

Igor Silva e Caio Henrique Costa: De modo geral, podemos pensar em alguns efeitos psicopatológicos dentro do espectro de transtornos de ansiedade. Podemos pensar no desenvolvimento de Transtornos de Estresse Pós-Traumático, além do chamado Transtorno de Ansiedade Generalizada. Eles decorrem, dentre outras coisas, da exposição excessiva aos noticiários e pelo estado constante de alerta.

Agência Brasil: A capacidade do atendimento hospitalar e nos postos de saúde afligem o ânimo desses profissionais?

Silva e Costa: Certamente, o sentimento de impotência, bem como o aumento intenso da carga de trabalho, gera sensações de perda de sentido e desmotivação em muitos profissionais.

Agência Brasil: Os profissionais de saúde são há muito tempo acostumados a lidar com problemas e urgências. O que uma pandemia como a covid-19 agrava?

Silva e Costa: Essa pandemia já é considerada, por muitos especialistas, como o maior problema sanitário da contemporaneidade ou da geração atual. Por mais que os profissionais sejam ensinados e capacitados a lidar com emergências e desastres, o que estamos vivendo é, a nível prático, algo sem precedentes, seja pela novidade do novo coronavírus, pela grande mobilização internacional, pela alta e inesperada carga de trabalho, pela possibilidade de um colapso no sistema de saúde nacional, pela continuidade de outras doenças que vão acontecer paralelamente à covid-19, pela preocupação econômica e trabalhista relacionada às recomendações de isolamento e distanciamento social, pelos novos hábitos e comportamentos que temos de ter acerca da prevenção, por eventuais lutos que vamos nos deparar, entre outros fatores. De forma geral, essa pandemia nos obriga a refletir e a encontrar novas formas de nos comportarmos e de nos relacionarmos conosco, com o outro e com o nosso meio.

Agência Brasil: Como o pessoal da saúde pode lidar com o estresse em casos assim?

Silva e Costa: Todo comportamento e experiência humana estão vinculados ao campo (contexto, ambiente e relações) que a pessoa se encontra. Toda novidade e mudança sobre a rotina de uma pessoa pode se relacionar com a ansiedade e com o estresse. A partir daí, algumas pessoas utilizam o que chamamos de homeostase e restauram, de forma natural, o seu equilíbrio, enquanto outras pessoas são transformadas. Essa transformação pode ser positiva, vinculada à aprendizagem e ao crescimento pessoal, mas também pode ser negativa, relacionada ao sofrimento, ao trauma e ao aparecimento de sintomas. Há várias formas de compreender e trabalhar com esse estresse e ansiedade, mas não há “receita de bolo”, pois cada pessoa experimenta a situação de forma única. Mesmo em caso de situações partilhadas, elas são vividas, sentidas e compreendidas de maneira idiossincrática. Em resumo, as pessoas podem trabalhar com esses componentes desde uma meditação, passando pela pintura ou criação de poesia, até uma prática esportiva, por exemplo. Vai depender da pessoa, mas o ideal é que seja compreendida e acompanhada de um profissional da saúde mental.

Agência Brasil: Que dicas vocês têm para reforçar pensamentos e comportamentos positivos?

Silva e Costa: Uma das primeiras coisas que as pessoas podem fazer é limitar o acesso às notícias, uma vez que estamos sendo bombardeados com muitas informações ao longo do dia. Dessa forma, o ideal é que escolham um horário no seu dia para se informar sobre o que está acontecendo no país e no mundo, buscando fontes confiáveis, preferencialmente, das autoridades de saúde e se atentando também para as notícias positivas, como novas perspectivas de tratamento e vacinação, diminuição da contaminação e casos já recuperados, por exemplo. Para entrar em contato com as emoções positivas, as pessoas têm duas oportunidades. A primeira delas envolve atividades que a pessoa gosta de fazer e aquilo que a motiva a viver: pode se entreter ao assistir shows, séries e filmes, ouvir música, jogar um jogo, se exercitar, ler o livro de cabeceira ou começar uma nova leitura, bem como por meio do contato com sua expressão criativa, o que inclui o cantar, tocar ou aprender um instrumento musical, desenhar, pintar, bordar, desenvolver um projeto, escrever e buscar uma nova perspectiva sobre as atividades diárias, sobre as novas rotinas e sobre o seu propósito ou sentido na vida. A outra oportunidade diz respeito à interação positiva com os outros, sejam as pessoas da própria casa, colegas de trabalho ou com a própria comunidade. Distanciamento e isolamento social não significam, necessariamente, solidão. E o momento atual nos permite escutar mais as pessoas e suas necessidades. Dessa forma, nós podemos ajudar, seja por uma distância social segura, ou por meio da internet, as pessoas em suas novas dificuldades e enfrentamentos. Uma coisa que costumamos sugerir, por exemplo, é auxiliar a população idosa (inclusa no grupo de risco e com a recomendação de quarentena domiciliar) a utilizar os serviços online para interagir com seus amigos e familiares, bem como a realizarem compras (mercados e farmácias) ou a pagarem despesas por meio de aplicativos dos respectivos bancos.

 

Na tentativa de conter a epidemia do coronavírus (Covid-19), médicos e especialistas orientam as pessoas a não saírem de suas casas para evitar contatos físicos. Apesar de necessário, o atual estado de quarentena pode afetar a saúde psicológica de muitas pessoas.

A educadora física Kaline Pessoa, 26 anos, conta que a mudança de rotina, como não poder ir trabalhar ou frequentar a academia, é o que mais tem impactado sua ansiedade. "Para manter a mente ocupada tenho feito cursos a distância e utilizado aplicativos que me auxiliam em atividades físicas. Estou tentando fazer o que eu sempre fiz, porém adaptado".

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Segundo a coordenadora do curso de Psicologia na Universidade Guarulhos (UNG), Sílvia Maia, pessoas que sofrem com o transtorno da ansiedade precisam buscar atividades que lhe causem prazer. "Além dessas tarefas, também praticar exercícios físicos em casa e criar canais virtuais de comunicação com amigos. Desenvolver novos hábitos de entretenimento evita que o desconforto e o desamparo os abatam emocionalmente", afirma.

Pessoas com depressão e ansiedade estão mais sujeitas ter crises. "Quem tem diagnosticado quadros de depressão e transtorno de ansiedade não deve, neste momento, ter ou buscar muitas informações intensificadas sobre o coronavírus", orienta a psicóloga.

De acordo com Sílvia, durante o isolamento social, os que já são diagnosticados com transtornos depressivos ou de ansiedade podem procurar por atendimentos online, por serem altamente eficazes e por auxiliarem a minimizar os quadros de desorganização psíquica, sejam moderadas ou severas.

"O ser humano é o único com a capacidade de adaptação. Somos dotados de inteligência, sabemos que a situação é temporária e prima por um objetivo maior. É importante garantir uma melhor saúde e equilíbrio emocional", conclui Sílvia.

O isolamento social, necessário durante o período de quarentena estabelecido para contingência da Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus (SARS-COV-2), tem o potencial de causar estresse devido à limitação da interação e da possibilidade de se locomover livremente como de costume. Mesmo com consciência sobre a necessidade de permanecer em casa para resguardar a si e principalmente às pessoas que fazem parte do grupo de risco, a quarentena voluntária é uma situação difícil de enfrentar, e se torna ainda mais desafiadora para pessoas que, em meio à toda a incerteza e tensão, estão estudando para prestar provas como o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e outros vestibulares.

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De acordo com a psicóloga, mestre em psicanálise e mentora de estudos e carreira, Soraya Matos, o isolamento não é uma situação natural para os humanos, que são seres sociais, desejam estar em grupo. Diante dessa situação, explicou ela, e com o medo de uma doença, sentimentos de tristeza e ansiedade são potencializados. “O isolamento social maximiza a ansiedade. O que eles [estudantes] tinham de rotina concreta antes, agora têm que ser responsáveis sozinhos, e aí a ansiedade vai maximizar, causar um aumento da tristeza, de dores, e isso não fortalece, em absoluto, os estudos”, afirma Soraya.

Ela também lembra que o fluxo de notícias preocupantes sobre o avanço da COVID-19 e especialmente de conteúdos falsos, as fake news, também contribuem para criar uma atmosfera de medo e tensão sobre os estudantes. Para contornar os sentimentos negativos e conseguir manter o foco nos estudos durante o afastamento físico da sala de aula, a primeira orientação da psicóloga é que os alunos entendam que não estão de férias e, durante esse período, busquem ter equilíbrio emocional e manter uma rotina com disciplina.

“É apenas uma fase que vai passar, e uma grande oportunidade também de construção e desenvolvimento de novas competências. A gente precisa trabalhar bem a nossa base emocional. Neste momento, a disciplina é essencial, a rotina com atividades físicas, estudos e resultados é essencial", disse Soraya.

Alternar os estudos com atividades relaxantes e ter com quem conversar, desabafando as angústias que fazem parte do momento de isolamento, também é uma recomendação importante apontada pela psicóloga e mentora. “É muito importante também que eles alternem os estudos com coisas prazerosas. Jogos, leituras, conversas com os amigos, atividades que possam criar buscando sair dessa sensação de ‘eu estou em casa’, não precisa ficar preso apenas à tristeza”, orientou a especialista.

Nesse contexto, Soraya também destaca a importância do papel da família na criação de um ambiente agradável e favorável aos estudos em casa durante o período de quarentena. “Nesse momento é essencial que eles tenham acolhimento e apoio, que não se tranquem nos quartos, que os pais procurem criar um campo de afetividade, criatividade, boas conversas e interesse no que eles estão estudando”, declarou a psicóloga.

Num contexto em que o fluxo de informações é grande e pode gerar ansiedade, a dica de Soraya é que os estudantes filtrem o que chega até eles e busquem formas de tornar esse conhecimento construtivo. “Fazer um filtro do que for importante e daí aproveitar para desenvolver redações, artigos, mapas mentais. Dá para desenvolver um mapa de estudos e depois se recompensar. Estuda, se recompensa. Com boas conversas, um encontro virtual com os amigos, falando com os pais, jogando, depois retornam aos estudos. Se de manhã estaria no colégio, pode assistir videoaulas, estudar pela tarde batendo e comemorando suas metas. Psicologicamente isso vai dar uma força muito grande”, afirmou Soraya.

Há, ainda, outras ações que, segundo a psicóloga, podem ajudar os estudantes a aliviar a tensão e, assim, reduzir a ansiedade durante a quarentena, como viver o presente (menos preocupações futuras), praticar atividade física regularmente, respirar de forma ordenada, ter uma boa alimentação, dormir bem, evitar pensamentos negativos, assim como ambientes e atividades estressantes, e praticar a meditação.

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