A pandemia do novo coronavírus forçou a população, para a sua própria segurança, a ficar em isolamento social e a quarentena disparou os casos de depressão e ansiedade. Com o retorno das atividades sendo autorizado, as pessoas começam um período de readaptação às suas rotinas.
A psicóloga Louise Britto, nesta entrevista ao LeiaJá, alerta para os efeitos psicológicos da retomada.
##RECOMENDA##Como a vida da quarentena pode afetar o psicológico de uma pessoa?
De muitas formas. As pessoas que tinham uma rotina de trabalho, de estudo, lazer, viagem, uma rotina normal, perderam isso e começaram a se sentir presas, destituídas da liberdade, da autonomia, que é algo que todos prezamos. E isto foi algo que não foi previamente trabalhado, foi do dia pra noite. As pessoas que moram sozinhas tendo que lidar com a solidão. Não é fácil, pois durante a rotina do dia dia a gente acaba evitando pensar em coisas que nos deixam tristes, ansiosas e angustiadas. A vida na quarentena pode afetar de todas essas formas, causando ansiedade, tristeza, não necessariamente uma patologia, doença, mas pode afetar muito a saúde mental.
Como identificar os sinais de que a sua saúde mental encontra-se em risco?
Se observar é muito importante nesse processo. Nem sempre as pessoas conseguem se escutar e ter esse autoconhecimento. Isso é muito subjetivo, vai de pessoa para pessoa. Alguns sinais podem ser ficar com vontade de continuar isolado, sem contato com as pessoas, sentir tristeza recorrente, porque ficar triste é normal assim como ficar feliz, agora é necessário prestar atenção na recorrência desse sentimento. Perder a vontade de fazer coisas que antigamente davam prazer, falta de sono ou apetite, comer muito ou não comer nada, às vezes sentir palpitações, sensação de que algo ruim vai acontecer, pensamentos recorrentes de que a pessoa vai perder o controle, de que pode morrer ou de que alguém próximo vai morrer. Esses são alguns dos sinais que podem aparecer quando a pessoa está com a saúde mental em risco.
É normal que as pessoas desenvolvam síndrome do pânico em um momento como este?
Hoje em dia as pessoas gostam de colocar nome em tudo, que tudo é doença. Não é normal que uma pessoa apresente síndrome do pânico por causa de um momento como este, é comum que tenha tristeza e ansiedade. Pessoas que já tinham algo nesse sentido, sintomas depressivos, episódios depressivos, episódios de crise de ansiedade, podem desencadear com mais facilidade uma síndrome do pânico ou uma depressão mais forte. É mais normal a saúde mental ficar abalada e existirem alguns sintomas que podem ser confundidos com uma síndrome do pânico.
O atendimento psicológico on-line na quarenta se provou um serviço eficaz para os psicólogos e seus pacientes? E qual a importância dele no momento em que nos encontramos?
O atendimento on-line foi de extrema importância para pacientes e psicólogos. Para psicólogos, porque conseguiram continuar atendendo seus pacientes, continuar colhendo, escutando e continuaram com uma fonte de renda, com certeza isso conta muito. Psicólogos que só dependem do atendimento clínico continuaram podendo atender. Já para os pacientes foi muito importante porque os que já estavam na terapia precisaram da continuidade e os que não faziam precisaram nesse momento e conseguiram esse espaço mesmo que não fosse o espaço físico. E se mostrou muito eficaz, conseguiu-se ter uma troca através do atendimento on-line, ter escuta e acolhimento. Tanto que muitos pacientes, inclusive meus, preferiram continuar na modalidade on-line mesmo com os atendimentos presenciais voltando ao normal. Ter essa ferramenta é muito importante para que os atendimentos, a escuta, o acolhimento e o suporte emocional não parem.
Para as pessoas que sofrem muito com ansiedade ou síndrome do pânico, qual a melhor maneira que elas podem se readaptar à vida após a quarentena?
Para as pessoas que já sofriam de ansiedade, síndrome do pânico, depressão, algo nesse sentido, o pós-quarentena não vai ser fácil, assim como para ninguém. O ser humano é subjetivo, cada um tem sua forma de lidar. Agora, claro, cuidando da sua saúde mental. Se identificar que já tem algo que possa desencadear, procurar uma terapia, uma psicoterapia, fazer um acompanhamento, ter esse espaço para falar sobre si, para falar sobre medos, para falar sobre angústia e se necessário o psicólogo encaminhará para um profissional da psiquiatria para fazer um tratamento medicamentoso. Não é fácil uma readaptação, é um dia após o outro mesmo, fazer sempre o que é possível, mas com certeza uma ajuda profissional é de grande valia nesse momento, para que as pessoas consigam ir voltando aos poucos para sua realidade.
Como será o retorno ao trabalho para os psicólogos? Já que muitos na verdade não deixaram de trabalhar durante essa época.
Bem, depende muito da área que o psicólogo trabalha. O atendimento na clínica, por exemplo, no consultório, está voltando aos poucos, sempre com a máscara, mantendo o distanciamento que já existe, entre o paciente e o psicólogo, um numa poltrona e o outro na outra. Sempre que entra outro paciente passar o álcool spray na poltrona. Tem aquela proteção para dar aos pacientes quando eles chegam no consultório, eles colocam tipo uma “touca de pé”, para que possa proteger. Álcool em gel sempre. E indo aos poucos, na medida do possível. Em outros ambientes como o psicólogo hospitalar, não parou. E das empresas também não, pelo menos supermercados e outro lugares que têm RH e psicólogos, o psicólogo não parou de trabalhar, mas sempre cumprindo as medidas da OMS e do Ministério da Saúde.
Por Yasmin Seraphico e Júlia Pontes.