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A luta do presidente Donald Trump contra os resultados das eleições que perdeu no mês passado nos Estados Unidos está se transformando em um fiasco, mal recebida por juízes, enfraquecida por testemunhas pouco sérias e agora sem seu principal advogado, Rudy Giuliani, doente com covid-19.

"Esta questão ilustra bem a expressão: 'o trem passou'", escreveu nesta segunda-feira (7) uma juíza federal que se recusou a invalidar a vitória do democrata Joe Biden em Michigan, conforme solicitado pelos aliados do presidente republicano.

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"O povo escolheu", acrescentou Linda Parker, rejeitando as alegações de fraude eleitoral com base em "especulações e conjecturas".

Esse revés é o mais recente de uma longa série: mais de 40 dos quase 50 recursos judiciais interpostos pela equipe de Trump para contestar a eleição já foram rejeitados pelos juízes ou abandonados pelos promotores.

Os outros esforços do presidente e seus aliados para rejeitar o veredicto nas urnas não tiveram mais sucesso. Uma recontagem no estado de Wisconsin, paga pelos republicanos, acabou dando 87 votos adicionais ao rival.

Quanto às pressões sobre os parlamentares locais, elogiados ou criticados pelo entorno de Trump, também não impediram a certificação dos resultados em estados-chave.

Após a sucessão de derrotas, alguns parlamentares republicanos locais não hesitam em contradizer abertamente o presidente.

O vice-governador da Geórgia, Geoff Duncan, denunciou "a montanha de desinformação" vinda da Casa Branca nesta segunda-feira, dizendo que as alegações de fraude poderiam "ser frustradas em 10 segundos".

Em um tom mais diplomático, o procurador-geral, Bill Barr, um dos aliados mais próximos de Trump, disse não ter visto evidências suficientes para mudar o resultado da eleição.

- Esquete -

O tempo é curto para a campanha Trump. O colégio eleitoral se reunirá na próxima semana para eleger o 46º presidente dos Estados Unidos.

Mas o bilionário republicano não joga a toalha. Na noite de sábado, ele voltou a afirmar que as eleições foram fraudadas, durante um comício para apoiar dois candidatos de seu partido que disputarão eleições importantes para o controle do Senado em janeiro.

"Nós vamos vencer", ele insistiu para uma multidão de torcedores na Geórgia.

No dia seguinte, o presidente sofreu outro revés quando um teste revelou que seu advogado pessoal, Rudy Giuliani, havia contraído a covid-19.

O ex-prefeito de Nova York, de 76 anos, precisou ser hospitalizado, mas disse que se sentia bem em um tuíte postado na noite de domingo.

Giuliani vinha argumentando há um mês que o presidente havia vencido as eleições, quase chegando ao ridículo.

Durante uma recente entrevista coletiva, o advogado mencionou várias teorias da conspiração, acusando Venezuela, Cuba e os democratas, entre outros, pela manipulação eleitoral.

As testemunhas apresentadas pelos republicanos às vezes pareciam ultrajantes o suficiente a ponto de uma delas inspirar um esquete do famoso programa satírico "Saturday Night Live".

- Armados -

Apesar de sua natureza desesperada, a cruzada republicana pode ter efeitos nefastos.

Em primeiro lugar, porque paralisou parlamentares republicanos que, com exceção de alguns, ainda não reconhecem a vitória de Biden, o que pode dificultar o trabalho do futuro presidente com a oposição.

E principalmente porque levantou dúvidas sobre a legitimidade do resultado das eleições presidenciais em uma parte da população. Mais de 1.500 juristas relataram nesta segunda-feira "denúncias frívolas" que, segundo eles, só buscam "minar a fé dos eleitores na integridade das eleições".

Nesse contexto, alguns parecem dispostos a ir longe demais em sua defesa de Trump. Cerca de vinte pessoas armadas cercaram a casa da congressista de Michigan encarregada de supervisionar o processo eleitoral, Jocelyn Benson, no sábado.

Na Geórgia, vários agentes eleitorais receberam ameaças, o que levou um político republicano local, Gabriel Sterling, a implorar a Trump para mudar o tom de seu discurso. Do contrário, advertiu ele, "alguém pode ser ferido, baleado, morto".

A eleição para a prefeitura de Macapá será decidida no segundo turno entre os candidatos Josiel Alcolumbre (DEM) e Antônio Furlan (Cidadania). O pleito foi adiado após o Estado do Amapá enfrentar uma grave crise no abastecimento de energia por cerca de três semanas. A segunda etapa da votação está marcada para o próximo dia 20.

Com 100% das urnas apuradas, Alcolumbre liderava com 29% dos votos, e Furlan teve 16%. A disputa pelo segundo lugar foi acirrada: pouco mais de 2 mil votos separaram Furlan de João Capiberibe (PSB), que ficou em terceiro.

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A eleição na capital do Amapá foi marcada pelo longo apagão no Estado e pela nacionalização do debate. Primeiro colocado nas pesquisas de intenção de voto ao longo da campanha, Josiel é irmão do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM). Ele recebeu apoios tanto do atual prefeito, Clécio Luis, quanto do governador Waldez Góes (PDT).

O atual prefeito, que termina seu segundo mandato, teve um desentendimento com seu próprio partido após declarar seu apoio. Clécio pediu a desfiliação da Rede Sustentabilidade em agosto após sofrer críticas internas de correligionários que desaprovaram sua decisão, e atualmente está sem partido.

Josiel liderou as intenções de voto ao longo de toda a campanha mas perdeu tração com a crise energética no Estado. Foram quatro dias de apagão e um racionamento por cerca de 20 dias até que a situação do abastecimento se normalizasse. Os adversários responsabilizaram o governo federal pela pane, e associam o senador e seu irmão ao presidente Jair Bolsonaro.

A onda de críticas quase custou o favoritismo do candidato governista. Josiel crescia nas intenções de voto chegou a alcançar 31% dos votos válidos em uma pesquisa do Ibope divulgada no fim de outubro. Sua pontuação caiu para 26% em novembro, no auge do apagão.

O candidato do Cidadania, conhecido como Dr. Furlan, estava empatado tecnicamente com outros dois concorrentes no segundo lugar. Ao fim da contagem de votos, Capiberibe alcançava 15,2% na votação. Cirilo Fernandes (PRTB e Patrícia Ferraz (Podemos) tiveram, ambos, cerca de 11%.

Macapá foi a única cidade no Estado que teve a votação adiada, apesar de o apagão ter afetado também cidades vizinhas.

O Tribunal Regional Eleitoral (TRE) levou o pedido de adiamento ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) após órgãos do poder público declararem que não havia garantia de que, se a data fosse mantida, poderiam ter dificuldades para garantir a segurança dos eleitores do município.

A votação em Macapá terminou com poucas ocorrências. Um total de nove urnas foram substituídas, o que equivale a cerca de 1% do total.

De volta ao comando da Prefeitura do Rio depois de quatro anos, Eduardo Paes (DEM) afirmou em entrevista ao Estadão que está "mais à esquerda" dentro do DEM e disse considerar "excepcional" o nome do apresentador de TV Luciano Huck, que foi convidado para se filiar à legenda.

Como mostrou o BR Político, está avançada a divisão interna dos principais líderes do DEM, partido que cresceu nestas eleições, entre o apoio ao projeto presidencial de Huck e o do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), em 2022.

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"Num partido com as características do DEM, que é bem amplo, tem espaço para todo tipo de gente entrar. Eu sou um cara mais à esquerda, na prática. O Huck é um bom nome, um excepcional nome. Mas prefiro focar na gestão, não no processo eleitoral de 2022", disse o prefeito eleito.

O DEM já tinha protagonismo com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, e, agora, teve bons resultados eleitorais. O que isso diz sobre a conjuntura política?

 

Acho que essa eleição foi marcada por uma vitória da política, do diálogo. É lógico que, no nível local, tem também a capacidade da boa gestão, de entrega. E acho que o Democratas fez todo um esforço nos últimos anos para se posicionar no campo do diálogo. Isso é a cara do Maia, do Davi, do ACM Neto. E também temos boas experiências de gestão.

Isso leva a buscar um protagonismo na eleição presidencial de 2022?

 

Eu acho que a eleição de 2020 é uma coisa e a de 2022 é outra totalmente diferente. Em tese, sou sempre favorável aos partidos apresentarem candidatos para a disputa majoritária. Se alguém vai disputar no DEM, não sei. Mas, em tese, sem olhar a conjuntura de 2022, eu acho sempre positivo.

Quem seria? Defende uma filiação do Luciano Huck, como tem sido ventilado?

 

Num partido com as características do DEM, que é bem amplo, tem espaço para todo tipo de gente entrar. Eu sou um cara mais à esquerda, na prática. O Huck é um bom nome, um excepcional nome. Mas prefiro focar na gestão, não no processo eleitoral de 2022. Não digo que não vou participar, mas prefiro não fulanizar a eleição. Nem a favor nem contra o presidente; nem de Huck nem de ninguém. Mas acho que a eleição de 2020 traz uma reflexão sobre a vitória do diálogo, da política. Aliás, o Bolsonaro é político.

A entrada do Huck então não seria paradoxal, por ele ser de fora da política?

 

Mas o estilo do Huck é muito de diálogo, pela própria história. A atividade profissional dele demanda diálogo, saber estar com o diferente.

O sr. tem pregado diálogo com Bolsonaro, mas não teme uma mudança de postura do presidente quando a eleição de 2022 estiver mais próxima?

 

Não acho. O que tenho tido são sinais de total relacionamento institucional, com representante do Ministério da Saúde conversando aqui, superintendente da Caixa também. Tenho visto muita institucionalidade do Estado brasileiro, do governo Bolsonaro buscando parcerias com a prefeitura.

Como avalia o governo federal, especialmente na condução da pandemia?

 

Não fico fazendo avaliação, trabalho em parceria com o governo. Não sou analista político.

Durante a eleição, o sr. descartou largar a prefeitura para concorrer ao governo do Estado em 2022. Mas um convite o faria mudar de ideia?

 

Não há a menor hipótese. Digo e repito: eu adoro ser prefeito do Rio, fui por oito anos e serei de novo por quatro anos com o maior prazer.

Acha que o discurso que o associa ao ex-governador Sérgio Cabral (MDB) e à corrupção está ultrapassado?

 

Acho que as pessoas compreendem melhor que às vezes você pode se envolver com gente que dá uma desviada nos rumos, que erra. Não se pode ser responsabilizado pelo erro dos outros. Foi o que aconteceu com o meu ex-secretário de Obras (Alexandre Pinto). A responsabilidade é minha por ter designado alguém que cometeu desvios, mas não podem me associar aos desvios.

O sr. ainda mantém um relacionamento com o ex-presidente Lula, de quem já disse ser um "soldado"?

 

A última vez que falei com ele foi quando houve o falecimento da dona Marisa. Liguei para prestar solidariedade.

Em outros tempos, teria reagido de modo mais explosivo ao prefeito Marcelo Crivella, que o acusou até de querer "pedofilia" nas escolas?

 

Eu estava lidando com um homem desesperado. Ele perdeu completamente o limite do que é um debate político. Talvez se fizesse certas acusações a mim sem tanta demonstração de desespero, eu teria sido mais firme. Mas, quando o cara está desesperado, não dá para entrar naquele nível. Ele vai ficar com a fama de pior prefeito da história do Rio.

Como analisa o cenário eleitoral para o Estado em 2022? O sr. está próximo ao Cláudio Castro e ele já foi cortejado pelo DEM.

 

Por mim não foi (cortejado). Me dou bem com o Cláudio, conheço há muitos anos, torço por ele. Ajudarei no que for preciso, como acho que ele me ajudará. Trabalharei em parceria. Mas daí a ter relação próxima tem uma distância enorme. Torço para que ele vá bem, e, se ele for bem, é direito dele ser reeleito. Mas o cara acabou de assumir.

Mas vê algum líder para 2022 no Estado? Há um vácuo?

 

Não existe vácuo; se tiver, vai aparecer alguém. Quem seria? Não sei. Se me perguntasse em 2016 se seria um juiz com aquela cara de "171" que ganharia a eleição, eu não diria. As alternativas ficaram no Garotinho, que é o que é; o Romário, que as pessoas não viam com preparo para governador; e eu, que estava ali no meio daquela confusão toda. Alguém foi lá e ocupou o vácuo.

Haverá carnaval em 2021 depois da vacina?

 

Vai ter prefeito de chapéu panamá, vai ter carnaval em 2021. Provavelmente em julho. Nossa cidade volta a ser uma cidade aberta a tudo e a todos. Uma cidade que quer investimento, que quer negócios, que vai voltar a ser amigável àqueles que quiserem empreender. Vamos abrir de novo o Rio. Passamos quatro anos num período de trevas, obscuro.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

No dia 15 de novembro, Cinthia Ribeiro (PSDB) foi reeleita prefeita de Palmas, no Tocantins, e será a única mulher a administrar uma capital pelos próximos quatro anos. Aos 43 anos, Cinthia tem uma trajetória marcada pela coordenação de campanhas políticas e por passagens pelo hospital por causa da família. Ela diz que seu "coração de mãe já foi testado de tudo que é jeito".

O ano de 2020 foi o primeiro em que a prefeita se lançou como cabeça de chapa. Em 2014, concorreu a vice-governadora de Tocantins pelo PTN (Atual Podemos), sem sucesso. Já em 2016, foi eleita vice-prefeita da capital pelo PSDB, na chapa de Carlos Amastha (PSB). Assumiu o cargo em 2018, depois de Amastha renunciar ao posto para concorrer ao governo do Estado - e perder. Neste ano, foi reeleita com 36,24% dos votos válidos no dia 15 - Palmas tem menos de 200 mil eleitores e, portanto, não tem segundo turno.

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Mais velha entre três irmãs, Cinthia nasceu em Anápolis (GO), filha de comerciante e dona de casa. Fonoaudióloga, ela se aproximou da política por causa do senador João Ribeiro, com quem foi casada. Ele faleceu em 2013, de leucemia.

Foi com João Ribeiro que Cinthia teve seu único filho, João Antônio, de 13 anos. Ela lembra que foi por causa da criança que passou os momentos mais difíceis de sua vida - e também os mais bonitos.

João Antônio nasceu com uma cardiopatia rara e precisou fazer uma cirurgia aos 21 dias de idade. Outras duas grandes cirurgias, uma antes do primeiro ano e outra aos sete, seriam necessárias. O menino passou pela cirurgia no Hospital Sírio Libanês, em São Paulo, o mesmo onde o pai, João Ribeiro, lutou pela vida durante um ano.

Cinthia se define como "uma mulher moderna". Católica, ela namora um pastor, Eduardo Mantoan, há dois anos e meio. Diz que é "de centro", "muito feminista" e "conservadora". Mesmo tendo dito que era "impossível não se emocionar" quando assistiu à posse de Jair Bolsonaro como presidente, Cinthia rejeita o adjetivo de bolsonarista. "Dizer que somos aliados é extremo". Para ela, a reeleição foi um marco importante e, sobre a representatividade feminina na política, diz que "ainda é necessário avançar mais".

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Presidente do PSDB, o ex-deputado Bruno Araújo, de 48 anos, disse em entrevista ao Estadão que as urnas pediram moderação em 2020, o que deve levar, em sua opinião, os líderes políticos a se afastarem de posições consideradas extremas. "O eleitor confirmou que quer distância dos extremos. É contra esses extremos na área comportamental e que faz agressões às instituições que o PSDB tem que falar de forma mais firme", afirmou.

Segundo o dirigente, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), é o único nome da sigla colocado para concorrer à Presidência da República em 2022, "respeitando o ambiente da pulverização de alternativas no nosso campo", o centro. Segundo Araújo, porém, a eleição na capital paulista fez Bruno Covas emergir como uma liderança no País. "São Paulo tem neste momento dois importantes líderes nacionais."

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Em 2018, o discurso da negação da política ajudou a eleger Jair Bolsonaro e outros nomes. O que mudou?

Tudo isso faz parte dos ventos que sopram em direções diferentes a cada processo eleitoral. É possível que 2020 tenha iniciado um novo momento, no qual o eleitor voltou a optar por nomes que se dedicaram à vida pública para voltar a ocupar o espaço do exercício do poder municipal. O exemplo do segundo turno na maior cidade da América Latina, São Paulo é caricato disso. As escolha por dois jovens que fazem política, cada um em seu campo, desde sempre. O eleitor fez opções muito claras por posições moderadas.

O PSDB vai intensificar a oposição a Bolsonaro no Congresso?

Esse é um recado das urnas. O eleitor confirmou que quer distância dos extremos. É contra esses extremos na área comportamental e que faz agressões às instituições que o PSDB tem que falar de forma mais firme.

A eleição da presidência da Câmara pode ser o primeiro passo na formação de um bloco de oposição a Bolsonaro? Já existe algum nome para a sucessão de Rodrigo Maia (DEM-RJ)?

O coordenador do processo de sucessão na Câmara é Rodrigo Maia. Não há muita correlação entre as alianças que se dão para a eleição do presidente da Câmara com a eleição presidencial, mas não estou dizendo que isso não tenha relevância. Nós podemos ver votando juntos o PSDB, Democratas e partidos do campo da esquerda.

João Doria, Sergio Moro, Luciano Huck e Rodrigo Maia têm conversado sobre possível união do centro para 2022. Como o PSDB se insere nessa construção?

O PSDB se insere como um dos mais importantes protagonistas e como o partido que polarizou a política nacional desde 1994, com exceção do tropeço de 2018. Nas duas últimas eleições municipais, o PSDB foi o partido mais votado do Brasil. O PSDB oferece nomes de qualidade nessa discussão, entre eles quem se configura como o mais intenso e presente é o governador de São Paulo, mas respeitando o ambiente da pulverização de alternativas no nosso campo. O PSDB não participa com seu ativo político e eleitoral levando prato feito. O DEM teve um belíssimo desempenho e o MDB confirmou sua vocação de pulverização por todo território nacional.

A eleição de Bruno Covas é uma vitória do projeto presidencial do governador João Doria?

Por vias indiretas, o governador João Doria tem o prefeito da maior cidade da América Latina como seu aliado. Isso é um ganho. Mas não vamos misturar. O vitorioso dessa eleição foi o Bruno Covas. Ele é o grande artífice da vitória do último domingo. Covas sai da condição de um prefeito substituto constitucional para a de alguém abençoado pelo voto. Essa vitória entrega a ele autoridade e liderança, não só como prefeito mas também como um dos mais importantes protagonistas da política nacional e do PSDB.

O PSDB tem agora, em São Paulo, dois líderes de fato?

Sim. A chegada de Bruno Covas com a bênção desses mais de 3 milhões de votos entrega um novo líder ao Brasil. São Paulo tem neste momento dois importantes líderes nacionais.

O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, é também um nome do PSDB para disputar o Palácio do Planalto?

Todos os nossos governadores, senadores e quadros nacionais são sempre alternativas postas. Mas, de forma objetiva, o único nome que nós temos posto até aqui e que tem exercitado isso de forma firme e competente é o governador João Doria.

O PSDB deve manter aliança com o DEM em 2022?

Essa é uma relação de muitos anos que se dá por afinidade política e sem imposição. Enquanto isso estiver mantido, a aposta é que sigamos sendo parceiros em eleições nacionais, estaduais e municipais. Essa relação é muito franca e sem subordinação.

Bruno Covas disse que chegou a hora do partido voltar a encontrar suas teses históricas. O sr. Concorda?

Concordo plenamente. O PSDB que eu imagino é o do Bruno Covas: moderado, sensato e que respeita o adversário. Foi assim que o PSDB foi fundado. Essas são as nossas bases. A eleição de Bruno Covas aponta um caminho para o nosso projeto de 2022.

As candidaturas sub judice tiveram uma presença maior nas eleições municipais de 2020 em Pernambuco. Dos municípios aptos, 15 têm candidatos a prefeito que venceram no primeiro e segundo turnos da corrida eleitoral, mas ainda não foram declarados eleitos porque suas candidaturas estão sub judice, aguardando decisão na Justiça Eleitoral. Segundo levantamento do Tribunal Regional Eleitoral (TRE-PE) atualizado nesta terça (1), seis desses candidatos ‘eleitos’ estão com a situação mais agravada, e tiveram registro indeferido com recursos do próprio TRE.

No levantamento das eleições majoritárias pendentes de decisão final, a regional aponta como “indeferidos com recurso” os candidatos dos municípios de Capoeiras, Ilha de Itamaracá, Palmares, Palmeirina, Pesqueira e Tuparetama. Os demais são representantes de Agrestina, Barreiros, Brejo da Madre de Deus, Gravatá, Olinda, Santa Filomena, Paulista, Sirinhaém e Mirandiba.

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Em Mirandiba, no Sertão Central de Pernambuco, a situação foi a mesma para Dr. Evaldo Bezerra (PSB) e Gilberto Gomes de Sá (PSB), prefeito e vice-prefeito, respectivamente. O processo foi deferido e remetido ao TSE em 17 de novembro.

Outra situação chama a atenção em Pesqueira, no Agreste. O caso do líder indígena Marcos Xukuru, alvo de processo eleitoral, e responsável por arrastar 17.654 votos na cidade, que era gerida há décadas por uma oligarquia rural local. Esta foi a primeira vez que um indígena ganhou a disputa pelo cargo político mais importante do município.

A diplomação dos prefeitos deve ocorrer entre os dias 16 e 18 de dezembro. Os nove com processos deferidos pela Justiça devem ser considerados eleitos oficialmente como os demais, a não ser que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) emita decisão contrária à diplomação. Já os seis com candidaturas indeferidas, podem não ser contemplados por esse cronograma e sequer tomar posse em janeiro de 2021, segundo a legislação eleitoral.

Confira o levantamento do TRE-PE:

Registros indeferidos com recurso:

Luiz Claudino de Souza (PL), prefeito em Capoeiras (Agreste)

Paulo Batista Andrade (Republicanos), prefeito na Ilha de Itamaracá (Região Metropolitana do Recife)

José Bartolomeu (Progressistas), prefeito em Palmares (Mata Sul)

Severino Eudson (MDB), prefeito em Palmeirina (Agreste)

Marcos Luidson de Araújo ‘Xukuru’ (Republicanos), prefeito em Pesqueira (Agreste)

Domingos Sávio (PTB), prefeito em Tuparetama (Sertão)

Gilberto Gomes de Sá (PSB), vice-prefeito em Mirandiba (Sertão)

Registros deferidos com recurso:

Josué Mendes da Silva (PSB), prefeito em Agrestina (Agreste)

Carlos Artur Soares (Progressistas), prefeito em Barreiros (Grande Recife)

Roberto Abraham Abrahamian Asfora (Partido Liberal), prefeito no Brejo da Madre de Deus

Joselito Gomes da Silva (PSB), prefeito em Gravatá (Agreste)

Professor Lupercio Carlos do Nascimento (SD), prefeito em Olinda (Região Metropolitana do Recife)

Pedro Gildevan Coelho (PSD), prefeito em Santa Filomena (Sertão)

Yves Ribeiro de Albuquerque (MDB), prefeito em Paulista (Região Metropolitana do Recife)

Demonstrativo de Regularidade de Atos Partidários (DRAP) deferido com recurso

Coligação ‘Coragem para mudar Sirinhaém’, Camila Machado (Progressistas), prefeita em Sirinhaém (Litoral Sul)

Coligação ‘O povo pode mais’, Evaldo Bezerra de Carvalho (PSB), prefeito em Mirandiba (Sertão)

 

A chapa eleita para a Prefeitura de Joaquim Nabuco, na Mata Sul de Pernambuco, foi denunciada e pode ser impedida de tomar posse. O prefeito reeleito Neto Barreto (PTB) e o vice Eraldo Veloso (MDB) são suspeitos de corrupção, compra de votos, além de abuso de poder político e econômico, que influenciou no resultado do pleito. Após o anúncio da vitória, no último dia 15, o vice arremessou dinheiro à população do alto de uma varanda.

O pedido de cassação, em caráter liminar, foi protocolado nessa terça-feira (1º) pela Frente Popular de Joaquim Nabuco (PROS e PSB), coligação do adversário Lirio Junior. A denúncia também inclui o candidato a vereador Irmão Luiz e o tesoureiro do partido Wilson Monteiro da Silva.

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A Frente Popular indica que os eleitos cometeram uma série de irregularidades, como promessas de terrenos e auxílio-aluguel, e chegaram a ameaçar eleitores durante a campanha. Em um áudio anexado ao processo, uma voz indicada como a de Neto Barreto pede para ver o título de uma eleitora e promete benefícios em troca do voto. No registro do dia 5 de novembro, ela diz que precisa de R$ 500 para comprar tijolos e recebe R$ 200 do então candidato.

Dentre as irregularidades, eles ainda são apontados por contratação de servidores fantasmas e contratações em período vedado. Por isso, os denunciantes solicitam o impedimento da diplomação dos eleitos até o julgamento dos crimes, com a consequente diplomação dos segundos colocados.

Em Joaquim Nabuco, Neto Barreto conquistou 52,32% dos votos e derrotou Lirio Junior (PSB), com 47,68%. Os concorrentes tiveram a diferença de apenas 487 votos.

O juiz da 38ª Zona Eleitoral, Rodrigo Ramos Melgaço, acatou a denúncia e estipulou o prazo de cinco dias para a defesa apresentar documentos e testemunhas. Em nota, a assessoria jurídica da Frente Popular destaca que, “praticamente voltamos ao velho voto de cabresto. Os candidatos eleitos compraram, prometeram e pagaram a promessa de distribuir dinheiro a todos que estavam à venda, e, infelizmente, explorou de forma demagógica e populista a miséria dos menos favorecidos, uma lástima para a democracia”.

Procurado pelo LeiaJá, o advogado do prefeito Neto Barreto não atendeu às ligações. O vice Eraldo Veloso também não respondeu às tentativas de contato. O espaço para a defesa segue aberto.

No segundo dia após a vitória contra Marcelo Crivella (Republicanos), o prefeito eleito do Rio, Eduardo Paes (DEM), se encontrou com o governador em exercício, Cláudio Castro (PSC), e buscou passar um clima de harmonia entre cidade, Estado e governo federal. Antes de Wilson Witzel (PSC) ser afastado, o Palácio Guanabara estava sem diálogo com a União. A atual prefeitura, por sua vez, tem certa dificuldade em trabalhar de modo integrado com o Estado.

Castro é próximo à família Bolsonaro e, assim que assumiu o cargo, procurou priorizar a retomada das conversas - nomeando, inclusive, aliados do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), como ocorreu na semana passada com o deputado estadual Dr. Serginho na secretaria de Ciência e Tecnologia. Paes mantém boa relação com Castro desde que era prefeito e ele vereador. Quanto a Bolsonaro, o prefeito eleito tem sinalizado que precisa haver relação institucional, apesar de integrarem grupos políticos distintos.

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"Liguei para o presidente Bolsonaro. Conversamos rapidamente, ele me cumprimentou pela vitória. Temos um governo (federal) essencialmente carioca, e todos terão muito interesse em ajudar nossa cidade e nosso Estado", apontou em pronunciamento ao lado de Castro no Palácio Guanabara. Eles haviam almoçado na sede do governo estadual para tratar de temas em que as duas esferas podem trabalhar de modo integrado, como é o caso do combate à pandemia.

Estiveram no encontro os dois futuros "supersecretários" de Paes: os deputados federais Pedro Paulo (DEM-RJ), de Fazenda e Planejamento, e Marcelo Calero (Cidadania-RJ), de Governo e Integridade Pública. Calero foi oficialmente anunciado para a vaga na manhã desta terça-feira, enquanto Pedro Paulo será nesta quarta.

A pasta assumida pelo deputado do Cidadania, além de acumular funções de peso como a da atual Casa Civil, tem um valor simbólico: ao acrescentar uma subsecretaria de Integridade Pública, Paes tenta mostrar "tolerância zero" a possíveis atos de corrupção no governo.

Ele é réu por suposto caixa 2 da Odebrecht na eleição de 2012 e também por corrupção passiva, fraude à licitação e falsidade ideológica no processo de construção do Parque Olímpico de Deodoro, antes da Olimpíada de 2016. Questionado, sempre nega as acusações e diz que ninguém pode ser punido por ter estado ao lado de quem errou - em referência ao ex-aliado e ex-governador Sérgio Cabral (MDB).

Ex-ministro da Cultura do governo de Michel Temer (MDB), Calero ficou marcado por denunciar à Polícia Federal que o então ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, o havia pressionado para liberar a obra de um prédio em Salvador que estava embargada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Geddel tinha comprado um apartamento naquele terreno.

"Não é por acaso que escolhi o Calero. Temos aqui um servidor do Estado brasileiro, um diplomata. E que mostrou na prática aquilo que todos esperamos de autoridades públicas. Cumpriu um papel importante, simbólico para o Brasil. Fiz questão de tê-lo já como coordenador de campanha", disse Paes.

Sob a alçada da subsecretaria de Integridade Pública, comandada pelo delegado filiado ao Cidadania Brenno Carnevale, haverá três pilares, segundo Calero: transparência e prevenção; controle e sanção; participação e controle social.

"Teremos mecanismos e ferramentas para que gestores públicos da nossa gestão sejam permanentemente avaliados e escrutinados. Não haverá qualquer tipo de tolerância em relação a comportamentos desviantes", disse o deputado e futuro secretário. "Não se trata de uma postura policialesca, de caça às bruxas. Nem de dizer que não haverá mais casos de corrupção na prefeitura. Mas trataremos de criar um ambiente desfavorável ao delito, à corrupção."

Ligado a grupos de renovação política, como o Agora, Calero é um dos entusiastas da candidatura de Luciano Huck à Presidência em 2022. Como o Estadão mostrou nesta terça-feira, começa a ganhar força uma possível filiação do apresentador global ao DEM. Antes, o partido mais cotado era o Cidadania.

Além de Calero e Pedro Paulo, Paes já anunciou outros três secretários: o médico Daniel Soranz, para a Saúde, Anna Laura Valente Secco, para a Conservação, e Salvino Barbosa, para a nova pasta de Juventude.

O xadrez partidário nacional tem uma nova força na direita. Com 211 prefeitos eleitos neste ano, o Republicanos entrou na lista dos dez maiores do País, sendo o mais conservador deles. Das grandes cidades, o partido vai governar Vitória, Campinas e Sorocaba, conquistadas no segundo turno, mas já havia expandido sua atuação como força eleitoral com conquistas no primeiro turno em pequenos e médios municípios, tendo ainda 2.572 vereadores que podem facilitar seu plano de fundo: ampliar a bancada federal no Congresso.

Já no primeiro mandato como deputado, o presidente do partido, Marcos Pereira (SP), chegou ao cargo de vice-presidente da Câmara e agora almeja suceder ao presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ). A eleição interna do Congresso é o próximo tabuleiro da política.

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Os prefeitos eleitos pelo partido superam, por exemplo, os 183 vitoriosos do PT. Foi um ganho de mais de cem prefeituras.

Sem amarras ideológicas e com apetite por espaços no governo, o Republicanos apoiou os últimos três presidentes da República: Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma Rousseff e Michel Temer. Atualmente abriga, ainda que "de passagem", dois dos filhos parlamentares de Jair Bolsonaro: o vereador no Rio Carlos Bolsonaro e o senador Flávio Bolsonaro (RJ).

Na bolsa de apostas, é um dos partidos aos quais o presidente pode escolher se filiar para a reeleição em 2022. Diferentemente do fracassado plano de criar o Aliança pelo Brasil, no Republicanos o clã Bolsonaro não teria o controle de verbas, nem poder de vetos, avisou a cúpula da legenda, vacinada pelas brigas que o presidente e seus filhos causaram no PSL.

Origem

O Republicanos foi criado há 15 anos com incentivo de líderes evangélicos. O partido surgiu em 2003, tendo como maior nome o ex-vice-presidente José Alencar. Desde 2011, a legenda é dirigida por Pereira, bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus e ex-diretor da Record TV.

O cientista político Sérgio Praça, da Fundação Getúlio Vargas, considera que o Republicanos está "bem encaminhado" para crescer novamente em 2022. "Está provado cientificamente que quanto mais vereadores e prefeitos melhor é sua eleição para a Câmara dois anos depois", disse Praça.

Por outro lado, o Republicanos esforça-se para se desvencilhar de reveses na sua maior vitrine até agora, a prefeitura do Rio de Janeiro, administrada pelo prefeito Marcelo Crivella, bispo da Universal e sobrinho de Edir Macedo, o fundador da igreja.

Derrotas

As pesquisas internas que o partido encomendava já mostravam dificuldades no Rio e em São Paulo, o que faria a direção nacional resistir às candidaturas de Crivella e do deputado Celso Russomanno. As duas derrotas são atribuídas mais à má gestão do prefeito e erros de estratégia e comunicação de Russomanno. "As pessoas não rejeitaram o partido, mas sim os candidatos. Tanto que elegemos sete vereadores no Rio e quatro em São Paulo", afirmou Pereira.

O eleitor que não compareceu às eleições realizadas no último domingo (29) tem até 60 dias para justificar a ausência na Justiça Eleitoral. A justificativa deverá conter a documentação comprobatória da impossibilidade de comparecimento ao pleito. 

A requisição pode ser feita por meio do aplicativo de celular e-Título, pelo Sistema Justifica ou por meio do comparecimento a um cartório eleitoral para a entrega do Requerimento de Justificativa Eleitoral (RJE), que pode ser preenchido aqui . O requerimento pode ser enviado pelos correios ao juiz da zona eleitoral na qual o eleitor for inscrito, acompanhado da documentação comprobatória da impossibilidade de comparecimento ao pleito. Veja a relação das zonas eleitorais.

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O eleitor que deixou de votar e não justificou a ausência no dia da eleição poderá apresentar justificativa até 14 de janeiro de 2021 (ausência no primeiro turno) e até 28 de janeiro de 2021 (ausência no segundo turno).

O acolhimento ou não da justificativa apresentada ficará a critério do juiz da zona eleitoral em que o eleitor for inscrito. Enquanto não regularizar sua situação com a Justiça Eleitoral, o eleitor não poderá, entre outras coisas, obter passaporte ou carteira de identidade e renovar matrícula em estabelecimento de ensino oficial.

Tema recorrente durante as eleições municipais deste ano, a possibilidade de impressão de votos segue em discussão no Congresso, mas não há consenso entre os senadores. Neste domingo (29), o presidente Jair Bolsonaro voltou a falar em fraudes e defendeu o voto impresso. Já o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Luís Roberto Barroso, defendeu as urnas eletrônicas e afirmou que o voto impresso traria “grande tumulto” ao processo eleitoral.

Defensor da possibilidade de impressão do voto, o senador Plínio Valério (PSDB-AM) manifestou apoio à Proposta de Emenda à Constituição 135 de 2019, conhecida como PEC do Voto Impresso, apresentada pela deputada Bia Kicis (PSL-DF). A ideia é que o eleitor possa conferir o voto após escolher seus candidatos na urna. Os papéis ficariam armazenados em um recipiente acoplado à urna e serviriam para auditoria. O senador chegou a cogitar a possibilidade de apresentar uma PEC com teor semelhante, mas decidiu apoiar a medida que já está em discussão na Câmara dos Deputados. Plínio acredita que o direito à conferência do voto é um anseio do eleitor e que a palavra final sobre o tema é do Congresso.

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“Eu acho que essa questão do comprovante impresso não pode ser discutido assim: o ministro chegar e dizer que não pode. O ministro Barroso quer ser o dono da verdade, mas não é o dono da verdade. Eu acho que a gente tem que discutir. É um anseio da população. A gente quando fala nisso não está colocando em xeque o sistema. O sistema é confiável, funciona da urna eletrônica, mas não dá para auditar. Cabe a nós, o Congresso, nós, legisladores, discutir e ver se queremos ou não. Se a gente quiser, não vai ser a vontade do ministro que vai nos impedir de fazer. Mas é uma discussão. Não vou apresentar mais a PEC porque estamos priorizando a da deputada federal Bia Kicis, que está andando. Não é voto impresso. É comprovante de voto. Sou a favor do que a população quer”, disse o senador à Agência Senado.

Sem registro de fraudes

Na entrevista coletiva após a apuração dos votos do segundo turno da eleição municipal deste ano, o ministro Luís Roberto Barroso afirmou que nunca houve comprovação de fraudes desde que as urnas eletrônicas começaram a ser usadas.

“ A verdade porém é que o Supremo Tribunal Federal já entendeu pela inconstitucionalidade do voto impresso. E não apenas pelo custo, de R$ 2,5 bilhões, mas porque representaria um risco real ao sigilo para o voto. Eu penso que o voto impresso traria grande tumulto para o processo eleitoral brasileiro, porque todo candidato derrotado ia pedir recontagem, ia haver impugnações, alegações de nulidade e judicialização do processo eleitoral”, disse.

O presidente do TSE reforçou que a Justiça Eleitoral teria a obrigação de acatar o voto impresso se o Congresso aprovasse uma mudança na Constituição que não colocasse em risco o sigilo do voto.

“Há uma clausula pétrea na Constituição que diz que o voto tem que ser sigiloso, secreto. Se a PEC for aprovada e considerada constitucional, o papel dos juízes eleitorais é o de cumprir o que a nova norma determinar. Se houver emenda constitucional nesse sentido e for considerada válida, o papel de todos os juízes e da sociedade é cumprir”, apontou.

Aprovada pelo Congresso Nacional em 2015, a minirreforma eleitoral (Lei 13.165, de 2015) previa a impressão do voto. A então presidente Dilma Rousseff vetou o dispositivo, mas os parlamentares derrubaram o veto. Assim, a lei foi promulgada com a previsão de impressão do voto. Em junho de 2018, o STF suspendeu a medida por meio de uma liminar. Em setembro daquele ano, o STF firmou maioria e considerou a regra inconstitucional sob o argumento de que a regra poderia comprometer o sigilo e a liberdade do voto, decisão que divide a opinião dos parlamentares. Na ocasião, o senador Humberto Costa (PT-PE) defendeu a legitimidade do sistema eleitoral.

“Nosso sistema eleitoral é bastante seguro. Jamais teve qualquer fraude comprovada”, apontou o senador em setembro.

*Da Agência Senado

 

Além de ter sido realizado num cenário de pandemia e adiado por algumas semanas, o processo eleitoral de 2020 também será lembrado como o que apresentou abstenção acima da média. No segundo turno, realizado no domingo (29), 29,5% dos eleitores habilitados optaram por não comparecer às urnas, num país em que o voto é obrigatório.

“Foi um número maior que o desejável. Mas precisamos ter em conta que fizemos as eleições em meio a uma pandemia que consumiu 170 mil vidas, e pessoas com temor deixaram de votar, muitas por medo, outras por estarem com a doença e muitas por estarem com os sintomas”, disse em entrevista coletiva o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Luís Roberto Barroso, na noite de domingo.

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A abstenção no processo eleitoral de 2020 é a maior verificada nas últimas décadas. Um número bem superior aos processos eleitorais mais recentes (2018, 2016 e 2014), quando o índice ficou em torno de 21%. Número também muito superior ao verificado nos demais pleitos para prefeitos e vereadores em 2012 (19,12%), 2008 (18,09%), 2004 (17,3%), 2000 (16,2%) e 1996 (19,99%). Ainda assim, Barroso interpreta que o índice de comparecimento em 2020 deve ser celebrado.

“Prefiro ver este copo 'meio cheio' do que 'meio vazio'. Quando iniciou-se o processo eleitoral, temia-se uma abstenção colossal devido à pandemia, e não foi o que ocorreu. Fizemos o processo eleitoral dentro das mais rigorosas diretrizes de segurança sanitária, e as pessoas compareceram”, reiterou.  

Culpa da pandemia

Para o consultor legislativo Gilberto Guerzoni, especialista em Direito Eleitoral que assessorou a elaboração da Lei das Eleições (Lei 9.504, de 1997) e de suas revisões, a abstenção verificada em 2020 "de fato chama a atenção".

Ele alerta para índices recordes em grandes capitais, como Rio de Janeiro (35,4%), Porto Alegre (32,8%) e São Paulo (30,8%). Outras cidades que tiveram alto percentual de eleitores ausentes foram Goiânia (36,7%), Petrópolis (35,6%), Ribeirão Preto (35,6%), Blumenau (31%), Joinville (28%) e Aracaju (27,8%). Na maioria desses municípios, a abstenção, somada aos votos nulos e brancos, supera a votação obtida pelo vencedor do pleito. Guerzoni avalia que a pandemia foi a responsável direta pelos índices recordes, e como o ministro Barroso, preferiu se concentrar no comparecimento. 

“Índices de abstenção próximos de 40% em algumas cidades não podem ser ignorados. A abstenção tem subido a cada processo eleitoral, o que a maioria dos analistas atribui à desilusão de parte expressiva do eleitorado com a política brasileira. Mas o salto verificado em 2020 é muito significativo, se comparado ao de 2018, que foi próximo de 20%. Este processo eleitoral foi totalmente atípico, devido à pandemia. Desde o início já se esperava uma grande abstenção, por causa do medo das pessoas. Alguns senadores chegaram a propor que o voto fosse facultativo em 2020, para todos ou pelo menos para os grupos de risco. Naquela época, temia-se que a abstenção fosse de 50%, o que não ocorreu”, releva Guerzoni em entrevista à Agência Senado.

Apesar da visão otimista, o consultor avalia que o sistema político precisa estar atento ao que ocorrer nos próximos pleitos, devido à tendência histórica de aumento dos índices de abstenção. Só aí será possível avaliar, de fato, se o que ocorreu em 2020 "foi um ponto fora da curva".

Desinteresse eleitoral

Para o sociólogo Marcos Coimbra, presidente do instituto Vox Populi, a pandemia influiu nos índices recordes de abstenção verificados em 2020, "mas não explica o fenômeno sozinha". Ele entende que as recentes revisões nas regras eleitorais desestimulam o debate e a participação cívica, quadro agravado pela crise econômica decorrente da pandemia. Para Coimbra, o atual modelo eleitoral limita o engajamento cidadão desde o primeiro turno, e o pouco tempo de campanha no segundo turno em 2020 (apenas duas semanas) não foi suficiente para reverter estruturalmente o cenário. 

“Os processos eleitorais têm se tornado cada vez mais frios, no que tange ao aprofundamento das pautas que afetam mais diretamente o povo. A propaganda dos candidatos na TV e no rádio tornou-se algo quase impossível, porque o tempo de exposição de propostas foi reduzido ao mínimo, num quadro de pulverização de candidaturas, também estimulado pela lei eleitoral. Em diversas capitais, onde tradicionalmente havia entre cinco a sete candidatos para prefeito, este ano tivemos entre 12 a 14 candidaturas, às vezes até mais. Dividindo no máximo dez minutos de tempo total entre eles para apresentarem as propostas. Como é possível ter um debate profundo sobre os graves problemas sociais das cidades brasileiras em menos de um minuto?”, reclama o sociólogo em entrevista à Agência Senado, acrescentando que o quadro foi ainda mais dramático nas eleições para vereadores, com milhares de candidatos nas grandes cidades.

O sociólogo alerta que o índice de eleitores que ainda não usa a internet para se informar sobre o pleito "é expressivo, e não pode ser ignorado". Suas pesquisas indicam que a maioria dos eleitores acabou não se empolgando com o processo eleitoral deste ano, diante do quadro de grandes dificuldades.

“A abstenção reflete também o modelo eleitoral adotado, e como a cidadania reage a ele. A escolha de prefeitos e vereadores, que eu entendo ter grande importância, acabou não sendo percebida dessa forma por parte expressiva do eleitorado. A crise econômica, a redução da renda, o aumento do desemprego e o fim do auxílio emergencial são questões que afetam muito mais a vida real das pessoas, e acabaram não tendo o debate aprofundado. A pandemia também reduziu ao mínimo os comícios, passeatas e eventos políticos presenciais. Enfim, foi um processo em que a mobilização cidadã e o aprofundamento do debate enfrentou um cenário desfavorável, e a meu ver, isso também contribuiu para a abstenção recorde”,  acrescenta o sociólogo.

Diante do cenário, Coimbra ainda avalia que está na hora de o Parlamento enfrentar o debate sobre a obrigatoriedade do voto.

“Essa é uma discussão que precisa ser feita. Esse voto obrigatório é um resquício do regime militar que vigorou até 1985. Uma parte do eleitorado já não elege ninguém, o que é visto com desprezo por setores de tendência elitista na nossa sociedade. Mas penso que é uma visão equivocada. O voto deve ser percebido pelas pessoas como um direito, não como uma obrigação. Não querer votar é uma opção do eleitor como qualquer outra. Defendo que o Parlamento deve enfrentar esta discussão, dentro de uma ampla revisão do modelo político em vigor neste país”, finaliza Coimbra.

*Da Agência Senado

 

A campanha e os resultados das eleições municipais de 2020 foram temas de um discurso proferido pela vereadora Michele Collins (PP) na manhã desta segunda-feira (30). Durante a reunião Ordinária da Câmara do Recife, realizada por meio de videoconferência, a parlamentar teceu agradecimentos por sua recondução ao cargo e parabenizou o novo prefeito do Recife, João Campos (PSB), pela vitória no segundo turno do pleito.

“Gostaria de agradecer, primeiramente, a Deus, por ter me concedido mais uma vez a oportunidade de compor a Câmara do Recife. Agradeço ao povo do Recife, às 6.823 pessoas [que votaram]”, disse Michele Collins.

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Dificuldades pessoais enfrentadas durante a campanha foram destacadas pela vereadora reeleita. “Essa eleição foi muito diferente para todos nós, e para mim foi muito mais desafiadora. Confesso que até pensei em não me candidatar. Tive meus dois filhos acometidos por enfermidades muito graves. Passei boa parte da campanha dentro do hospital. Quero agradecer aos médicos que me deram forças, a toda a militância, às pessoas que me representaram, à minha família”.

Ao comentar a eleição de João Campos, Michele Collins não deixou de fazer um gesto de agradecimento à ala conservadora cristã que o apoiou no segundo turno. “Ele é um jovem que realizou um grande feito. Conseguiu reunir, principalmente no segundo turno. Quero parabenizar a esses 447.913 recifenses que escolheram João Campos. Quero agradecer, também, aos cristãos que se se reuniram no propósito de confiar nele”.

*Da Câmara Municipal do Recife

 

Os pareceres elaborados pela Comissão de Finanças e Orçamento da Câmara Municipal do Recife aos projetos de lei do Executivo nºs 20/ 2020 e 21/ 2020 foram aprovados, em primeira e segunda votações, durante reuniões Ordinária e Extraordinária, transmitidas por videoconferência, nesta segunda-feira (30). O primeiro projeto dispõe sobre a revisão do Plano Plurianual (PPA) 2018-2021 do Recife para o Exercício de 2021 e o outro, trata do projeto de Lei Orçamentária Anual (LOA), que estima a receita e fixa a despesa do Município para o Exercício de 2021. O presidente da Comissão, vereador Eriberto Rafael, leu os pareceres e conduziu as votações.

O parecer da Comissão ao PPA consta da aprovação de três emendas, dentre as  50 apresentadas pelos parlamentares. Já para a LOA foram apresentadas 48 emendas,  sendo que 22 foram aprovadas e 26 rejeitadas. Após a aprovação da redação final, os  projetos seguiram para sanção do prefeito do Recife, Geraldo Julio.

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Ao iniciar a votação nesta manhã de segunda-feira,  o presidente da Comissão, Eriberto Rafael, relator dos pareceres, leu o documento e lembrou o processo de tramitação do PPA  e da LOA na Casa. Ele ressaltou que antes da discussão no âmbito do colegiado, foi realizada uma audiência pública, em 29 de outubro, que contou com a participação do secretário de Planejamento, Administração e Gestão de Pessoas do Recife, Jorge Vieira, para discutir os projetos.

 “E antes de trazer ao plenário os pareceres, todas as emendas foram discutidas em reunião na Comissão de Finanças e Orçamento na semana passada”, destacou o vereador.

*Da Câmara de Vereadores do Recife 

 

O resultado das eleições municipais deste ano fortaleceram os partidos que compõem o Centrão, que a partir de 2021 vai comandar 2,4 mil cidades do país, o que corresponde a 45% dos municípios brasileiros. Mesmo sendo o sustentáculo do presidente Jair Bolsonaro na Câmara dos Deputados, esse resultado não se dá por conta de apoios ou trabalhos políticos por parte do chefe do Executivo, que viu seus apadrinhados perderem as eleições nos municípios, muitos já no primeiro turno.

A cientista política Priscila Lapa aponta que o presidente Bolsonaro pode ter aprendido algumas questões em relação a eleição municipal, como por exemplo a falta que uma estrutura partidária faz. Priscila diz que a partir de agora, o presidente pode ter um custo político maior para atrair aliados para a sua base.

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“Ele poderia ter angariado algumas alianças na eleição que facilitassem esse caminho em direção a reeleição dele em 2022. Quem sofre uma derrota são as eleições para os extremos de discurso radical, a ideologia fazendo toda a modelagem”, explica. 

O cientista político e professor da Faculdade Damas, Elton Gomes, explica que Bolsonaro, assim como o ex-presidente Lula, principal líder da esquerda brasileira, enfrentam uma rejeição no país e foram maus cabos eleitorais desse processo político eleitoral de 2020. 

O Centrão, que fez uma grande quantidade de prefeituras e que elegeu a maior parte dos legisladores municipais, que são os vereadores, tornou-se mais importante e hoje, Bolsonaro que se elegeu criticando o Centrão, é cada vez mais dependente dele para sobreviver no cargo, aprovar legislação do interesse do Executivo e para executar a reeleição em 2022. 

O cientista aponta que, muito embora exista uma rejeição ao bolsonarismo verificado nas principais praças do Brasil, isso precisa ser contextualizado. 

“Inicialmente, a gente pode dizer que o presidente da República se prejudicou enormemente pelo fato de não possuir uma legenda, que é algo inédito na história política brasileira. Muito mal assessorado e extremamente inabilidoso do ponto de vista da arena política mais complexa, porque ele vinha de um setor do baixo clero, de um nicho de deputados que lhe permitiu sucessivas eleições, mas nunca fez parte do grande acordo nacional, nunca fez parte do sistema de barganhas e trocas que caracteriza para valer o sistema de presidencialismo de coalizão brasileiro”, diz Elton.

“O outro ponto é que o antipetismo continua com uma força muito expressiva no Brasil. O PT não elegeu nenhum prefeito nas capitais”, complementa.

No entanto, o professor acentua que a rejeição é um dos fenômenos mais importantes das democracias contemporâneas que passam por essa crise de representatividade. “Tome por exemplo o que aconteceu recentemente nos Estados Unidos. A vitória de Joe Biden se deveu, em grande medida, a enorme rejeição a figura polêmica do presidente Donald Trump, que permitiu uma aliança entre todas as forças de esquerda dos EUA. Você tem aqui no Brasil a rejeição sendo um determinante para você saber quem é que vai ser eleito, principalmente em cargos majoritários”, aponta. 

Elton reforça que as redes sociais são um canal para poder compartilhar o ódio e poder manifestar as insatisfações, neste caso do universo político, e isso potencializa o fenômeno da rejeição no Brasil e no mundo.

“Em geral, têm sido eleito no Brasil e no mundo o candidato menos rejeitado, aquele que consegue fazer da sua campanha um instrumento para poder aumentar a rejeição contra o seu adversário e para poder atenuar a rejeição contra si. Isso aconteceu aqui em Recife, com a candidatura de João Campos instrumentalizando a rejeição ao lulopetismo para poder impedir a virada de Marília, que já vinha acontecendo, no segundo turno”, pontua.

A prefeita eleita de Bauru (SP), Suéllen Rosim (Patriota), recebeu ataques racistas às vésperas da votação do segundo turno, realizada no domingo (29). As ofensas foram postadas no Facebook e distribuídas em grupos do Whatsapp.

“Bauru não merecia ter essa prefeita de cor com cara de favelada comandando a nossa cidade. A senzala estará no poder nos próximos quatro anos”, diz uma das mensagens que foi “printada” por usuários do Facebook e encaminhada à prefeita eleita.

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Rosim informou que fez boletim de ocorrência e irá processar os autores. “Recebi mensagens de cunho racista que foram publicadas em um grupo de Whatsapp e nas redes sociais. Jamais me silenciarei diante de algo tão sério. É inadmissível! Tomei as medidas judiciais necessárias”, disse a prefeita eleita em postagem no Twitter.

"Recebi conversas de cunho racista feitas em um grupo de WhatsApp e comentários nas redes sociais. Jamais me silenciarei diante de algo tão sério. É inadmissível. Já tomei as medidas judiciais necessárias. Obrigada pelas mensagens de apoio! #racismonão"

— Suéllen Rosim (@suellenrosim) November 30, 2020

Suéllen Rosim foi eleita ontem, em segundo turno, com 55,98% dos votos válidos, ou 89.725 votos. Em segundo lugar ficou Dr. Raul (DEM), com 44,02% dos votos válidos, ou 70.558 votos.

 

O Partido dos Trabalhadores (PT) encerrou as eleições municipais deste ano com um encolhimento no número de prefeituras em Pernambuco. A principal disputa protagonizada pela sigla foi no Recife com a candidatura de Marília Arraes – derrotada por João Campos (PSB) nas urnas. A corrida pelo segundo turno na capital pernambucana, nos últimos 15 dias, deu um tom mais amargo à aliança histórica estadual firmada pelo PT com o PSB.

O vai e vem de acusações e o fato da campanha de João ter adotado um tom duro, buscando angariar votos do chamado antipetismo deixou evidente um desgaste entre as siglas. Ao LeiaJá, o presidente estadual do PT, deputado Doriel Barros, afirmou, nesta segunda-feira (30), que será aberto um debate interno na sigla que pode definir, até 20 de dezembro, os rumos do pós-eleição para o PT no Estado, inclusive com a possibilidade de um rompimento oficial com o PSB.

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“Temos um calendário de discussão e só a partir dele vamos tomar a decisão. Já tínhamos agendado para dezembro, antes mesmo do resultado do segundo turno, uma reunião da Executiva e depois do Diretório. Como já estamos quase em dezembro, temos até o dia 20 para resolver tudo”, afirmou Doriel. “Agora os ataques foram duros, vamos fazer uma reflexão colocando a indignação que estamos diante desses métodos que foram usados nessa campanha”, emendou.

De acordo com o presidente do PT-PE, “o posicionamento político do partido em relação às eleições só será conhecido após muitas discussões internas”. “Uma das coisas que vamos fazer é um debate sobre a necessidade do partido se sobrepor as pessoas [aos políticos]. Seja de não mais permanência, apesar de termos contribuído diretamente com a eleição de Paulo Câmara em 2018, ou de seguir com a aliança vamos fazer isso após um intenso debate, inclusive entre as correntes internas. O PT é muito plural”, lembrou Doriel, afirmando ainda que é muito cedo para já discutir as eleições de 2022.

Na semana passada, o presidente estadual do PT, que antes havia se colocado contra a candidatura de Marília Arraes e defendia a legenda no palanque de João Campos, veio a público refutar o posicionamento da campanha do pessebista e o fato do prefeito eleito ter dito que não aceitaria nenhuma indicação política do PT para a sua gestão. Na ocasião, o dirigente chamou o então candidato de “imaturo”, cobrou respeito e foi direto ao ponderar que a aliança firmada entre as siglas não era por "bondade" do PSB, mas a parceria poderia ser revista a qualquer momento.

Após o resultado das urnas, com João escolhido por dos eleitores recifenses, Marília Arraes garantiu que fará articulações para a concretização de uma “nova oposição” ao PSB. O discurso de um reposicionamento também foi adotado pela deputada estadual Teresa Leitão.

“Eu defendo que esse afastamento seja imediato, que a gente passe por um reposicionamento na Alepe, entregue os cargos e passe a fazer oposição a um governo que nos atacou firmemente. Atacou nosso partido, nossas lideranças nacionais e cuspiu no prato que comeu”, salientou a parlamentar, uma das entusiastas, desde o início, da candidatura majoritária no Recife.

Se o PSB e o PT vão seguir aliados ou não, agora resta aguardar que os ânimos da disputa se acalmem e as lideranças petistas discutam internamente o assunto. Da parte do governador Paulo Câmara (PSB), ele já chegou a dizer que está aberto para seguir dialogando “com quem queira”.

Nitidamente fragmentada em Pernambuco, a esquerda conseguiu eleger o prefeito do Recife, João Campos (PSB), neste domingo (29), mas sofrerá as consequências da disputa. O resultado definiu o racha ideológico, já exposto durante a campanha. Antes aliado, o PT perdeu seu protagonismo em todos os recortes, o que lhe impôs o papel de oposição à atual gestão.

Embora as pesquisas dividissem as intenções de voto em 50%, a cientista política Priscila Lapa entende que o resultado no Recife não surpreendeu, visto que o PT acumulou derrotas nas capitais do país. "Isso não foi surpresa, sabe? Ele já vinha nesse movimento de perda de estrutura política e de capital eleitoral desde 2016, passou pela derrota em 2018 e agora ele sequer conseguiu ter candidatos competitivos nos grandes centros urbanos", afirmou, ao apontar que a legenda impôs concorrência apenas em Pernambuco e no Espírito Santo.  

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Na visão da especialista, o enfraquecimento ainda é reflexo dos desgastantes casos de corrupção e da tentativa de se reafirmar sem coligações. Tal condição permitiu que partidos "menos radicais" da ala ideológica, como o PDT, PDB e PSOL, adotassem o discurso antipetista. "O PT perdeu uma conexão com a agenda da sociedade e o voto da classe C. Ele trabalhou políticas de inclusão no processo produtivo, nas universidades e achou que para sempre haveria uma fidelidade desse eleitor", analisou.

Para o cientista político Arthur Leandro, "a campanha de 2020 no Recife pode ter gerado sequelas que inviabilizam a renovação da chapa PT/PSB, que reelegeu Paulo Câmara em 2018". Dessa forma, a 'oficialização' do racha foi evidenciada, por isso ele espera que o PT entregue os cargos dentro do Governo do Estado, visto que a própria candidata Marília Arraes indicou uma nova oposição em Pernambuco.

Considerado o principal reduto da esquerda no Nordeste, a vitória no Recife representa uma sobrevida ao candidato vencedor. "O PSB dependia totalmente da eleição de João Campos no Recife para tentar não ser rebaixado à 'terceira divisão da política nacional'. Digamos que era o jogo do rebaixamento para o PSB", comparou o especialista.

Implodido no cenário local e nacional, o PT catalisou o sentimento de revolta e cansaço do eleitorado. Neste cenário, as urnas favoreceram aos candidatos do Centrão, composto por partidos sem grande inclinação ideológica, "indicando que a tradicional divisão em esquerda e direita tem se mostrado insuficiente para explicar a dinâmica eleitoral do Brasil", assegurou o cientista político.

Frente ao sucesso da aliança PDT/PSB /PCdoB, Leandro indica que possivelmente haverá mais de uma candidatura da esquerda nas eleições presidenciais de 2022. Ele aponta que, embora derrotado, Guilherme Boulos (PSOL) conseguiu mobilizar o eleitorado de São Paulo e ganhou visibilidade como porta-voz contra o bolsonarismo. Por isso, "existe a possibilidade do PSOL ser uma alternativa competitiva nas eleições", complementou.

Das 26 capitais brasileiras, apenas uma será chefiada por uma mulher durante a gestão de 2021-2024. Cinthia Ribeiro (PSDB) foi reeleita prefeita de Palmas, no Tocantins, e é exceção entre os demais 25 cargos que não foram alcançados por mulheres nessas eleições municipais. O número repete a tendência de 2012 e 2016, e evidencia a lacuna entre a participação feminina na política, através das candidaturas, e das vitórias efetivas.

Considerando os 96 maiores colégios eleitorais do Brasil, apenas oito mulheres foram eleitas prefeitas, de acordo com os resultados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Esse grupo de colégios engloba as 26 capitais e os 70 municípios com mais de 200 mil eleitores aptos, e nos quais é possível a realização do segundo turno.

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O resultado representa 8% de participação feminina no bloco e, nacionalmente, o percentual é de 12%. Em 2012, Teresa Surita (MDB) foi eleita prefeita de Boa Vista (RR), a única mulher escolhida para comandar uma capital no País. Ela foi reeleita em 2016.

Além da tucana no Tocantins, as mulheres eleitas nesse grupo foram Suéllen Rosim (Patriota) em Bauru, o município mais populoso do Centro-Oeste paulista; Rachel Chini (PSDB), em Praia Grande, na Baixada Santista; Professora Elizabeth (PSD), em Ponta Grossa, no Paraná; e Raquel Lyra (PSDB), reeleita no primeiro turno em Caruaru, Agreste pernambucano.

Em Minas Gerais, foram eleitas as postulantes Marília Campos (PT) em Contagem, na região metropolitana; Margarida Salomão (PT) em Juiz de Fora, Zona da Mata mineira; e Elisa Araújo (SD) no interior, em Uberaba. 

Quase chegaram lá

Também chamam a atenção as candidatas que quase chegaram lá. É possível começar a observação pelo Macapá, capital amapaense, onde as eleições foram adiadas por conta do apagão em 3 de novembro. A candidata Patrícia Ferraz (Podemos) aparece em segundo lugar na pesquisa do Ibope, divulgada no último dia 11. Com 18%, a postulante está atrás de Josiel (DEM), que lidera com 26%. Ela se difere no terceiro lugar, Dr. Furlan (Cidadania) por apenas 1%.

Na capital pernambucana, o conflito familiar entre os Campos e Arraes, que se arrastou até o segundo turno, com a vitória de João Campos (PSB), esteve sob atenção de todo o Brasil. A petista Marília Arraes liderava as pesquisas de intenção desde o fim do primeiro turno, mas foi derrotada pelo primo com uma diferença de 12,54 pontos percentuais.

Outras candidaturas tinham chance de aumentar o número de mulheres no comando das principais prefeituras do país, mas todas foram derrotadas no segundo turno. Manuela D’Ávila (PCdoB) perdeu em Porto Alegre (RS) para Sebastião Melo (MDB) por 54,63% a 45,37%. Cristiane Lopes (PP) também foi derrotada em Porto Velho-RO por Hildon Chaves (PSDB), ele teve 54,45% contra 45,55% dela.

O mesmo aconteceu com as candidatas Delegada Danielle (Cidadania) em Aracaju-SE e Socorro Neri (PSB) em Rio Branco-AC.

O contexto nacional

O cientista político e professor universitário Elton Gomes fala que o “fetichismo jurídico” atrapalha a expressão das candidaturas femininas e pode reduzir o potencial dos seus trabalhos. Para ele, há no Brasil uma tendência de instrumentalizar o voto feminino e a causa identitária.

“Temos aí políticos que do dia para a noite viram feministas. A lei exige que os partidos tenham 30% de bancada feminina para conseguir participar das eleições, e isso pode esvaziar o significado dessas candidaturas, mas acontece que o voto feminino é identitário. Toda teoria política discute os incentivos seletivos. Quando se conquista o povo, isso pode significar que você não precisa mais da lei. O caminho aqui é pelo código penal, o partido arruma qualquer política, candidaturas que funcionam como 'laranja', só para o registro. É uma forma de perpetuar e potencializar a desigualdade. As mulheres não são devidamente estimuladas, nem verdadeiramente representadas. O corpo continua sendo uma maioria de homens”, diz o especialista, e completa: “é fetichismo jurídico, e às vezes é difícil pensar juridicamente no mundo real”. 

Gomes se refere à Emenda Constitucional (EC) nª 97/2017, a “cota dos 30%” do TSE, que indica o mínimo de 30% de mulheres filiadas aos partidos que queiram concorrer em um pleito eleitoral. A medida, na opinião do cientista, necessária, pode ser ao mesmo tempo aplaudida e questionada. A obrigatoriedade pode fazer com que as candidaturas sejam para “preencher” registro, e não para verdadeiramente agregar.

Ele também chama atenção para as respostas do eleitorado a essas candidaturas, e ressalta o fervor da causa identitária, que nem sempre avalia as questões reais de desigualdade e o significado das candidaturas. 

“O identitarismo cria uma expectativa errada, e pensando em termos analíticos, nas estruturas de poder, essa expectativa não se reverbera enquanto verdade. É uma perspectiva normativa e não prática do que ‘deveria ser’, e não do mundo como é. Além disso, por razões identitárias, o Brasil instrumentaliza a causa e faz parecer que elas só podem chegar na representação se for pela esquerda. Isso não deveria acontecer. O feminismo, por exemplo, pode ser muito plural”, desenvolveu. 

“A única prefeita eleita é uma tucana”, continuou, referindo-se à reeleição de Cinthia Ribeiro. Ele relembra que o espectro político das candidatas é amplo e que é possível representar diversas mulheres através dessas figuras. O problema segue sendo o quantitativo. Sobre isso, ele comenta: “As pessoas com chances de ganhar são bem vistas pelos partidos. Mulheres como Marília Arraes (PT), Raquel Lyra (PSDB), Dani Portela (PSOL) e outras vereadoras, como Liana Cirne (PT), Andreza Romero (PP) mostram que não só tem mulheres na política como o espectro delas é enorme. O que dá para questionar é o número. De 39 vereadores, temos somente seis mulheres, plurais, que passeiam da direita conservadora à esquerda liberal. No Brasil a coisa não decola por causa da questão social, que muda pouco a pouco com as lideranças que transitam pelos espectros políticos”.

Segundo o levantamento da plataforma Fiquem Sabendo (O Brasil em dados), em parceria com o Yahoo Brasil, apenas 7 mulheres foram eleitas prefeitas das capitais brasileiras nos últimos 20 anos. A proporção de mulheres à frente das capitais diminuiu ao longo dos anos. Em 2000, a presença feminina marcava 19,2%. Em 2012, estacionou em apenas 3,8%, taxa que se manteve em 2016, com apenas uma mulher eleita prefeita.

Em adição, Elton Gomes fala sobre descentralizar o poder de fala das candidaturas femininas, que soam patenteadas pelos grupos de esquerda, mas reconhece o papel protagonista do espectro no acolhimento das pautas voltadas às mulheres.

“Não sejamos injustos. A esquerda, no mundo todo, detém a imensa maior parte das representações desses movimentos de minoria, sobretudo com a frente do feminismo. Mas vale mais falar de feminismos, no plural, do que de um feminismo único. Todas têm como ponto comum a diferenciação entre sexo e gênero, mas elas divergem com relação ao caráter do movimento. Quando a esquerda diz que só ela pode ter a legitimidade de falar dessa luta, primeiramente não condiz com a realidade pela quantidade de correntes de pensamento, e em segundo lugar isso acaba impõe uma autoridade moral sobre as demais pessoas”, explica, e finaliza dizendo que, nesse aspecto, não deve haver “monopólio em nenhum espectro, e nem pessoas colocadas como "ultra ativistas".

O prefeito de São Paulo Bruno Covas (PSDB), reeleito nesse domingo (29), deu um tom nacional ao seu primeiro discurso após o anúncio do resultado oficial. Ao lado do governador João Doria (PSDB) e lideranças do seu partido, fez críticas indiretas ao presidente Jair Bolsonaro, disse que as urnas derrotaram o "obscurantismo e o negacionismo" e que São Paulo um voto "a favor da ciência".

"As urnas falaram e a democracia está viva. São Paulo mostra que faltam poucos dias para o obscurantismo e negacionismo. São Paulo disse sim à ciência e à moderação", disse Covas, que se declarou um "filho da democracia". "É possível fazer política sem ódio, falando a verdade".

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O tucano evitou dizer, de forma clara, que fará oposição a Bolsonaro e também não defendeu abertamente a criação de uma frente de partidos contra o governo federal para as eleições de 2022, como pregam aliados, como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e a ex-prefeita Marta Suplicy.

Quando questionado sobre sua posição em relação ao presidente, Covas desconversou. "Nunca construí nada contra ninguém. Sou á favor do Brasil". Durante seu discurso, o prefeito disse que, em 2018, alguns analista previam o "fim do PSDB". Há dois anos, o candidato tucano à Presidência, Geraldo Alckmin, teve cinco milhões de votos e ficou em quarto lugar na disputa vencida por Bolsonaro. "É muito cedo para prever 2022, mas se o grande derrotado de 2018 foi o centro, o grande derrotado de 2020 foi o radicalismo."

O tucano fez, ainda, uma homenagem ao vice eleito, Ricardo Nunes (MDB). "Quero fazer um agradecimento especial ao meu vice Ricardo Nunes. Que sofreu muito nessa campanha. A partir de 1.° de janeiro vamos mostrar qual a nossa visão de mundo". Durante toda a campanha, adversários tentaram atingir Covas por meio do seu vice, citado em uma investigação de irregularidades no aluguel de creches, que ele nega, e por causa de um boletim de ocorrência por violência doméstica registrado pela mulher dele em 2011. Segundo Covas, seu vice vai fazer "clínica geral e cuidar de tudo um pouco".

Com a fala pausada que virou sua marca, Covas pregou união. "São Paulo não quer divisões, não quer o confronto. É possível fazer política sem ódio. Vamos governar para todos. A partir de amanhã não existe mais distrito azul e vermelho, existe a cidade de São Paulo."

Diretório

A chegada de Covas ao diretório estadual do PSDB, no Jardins, foi marcada pela aglomeração de correligionários e lideranças do PSDB. Além de Doria, faziam parte do séquito o presidente nacional do partido, Bruno Araújo, o presidente estadual, Marco Vinholi, o presidente municipal do PSDB, Fernando Alfredo, o prefeito de São Bernardo do Campo, Orlando Morando (PSDB), e até a deputada Joice Hasselmann, que disputou a prefeitura pelo PSL.

"Bruno venceu a discriminação de uma doença e soube conduzir sua campanha sem fazer uso de fake news", disse Doria. "Essa foi a vitória do bom senso e da capacidade de gestão. Essa é a terceira eleição majoritária que conquistamos em 4 anos. O nosso compromisso é a prioridade para a saúde. O foco é a vacinação, a saúde e a ciência. Não fomos negacionistas", disse o governador Doria.

Pela manhã, Covas acompanhou aliados na votação: Marta Suplicy, Fernando Henrique e Doria. Em outro ataque indireto a Bolsonaro, o prefeito questionou falas do presidente contra a urna eletrônica. "O voto eletrônico elegeu FHC, Lula, Dilma e Bolsonaro. Não dá para colocar em dúvida um sistema que elegeu pessoas e partidos tão diferentes. Confio na Justiça Eleitoral", disse. Quando questionado questionado sobre seu futuro político, o tucano afirmou, mais uma vez, que ficará até o fim do mandato. "Quero ser eleito para entregar o cargo em 1° de janeiro de 2025."

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