O Google investiu mais de R$ 670 mil em anúncios contra o PL das Fake News no Facebook e Instagram desde abril. Segundo dados obtidos pela Agência Pública, a big tech atingiu o posto de maior anunciante político nas duas redes sociais no início do mês de maio no Brasil.
O gasto mais elevado foi em um anúncio divulgado entre os dias 28 de abril e 2 de maio, dia em que estava agendada a votação do projeto na Câmara dos Deputados. O processo, no entanto, foi adiado após pressão de plataformas digitais e da oposição, além de falta de articulação do governo Luiz Inácio Lula da Silva.
##RECOMENDA##Na prática, o Google paga para a Meta, empresa dona do Facebook e Instagram, impulsionar as campanhas para que elas tenham maior alcance nas redes sociais. Com isso, esses conteúdos passam a aparecer com maior frequência e alcançar mais usuários das plataformas.
As peças publicitárias divulgadas seguem a narrativa de que o PL das Fake News pode "aumentar a desinformação no Brasil", além de solicitar que os usuários busquem os deputados rapidamente para discutir sobre o tema.
O público das propagandas também pode ser definido pela empresa que compra esse serviço da Meta. No caso do Google, a campanha foi direcionada para donos de empresas, diretores, chefes de marketing, profissionais de relações públicas, advogados, defensores públicos, juízes, vereadores e servidores públicos.
Na véspera do dia marcado para a votação na Câmara, o Google intensificou a campanha contra o PL e encaixou o link para um artigo contra a medida na página inicial da plataforma. Embaixo da barra de buscas do Google, a mais usada no mundo, internautas tinham acesso a um link do texto da empresa sob o título "O PL das Fake News pode aumentar a confusão sobre o que é verdade ou mentira no Brasil". Uma outra versão de texto também foi divulgada em que dizia que "O PL das fake news pode piorar sua internet".
Tramitação parada
Após ter o requerimento de urgência aprovado, o PL da Fake News iria para a análise do plenário da Câmara no dia 2 de maio, mas foi a votação foi adiada por pressão de big techs como Google, TikTok e Meta (controladora do Facebook) e da oposição. A incerteza sobre o número de votos para aprovar a proposta fez com que a base governista optasse por cancelar a apreciação do projeto. O presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), chancelou o pedido, após ouvir os líderes dos partidos.
A nova estratégia da base é fatiar alguns temas que eram tratados no PL das Fake News, que ainda não tem data para ser votado, em outras opções mais fáceis de serem aprovadas. Uma das saída é votar o regime de urgência do PL 2.370/2019, que prevê o pagamento de direitos autorais pelas plataformas digitais e adicionar no documento um artigo que estabelece remuneração a empresas jornalísticas por conteúdos distribuídos pelas big techs.
Outras redes
Nesta terça-feira, 9, aplicativo de mensagens Telegram enviou para seus milhões de usuários uma mensagem contrária ao PL das Fake News em que chama a proposta de "desnecessária" e diz que ela "concede poderes de censura ao governo". O texto foi veiculado no canal "Telegram Brasil", usado para comunicações oficiais da plataforma no País. A empresa removeu o conteúdo nesta quarta-feira após ordem do ministro Alexandre de Moraes e ainda publicou uma retratação.
Assim como o Google, o aplicativo de mensagens usou sua plataforma para criticar a proposta legislativa. O texto começa falando que "a democracia está sob ataque no Brasil" e que o projeto "matará a internet moderna". Segundo a mensagem, o Telegram poderá fechar as portas caso o PL das Fake News seja aprovado com o texto atual.