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Estão abertas as inscrições para os cursos gratuitos do Projeto Pedagogia Ambiental 2021, promovido pela diretoria de meio ambiente e sustentabilidade do Complexo Industrial Portuário Governador Eraldo Gueiros - Suape. As qualificações são destinadas às pessoas acima de 18 anos e com ensino médio completo.

Para participar, os interessados precisam se inscrever até o dia 30 de abril por meio de formulário eletrônico. Os cursos ofertados são de restauração florestal, com início no dia 3 de maio, e gestão de resíduos sólidos, que começará no dia 6 do mesmo mês. São oferecidas 30 vagas para cada qualificação.

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As aulas teóricas serão realizadas remotamente, já as aulas práticas serão presenciais, seguindo todos os protocolos de segurança para evitar a disseminação da Covid-19. Os conteúdos programáticos dos cursos têm enfoque nas questões socioambientais, conservação ambiental e recuperação dos recursos naturais de Suape. 

Ao serem matriculados, os alunos ainda receberão o material didático e o certificado de conclusão de curso contabilizando 40 horas de aula. Veja mais detalhes na página virtual do Suape.

Há cerca de 30 dias, pescadores e agricultores do Engenho Ilha, no Cabo de Santo Agostinho, estão sendo impedidos, pelo Complexo Industrial Portuário Governador Eraldo Gueiros- Suape, de acessar as terras e o mangue dos quais tiram seu sustento. Segundo os trabalhadores, não houve qualquer diálogo com a comunidade a respeito do cerco. A nova denúncia, em plena pandemia de Covid-19, acentua o conflito fundiário entre as 305 famílias que vivem no local, segundo os relatos dos trabalhadores, há pelo menos quatro gerações e a empresa, que alega reivindicar a área para promover conservação ambiental.

“Mais uma vez Suape interfere nos nossos modos de vida e modos de produção e em plena pandemia, quando passamos necessidades básicas, sofrendo com desemprego. Estamos sendo impossibilitados de manter nossa soberania alimentar. Além disso, as pessoas estão desesperadas, porque esse cercamento representa para nós uma iminência de expulsão, já que existe uma proposta de uma unidade de conservação no Engenho Ilha, mas sem que nada tenha sido resolvido. Do nada Suape chega e cerca tudo”, comenta a presidente da Associação de Pequenos Agricultores de Ponte dos Carvalhos, Vera Lúcia Melo.

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Em março de 2020, o LeiaJá esteve no Engenho Ilha e observou a existência de casas e instalações demolidas, segundo a população, pela segurança privada de Suape. Na ocasião, os trabalhadores que vivem no local relataram conviver com uma série de intimidações de agentes da empresa, contra a qual chegaram, inclusive, a registrar boletins de ocorrência. 

“Parecia que não tinha ninguém”

Morador do Engenho Ilha há 50 anos, José Artur dos Santos confirma que não foi avisado sobre a instalação do cercamento, assustando-se ao se deparar com ele. “Como é que vai ficar? Não trataram nada, passou com o carro parecia que não tinha dono. Eu tô ‘incrível’, não sei nada ainda”, comenta.

Camponês Ivanildo Silva cobra atitude do MPPE. (Reprodução/Whatsapp)

Já o camponês Ivanildo Silva, cobra intervenção do Ministério Público Estadual no caso: “estou vendo as coisas arbitrárias que Suape está fazendo na área do Engenho Ilha, a gente quer que o MP tome uma providência, porque eles estão tirando o direito de ir e vir dos agricultores e pescadores. Quero que faça alguma coisa por nós”, apela.

Representações

Em 2018, o Fórum Suape, que presta auxílio jurídico à comunidade do Engenho Ilha, através do ofício 21/2018, entrou com uma representação no Ministério Público Federal denunciando a empresa. No documento, a organização aponta que, na atualização de seu Plano Diretor, Suape passou a considerar o terreno que compreende o Engenho Ilha como uma Zona de Preservação Ecológica (Zpec), isto é, área cuja finalidade deve ser de promover a compensação ambiental pelos impactos causados pela estrutura do complexo.

“Acontece que o regime dessas Zpec’s, para abrigar projetos de reflorestamento e implementar unidades de conservação, é bastante restritivo à presença de comunidades. O plano diretor de Suape é muito categórico em dizer que na Zpec não será permitida nenhuma forma de ocupação, nenhum tipo de uso ou exploração. Partindo disso, Suape está expulsando o pessoal, destruindo lavouras e posses, dizendo que nessa área não pode ter nada”, explica Luísa Duque, advogada do Fórum Suape.

De acordo com ela, a ampliação das áreas de Zpec para 60% do total de 13,5 mil hectares de Suape está relacionada a uma transação judicial realizada no âmbito de uma ação civil pública ajuizada pelo MPF e pelo MPPE, acerca da ausência de ações de compensação ambiental da empresa. “Entramos com a representação de 2018 para chamar o MPF e o MPPE [Ministério Público de Pernambuco] para a responsabilidade. Foram eles que entraram com ação civil pública, foram eles que assinaram a transação judicial, o acordo com Suape sem procurar saber se na área existiam famílias, que estão lá há muito tempo, antes mesmo da aquisição do Engenho Ilha por Suape”, frisa a advogada.

Vera Lúcia Melo, presidente da Sociedade de Pequenos Agricultores de Ponte dos Carvalhos. (Rafael Negrão/cortesia)

Agora, diante do cercamento em curso, o Fórum Suape encaminhou um novo ofício (n° 05/2021), relatando a presença das cercas ao longo da faixa de mangue às margens dos Rios Pirapama e Jaboatão, áreas conhecidas como Martim, João Grande e Cajá. Questionado pela reportagem do LeiaJá, o MPF declarou que recebeu a denúncia, contendo fotografias e vídeos com depoimentos dos moradores da região prejudicados.

“Diante do informado, após determinação do Despacho nº 398/2021, foi expedido o ofício nº 348/2021, endereçado à presidência do Complexo Industrial Portuário de Suape a fim de que a empresa esclareça os fatos. Portanto, ressalta-se que o Ministério Público Federal acompanha o caso e busca apurar a notícia do recente cercamento das margens dos Rios Pirapama e Jaboatão, no intuito de aferir a legalidade da medida e adotar as providências cabíveis”, diz o posicionamento do MPF.

A reportagem também procurou Suape, que alegou que o cercamento “não impede a circulação da comunidade” e que teria deixado “várias aberturas de passagens” para a população. Apesar das queixas da comunidade, a empresa afirmou ainda que “está aberta ao diálogo com todas as comunidades do território, mas tem encontrado dificuldade com a liderança do Engenho Ilha, que, inclusive, não demonstra interesse em receber atividades e projetos socioambientais que vêm sendo implantados em outras comunidades com muito sucesso e trazendo melhor qualidade de vida para inúmeras famílias”.

Vera Lúcia Melo, indiretamente citada pela nota, comenta que não houve nenhuma proposta de estudo ambiental por parte de Suape com o Engenho Ilha. “Sinceramente? Não queremos nada com Suape, porque a gente sabe a forma que eles agem conosco: derrubando, impedindo, tirando nosso sossego e nossa paz”, lamenta.

Leia a nota de Suape na íntegra:

“O cercamento do Engelho Ilha tem o objetivo de proteger o patrimônio ambiental. A área está em processo de criação de Unidade de Conservação junto à Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade, por meio da Agência Estadual do Meio Ambiente (CPRH), com limites propostos, por isso necessita de cercamento. No entanto, a medida não impede a circulação da comunidade, já que as cercas foram instaladas no contorno da reserva João Grande e há várias aberturas de passagens, não obstruindo o acesso comunitário.

A criação da UC está prevista nos autos da Ação Civil Pública nº 010033.53.2010.4.05.8300 e proteger a área também é uma obrigação legal de Suape, conforme instituído pelo Plano Diretor – SUAPE 2030 (Decreto nº 37.160, de 23 de setembro de 2011), uma vez que se trata de uma Zona de Proteção Ecológica (ZPEC). Vale salientar que o local já recebeu outras ações de proteção ambiental, anteriormente.

Em relação à comunicação, a empresa Suape está aberta ao diálogo com todas as comunidades do território, mas tem encontrado dificuldade com a liderança do Engenho Ilha, que, inclusive, não demonstra interesse em receber atividades e projetos socioambientais que vêm sendo implantados em outras comunidades com muito sucesso e trazendo melhor qualidade de vida para inúmeras famílias. Contudo, a empresa se mantém à disposição para qualquer esclarecimento à comunidade e reafirma seu compromisso com a sustentabilidade do território”.

O Instituto Euvaldo Lodi (IEL-PE) divulgou, nesta sexta-feira (20), detalhes da seleção de candidatos para atuação no Complexo Portuário de Suape, localizado no Cabo de Santo Agostinho, na Região Metropolitana do Recife. Engenharia de produção, elétrica, mecânica, eletrônica e mecatrônica são as funções disponíveis.

Segundo o IEL-PE, os selecionados atuarão como trainees em uma empresa situada em Suape, cuja identidade não foi revelada. Os aprovados atuarão de segunda a quinta-feira, das 7h às 16h, bem como às sextas-feiras, no horário das 7h às 16h.

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Ainda de acordo com o IEL-PE, a bolsa para os aprovados será de R$ 2,5 mil mensais. Análise curricular é uma das etapas do processo seletivo que, entre suas exigências, pede formação de até cinco anos, experiência em indústria, conhecimento em SAP, Power BI, domínio do idioma inglês e conhecimento em Excel. Os interessados em participar da seleção devem enviar currículos para o e-mail selecao@ielpe.org.br, inserindo no assunto ‘Bolsista/Manutenção’. A data final de recebimento dos currículos não foi divulgada.

Moradora do Engenho Algodoais, no Cabo de Santo Agostinho, desde que nasceu, em 1974, Francisca* só encontra o curso de águas límpidas, com as quais garante matado a sede em boa parte da juventude, em sua memória. Há cerca de 20 anos, o Complexo Industrial Portuário Governador Eraldo Gueiros- Suape mudou o significado do Riacho Algodoais para a comunidade batizada com seu nome e, por consequência, a relação da população com o espaço em que vive. Em 2012, uma pesquisa do programa de Pós-Graduação em Engenharia Química da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) observou a presença de contaminantes do tipo Hidrocarbonetos Policíclicos Aromáticos (HPA), possuindo efeitos mutagênicos e carcinogênicos em animais e seres humanos no curso d'água, que nasce no Engenho Setúbal e percorre 10 km até desaguar em uma área de manguezal do Rio Massangana.

“A poluição mata tudo que vive no rio, peixes e crustáceos. Não sei dizer precisamente quando isso começou, mas foi há mais de duas décadas, antes essa água era limpa, a gente bebia, tomava banho e lavava nossas roupas. A pescaria foi encerrada por causa da poluição”, comenta Francisca*. Dona de casa, ela descreve o desgaste físico da exposição prolongada aos contaminantes. “Prejudica minha vida, porque moro perto do riacho. Quando jogam a poluição, sinto um mau cheiro muito grande, a ponto de arder o nariz. Acredito que isso me afeta no sentido de ficar doente mesmo”, lamenta.

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O estudo da UFPE supracitado, intitulado “Avaliação de Contaminantes Emergentes do tipo HPA no Riacho Algodoais Suape-PE, e Tratamento via Processo Oxidativo Avançado" e assinado pela pesquisadora Danielle Pires de Souza, analisou a ocorrência e a concentração de HPA em amostras coletadas ao longo do curso d’água. “A avaliação do riacho Algodoais constatou a presença de parâmetros de qualidade importantes como a DBO [isto é, Demanda Bioquímica de Oxigênio] com seus valores fora da legislação vigente”, frisa a pesquisa. O trabalho também concluiu que “a presença de contaminantes emergentes do tipo Hidrocarbonetos Policíclicos Aromáticos se mostrou em quantidades significativas e preocupantes, ao longo de todo o riacho. Visto os efeitos que esses Contaminantes Emergentes causam nos seres vivos em geral, os valores encontrados se tornam alarmantes”.

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O excesso de tóxicos é responsável pelo cenário de terra arrasada constantemente registrado pelos moradores do entorno do Algodoais. Em um dos vídeos recebidos pela reportagem do LeiaJá, um camponês mostra peixes mortos boiando na superfície do rio, completamente enegrecido pelos poluentes. A advogada do Fórum Suape- organização da sociedade civil que fiscaliza os impactos sócio-econômicos e ambientais do complexo- Mariana Vidal afirma que, dentre as indústrias que despejam tóxicos no curso d’água está a Solar BR, que sedia a Coca-Cola em Pernambuco. “Os afluentes industriais praticamente acabaram com esse corpo d’água. Em meados de 2014, o governo do Estado instituiu um decreto com um programa de recuperação, que não foi posto em prática”, comenta.

A advogada se refere ao decreto 41.573/2015, por meio do qual o governador Paulo Câmara lançou o programa Águas de Suape, que previa o repasse de R$ 1 milhão para Suape, que ficaria responsável pela recuperação do riacho Algodoais, bem como das áreas de mangue e Mata Atlântica, além do estudo da fauna marinha e inclusão socioprodutiva para as famílias residentes no complexo do entorno industrial. A primeira etapa dos trabalhos previa a implementação do projeto “Jardim Algodoais”, que prometia recuperar o curso d’água, com desassoreamento e o restabelecimento da fauna e da flora locais, em apenas três meses, a partir da aplicação, no local, de plantas que se alimentam de impurezas.

O planejamento do governo incluía ainda uma segunda etapa, denominada “Nascentes”. Ela compreenderia a identificação das nascentes no riacho, o desenvolvimento de um plano de manejo e recuperação, além de oficinas de educação ambiental para as comunidades ribeirinhas. Sua operacionalização ficaria a cargo de uma parceria com o campus do Cabo de Santo Agostinho do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco (IFPE). A população, contudo, garante que o Algodoais segue sendo ignorado. “O riacho nunca teve melhora nenhuma. De vez em quando, tem uma pausa se alguém denuncia, mas dá um tempinho e eles voltam a jogar toda poluição”, relata a moradora Francisca*.

Morosidade

No dia 9 de junho de 2008, o Complexo de Suape e as empresas Refrescos Guararapes LTDA, Rexam Beverage Can South América S/A e Suape Têxtil S/A firmaram um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com o Ministério Público de Pernambuco (MPPE), para garantir a adoção de medidas de preservação ambiental do riacho Algodoais. No TAC, o Complexo de Suape se comprometeu a apresentar, em um prazo de 180 dias a partir da contratação de uma empresa especializada através de licitação, neste prazo, um diagnóstico ambiental de uso e ocupação do solo e projetos básicos para recuperação do riacho. Já às outras três empresas caberia realizar o tratamento dos efluentes antes de despejá-los no riacho.

Diante do descumprimento das empresas aos acordos, o MPPE arquivou o TAC. “Em tese, se os acordos não são respeitados, o Ministério Público já teria que ter entrado com uma Ação Civil Pública”, destaca a advogada Mariana Vidal. Questionado pela reportagem do LeiaJá a respeito, Suape se manifestou por meio de nota, alegando que o projeto “Nascentes” já está em execução, mas teve suas atividades interrompidas pela pandemia do novo coronavírus. Segundo o complexo, já foi contratada uma empresa que apresentou um projeto para da iniciativa “Jardins Filtrantes” e “ as análises químicas necessárias foram concluídos e encaminhados à CPRH, para a emissão da licença ambiental”. Leia o posicionamento na íntegra:

“A administração do Complexo Industrial Portuário de Suape, por meio da Diretoria de Meio Ambiente e Sustentabilidade, realiza uma gestão ambiental rigorosa do território sob sua responsabilidade, o qual inclui o Riacho Algodoais. Desenvolvemos ações para evitar e mitigar a degradação ambiental dos corpos hídricos, como monitoramento ambiental, análises laboratoriais de qualidade do recurso hídrico, restauração florestal de mata atlântica e ecossistemas associados (mangue e restinga), estudos sobre a fauna marinha, cercamento e sinalização de áreas de proteção ambiental dentro do Complexo Industrial, para evitar invasões e desmatamento.

No âmbito do Programa Águas de Suape, previsto no Decreto citado, está em execução o projeto Nascentes, em cooperação técnica com o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco (IFPE) – Campus Cabo de Santo Agostinho. O projeto faz o levantamento, mapeamento e diagnóstico das nascentes de rios na Zona de Preservação Ecológica do Complexo e promove oficinas de educação ambiental para as comunidades. Em virtude da pandemia da Covid-19, os trabalhos de campo do projeto Nascentes estão suspensos temporariamente.

Em relação à recuperação do curso hídrico do Riacho Algodoais, Suape contratou empresa que apresentou um projeto de Jardins Filtrantes, que prevê a utilização da técnica de aplicação de plantas que se alimentam das impurezas despejadas no riacho para sua restauração. Os estudos do projeto executivo (que estava orçado em R$ 1 milhão) e as análises químicas necessárias foram concluídos e encaminhados à CPRH, para a emissão da licença ambiental. Portanto, Suape vem cumprindo as suas obrigações previstas no TAC.

Por fim, a administração de Suape solicita que a população denuncie com evidências (fotografias, localização geográfica da degradação, entre outros) a prática de desmatamento, poluição de rios, degradação ambiental, invasão ou qualquer outra situação que prejudique o meio ambiente e as comunidades que vivem no território. As denúncias podem ser feitas diretamente aos órgãos ambientais competentes pela fiscalização, ou entrando em contato com a Ouvidoria Suape por meio dos canais de comunicação abaixo. Vale ressaltar que a denúncia pode ser anônima.

Enviar um e-mail para ouvidoria@suape.pe.gov.br

Ligar para a Ouvidoria Suape: (81) 3527-5070

Preencher o formulário on-line acessando <http://www.suape.pe.gov.br/pt/ouvidoria>”.

*Nome fictício

Revendedores de gás de cozinha fazem um protesto na BR-101, em Jaboatão dos Guararapes, Região Metropolitana do Recife (RMR), nesta quarta-feira (30). A categoria critica os aumentos constantes do gás e a exigência de pagamento de taxa Governo de Pernambuco.

Os revendedores pararam os caminhões de gás de cozinha no acostamento da BR-101. Em seguida, eles saíram com destino à Avenida Mascarenhas de Morais, no Recife, com o objetivo de chamar a atenção da população. Segundo o Sindicato dos Revendedores de Gás Liquefeito de Petróleo do Estado de Pernambuco (Sinregás), os caminhões não vão "puxar" gás de Suape, o que significa que não haverá carregamento de botijões nas distribuidoras no Porto de Suape, o que ocorre diariamente.

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De acordo com o Sinregás, os constantes aumentos praticados pela Petrobras e distribuidoras de gás estão tornando insustentável para os revendedores segurarem os preços.

A categoria também aponta que a taxa no Pátio de Triagem em Suape tem aumentado consideravelmente o custo operacional para as revendas. O sindicato contabiliza sete aumentos de preço em apenas seis meses, sendo o último neste mês de setembro.

Ao governo de Pernambuco, os revendedores pedem a retirada da cobrança de taxa no Pátio de Triagem, sob a justificativa de ser um produto essencial para a população carente. À Petrobras e às distribuidoras, eles solicitam que não sejam repassados mais reajustes para as revendas. 

A expectativa do Sinregás é que 100 caminhões participem do ato. "Por enquanto, as revendas não vão deixar de abastecer o consumidor, apenas vamos paralisar por um dia novos carregamentos", diz em nota.

O Porto de Suape, no litoral Sul de Pernambuco, recebeu o primeiro navio de 330 metros na quinta-feira (24). A embarcação, da maior classe disponível na América do Sul, desatracou na manhã desta sexta-feira (24).

Segundo o porto, os navios usados pelas companhias de navegação evoluíram em capacidade e tecnologia, podendo transportar mais produtos com redução de custos. O navio porta-contêiner da classe Sammax, a maior disponível na América do Sul, pode chegar a medir 336 metros de comprimento, 48 metros de largura e 15,2 de calado máximo, que é a distância entre a lâmina d'água e o fundo da embarcação.

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A embarcação MSC NITYA B, pertencente à companhia MSC- Mediterranean Shipping Company, atracou no cais 2 para o desembarque de 233 contêineres e embarque de 55, um total de 288 movimentados. O navio veio do Porto de Valência, na Espanha, e deixou Suape com destino ao Porto de Salvador-BA.

Antes, o maior porta-contêiner que havia atracado no porto pernambucano tinha 305 metros de comprimento e 48,2 metros de largura. Em 2019, a Portaria Suape 136/2019 estabeleceu parâmetros operacionais e de manobra de navios permitindo que o porto pudesse receber embarcações com até 336,99 metros de comprimento e 48,99 metros de largura. A viabilidade para receber a classe Sammax foi comprovada por meio de estudo da Universidade de São Paulo (USP), contratado no início do último ano.

Para realizar manobras de entrada e atracação ou saída e desatracação desses navios é necessário o emprego de requisitos, como atuação de pelo menos dois práticos a bordo e as manobras devem ocorrer somente com luz natural. Também devem ser utilizados ao menos três rebocadores. Uma vez atracado, o navio pode operar em qualquer horário, já que o porto funciona durante 24 horas.

Suape fechou o primeiro semestre deste ano com 230.504 TEUs, unidade equivalente a um contêiner de 20 pés, e 2,4% de crescimento em relação ao mesmo período em 2019. No ano passado, bateu recorde histórico na carga conteinerizada com o total de 476.304 mil TEUs e 4,7% de aumento em relação a 2018.

Segundo posseiros, três casas foram demolidas nas últimas semanas. (Rafael Negrão/cortesia)

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À sombra da pandemia da Covid-19, que já soma mais de 20 mil casos em Pernambuco, o Complexo Industrial Portuário de Suape vem intensificando, nas últimas três semanas, as demolições de casas e o confisco de bens de posseiros residentes no Engenho Ilha, localizado no Cabo de Santo Agostinho, na região metropolitana do Recife. É o que denuncia a população do local, que já havia sido visitado pelo LeiaJá em março, quando destroços de estruturas residenciais e alojamentos- necessários para estocagem de equipamentos e produtos produzidos pelos agricultores- foram observados pela reportagem. Agora, os posseiros descumprem o isolamento social preventivo, preconizado pelo próprio Governo de Pernambuco, na tentativa de defender seu patrimônio da ação da empresa pública.

Com 305 moradores, o Engenho Ilha é uma área de conflito fundiário entre posseiros- que habitam o local há décadas e vivem da agricultura- e o Complexo de Suape, concessionária das terras, que deseja retirar a comunidade para reduzir seu passivo relacionado à compensação ambiental. Até o momento,contudo, nenhuma indenização foi paga pela empresa. De acordo com a presidente da Sociedade dos Pequenos Agricultores de Ponte dos Carvalhos, Vera Lúcia Melo, boa parte da população do Engenho Ilha é composta por idosos, com grande número de diabéticos e hipertensos.

“Muita gente que é grupo de risco para a Covid-19 e deveria estar dentro de casa descansando, mas precisa sair para defender o que é nosso. Diante das ações truculentas de Suape, tivemos casos de pessoas com os sintomas da doença presentes em aglomerações de posseiros. A população é obrigada a ficar em estado de alerta, porque a movimentação do vigilantes é intensa, com ofensivas duas vezes ao dia e muita agressividade”, comenta.

Vera coloca que a Sociedade vem realizando um trabalho educativo de prevenção ao novo coronavírus junto aos agricultores da região. “Passamos todas as informações e a população está obedecendo, todos utilizando máscaras e tentando ficar em casa. Acontece que para a vigilância de Suape, que rodeia diretamente os terrenos, não há quarentena, então como podemos ter?”, completa.

Vera lembra que boa parte da população do Engenho Ilha é composta por idosos. (Rafael Negrão/cortesia)

Segundo os posseiros a abordagem da vigilância privada da empresa vem sendo intimidatória. Membro do Departamento Jurídico do Sindicato dos Vigilantes de Pernambuco (SINDESV-PE), Carlos Gomes, defende que Suape utiliza indevidamente os profissionais de segurança particular, terceirizados da empresa Servi-san. “O vigilante é treinado e formado para tomar conta do patrimônio a que presta serviço. Ele não tem autorização para se meter em conflitos da empresa, para ir até a casa daquele posseiro. Suape alega que a terra é deles e o trabalhador fica no meio dos conflitos da empresa”, explica.

A Polícia Federal, por meio da Delegacia de Controle de Segurança Privada (Delesp), é o órgão responsável por fiscalizar a atuação dos serviços de segurança privada. Em 2011, a instituição chegou a realizar diligências na área, verificando o envolvimento de vigilantes na derrubada de imóveis. Como consequência, a empresa “Servi-san Vigilância e Transporte de Valores foi autuada e, ao final, cancelada punitivamente”. Diante dos novos incidentes a reportagem voltou a contactar a instituição, que, por meio de sua assessoria de imprensa, disse que não pode iniciar as diligências na área sem que alguma denúncia seja formalizada pelos posseiros.

No dia 2 de fevereiro de 2015, foi aberto pela 3ª Promotoria de Justiça de Defesa da Cidadania do Cabo de Santo Agostinho, do Ministério Público, um procedimento preparatório voltado para a atuação de milícias armadas a serviço de Suape. A ação- que levou em consideração os relatos líderes comunitários dos Engenhos Massangana, Vila Tatuoca, Boa Vista, Ilha, Serraria, Tabatinga e Algodoais- notificou a empresa a se manifestar em um prazo de 15 dias. A despeito das fotografias e evidências anexadas ao documento, Suape negou envolvimento nas ações criminosas. “Precipuamente, reitera-se que inexiste por parte desta Empresa Pública, quer por seus funcionários ou prestadores de serviços, qualquer ato truculento ou fora da legalidade, sobretudo quanto ao tratamento dispensado às famílias residentes no Complexo", respondeu a empresa, em 20 de março de 2015.

“Só paro quando morrer”

Posseiros relatam visitas diárias da vigilância de Suape. (Rafael Negrão/cortesia)

Aos 34 anos, o apicultor Luciano Plácido da Silva nunca morou em outro lugar que não o Engenho Ilha, onde herdou o ofício do pai. “Minha área é fria, os manguezais fazem flor para as abelhas, assim como os coqueiros que eu havia plantado. Suape, se aproveitando de que eu estou em casa, de quarentena, foi até o meu sítio e derrubou 80 pés de coqueiros, levou minhas estacas. Como vou trabalhar? Tenho clientes de 15 anos”, questiona. Agora desempregado, Luciano está vivendo das sobras do meu coletado no último verão, mas se preocupa com suas abelhas, que foram deixadas no local, dentro de caixas. “Tenho medo do que eles voltem no sítio e toque fogo nelas. Além disso, tem pessoas que têm o hábito de passear por aquelas terras e, como o terreno teve as cercas retiradas, podem correr risco de vida caso cheguem perto das abelhas, que são de um espécie africana agressiva. Se alguém morrer? Como vai ficar?”, comenta.

Luciano destaca que as abordagens da vigilância de Suape costumam ser agressivas, motivo pelo qual tem medo de voltar ao sítio. “Já soube que os vigilantes, depois da derrubada, apareceram lá algumas vezes, perguntando por mim. Eles são bem agressivos, não respeitam a gente. Eu amo as abelhas, estar cultivando. Não sei o que vou fazer”, desabafa.

A história da agricultora Ademildes Maria de Melo com o Engenho Ilha começou há 40 anos, quando seu pai resolveu transformar um terreno tomado por mato em sustento para a família. Aos 61 anos, ela se mantém cuidando da casa e plantando frutas e macaxeira no local, a maior parte destinada à subsistência da família. “Eu gosto muito de trabalhar na terra, só paro quando morrer. Queria que deixassem a gente trabalhar em paz, estamos ajudando a população, produzindo alimentos saudáveis”, apela. Ademildes diz que teve sua casa derrubada por Suape nas ações ocorridas este mês e que, antes disso, já havia tido uma horta de melancias destruída por agentes da empresa. “Você pensa que eu desanimo? Planto de novo. Eles vêm ao sítio todos os dias, tiram foto de tudo, da gente”, completa.

Plantações também são destruídas na área. (Rafael Negrão/cortesia)

Na intervenção mais recente da empresa, a agricultora diz que foi obrigada a romper o isolamento social mesmo estando com suspeita de estar acometida pela Covid-19, para tentar defender as terras. “Tive febre, até agora ainda não sinto nem gosto nem cheiro de nada, além do problema de pressão que tenho. Já gastei tanto nesse sonho, essa terra é minha e já lutei muito por ela. Vou desistir?”, argumenta.

Longevidade da Comunidade

O LeiaJá teve acesso à ata de fundação da Sociedade dos Pequenos Agricultores de Ponte dos Carvalhos, que data de 22 de maio de 1988, sendo um indício da longevidade da ocupação dos trabalhadores na área. Outro documento, um termo de recebimento da Associação dos Agricultores de Suape, atesta, em dois de novembro de 1990, que a então Diretoria de terras e Cartografia (DTC) da Secretaria de Agricultura do Estado de Pernambuco chegou a concluir um estudo topográfico na área denominada de Suape- II, correspondente aos engenhos Ilha, Cedro, Jurissaca e Boa Vista.

Apesar disso, Suape deu a entender, em resposta ao LeiaJá, que a ocupação no Engenho Ilha é recente. A empresa alegou que desconhece quaisquer ações em propriedades alheias na área, onde “invasões seriam constantes”, e que tem “obrigação de atuar com o que se chama desforço imediato, ou seja, coibir as invasões no território do Complexo, no momento em que elas estão acontecendo, ação prevista no Código Civil (artigo 1.210)”. Leia o posicionamento na íntegra:

"Por lei, Suape tem a obrigação de atuar com o que se chama desforço imediato, ou seja, coibir as invasões no território do Complexo, no momento em que elas estão acontecendo, ação prevista no Código Civil (artigo 1.210). Conforme a Diretoria de Patrimônio e Gestão Fundiária, é o que ocorre no Engenho Ilha, onde as tentativas de invasões são constantes. Há, inclusive, processos de reintegração de posse na Justiça, pois, uma vez que sejam identificadas moradias já instaladas, não há atuação direta de Suape sobre elas, apenas juridicamente. Desconhecemos qualquer ação sobre propriedade alheia no local. E mantemos aberto à população canal de denúncia, via email (canaldedenuncia@suape.pe.gov.br) ou telefone: 3527.5005".

A situação do Engenho Ilha é tratada pelo Ministério Público Federal (MPF), onde há um um inquérito civil público instaurado pela Procuradoria da República, no município do Cabo de Santo Agostinho. “Nesse inquérito, existe um parecer antropológico, elaborado pela equipe técnica do MPF, constatando que se trata de uma comunidade muito antiga, de pessoas que estão na área desde até antes do surgimento de Suape. Então não é verdade a informação de que a ocupação é recente”, comenta a advogada do Fórum Suape Luísa Duque. Assim, não caberia a utilização do desforço imediato por parte de Suape, porque trata-se de um instituto aplicável apenas em casos de posses não consolidadas. “Esse instituto assegura ao possuidor o direito de proteger a sua posse com a sua própria força, mas, no caso do Engenho Ilha, Suape pode até ter adquirido a terra, mas quem exerce de fato a posse são aquelas famílias. Uma coisa é propriedade, outra é posse”, comenta a advogada.

Além disso, Luísa afirma que desconhece o pedido de reintegração de posse feito por Suape. “O simples fato de ter ajuizado uma reintegração de posse não é o suficiente para dar o direito de avançar sobre a posse dos posseiros. É preciso que haja uma decisão judicial e que o posseiro seja intimado dessa decisão, coisa que não aconteceu. Dessa forma, ainda que fossem posses novas, esses atos não estariam justificados e não perderiam o seu caráter ilegal e criminoso”, conclui.

A Agência Estadual de Meio Ambiente (CPRH) começou a investigar uma denúncia de poluição ambiental no manguezal em Suape, Ipojuca, Região Metropolitana do Recife (RMR). Segundo os denunciantes, a água do manguezal está mais escura e com forte odor.

As condições da água estariam impossibilitando a pesca artesanal que é realizada na área, onde vive a comunidade tradicional quilombola Ilha de Mercês. 

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Uma equipe da CPRH visitou o local na sexta-feira (17) e constatou que a coloração da água estava alterada. “Coletamos amostras da água para análises laboratoriais e, a partir dos resultados das análises e as características do efluente, a CPRH poderá encontrar os responsáveis pela infração ambiental cometida”, disse o diretor de Controle de Fontes Poluidoras da CPRH, Eduardo Alvino.

As amostras de água foram encaminhadas ao laboratório da CPRH. O resultado ficará pronto em oito dias. 

 

Foi preciso que a reportagem caminhasse quase três horas para percorrer a trilha que liga os engenhos Ilha e Jurissaca, no Cabo de Santo Agostinho. Cerca de dez posseiros nos convidaram a conhecer o perímetro depois que o Complexo Industrial Portuário de Suape iniciou uma nova onda de demolições de casas e remoções de cercas de arame e estacas que demarcavam as propriedades de agricultores instalados nas terras, localizadas no entorno da recém-inaugurada fábrica dos laboratórios Aché.

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O empreendimento, inaugurado em outubro de 2019, motivou uma série de desapropriações, sendo 41 delas ligadas a famílias que ainda não receberam indenização. Com a destruição da estrada de acesso à zona rural, encerrada agora por muros gigantescos, o caminho para as propriedades tornou-se um suplício. Mata adentro, uma trilha aberta pelos próprios posseiros não dá passagem para carros ou motos. Só se passa a pé.

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Diante do amontoado de tijolos que por 30 anos foi a casa que garantiu a subsistência de sua família, o posseiro José Severino dos Santos, de 64 anos, conta que apenas assistiu, de longe, à derrubada do imóvel. “Não encostei por medo. Cheguei no terreno e vi de longe. Era um grupo de seis homens (segurança privada de Suape) com martelos, marretas e picaretas, derrubando a casa da minha irmã”, conta. Se no passado a área era repleta de vizinhos e de chão bom para o plantio de batata, macaxeira, maxixe e milho, agora apenas um enorme descampado circunda os destroços da casa. “Indenizaram todos os terrenos ao redor desse, menos a gente e minha irmã ficou sozinha. Depois, apareceu um gado que ninguém sabe de quem é e destrói tudo. Eles vão isolando, para a turma correr”, conclui.

Mas correr para onde? Desde que foi expulsa das terras em que morava e trabalhava, a posseira Maria Joseilda da Silva precisa enfrentar 12km todos os dias para plantar e colher feijão, no Engenho Jurissaca. “O nosso terreno era no Posto do Padre, o que aconteceu foi que me chamaram para fazer o acordo e nunca pagaram a indenização. Ninguém vive de boniteza nem de brisa e preguiça de trabalhar eu não tenho”, comenta.

Maria Joseilda: "não posso é deixar meus filhos morrerem de fome". (Rafael Negrão/cortesia)

Mesmo em época de colheita farta, Maria não apura mais do que R$ 60 por semana, somando, nos melhores meses, a renda de R$ 240, com a qual sustenta três filhos. “Sou viúva e o INSS cortou a pensão que eu recebia do meu marido. Queria perguntar ao governador qual foi o desenvolvimento que ele trouxe para cá, porque meus filhos estão todos desempregados. A gente vê povo trabalhando na fábrica, mas ninguém daqui”, critica. Por vezes, a agricultora, é obrigada a trabalhar sob a observação da segurança privada de Suape. “Ficam ali debaixo de um pé de azeitona, perguntando se venho sozinha, se tenho medo, se tenho marido...Eles dizem que não posso plantar, mas o que não posso é deixar meus filhos morrerem de fome”, argumenta.

Vista com admiração por outros posseiros e constantemente descrita como uma mulher dotada de uma coragem “que muito homem não tem”, Maria foi uma das agricultoras realocadas para uma nova área depois de uma onda de expulsões executadas a mando de Suape, há cerca de dois anos. “Os posseiros acabaram ficando muito distantes uns dos outros e reagrupá-los para que eles se fortaleçam foi nossa estratégia”, explica Vera Lúcia Melo, presidente da Sociedade de Pequenos Agricultores de Ponte dos Carvalhos.

Milícias a serviço de Suape?

Durante trilha que liga engenhos, é possível notar os resquícios de estacas arrancadas. (Rafael Negrão/cortesia)

Com uma garrafa em uma das mãos e algumas frutas na outra, o posseiro José Amaro Bezerra, de 68 anos, é um dos muitos idosos que acompanham nossa equipe pelo entorno da Fábrica Aché. Com a camisa encharcada de suor, em determinado momento do percurso ele aponta para uma fileira de tocos de madeira teimosamente cravados no chão. “Vieram (vigilantes de Suape), derrubaram as estacas e aí falei que eram minhas. Eles disseram que se eu estivesse certo, iam devolver o material. Ainda perguntaram se eu tinha medo de ficar aqui”, lamenta Bezerra.

Tal experiência parece comum aos demais posseiros. Isolado graças à derrubada das casas de todos os vizinhos, a mobilidade comprometida e a energia elétrica cortada, Bezerra foi impossibilitado de permanecer no terreno onde viveu pelos últimos trinta anos. Sobre as motivações que teriam levado sua a família a ser a última a deixar o local, após a saída e indenização de todos os vizinhos, Isaneide Bezerra, filha do posseiro, conclui: “até hoje, me pergunto o porquê, mas só acho que o que Suape quis fazer foi nos intimidar”.

Base de casa de posseira destruída por Suape já em 2020. (Rafael Negrão/cortesia)

Agricultora aponta resquícios de estrutura de alojamento derrubada. (Rafael Negrão/cortesia)

Além de cortar as estacas, agentes da vigilância do complexo industrial teriam ainda derrubado as cercas feitas com o arame adquirido por Bezerra, com seus próprios recursos financeiros. “Agora estamos nos virando nos trinta, porque meu marido é pescador e há três meses está doente. Para não cruzar os braços, faço artesanato. Pagava aluguel até domingo (três dias antes da entrevista), hoje estou morando em uma invasão”, desabafa Isaneide.

No dia 16 de novembro de 2019, família Bezerra foi uma das que registrou Boletim de Ocorrência contra Suape. “No dia quinze de outubro do ano em curso, pelo período da tarde, foi abordado em seu sítio, por cinco elementos desconhecidos, os quais pertenciam ao corpo funcional de Suape, sendo que três estavam em uma caminhonete e dois motorizados e armados”, comunica o documento. Além deste, a reportagem do LeiaJá teve acesso a mais seis BO’s feitos por posseiros dos engenhos Jurissaca e Ilha, entre março de 2017 e janeiro deste ano. Em cinco das ações, é mencionada a presença de Romero Correia da Fonseca, chefe de segurança de Suape. Ele também é denunciado por portar armas de fogo, assim como membros da vigilância particular do complexo.

Em um vídeo gravado neste ano, Romero discute com Vera Lúcia de Melo, que tenta impedi-lo de deixar o Engenho Ilha após a demolição da base da casa de uma moradora. É possível assistir ao momento em que ele, a bordo de uma caminhonete com a logomarca de Suape, arranca com a carroceria repleta de estacas. “Eu tive uma prova tremenda do que é ser mulher negra e liderança. Tive que parar o carro com ele acelerando e colocando o veículo para cima de mim. Para ser bem educada, vou colocar ele como sendo um cara desumano, desprezível”, define Vera, que, devido aos conflitos em Suape, integra o Programa de Proteção aos Defensores dos Direitos Humanos (PEPDDH), desde 2016.

Segundo relatos de moradores da região que preferem não se identificar, durante as ações de remoção, Romero costuma se utilizar de armas de fogo para intimidar a população, identificando-se como policial. O LeiaJá pediu esclarecimentos à Polícia Civil a respeito da conduta do chefe de segurança. Por meio de assessoria de imprensa, a instituição disse que não confirmaria se Romero é policial ou não, alegando que assim respeitaria a Lei de Abuso de Autoridade. A reportagem localizou, contudo, em um Boletim Interno de Serviço da Polícia Civil de Pernambuco, datado de 11 de abril de 2008, o comunicado de aposentadoria de um escrivão chamado Romero Correia da Fonseca, que atuou por 33 anos na corporação.

Romero Fonseca é flagrado levando estacas de posseira em carro de Suape:

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Carlos Gomes, membro do Departamento Jurídico do Sindicato dos Vigilantes de Pernambuco (SINDESV-PE), defende que Suape utiliza indevidamente os profissionais de segurança particular, terceirizados da empresa Servi-san. “O vigilante é treinado e formado para tomar conta do patrimônio a que presta serviço. Ele não tem autorização para se meter em conflitos da empresa, para ir até a casa daquele posseiro. O porto alega que a terra é deles e o trabalhador fica no meio dos conflitos da empresa”, explica. Gomes acrescenta que o vigilante pode sim utilizar armas de fogo no perímetro que está autorizado a atuar.

A Polícia Federal, por meio da Delegacia de Controle de Segurança Privada (Delesp), é o órgão responsável por fiscalizar a atuação dos serviços de segurança privada. Por meio de assessoria de imprensa, a instituição informou que, no ano de 2011, realizou diligências na área, verificando o envolvimento de vigilantes na derrubada de imóveis. Como consequência, a empresa “Servi-san Vigilância e Transporte de Valores foi autuada e, ao final, cancelada punitivamente”. A PF colocou ainda que não estava ciente das novas denúncias, as quais irá apurar e, caso sejam confirmadas, poderão motivar “eventual punição sobre a empresa de segurança de privada”.

À esquerda, José Severino dos Santos, que se escondeu ao avistar funcionários de Suape derrubando a casa de sua irmã. (Rafael Negrão/cortesia)

No dia 2 de fevereiro de 2015, foi aberto pela 3ª Promotoria de Justiça de Defesa da Cidadania do Cabo de Santo Agostinho, do Ministério Público, um procedimento preparatório voltado para a atuação de milícias armadas a serviço de Suape. A ação- que levou em consideração os relatos líderes comunitários dos Engenhos Massangana, Vila Tatuoca, Boa Vista, Ilha, Serraria, Tabatinga e Algodoais- notificou a empresa a se manifestar em um prazo de 15 dias. A despeito das fotografias e evidências anexadas ao documento, Suape negou envolvimento nas ações criminosas. “Precipuamente, reitera-se que inexiste por parte desta Empresa Pública, quer por seus funcionários ou prestadores de serviços, qualquer ato truculento ou fora da legalidade, sobretudo quanto ao tratamento dispensado às famílias residentes no Complexo", respondeu a empresa, em 20 de março de 2015.

“Meu pai teve um AVC três dias depois da reunião com Suape”

Aos 63 anos, Severino Florêncio Filho travou sua última batalha contra Suape. O agricultor assistiu, um a um, à saída todos os vizinhos da qual havia tirado o sustento de sua família pelos últimos 30 anos. Com os oito filhos crescidos, sua principal companhia passou a ser uma pergunta: por que apenas ele não havia sido indenizado? “Ele ficou ‘aperreado’ de não ter uma resposta. Meu pai teve um AVC três dias depois da última reunião com Suape”, conta Walkíria Florêncio.

Walkíria diante do terreno que foi a roça em que cresceu. (Rafael Negrão/cortesia)

Um dos mais próximos ao muro da Fábrica Aché, o terreno inabitado logo se transformou em um enorme matagal. “O sentimento é de tristeza, a gente lembra tudo que viveu aqui. Com tanto dinheiro, não pagam a indenização. Para fazerem o que eles querem com as terras e a gente seguir nossa vida”, conclui Walkíria.

O nome de Severino Florêncio Filho é o 34º, dentre outros 43, a aparecer em um estudo cartográfico feito por Suape, em março 2019, sobre a localização dos ocupantes das terras que circundam fábrica Aché. O documento em si, aliás, é a melhor evidência de que a empresa reconhece a existência dos remanescentes que ainda não receberam suas indenizações.

Mapa de Suape em que constam nomes de posseiros que ainda não foram indenizados. 

No dia 28 de fevereiro de 2019, um novo procedimento foi aberto, desta vez, para apurar o não pagamento das indenizações de posseiros removidos de suas casas por Suape. A ata da reunião anexada ao documento, promovida pelo MPPE no dia 22 de janeiro do mesmo ano, registra a denúncia feita pelos posseiros a respeito de um laudo das benfeitorias de suas terras realizado pelos funcionários de Suape, que retiraram as mudas e plantações sob a promessa de pagamento da indenização em um prazo de noventa dias. Sete anos depois, os agricultores seguem sem receber o dinheiro.

O relatório “Complexos Industriais e Violações de Direitos”, publicado pela Plataforma de Direitos Humanos Dhesca Brasil em 2018, denuncia que as indenizações oferecidas por Suape costumam ser incompatíveis com o que é estabelecido pela Federação dos Trabalhadores Rurais, Agricultores e Agricultoras Familiares do Estado de Pernambuco (Fetape). “Mais de 12 laudos de avaliação do valor indenizatório de sítios desapropriados na localidade precisaram ser refeitos graças ao trabalho da Associação de Pequenos Agricultores de Ponte dos Carvalhos”, expõe o documento.

Pequenas passagens de pau precariamente instaladas pelos posseiros para criar acesso às terras. (Rafael Negrão/cortesia)

O LeiaJá solicitou entrevista com a atual promotora responsável pelo caso, Evânia Citian de Aguiar Pereira. O MPPE, contudo, disse que se manifestaria por meio de nota. Apesar da supracitada relação de posseiros a serem indenizados feita pela própria Suape, a instituição afirmou que “instaurou um procedimento para investigar quantas pessoas estão sendo atingidas pela construção do laboratório Aché, no complexo industrial de Suape, e a quantificação desse dano causado a elas”. O posicionamento menciona ainda uma reunião feita no dia 16 de agosto de 2019, com a presença de representantes do laboratório Aché, de Suape, do Fórum Suape, e a presidente da Sociedade dos Pequenos Agricultores. “Na ocasião, ficou acordado que o Fórum Suape deveria apresentar quais eram as pessoas atingidas pela construção do laboratório Aché, bem como a quantificação do dano por elas sofrido. A solicitação foi respondida no dia 28 de janeiro de 2020, por meio da coordenadora do Fórum Suape Espaço Socioambiental, Kássia de Souza. Porém, não foi informada a quantificação do dano causado, assim, o Ministério Público requereu mais diligências”, conclui o posicionamento.

Vera Lúcia Melo critica a morosidade da atuação da instituição. “A gente apresenta provas, dá toda a situação para ela, documentos, vídeos, foto e ela continua pedindo mais, já faz mais de um ano”, queixa-se.

História

Vera chama atenção para o grande tempo de ocupação das comunidades que habitam o entorno da fábrica Aché. “A gente se considera comunidade tradicional. O Engenho Ilha foi fundado em cima da cana de açúcar, as famílias que residem nesse arruado sempre trabalharam com agricultura”, comenta. A ata de fundação da Sociedade dos Pequenos Agricultores de Ponte dos Carvalhos, de 22 de maio de 1988, é um indício da longevidade da ocupação dos trabalhadores na área que circunda a fábrica Aché. Outro documento, um termo de recebimento da Associação dos Agricultores de Suape, atesta, em dois de novembro de 1990, que a então Diretoria de terras e Cartografia (DTC) da Secretaria de Agricultura do Estado de Pernambuco chegou a concluir um estudo topográfico na área denominada de Suape- II, correspondente aos engenhos Ilha, Cedro, Jurissaca e Boa Vista.

Na ocasião, o próprio estado de Pernambuco demarcou 265 lotes e áreas comunitárias, tendo ainda apresentado as divisas das regiões a seus ocupantes. "Declaramos que os serviços foram concluídos a contento e que as áreas onde os candidatos não compareceram, trocaram de lotes ou ocupam partes de lotes, terão seus problemas resolvidos pela própria associação juntamente com a direção de Suape. Sendo assim, a diretoria da associação abaixo assinada, dá como recebido os trabalhos de demarcação dos lotes supracitado (sic)", conclui o documento, assinado também por Suape e DTC.

Enorme, Muro da Fábrica Aché obriga posseiros a fazer caminho ainda maior para chegar às pequenas plantações. (Rafael Negrão/cortesia)

A Superintendência do Patrimônio da União (SPU) confirmou a posse de parte das terras correspondentes ao engenho Ilha, as quais tipifica como “terreno de marinha”. As terras estão regularizadas, por direito de ocupação, em nome de Suape. Sobre o Engenho Jurissaca, a instituição afirmou que seria necessário informar alguma localização exata, com endereço completo, pois “usando somente a denominação não foi possível identificar no sistema”.

Suape nega acusações

Por meio de nota, Suape negou que tenha ordenado a derrubada de casas de posseiros, confiscado objetos de posse de terceiros ou se utilizado de vigilantes portando armas de fogo para intimidar a população. A empresa ainda afirmou que não possui quaisquer pendências em relação a indenizações a posseiros.

Confira a nota na íntegra:

“Pela Lei 10.406/2002 (Código Civil), Suape tem a obrigação de impedir invasões no território com o objetivo de proteger o patrimônio público. Se identificarmos o momento em que um imóvel está sendo construído, devemos agir imediatamente, impedindo a continuidade da obra. Quando a invasão é detectada posteriormente, nós entramos na justiça solicitando reintegração de posse.  Pode ocorrer de sermos convocados pelo Ministério Público a participar da reintegração de posse. Mas, sem ordem judicial, Suape não interfere em moradias já consolidadas.

Vale salientar que o Complexo de Suape foi concebido com um grande território (mais de metade dele de área preservada) por um motivo. Se o porto sofre pressão urbana, ele perde sua capacidade de crescer, de acompanhar as novas demandas do setor, de ser competitivo e de gerar novos empregos e renda para a população. São 23 mil empregos gerados no território, atualmente. E temos capacidade para gerar muito mais.

Com relação aos Engenhos Ilha e Jurissaca, Suape negociou a saída de 126 famílias dessas áreas e todas elas foram indenizadas e tiveram a opção de escolher uma casa no Conjunto Habitacional Nova Vila Claudete ou cinco hectares de terra em assentamentos rurais. Outras 43 famílias solicitaram indenização para sair da área, mas essa questão não foi negociada por Suape, portanto, não procede a informação de pendências em indenizações.

As equipes de segurança de Suape que atuam no controle territorial trabalham sem armamento e com identificação. E qualquer material recolhido pela equipe fica à disposição dos proprietários.

Nenhum boletim de ocorrência de truculência foi gerado na atual gestão, iniciada em janeiro do ano passado.  E orientamos a população que qualquer comportamento indevido seja registrado, para que possamos apurar o fato e tomar as medidas cabíveis.

Sobre a empresa Ache, o empreendimento ainda não teve sua planta concluída e está em obras.

Por fim, destacamos que nos últimos dias temos visto uma série de vídeos antigos circulando nas redes sociais como se fossem novos, justamente no momento em que Suape desenvolve projetos socioambientais nas comunidades consolidadas do território. Diante disso, registramos o interesse e a prática da atual gestão em manter o diálogo com as comunidades e fomentar a economia e a melhoria da qualidade de vida das famílias consolidadas no território”.

“Piada de mal gosto”

Vera Lúcia, presidente da Sociedade de Pequenos Agricultores, integra o Programa de Proteção aos Defensores dos Direitos Humanos (PEPDDH), desde 2016. (Rafael Negrão/cortesia)

Vera Lúcia de Melo classifica a resposta de Suape como uma “piada de mal gosto”. “Em algumas áreas do Engenho Ilha não indenizaram ninguém, somando com Jurissaca faltam 41 famílias. Ninguém é invasor”, comenta. Sobre a colocação de que a empresa não interfere em moradias já consolidadas sem reintegração de posse junto ao Ministério Público, a advogada do Fórum Suape- que defende os interesses dos posseiros- Mariana Vidal lembra que a própria Suape já afirmou, em ofícios encaminhados à justiça, que se utiliza do desforço imediato. “Esse é um instituto de autotutela, utilizado quando a própria parte que supostamente teve um direito violado não precisa recorrer ao judiciário para reaver sua coisa. A violação seria tão recente que a parte teria o direito de reaver a área supostamente invadida”, acrescenta.

Vidal reitera que os primeiros posseiros ocupam as terras há pelo menos trinta anos. “Isso confere a eles o direito de usarem o terreno como bem entenderem, contato que isso não fira a lei. Se os posseiros querem construir uma casa, uma cerca, dentro da área onde eles exercem a posse, podem fazer isso. Só que Suape se acha no direito de destruir qualquer construção nova, mesmo quando elas estão em terrenos de famílias que exercem a posse há muito tempo”, completa.

Fábrica Aché, no Engenho Jurissaca. (Rafael Negrão/cortesia)

A advogada critica ainda a falta de diálogo com a comunidade durante o processo de instalação da Fábrica Aché, que reforçou um longo processo histórico de invisibilização desses agricultores. “A Aché alega que não tinha conhecimento da existência de famílias no local. O estudo ambiental que embasou o processo de licenciamento ambiental não menciona nenhuma delas, então, consequentemente, não prevê medidas compensatórias e mitigadoras dos impactos que irão recair sobre essa comunidade, tanto oriundos da instalação quanto da operação do empreendimento”, conclui Mariana.

Também advogada do Fórum Suape, Luísa Duque argumenta ainda que Suape chegou a fazer a contagem das benfeitorias dos terrenos, o que gerou nos posseiros grande expectativa da indenização. “Até porque a forma como a empresa procedeu com as indenizações e os reassentamentos de parte da comunidade foi de forma a tornar os sítios remanescentes isolados, deixando a vida das pessoas insegura”, declara. Vidal complementa: “E, agora, tudo que a comunidade quer é ser indenizada para sair de lá. O Ministério Público não tem feito nada em relação a isso, enquanto as pessoas vão ficando idosas e tentando sair da área por conta própria”.

Em Pernambuco, um grupo de pessoas celebra com cautela o Dia Internacional dos Direitos Humanos, comemorado nesta terça-feira (10). Incluídas no Programa Estadual de Proteção aos Defensores e Defensoras dos Direitos Humanos (PEPDDH/PE), elas sofreram ameaças e hoje convivem com o constante medo da morte. 

 O programa foi implantado em 2006 em Pernambuco por meio do Decreto Federal 6044/2007 e regulamentado pela Lei 14.912, em dezembro de 2012. Atualmente, 32 pessoas estão sob a proteção do programa, 18 foram incluídas nos últimos três anos. Elas são ligadas a questões como combate à corrupção, luta pelo direito à moradia, acesso à terra e ao território e luta pelo direito à livre expressão religiosa, enfrentando o racismo religioso e institucional.

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 O carro de Magno Araújo tem câmeras na parte da frente e de trás. O líder quilombola da Ilha de Mercês, em Ipojuca, na Região Metropolitana do Recife (RMR), já foi espancado, perseguido e ameaçado de morte.  O medo de que arrombassem sua porta e lhe arrastassem de casa tirou noites de sono.

 Araújo diz que passou a ser visado em meados de 2015, quando o Complexo Industrial Portuário de Suape derrubou casas da Ilha de Mercês. O rapaz, na época com 24 anos, ajudou as famílias a tirarem seus bens das moradias enquanto as máquinas derrubavam as construções. Ele acusa a segurança terceirizada patrimonial contratada pelo complexo e o 18º Batalhão de Polícia Militar (BPM) de promover violência e intimidações. 

Segundo o jovem, os vigilantes andam armados com arma branca e arma de fogo e acompanhados de policiais. “Eu sou nativo, mas para eles nós somos invasores e não tem nenhum tipo de diálogo. A gente está sendo protegido pelo Estado, mas quem oprime também é o Estado.”

 Envolvido na luta de seu povo, Magno entendeu que não estava apenas diante de uma disputa de território. Ele percebeu que precisava batalhar também por necessidades básicas, como educação de qualidade, acesso à saúde e saneamento. Ele ajudou a construir o plano de desenvolvimento quilombola e a federação quilombola de Pernambuco. 

 Em parceria com o Sebrae, a comunidade da Ilha de Mercês conseguiu também montar uma cooperativa para vender frutas, verduras e frutos do mar. "Vamos ampliar e daqui a não tão distante a gente vai estar bastante organizado", diz Magno, que agora busca parceiros para montar uma biofábrica de muda de mangaba.

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Quem também está inserida no programa após ameaças proferidas pela segurança de Suape é Vera Lúcia Domingos, de 50 anos. A presidente da Associação dos Pequenos Agricultores de Ponte dos Carvalhos conta que foi ameaçada diversas vezes por equipes de segurança do complexo. Em uma das ocasiões, Vera estava em uma parada de ônibus. “Vem um carro, abaixa o vidro e um vigilante coloca o braço para fora e faz um gesto com a mão como se estivesse atirando em mim. Liguei para o programa, fiz B.O., tenho vários B.O.s feitos”, lembra.

Vera, que também é estudante de serviço social, tem atuado em defesa das famílias dos engenhos Ilha Ponte dos Carvalhos, Boa Vista 1 e Jurissaca, no Cabo de Santo Agostinho, no Grande Recife. Os moradores dos dois últimos locais buscam indenização. Já a Ilha de Ponte dos Carvalhos é mais consolidada e os moradores não querem ser indenizados, mas permanecerem onde vivem há gerações.

 “Recebi ameaças para que não ficasse como obstáculo porque poderia aparecer morta. Diziam que eu vivia em área de mata, área rural, e ninguém saberia se me matassem”, diz Vera. A última ameaça direta ocorreu no ano passado: um homem a abordou dentro de um ônibus para dizer que o programa do governo não era capaz de proteger ela e seus dois filhos. Atualmente, a mulher tem notado que está sendo seguida.

 “Se eu disser a você que eu não temo, vou estar mentindo. Será que vale a pena mesmo? Ainda acho que vale a pena porque eu preciso fazer muito por muita gente ainda. Não vou parar enquanto não tivermos nossa posse, com Suape muito longe da gente. No Engenho Ilha [de Ponte dos Carvalhos] a gente não conseguia construir uma casa. Hoje tem casa de laje, com piscina, água encanada, povo plantando. Vale a pena insistir, está no meu sangue.”

Ao contrário de Magno e Vera, Francisco de Assis Barros de Sá, de 65 anos, está longe de sua terra de origem. Chico Truká, como é conhecido, precisou deixar sua aldeia em Cabrobó, no Sertão do estado, por causa das diversas ameaças de mortes que sofria. 

 A terra indígena Truká está localizada na região chamada “Polígono da Maconha”. As ameaças de traficantes aos índios são noticiadas desde a década de 1990. Chico e Mozeni Araújo eram as principais resistências contra o plantio da droga na Ilha de Assunção, no médio curso do Rio São Francisco.

 Mozeni Araújo era candidato a vereador pelo PT e considerado uma das principais lideranças de Cabrobó. Ele foi assassinado à queima-roupa em 23 de agosto de 2008 durante evento de campanha. 

“Eles queriam traficar por dentro de nossas aldeias. Eu disse que não fazia isso”, conta Chico Truká. Segundo o indígena, os traficantes fizeram alianças com fazendeiros, posseiros e até a polícia. Chico conta que a arma que matou Mozeni pertencia a um primo de um tenente da região. “Eu fui para a delegacia dizer que estava sendo ameaçado e a delegada falou que eu estava mais seguro dentro da aldeia do que ali entre os policiais. Ela ligou para a Polícia Federal em Salgueiro para me tirar escoltado de lá e me levar para o Recife.” 

 Chico Truká afirma que a situação de medo constante o adoeceu. Hoje ele toma oito remédios diariamente. “Tenho sonho com esses caras quase toda noite. Eu só durmo a troco de remédio”, diz ele. Os responsáveis pelo homicídio de Mozeni foram presos à época mas Chico diz que dois já estão em liberdade.

 Atualmente vivendo em outro estado com a esposa, Chico acredita que nunca mais voltará a pisar em sua aldeia. Sente saudades do pai e lamenta não ter comparecido ao velório da mãe. “Eu tinha que lutar. Era minha família toda que estava em jogo. Hoje a aldeia tem sossego. A gente não podia ficar com a porta aberta até as 10, 11 da noite. Eu lutei, eu corri para conseguir uma polícia lá dentro. Conseguimos dez policiais para lá. Valeu a pena por isso. Queria acabar meus dias de vida lá, mas acho que não tem essa possibilidade.”

 Por meio de nota, Suape informou que, entre 2007 e 2018, 1580 famílias foram indenizadas pela administração do complexo pelas benfeitorias frutíferas e imóveis existentes em suas posses. Do total, 1121 receberam uma casa no Conjunto Habitacional Nova Vila Claudete, construído por meio do Programa Minha Casa Minha Vida, no Cabo de Santo Agostinho, cuja primeira etapa foi entregue em julho deste ano. Outras 184 famílias foram reassentadas nos assentamentos rurais Valdir Ximenes, em Barreiros, e Bruno de Albuquerque Maranhão, no Cabo de Santo Agostinho. Por não atenderem às exigências do Programa Minha Casa Minha Vida nem do Incra, as demais famílias foram apenas indenizadas. Das 1580 famílias indenizadas, 174 estavam localizadas no Engenho Ilha de Mercês, 40 no Engenho Ilha de Ponte dos Carvalhos, 100 no Engenho Boa Vista e 115 no Engenho Jurissaca. Não existe previsão para retirada de outras famílias do território.

 Sobre as denúncias de violência e intimidações, o Complexo de Suape afirma não ter recebido nenhuma na atual gestão. A determinação, entretanto, é que, em caso de denúncias contra os funcionários de segurança patrimonial, a Coordenadoria de Proteção ao Patrimônio deve apurar o caso e produzir um relatório sobre a ocorrência em até 15 dias. Se constatada a procedência, o caso será encaminhado para a abertura de Boletim de Ocorrência na delegacia local e o funcionário será afastado e substituído imediatamente. Suape afirma que os profissionais andam desarmados.

Dados de 2017 do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos contabiliza 665 pessoas atendidas no Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos (PPDDH)  da pasta em todo o Brasil, entre casos incluídos, em análise e em triagem. O projeto nacional é executado em convênio com os estados de Pernambuco, Minas Gerais, Maranhão e Ceará.

 Abaixo uma lista da área de militância das pessoas acompanhadas apenas pela equipe federal:

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Desde sábado (19), as manchas de óleo cru retornaram às praias da Região Metropolitana do Recife (RMR) e aumentam a possibilidade de atingir a capital pernambucana. Na manhã desta segunda-feira (21), um helicóptero acionado pela Prefeitura do Recife sobrevoa a costa na tentativa de antever de onde o resíduo tóxico pode vir.

"Eu estou com muita fé que venha um vento bom e não mande esse óleo para aqui", relata o secretário de Meio Ambiente do Recife José Neves Filho. Ele acredita que o material não chegue ao município, mas garante que a gestão está preparada.

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O secretário também informou que possui cerca de 130 kits de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) - luva, bota e máscara - para suprir a necessidade de possíveis voluntários. Neves Filho ainda revelou que já solicitou mais 500 kits ao Governo do Estado e espera recebê-los ainda nesta manhã.

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Praias do município do Cabo de Santo Agostinho, no Litoral Sul de Pernambuco, voltaram a ser atingidas por óleo nesta segunda-feira (21). De acordo com a prefeitura, há registro de óleo na Reserva do Paiva, Enseada dos Corais, Pedra do Xaréu e Itapuama.

A substância já havia alcançado o município no domingo (20). As praias atingidas foram Suape, Gaibu, Calhetas, Itapuama, Pedra do Xaréu, além da Ilha de Tatuoca.

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Nesta manhã, assim como no domingo, voluntários trabalham na limpeza da praia. Grupos pedem que mais voluntários compareçam e materiais sejam entregues.

Segundo a Prefeitura do Cabo de Santo Agostinho, máquinas realizarão a remoção de materiais. Equipes da prefeitura também estão nas praias. Há quatro pontos de apoio: um em Suape, na Vila Galé; Gaibu, próximo às pedras; Itapuama, próximo ao Samu; e no Paiva, na associação de moradores.

A gestão aguarda a maré baixar para que seja feita uma melhor análise do impacto. De acordo com a prefeitura,  a área de arrecifes foi atingida.

Como ontem, o município estará com as máquinas para remoção dos materiais, incluindo caminhões para o transporte. Voluntários e equipes da Prefeitura estão desde cedo trabalhando nessas áreas. Temos quatros pontos de apoio: um em Suape, no Vila Galé; Gaibu, próximo às pedras; Iapuama, na base do Samu e outro no Paiva, na associação de moradores.

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Depois que o vazamento de 5 m³ de resíduo oleoso (óleo e água) de despejos industriais da Refinaria Abreu e Lima (Rnest), localizado no Cabo de Santo Agostinho, Grande Recife, atingiu o mangue a Polícia Federal enviou para o local peritos criminais que vão realizar laudo pericial que deverá apontar qual a extensão do possível dano ambiental e o que causou, de fato, o episódio.

A PF aponta que, após a conclusão do laudo, serão analisados a existência da prática, ou não, de crime ambiental. Se constatado tal infração, será aberto um inquérito policial que deve atribuir responsabilidades à todos os possíveis envolvidos.

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Sobre esse vazamento que aconteceu na última segunda-feira (26), a  Prefeitura de Ipojuca informou que, desde terça-feira (27), está no local com uma equipe da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, coordenada pelo secretário Erivelto Lacerda. Biólogos, geólogos, engenheiros florestais e de pesca avaliam os danos ambientais - tentando, em conjunto, tomar as medidas necessárias.  

"Como o óleo vazado da Refinaria atingiu o mangue, os técnicos da Prefeitura estão apurando, junto com a Petrobrás, em parceria com a CPRH e com o IBAMA, o quantitativo real do vazamento e se a área próxima ao estuário do Rio Ipojuca foi atingida", assegura o órgão municipal. 

A prefeitura de Ipojuca salientou ainda que "a Refinaria afirma que o vazamento foi de 5m³ de óleo e que há quatro barreiras de contenção preventiva para que o rio não seja atingido, apesar disto, já foi acordado com a Prefeitura do Ipojuca que novas contenções serão feitas pela Refinaria."

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A Receita Federal apreendeu 346 garrafas de vinhos de alto padrão não declaradas no Porto de Suape, em Ipojuca, na Região Metropolitana do Recife (RMR). A carga está avaliada em mais de R$ 100 mil.

Além das garrafas de vinho, também foram apreendidas 168 latas de polpa de tomate não manifestadas no conhecimento de carga. O material estava inserido em um contêiner com carga de moldes e equipamentos para fabricação de mesas e cadeiras plásticas.

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Segundo a Receita Federal, a empresa importadora sofrerá o perdimento das mercadorias não declaradas e incompatíveis com a atividade da empresa, que é produção de artefatos de material plástico. A empresa pode ainda responder a uma representação fiscal para fins penais junto ao Ministério Público Federal pelo crime de descaminho, que é a tentativa de entrar com produtos no país sem o pagamento dos devidos impostos.

A carga declarada será analisada e poderá ser liberada para importação caso não tenha contribuído para ocultação dos produtos irregulares. As mercadorias apreendidas foram detectadas em equipamento de raio-x.

Agricultores e artesãos de 11 comunidades do território de Suape estão vendendo suas produções no Centro Administrativo do complexo industrial portuário, em Ipojuca, Grande Recife, nesta quarta-feira (12), dentro do projeto "Tô na Feira". Entre os itens comercializados, frutas e hortaliças livres de agrotóxicos, plantas de diversos tipos, doces, geleias, licores, pães, mel, artesanatos, cosméticos derivados de argila, sabão ecológico e até pufes.

Participam do evento cerca de 40 agricultores e artesãos das comunidades de Massangana, Vila Nazaré, Vale da Lua, Gaibu, Engenho Algodoais, Vila Claudete, Vila Dois Irmãos, Engenho Boa Vista, Vila Cepovo, Assentamento Valdir Ximenes e Assentamento Bruno de Albuquerque Maranhão. Os produtos são vendidos para colaboradores da administração de Suape e trabalhadores das empresas do complexo, que são convidados a participar da feira. Há produtos de R$ 0,50 a R$ 100 e muitos comerciantes aceitam cartão de crédito. Quem compra acima de R$ 40 recebe uma sacola ecológica.

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O projeto teve início em novembro de 2017. Segundo Suape, o objetivo é fortalecer a relação com os moradores locais, desenvolver a sustentabilidade ambiental e social das famílias do território e dar oportunidade para os agricultores e artesãos divulgarem e comercializarem seus produtos.

Dentro do projeto, são disponibilizadas 19 barracas, que podem ser divididas para dois expositores. Em 2018, foram realizadas seis edições. Nas últimas edições, cerca de 200 pessoas circularam pela feira. O "Tô na Feira" segue até as 15h desta quarta-feira (12).

Manifestantes bloqueiam a rodovia PE-60, no município de Barreiros, na Mata Sul de Pernambuco, na manhã desta segunda-feira (10). O protesto é organizado pela Federação dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares do Estado de Pernambuco (Fetape).

O grupo cobra melhores condições para os trabalhadores do Assentamento Valdir Ximenes. A comunidade rural foi montada para antigos moradores dos Engenhos Ilha e Jurissaca, no município do Cabo de Santo Agostinho, Região Metropolitana do Recife (RMR), que foram remanejados pelo Complexo Industrial Portuário de Suape para construção da Companhia Siderúrgica Suape (CCS).

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Os trabalhadores reclamam da falta de infraestrutura no assentamento e cobram melhores condições e investimento. Segundo eles, crianças estariam sem condição de ir à escola, o escoamento de produção estaria prejudicado, assim como o acesso à emergência médica. Em cartazes, os manifestantes se dizem isolados e alegam que Suape não cumpriu com acordo.

Por volta das 9h30, os agricultores decidiram encerrar o protesto após acordo com a Prefeitura de Barreiros. O município teria se comprometido a entregar máquinas e material para obras no local. Uma reunião com a Casa Civil também foi agendada para a próxima quarta-feira (12), para discussão de pautas dos trabalhadores. O trânsito na PE-60 ficou complicado durante o protesto. 

O Assentamento Valdir Ximenes foi entregue em 2013 para 126 famílias. A área do terreno é de 1,1 mil hectares. Cada família recebeu um lote de cinco hectares com título de posse. O assentamento está dividido entre os engenhos Bombarda e Roncador, com área de reserva legal equivalente a 218 hectares; área de preservação permanente do Rio Una correspondente a 81 hectares; área permanente de preservação de nascente igual a 16 hectares e, por fim, área comunitária e para outros usos com extensão de 134 hectares.

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A Receita Federal realizou uma fiscalização no Porto de Suape, no Grande Recife, e recolheu três toneladas de produtos falsificados. Provenientes da China, as mercadorias estão avaliadas em R$ 200 mil.

Entre os produtos falsificados estão brinquedos, mochilas e tecidos estampando figuras com personagens com marca registrada. Há produtos com personagens da Marvel, Hello Kitty, Galinha Pintadinha, Patrulha Animal, entre outras. As empresas detentoras das marcas foram procuradas para atestar a falsificação.

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O material estava dividido em três contêineres de diferentes importadores. As mercadorias abasteceriam o comércio popular do Recife e de outras cidades do Nordeste.

Ao todo, foram apreendidos 8750 mochilas, 720 pistolas de brinquedos e 135 rolos de tecidos. A Receita Federal destaca que os produtos falsificados iludem os consumidores e lesam as empresas. "Além disso, os brinquedos não foram fabricados a partir dos parâmetros estabelecidos pela legislação, conforme Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro), colocando assim a segurança da população em risco", diz o órgão em nota.

O material apreendido segue para destruição. Quando possível, o material plástico é enviado para a reciclagem.

Seu Biu é uma figura simbólica para os antigos moradores da Ilha de Tatuoca. Severino Caciano da Silva é conhecido como o último a permanecer na ilha localizada na área portuária de Suape, no Litoral Sul de Pernambuco. Foi ali que cresceu e construiu a vida e o bar com o qual conseguia sobreviver. Brigou muito para não sair. Saiu em 2016. Morreu no ano seguinte. O falecimento foi uma decorrência direta de sua retirada, segundo os antigos moradores da região insular e atuais residentes da Vila Nova Tatuoca.

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A Vila Nova Tatuoca foi construída em 2014 no município do Cabo de Santo Agostinho para 75 famílias que moravam na Ilha de Tatuoca. As casas são de alvenaria, têm terraço, sala, dois quartos, cozinha, banheiro e área de serviço. De maneira geral, é um vilarejo de pessoas cheias de saudade de em que viviam. E insatisfeitas com o lugar onde moram.

Não foi só Seu Biu que faleceu por causa da mudança, conta Edson Silva, presidente da associação dos moradores de Nova Tatuoca. A mãe do vice-presidente do grupo tirou a própria vida após um quadro de depressão. Já a genitora de Edson não gosta de falar da ilha porque sempre chora.

O pescador Rodrigo da Silva era enteado de Seu Biu. Foi um dos que correu para a ilha ao saber que, após anos resistindo, o dono do bar finalmente estava sendo retirado e a casa derrubada. “Ele já saiu de lá doente e veio a falecer por causa de Suape pressionando ele a sair. No dia que tiraram ele, estava o pessoal de Suape armado. Tiraram ele à força. Pegaram ele, jogaram numa caminhonete. Eu estava lá”, se recorda Rodrigo. Após a transferência, Seu Biu era visto algumas vezes na costa do Cabo de Santo Agostinho, olhando o antigo lar a distância.

Quando as obras de dragagem começaram na ilha, as águas que eles consumiam ficaram impróprias. Esse foi o primeiro golpe para que as pessoas começassem a deixar a área. “A partir do momento que ele [Suape] tirou a gente de Tatuoca, já tirou a nossa origem, não é? Porque a pessoa que nasceu e se criou ali dentro, sabia todo lugar ali como a palma da nossa mão”, resume o pescador. Segundo Rodrigo, as pessoas se sentiam intimidadas e coagidas porque eram abordadas por seguranças armados.

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Edson caminha pelas ruas da vila apontando os problemas com os quais convive. A estação de tratamento não funciona, muitas casas estão com água retornando pelo ralo, uma grande barreira atrás da casa ocasiona em lama cujas marcas se veem nos muros e quintais de algumas residências e as tampas de esgoto concentram água suja. Os parques para as crianças também estão tomados por lama e grama alta.

Inconformado, Edson não mede críticas. “Fizeram casa para animais morarem” e “Suape é um câncer incurável” são algumas das opiniões que ele emite em tom seguro. Guarda municipal, Edson diz que os moradores que cresceram vivendo da pesca e da venda de frutas lutam para sobreviver. 

“Hoje eles vivem de ‘oia’, fazem massa para construção, são ajudantes de pedreiros”, resume Edson. Vários não abriram mão do que sabiam fazer e continuam pescando. A segurança patrimonial impede que se aproximem da Ilha de Tatuoca para pescar, ainda assim, se arriscam em pescas noturnas. Com mais de 40 anos vividos na ilha, Edson conta nunca ter presenciado pessoas de lá envolvidas com criminalidade. Desde a mudança, três pessoas próximas foram presas por tráfico de drogas.

Benedito Elias da Silva, de 62 anos, lembra dos dias na ilha, de fartura de peixes, crustáceos e frutas. “Agora não tem mais essa fartura. Foi tudo destruído, dragado, aterrado, desmatado. Se a gente pegava naquele tempo 20 kg, hoje a gente pega cinco, três. Quando pega uns dez para pegar outros dez vai ter tempo”, resume. Além das dificuldades financeiras, a diminuição de peixes é outro problema na ponta da língua de qualquer residente de Nova Tatuoca, sempre culpando Suape pelo ocorrido. Benedito reconhece que a casa de alvenaria é melhor que a antiga de taipa e que é bom estar em um lugar mais movimentado, perto de serviços. Quando compara os dois momentos, entretanto, opta pela vida insular.

Muitos ali não pagam as contas, dizem que não têm condições. “Sempre tinha uma ‘mixariazinha’, hoje a gente tem dívida”, diz Benedito, seguido de um sorriso. “Tem gente que não consegue pagar R$ 100 em uma conta”, afirma o pescador Rodrigo, lembrando que as famílias ainda não receberam os títulos das casas. Além disso, os residentes demonstram frustração, pois o estaleiro que seria construído lá após a saída deles nunca existiu.

Suape

O LeiaJá conversou com Leonardo Cerquinho, presidente do Complexo Industrial Portuário de Suape há pouco mais de quatro meses. Cerquinho destaca que melhorias estão sendo planejadas, mas lamenta acusações das famílias. “Todos os acordos foram homologados na Justiça. É difícil falar em coação, isso se daria em frente a um juiz? Afirmar isso seria praticamente inferir que a Justiça faz parte dessa coação”, opina. “Eu não vivi essa época, da saída das famílias, de qualquer forma, Suape não coaduna com qualquer comportamento inadequado da guarda patrimonial. A gente pede que as pessoas registrem e nos informem. Vamos tomar medidas imediatas”.

Sobre as irregularidades de esgoto e lama, Cerquinho e a assessoria de Suape prometem soluções com datas. “A estação de tratamento é feita para tratar dejetos líquidos. Infelizmente, houve despejo de fralda, absorvente, materiais físicos pelo ralo e isso danificou a estação. A gente já está fazendo o termo de referência, a licitação, para reformar a estação de tratamento, inclusive dotar ela de níveis que não permitam a passagem desses artigos sólidos. Expectativa que de dois a três meses a gente tenha isso resolvido. Com isso, vamos entregar a estação à Compesa [Companhia Pernambucana de Saneamento]”, prometeu Cerquinho.

Suape também elaborou um edital para contratação de projeto executivo de contenção de encostas na vila. O processo licitatório deve durar 30 dias. A previsão é que as obras de intervenção na localidade comecem em setembro, no período do verão.

Cerquinho ainda defende que o estoque de peixe caiu no mundo inteiro. “E não há evidências de que o estoque caiu mais em Suape do que, por exemplo, em colônias pesqueiras de Jaboatão ou Recife. Ainda assim a gente entende que obras de dragagem e a movimentação de navios pode eventualmente, sim, atrapalhar o processo. Por conta disso, desde 2012 que nós pagamos uma bolsa de R$ 400 por mês mais cesta básica para 128 pescadores da colônia de Gaibú”, completa.

O presidente de Suape lembra que o terreno foi escolhido pelas próprias famílias e que também houve indenização pelas casas e plantios no total de R$ 2.868.466 - essa indenização considerada de valor baixo pelos moradores. O valor de compra do terreno foi de R$ 5,5 milhões. Cerquinho acrescenta: “É importante dizer que a área vai ser porto no futuro, é só questão de tempo. Quando a gente estava planejando tudo isso, Pernambuco estava crescendo 10% ao ano, a expectativa era de uma série de projetos numa velocidade muito rápida. Mas a área de Tatuoca pertence ao porto organizado de Suape e ela, necessariamente, um dia vai se tornar porto”.

Questionada sobre o título dos imóveis, Suape informou ter criado um instrumento jurídico para garantir a exploração do imóvel, por prazo indeterminado, denominado “concessão de direito real de uso”. O instrumento jurídico teria o objetivo de garantir o direito à moradia e evitar a especulação imobiliária no local. “Em tratativa com os representante dos moradores, a administração de Suape foi informada que eles não tinham interesse em assinar o referido documento. Suape continua à disposição dos moradores para celebrar o termo contratual”. Cerquinho não conhece o caso de Seu Biu.

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O município do Cabo vai comemorar o Dia Municipal da Nacionalidade Hispânico-Brasileira com a primeira edição do Festival Viva Pinzón. A festa acontece nesta sexta (25) e sábado (26), sob o tema A chegada de Pinzón ao Cabo, com uma programação multicultural e a participação de diversos artistas locais.

Abrindo as comemorações, na sexta (25), haverá shows com os Mestres de Coco de Pernambuco, além de apresentações de cinema na praça com a exibição de documentários e a exposição Cabo Ruínas e Monumentos. Já no sábado (26), haverá mais exibições de documentários e shows com Os Compadres da Cultura, que apresentam uma leitura dramatizada com citações de cordéis.

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Encerrando a primeira edição do festival, sobem ao palco os grupo Mestres do Coco de Pernambuco, Coco de seu Zé Moleque, Zeca Pastory e o grupo de dança Essência Flamenca.

Serviço

Festival Viva Pinzón

Sexta (25) e sábado (26) | 19h

Calçadão da Praia de Suape

Gratuito

Nesta terça-feira (4), um incêndio atingiu uma torre da Refinaria Abreu e Lima (RNEST), localizada no Complexo Industrial Portuário de Suape, em Ipojuca, Região Metropolitana do Recife (RMR). Por conta do ocorrido, a Petrobras paralisou a unidade atingida.

Não houve feridos e o incêndio foi debelado pela equipe de contingência da refinaria. A estatal informou que a torre faz parte da unidade de Coqueamento Retardado (U-21), que produz um tipo de combustível chamado coque.

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Ainda conforme a Petrobras, o fogo não causou impacto no abastecimento. “A Petrobras conta com estoque e produção para garantir a oferta de combustíveis aos seus clientes”, diz nota da empresa.

Uma comissão de investigação foi acionada para avaliar as causas do acidente. A equipe também avaliará o prazo para retorno da unidade.

De acordo com informações da Petrobras, a RNEST tem capacidade de processamento de 230 mil barris de petróleo por dia. A produção é focada em diesel (70%). Ao todo, são produzidos no local Diesel S-10, nafta, óleo combustível, coque, GLP (Gás liquefeito de petróleo).

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