Dez lobistas apontados como operadores de propinas no esquema de corrupção instalado na Petrobrás e desbaratado pela Operação Lava Jato visitaram a estatal petrolífera pelo menos 1.800 vezes entre 2000 e 2014. A companhia anexou ao inquérito principal da Lava Jato na quinta-feira um extenso relatório que contabilizou as visitas dos operadores. Os nomes foram indicados pelo ex-gerente executivo Pedro Barusco, que foi braço direito do ex-diretor de Serviços da empresa Renato Duque, em sua delação premiada.
Em documento enviado em dezembro de 2014 ao juiz Sérgio Moro, que conduz as ações da Lava Jato, o Ministério Público Federal informou que Barusco negociava com tais operadores financeiros "não só o montante a ser repassado a título de propina, como também a maneira pela qual ocorreriam os pagamentos, tudo de forma a viabilizar a ocultação e dissimulação da origem, disposição, movimentação e propriedade destes ativos ilícitos".
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Em sua delação premiada, Barusco citou os nomes de Mario Góes, Zwi Zcorniky, Guilherme Esteves de Jesus, Milton Pascowitch, Shinko Nakandakari, Luis Eduardo Campos Barbosa da Silva, Atan de Azevedo Barbosa, Bernardo Freiburghaus, Augusto Amorim Costa, Cesar Roberto Santos Oliveira e João Vaccari Neto, ex-tesoureiro do PT, como "autênticos representantes dos interesses das empresas corruptoras nos pagamentos das vantagens indevidas", com os quais ele fez transações e manteve contato. O nome de Vaccari não aparece no documento encaminhado pela estatal à Justiça.
Registros
O documento de "liberação das visitas", da Petrobrás, indica o nome do visitante, seu documento de identidade, a data e hora de entrada e saída da empresa e o nome do visitado. Os supostos operadores de propinas visitaram, entre outros funcionários, Renato Duque, Pedro Barusco, os ex-presidentes José Sergio Gabrielli e Graça Foster, o ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa, os ex-diretores da área Internacional Nestor Cerveró e Jorge Zelada, o ex-diretor de Gás e Energia Ildo Sauer e o ex-gerente da Refinaria de Abreu e Lima Glauco Legatti.
Zwi Zcorniky foi quem mais entrou na empresa. Entre 2006 e 2014, sua entrada na companhia foi liberada em 490 ocasiões. De acordo com a delação de Pedro Barusco, Zwi Zcorniky é representante oficial das empresas Kepell Fels e da Floatec. Ele teria operado propina em nome do Estaleiro Kepell Fels, entre 2003 e 2013, para o ex-gerente, em conta no Banco Delta, na Suíça, e ao PT, por meio de Vaccari.
No relatório enviado pela Petrobrás, há registros de visita de Zwi Zcorniky a Renato Duque, Pedro Barusco e à presidência da Petrobrás. Em 14 de julho de 2010, o suposto operador entrou na estatal às 8h39 para encontrar o então presidente José Sergio Gabrielli e deixou a empresa às 9h23.
Pouco mais de dois anos depois da visita a Gabrielli, Zwi Zcorniky entrou na Petrobrás para encontrar a então presidente Graça Foster - substituta de Gabrielli no cargo. Em 3 de dezembro de 2012, ele chegou às 9h56 e deixou o local às 12h58. Dois meses depois, em 8 de fevereiro de 2013, o suposto operador entrou na empresa às 9h36 e saiu às 12h26. Não há registro do local onde Zcorniky esteve desta vez.
A primeira pessoa a chegar à estatal petrolífera à procura de Graça Foster foi César Roberto Santos Oliveira, dono da empreiteira baiana GDK. Em 10 de junho de 2009, o executivo chegou às 15h34 para ir à Diretoria de Gás e Energia e saiu às 17h29. Barusco afirmou à força-tarefa da Lava Jato que o empreiteiro foi responsável por operacionalizar os pagamentos de propinas a ele, no valor de US$ 200 mil.
A ex-presidente da Petrobrás foi procurada ainda em duas outras ocasiões, por Augusto Amorim Costa. De acordo com a delação de Barusco, ele teria atuado sob a orientação do executivo Idelfonso Collares, como operador financeiro no interesse de repasse de propinas pela empreiteira Queiroz Galvão, por meio de offshores. A entrada de Augusto Amorim Costa, com destino à Diretoria de Gás e Energia, foi autorizada às 14h52. Sua saída foi registrada às 15h39.
Segundo Barusco, Mário Góes atuou como operador financeiro em nome de empresas e consórcios contratados pela Petrobrás. O delator citou Andrade Gutierrez, Mendes Júnior, Carioca, Bueno Engenharia, MPE/EBE, OAS, Schin, Setal e UTC. Góes está preso desde 8 de fevereiro em Curitiba, base das investigações da Lava Jato. Ele é réu em ação penal por corrupção e lavagem de dinheiro.
Bernardo Freibughaus, que mora na Suíça, esteve na estatal uma vez em 29 de maio de 2008, para visitar o ex-gerente da Refinaria de Abreu e Lima Glauco Legatti. Barusco afirmou que Freiburghaus o ajudou a colocar em suas contas na Suíça aproximadamente US$ 2 milhões, após a deflagração da Operação Lava Jato e da prisão de Paulo Roberto Costa, em março de 2014.
Afastado
Legatti foi afastado do cargo em novembro de 2014, por decisão interna da Petrobrás. A Refinaria de Abreu e Lima é dos grandes empreendimentos da estatal que está sob suspeita de superfaturamento.
O engenheiro Shinko Nakandakari afirmou à força-tarefa do Ministério Público Federal que pagou R$ 400 mil em propinas para Legatti. Nakandakari é um dos delatores da Operação Lava Jato. Ele admitiu o pagamento de propinas no esquema de corrupção instalado na estatal e confessou ter atuado em nome da Galvão Engenharia na operacionalização de propinas. Ele esteve na Petrobrás em 175 ocasiões.
Em sua delação, Barusco admitiu também ter atuado com Milton Pascowitch. Ele o apontou como operador financeiro da empresa Engevix e do Estaleiro Rio Grande, efetuando transferências de offshore para contas do ex-gerente. Pascowitch se identificou como representante da Engevix, em todas as 60 entradas na Petrobrás.
O funcionário de carreira da estatal Atan Barbosa, aposentado da companhia, teria atuado para a empresa Iesa Óleo e Gás, segundo Barusco. O ex-gerente o acusa de ter sido operador financeiro para o pagamento de propinas referentes aos contratos da Iesa com a Petrobrás. Ele esteve 16 vezes na companhia petrolífera.
"Entre outubro de 2008 a 26 de abril de 2013, Barusco recebeu mensalmente de Atan de Azevedo Barbosa o montante de US$ 29 mil em decorrência dos contratos firmados pela Iesa com a Petrobrás", diz o MPF.
Luis Eduardo Campos Barbosa da Silva, funcionário da Asea Brown Boveri (ABB), também teria repassado propinas, de acordo com Barusco. Segundo ele, o executivo recebeu também informação privilegiada para que sua empresa pudesse vencer uma licitação da Petrobrás. Ele visitou a estatal em 370 ocasiões.